Ramana Maharshi
Ramana Maharshi
Algumas pessoas me perguntam: “Você tem Ramana como seu Guru? Ele foi seu Guru?”. Minha resposta é muito clara quanto a isso. Eu considero Ramana como Eu mesmo, como Aquilo que Eu Sou. Eu olho para ele como algo muito maior do que um Guru. Hoje, claramente, eu posso olhar para ele como o próprio Universo, como a própria Vida, Nela mesma, e isso não é outra coisa a não ser Aquilo que Eu Sou.
Marcos Gualberto Tweet
O sábio de Arunachala
Ramana Maharshi, nascido no ano de 1879, foi um Mestre, um dos homens mais sábios de toda a história da cultura indiana, considerado por muitos como “o Mestre dos Mestres”.
Existe dentro da cultura indiana um conceito de homem, ou ser, Realizado. O homem comum é chamado de jiva e o Realizado de Jivamukti ou Jnani, que é aquele que alcançou a liberação de toda a ignorância, nascida da inconsciência do homem a respeito de si mesmo, do desconhecimento daquilo que ele é.
A maneira como Ramana Maharshi se transformou em um Jivamukti, um liberto em vida, quando ele ainda era um jovem de 16 anos, foi algo muito curioso e raro. Apesar de pertencer à casta Brâmane, ele não era um religioso. Todo o seu contato com a religiosidade hindu havia se dado pelo fato de ele ter lido um livro que relatava a biografia de 63 homens santos da seita Saiva (adoradores de Shiva), além de ter se sentido profundamente tocado ao ouvir, a partir da fala de um tio, a palavra Arunachala, nome dado à sagrada montanha que representa o Deus Shiva dentro da religiosidade hindu, localizada no estado de Tamil Nadu, no Sul da Índia, na cidade de Tiruvannamalai.

Em certa ocasião, Venkataraman (seu nome de batismo), foi acometido, repentinamente e sem um motivo lógico, por um sentimento que o fez sentir que estava diante da morte, que iria morrer e não havia escapatória para isso. Ao invés de se desesperar ou buscar ajuda, Ramana sentiu-se impelido a olhar para aquilo, a aceitar a morte e investigar quem é esta entidade mortal, quem é este que pode morrer. Assim sendo, ele se deitou na posição em que o morto é colocado e dramatizou aquele instante, voltando toda a sua atenção para aquele momento.
Então, ele percebeu que o corpo poderia morrer, mas que o Eu, a Consciência, é anterior ao corpo, sem nascimento ou morte, e que, portanto, o Ser está além de toda manifestação efêmera e passageira. Isso representou, naquele instante, o fim de uma crença em um “eu” chamado Venkataraman, reduzido a uma história pessoal, e o aparecimento do Jnani, aquele que despertou para a sua Real Natureza. Pouco depois daquela profunda vivência, Venkataraman abandonou a sua família, a sua cidade, e se sentiu impulsionado a viver, pelo resto de sua vida, aos pés da montanha Arunachala, onde, de fato, viveu até os seus 70 anos de idade.
Ramana Maharshi ficou conhecido no ocidente a partir da publicação do livro “A Índia Secreta”, do jornalista britânico Paul Brunton. No Brasil, ele se tornou mais amplamente conhecido a partir de um livro chamado “Maha Yoga”.
Em volta de Ramana, vivendo em seu Ashram, havia muitos homens simples e analfabetos, que relataram que o Sábio indiano não se resumia a um homem com o olhar divino e penetrante de um santo, mas que também era um Guru capaz de ser explosivo e, em um aparente acesso de raiva, colocar um discípulo, ou toda a Sangha, em seu devido lugar. Ou seja, o Sábio sempre usa de todos os expedientes necessários para transmitir a sua Upadesa, não se limitando a nenhum comportamento, papel ou padrões pré-estabelecidos.
Ramana deixou a forma em 1950, após ser acometido por um câncer no braço. Durante os seus últimos anos, o sofrimento e a dor do seu corpo, decorrentes da doença, foram imensos, mas ele nunca demonstrou que estava vivendo em sofrimento, nunca deu importância ao corpo. Nesse período, continuou ensinando e mostrando a todos que o Ser está além de toda manifestação, e que a Vida não pode ser reduzida ao corpo.
A prova disso é que, mesmo após o seu falecimento, a sua Presença permaneceu viva. Ela pôde ser sentida tanto em seu Ashram, na Índia, como também por homens em diversos lugares do planeta, que, ao serem alcançados de forma simples e singela por uma de suas fotos, puderam entrar em contato com a verdade, a beleza e o poder de sua Graça.