Nós vamos trabalhar com você aqui a questão da ação. Temos aqui um assunto muito importante para investigarmos juntos: a origem da ação. O que são nossas ações? De onde elas procedem? Por que temos a intenção de acertar fazendo a coisa certa?
Nós também perguntamos: como agir sob pressão ou como agir com calma? Essas perguntas nós fazemos porque temos a intenção de acertar. Vejam como é importante essa questão da ação. O que são nossas ações? Por que, apesar disso, nós não temos uma ação completa?
Aqui eu me refiro a uma ação que seja, de verdade, harmoniosa, feliz, inteligente. O que ocorre conosco no que diz respeito à ação? Nós queremos acertar, e muitas das vezes percebemos que nossas ações trazem exatamente os frutos que nós não esperávamos, nos deparamos com os resultados que nós não aguardávamos.
Por que não temos uma ação sábia, uma real ação, uma inteligente ação? Esse é o nosso assunto aqui com você. A resposta para isso é porque nossas ações – observem – ou nascem do desejo – o desejo de alcançar, de realizar, de obter, de fazer, de conquistar – ou nascem do impulso, da sugestão, da implicação da presença do medo. Então, nós temos tanto o medo, como o desejo.
Em geral, não percebemos que somos impulsionados também pelo medo para uma linha de comportamento, de conduta, de ação. É natural que nossas ações, quando nascem desse medo – o medo de não conseguir, de não obter ou pelo medo para se livrar, para rechaçar uma determinada coisa –, quando elas têm por princípio o desejo e o medo, nós temos presente a ação que tem por princípio um elemento, esse elemento é o “eu”, o ego.
Como surgem nossas ações? Surgem os pensamentos, esses pensamentos estão assentados em nós com base em lembranças, recordações, imagens guardadas, memórias. Então, essas memórias, lembranças, recordações são os pensamentos; esses pensamentos nos impulsionam, pelo desejo ou pelo medo, a tomarmos ações. Essas ações são ações egocêntricas. Assim, nossas ações são meras atividades egoicas, meras atividades egocêntricas. Essas ações não são completas, não são íntegras, não são verdadeiras. O ponto é que não há inteligência nesse tipo de ação.
A verdade de nossas ações é que noventa e nove por cento delas são impulsionadas por esse modelo, que é o pensamento. Pode não estar tão clara essa questão do desejo por detrás da ação ou o medo por detrás da ação, mas, notem, há sempre uma intenção, uma motivação, uma emoção, um sentimento, uma sensação nos impulsionando à ação. E de onde isso provém? Qual é a natureza disso?
Reparem, a natureza sempre é do experimentador, daquele em nós que está vivendo com base em lembranças. Essa é a vida da “pessoa”, essa é a vida do “eu” em cada um de nós. Aquilo que somos, aquilo que apresentamos ser, aquilo que demonstramos ser é a base do nosso comportamento, e isso é, basicamente, pensamento, memória, lembranças, experiências.
Então, o que são nossas ações? São ações centradas no ego. Esse modelo de atividade egoica, de ação egocêntrica vem sendo o nosso comportamento. A humanidade, ao longo de todos esses séculos, está vivendo assim. Nós aprendemos isso, nós temos isso como uma herança. Nós carregamos esse comportamento em razão de nossa cultura. Nossas ações são ações centradas no “eu”.
A pergunta é: o que é esse “eu”, o que é esse ego? Condicionamento. Um padrão de ação, de pensamento, de sentimento, de emoção, desejo, medo, que é o resultado de uma cultura humana, de uma sociedade, de um mundo que recebemos por herança. Nós estamos aqui apenas dando continuidade às velhas ações, aos velhos comportamentos, a esse velho modelo de existência dos nossos pais, avós, bisavós, das gerações que chegaram aqui antes de nós.
Então, o que estamos investigando aqui com você? Nós estamos, primeiro, nos tornando cientes disso. Precisamos nos tornar plenamente cientes da confusão em que nós nos encontramos fisicamente, emocionalmente, psicologicamente. Aqui a confusão é o resultado de um programa de condicionamento, esse modelo programado onde há essa forma de sentir, de pensar e de agir dentro desse condicionamento psicológico, emocional e físico. Esse tem sido o nosso padrão, esse tem sido o nosso condicionamento.
