Como vencer o medo | Como lidar com os pensamentos | Advaita

A pergunta é: “Como vencer o medo?” Há uma outra pergunta comum, que é: “Como lidar com os pensamentos?”

Primeiro temos que compreender quem é esse que quer lidar com os pensamentos e quem é esse que quer vencer o medo. Haverá uma separação entre o pensamento e aquele que quer vencer o pensamento? Haverá uma separação entre o medo e aquele que quer vencer o medo? Haverá uma separação entre o pensamento e aquele que quer lidar com o pensamento?

Notem isso, queremos lidar com o pensamento. Há uma separação entre aquele que quer lidar com o pensamento, que é o pensador, e o pensamento? Queremos vencer o medo. Haverá uma separação entre esse que é o medroso e o medo? É verdade que é possível separarmos o pensamento do pensador e o medo do medroso? É possível o pensamento sem o pensador? É possível o medo sem o medroso?

Então percebam como isso aqui é simples. Não existe nenhum medo separado do medroso, como não existe nenhum pensamento separado do pensador. Primeiro, antes de tudo, o que é o medo? Não a descrição verbal do que é o medo, mas o que é o medo?

Quando você se depara com uma serpente, com uma cobra, ou está num lugar muito alto e olha para baixo, há uma sensação, há um sentimento, algo ocorre nesse organismo, e isso denominamos “medo”. O medo está presente como uma sensação, um sentimento, uma experiência no corpo, na mente. Então aquilo que nós chamamos de medo é uma experiência. Se queremos descobrir como vencer o medo, temos que primeiro descobrir o que é o medo.

Nós temos o medo nesse formato de sensação, sentimento, experiência diante de um perigo físico, no alto de um penhasco, diante de uma cobra. Um carro vem em sua direção e nesse instante surge um sentimento, sensação, e nesse momento uma ação acontece, então, esse é um tipo muito claro de medo presente que nós conhecemos: o medo físico. Na verdade, é o cérebro, o corpo reagindo a algo ameaçador, a algo que pode oferecer algum perigo.

No entanto, nós temos outras formas de medo, e todas essas outras formas de medo se sustentam em uma única base, que é a base psicológica do “eu”. Medo do escuro, medo do passado, medo do futuro, medo de adoecer, medo de envelhecer, são inúmeras as formas de medo presente, todas se assentando nesse modelo psicológico em nós, que é esse sentido de “alguém” presente.

O que é esse “alguém”? Do que ele é constituído? Esse “alguém” não é “alguém” que está separado do medo. Ele está presente quando o medo está presente; o medo está presente quando ele está presente. Já vimos isso. Vamos colocar de novo aqui muito claro para você.

O medo da velhice é um pensamento, requer a presença de um pensador formando quadros, criando sensações, sustentando sensações. Então, observe: os pensamentos são sensações. Esses pensamentos estão presentes porque esse pensador está presente, e esse pensador com esses pensamentos e sensações é o que chamamos de medo. Então o medo é o medroso. O sentimento, a sensação, o pensamento, o pensador são uma coisa só. Percebem?

Aquilo que está presente no medo é o medroso, e no medroso é o medo, que é sensação, que é pensamento, que, nesse caso em particular, é uma imagem que vem do passado, quando o assunto é uma doença que você já passou por ela e não quer que ela volte a se repetir. Quanto à velhice, é uma imagem que se projeta no futuro desse “mim”, desse “eu” que não quer passar por essa ou aquela situação no futuro, algo imaginado pelo pensamento.

Então, o medo é do passado ou o medo é do futuro, mas esse passado e esse futuro se assentam no pensamento, e esse pensamento está presente porque o pensador está presente. Uma imagem é construída e isso é o medo. Estamos diante de um único fenômeno e, no entanto, acreditamos que é possível uma separação, e nessa separação, podemos fazer algo, como se livrar – tem “eu e o medo”.

Qual é a verdade de como lidar com isso, no caso, o medo? Compreendendo a ilusão da separação que o pensamento imagina, constrói. Para lidar com pensamentos é a mesma coisa. O pensamento constrói a ilusão de um pensador e quer fazer algo com o pensamento, então o pensamento, que é o pensador, se separa para fazer algo com o pensamento; o pensamento, que é o medroso, se separa para vencer o medo. Percebem o truque?

É assim que estamos lidando, de uma forma equivocada, com esse modelo psicológico, que é o ego. O sentido de “pessoa” presente não é outra coisa a não ser a imaginação do pensamento se separando como sendo o “eu”, o “mim”, o pensador. Percebam a importância desta compreensão.

