Em geral, na vida religiosa, as pessoas estão à procura de Deus e, para elas, Ele é um elemento externo, é algo do lado de fora. Mas, aqui você descobre que a Verdade sobre você é a Verdade Divina. Você carrega essa Verdade de Deus! Assim, para encontrar Deus é necessário um intenso e sincero desejo de se conhecer. Conhecer a si mesmo é conhecer Deus, e conhecer Deus é descobrir que só há Ele – isso é Liberdade. Essa é uma colocação simples da visão não dual, da não separação entre você e a Verdade, entre você e Deus, entre você e a Vida.
Alguns dizem que nada é necessário porque você já é Aquilo que busca, já é Aquilo que está procurando. Como a Verdade não é algo separado Daquilo que Você é, então, dizem que nenhum esforço se faz necessário. Essa é uma forma muito comum de aproximação deste assunto e isso tem sido colocado de uma forma teórica. “Nenhum esforço fará qualquer diferença, pois qualquer esforço é parte da ilusão”. Alguns dizem isso por ser uma forma de colocar o buscador dentro de uma proposta de investigação, mas outros defendem isso apenas como mais uma crença que possuem. Há, também, aqueles que dizem que o esforço é definitivamente necessário, algo que se requer.
Assim, para essa aproximação da Verdade sobre si mesmo, para essa Autoconstatação ou a Constatação de Deus, alguns dizem que nenhum esforço se faz necessário e outros que um esforço se faz necessário. Minha visão disso, dentro dessa perspectiva que trago, é que os dois lados estão corretos: um esforço se faz necessário, entretanto, por outro lado, nenhum esforço é necessário. De alguma forma, um esforço vai se fazer necessário, de outra forma, qualquer esforço será inútil. Isso soa, para você, como algo paradoxal, porque, na mente, na escolha, nós só conhecemos uma opção entre duas. Se a mente escolhe um lado, ela já deixou o outro. A escolha é sempre por alguma coisa: de duas, apenas uma.
Dentro dessa visão, baseado em minha própria vivência, esses dois lados representam um trabalho que se faz necessário. Enquanto houver o sentido de separação, o sentido de dualidade, enquanto a presença desse ilusório “eu” estiver aí, o buscador estará presente, e haverá, naturalmente, algum esforço. Um esforço se fará necessário para investigar a natureza ilusória desse buscador, desse “eu”. Então, é claro que enquanto esse aparente “eu” estiver presente, não podemos lidar com isso com base numa teoria ou crença. É necessário investigar a ilusão dessas reações, dessa falsa identidade, desse falso “eu”, e isso requer um esforço.
É por isso que você sai do sofá da sua casa, desliga a televisão e se dirige a um espaço onde o Guru está presente. Você compra passagem aérea e viaja para estar diante de um Sábio, de um Ser Realizado. Dessa forma, um esforço se faz necessário, o movimento acontece e precisa acontecer.
Você já é o Ser, já é a Consciência, já é Deus, porém, se continua diante da televisão e respondendo de forma inconsciente a toda forma de impulso de pensamentos, suas reações são todas condicionadas, você está inteiramente inconsciente da Verdade que traz, da Verdade que é Você.
Se suas respostas são inconscientes, então, você não conhece a Liberação, ainda está escravo do desejo, do medo, da inveja, do ciúme, do despeito, da ansiedade, da dor psicológica, da tristeza. Você não conhece a Liberação, não conhece a Verdade, não conhece a Felicidade. Você é a Verdade, é a Felicidade, é essa Liberação, mas não sabe nada Disso, porque não há autoinvestigação, não há Meditação, não existe uma entrega dessa ilusão, desse senso de separação, desse senso de dualidade.
Então, o seu esforço não é para realizar o que Você é; é para descobrir o que Você não é. Você não é o medo, não é o desejo, não é a pessoa que acredita ser. Assim, um esforço é necessário até se descobrir que nenhum esforço é necessário. Parte desse esforço é a autoinvestigação, é a aproximação de uma fala como essa, para você examinar suas próprias crenças, ideias, conceitos e perceber que nada disso é Você. Parte desse esforço é se dirigir a Satsang, é renunciar a esse condicionamento, a essas reações mecânicas, inconscientes. Na Índia, eles chamam esse esforço de “sadhana”.
A Verdade final, a Verdade última, é que Você já é Livre. Você não pode se tornar aquilo que não é, e não pode deixar de ser Aquilo que já é. Então, sua Verdadeira Natureza é algo a ser constatado. A atividade da autoinvestigação, da Meditação, da entrega, é o que eu chamaria de “esforço”, até que você descubra que não há nenhum esforço nisso, nessa verificação do seu próprio Ser, de sua Natureza Essencial. É uma fascinante descoberta! A Verdade é esse claro, simples e direto reconhecimento da Verdade presente, aqui e agora. Um “esforço” necessário, mas nenhum esforço pode lhe dar isso, por isso é que soa tão paradoxal.
A verdade sobre a Iluminação é que não existe ninguém para se Iluminar. A verdade sobre Deus é que Ele nunca esteve fora de sua própria Liberdade. Não existe ninguém aí! Essa é a Verdade sobre a Iluminação. O que Você é, está além de qualquer ideia sobre Iluminação. Essa história não é sobre alguém ganhando a Iluminação ou a Liberação. Nunca houve uma pessoa, em nenhum momento, para obter Isso, quanto mais trabalhando ou fazendo qualquer esforço nessa direção. Então, essa Consciência, que é Meditação, que é Iluminação, não é algo que “alguém” realiza, que “alguém” conquista.