Como se livrar desse padrão? Como se livrar desse modelo de dualidade? Essa é a dualidade. Durante toda a nossa vida, tudo o que nós temos é uma existência construída dentro desse princípio. “Eu gosto de você”, “eu não gosto dele”, o que é isso? Um pensamento. “Ele me causa medo”, “ele me traz amor”, o que é isso? Um pensamento.

Então, o pensamento cria uma identidade e esse pensamento chama essa identidade de “eu”. Esse “eu” gosta, esse “eu” não gosta, esse “eu” se sente amado, se sente excluído, esse “eu” se sente rejeitado, esse “eu” tem o passado e não quer ver esse passado se repetindo. Esse passado é memória, pensamento. Esse “eu” tem o futuro, esse futuro é pensamento, é imaginação que esse “eu” não quer. Isso é o medo.

Então, reparem: tudo está assentado no pensamento, tudo está assentado na imaginação. Assim, o medo é pensamento, e o pensamento é aquilo em nós que sustenta a dualidade, e essa dualidade é uma ilusão.

A Verdade do que está presente agora se revelando é a experiência. Essa experiência pode ser um pensamento, pode ser uma emoção, uma sensação, uma percepção, mas não temos presente o “eu” como um elemento que se separa para gerenciar toda essa coisa. É por isso que nós temos dito aqui que não há esse “eu” na experiência. Não existe essa “pessoa” presente.

Ao ouvir uma fala, a impressão que o pensamento diz dentro de você é que você está ouvindo “alguém”, como você está vendo “alguém”. Esse “ver alguém”, esse “ouvir alguém” é uma projeção do próprio pensamento. O pensamento diz que tem “alguém” lá fora, porque tem “alguém” aí dentro.

A verdade sobre isso é que o que temos presente é o escutar, o olhar, o sentir, o pensar, mas não tem o pensador, não tem aquele que olha, não tem aquele que escuta. Se não há esse que escuta, é só o escutar, não tem “alguém” ouvindo.

Percebam como é interessante investigarmos isso. Escutar sem “alguém” é a Liberdade de apenas estar presente nesse ouvir, sem “alguém” ouvindo. É o escutar! Tomar ciência do outro nesse olhar é olhar sem “alguém” vendo.

Então, é nisso que consiste a Não dualidade, a ausência do “eu”. Isso é conhecido por Advaita, a Não dualidade, a Não separação. Se isso está presente, reparem, nós temos o fim do medo. Não se trata de vencer o medo, não tem “alguém” para vencer o medo.

Reparem como isso é interessante, e delicado também, porque você vai ouvir um especialista e ele lhe fala como lidar com o medo, através de técnicas ele lhe ensina a driblar esse estado de medo, esse estado aflitivo de ansiedade, de preocupação, de angústia, de dor da solidão, e assim por diante. Mas sempre com um truque de uma identidade, que é o “eu” fazendo algo com a experiência. Na verdade, isso se constitui em mais uma forma de, temporariamente, fugir da experiência.

Então, se você vence, você tem que continuar vencendo. Esse “vencer o medo” é escapar temporariamente do quadro psicológico de sofrimento. Então, você afasta o sofrimento psicológico através de um drible que você dá naquela situação, mas você está lá fazendo isso.

A ciência da verdade do fim do medo, do fim do sofrimento, do fim da angústia é outra coisa; do fim para esse sofrimento que o pensamento está produzindo, para essa dor que o pensamento está produzindo, para esse medo que o pensamento está produzindo é outra coisa. Assim, nós precisamos descobrir o que é uma vida livre do ego, do “eu”, do “mim”, desse que se separa, pelo pensamento, da experiência.

O que temos dito aqui para você é que quando existe o fim para esse modelo de pensamento – que eu tenho chamado de pensamento psicológico –, nós temos o fim para essa condição das aflições criadas pelo pensamento, das quais você quer um dia aprender a lidar com elas. Isso é o fim do modelo de pensamento psicológico, que é aquilo que sustenta o medo para esse “mim”, para esse “eu”, para esse medroso que quer se livrar disso.

Então, estamos trabalhando com você o fim do ego, o fim do ”eu”. A ciência da Realidade do seu Ser é Inteligência, é Amor, é Felicidade, é Liberdade, e Isso está presente quando o ego não está, quando esse sentido de separação, de dualidade não está. Então, o nosso trabalho aqui consiste em olhar para isso.

Aqui estamos trabalhando com você o Despertar de sua Natureza Divina, que é o Despertar da Consciência, que é o Despertar do seu Ser, que é a Verdade de Deus – alguns chamam de Iluminação Espiritual.

Março de 2024
Gravatá – PE, Brasil