Haverá uma outra forma de atuarmos no mundo? O ponto é que, enquanto houver a presença desse “eu”, desse ego – o que representa todo esse condicionamento humano em nós –, tudo continuará da mesma forma. Nossa ênfase aqui está em estudarmos a nós mesmos, irmos além dessa condição, que é a condição do ego. Esse ego é esse elemento em nós que nos separa, nos divide, que sustenta sempre a separação, que está sempre se movendo dentro de um padrão comum a todos.
Nossas ações são ações conflituosas, são ações egocêntricas, que produzem sofrimento, desordem, confusão, porque são ações egoístas. Será possível uma vida neste mundo livre desse ego? Então teremos uma nova qualidade de ação, totalmente diferente da ação que nós conhecemos.
Não é possível viver a vida isolado, separado. A nossa vida é uma vida, sim, de relações. Estamos sempre em relação com o outro, relação com as próprias ideias particulares, relação com os pensamentos, com os sentimentos, com as emoções. Estamos sempre em relação com objetos, com situações, com circunstâncias surgindo. É impossível uma vida isolada, sem uma relação, sem essas relações. E a presença dessas relações implica a presença da ação. Então, não há como escaparmos das ações; elas irão ser tomadas, elas acontecerão, elas surgirão em meio a essas relações.
Assim, se não compreendermos a verdade de nossas ações, o que requer a compreensão das nossas relações, o que requer a visão da verdade desse “eu” que está em contato com tudo isso, não haverá a Verdade em nossas vidas, e sem a presença da Verdade, não pode haver Paz, Liberdade, Amor. Então, vejam como é delicado tudo isso.
Nós estamos na vida, e a vida implica em relações, em ações, a cada momento nós nos deparamos com uma nova situação. Reparem como é intrigante isso: a cada instante este instante é um novo momento, ele tem uma nova representação, o que implica a presença de um novo desafio.
A forma como atendemos a esse desafio, a forma como atendemos a essa relação representa a qualidade de ação acontecendo. Se esta ação nasce do desejo, do medo, do motivo, da intenção, da ideia, do plano, do propósito, do sentimento, da emoção, ela está nascendo desse centro que é o “eu”, o ego. Talvez você diga: “Mas como é possível uma ação diferente dessa?” Uma ação diferente dessa é uma ação livre do ego, portanto, é uma ação livre desse centro que é o “eu”.
Qual é a verdade desse “eu”? A verdade desse “eu” é que este “eu” é um condicionamento, é uma forma de lidar com o outro na relação e, portanto, com o outro na vida. Então, o que temos aqui é uma forma de sentir, de perceber e de se relacionar com o outro. Isso vem se repetindo em nossos cérebros, porque temos um cérebro condicionado dentro da cultura para sempre repetirmos os mesmos velhos padrões de nossa civilização, de nossa humanidade.
A compreensão do movimento do “eu” é o fim para esse movimento, então nós temos a possibilidade de uma ação de outra ordem, de uma qualidade nova: a ação da Inteligência, dessa Real presença Divina, que é a Verdade desse Ser quando esse “ser” que parecemos ser não está mais presente, é a Verdade de uma ação livre de todas essas complicações criadas pelo pensamento.
O nosso pensamento nos impulsiona à ação. Essa ação está centrada no “eu” por diversas razões, mas quando esse “eu” não está mais presente – quando há o fim para essa dualidade, que é a noção de um “eu” na relação com o outro, com a vida, com nós mesmos, com objetos, com situações – nós temos uma ação Divina, a Verdade da ação livre do ego.
Então, o propósito do Autoconhecimento é a ação livre do ego. Aqui eu me refiro à Verdade do Autoconhecimento, não o que alguns chamam aí fora de “autoconhecimento”. A base para uma vida livre do ego está na compreensão da Verdade do Autoconhecimento e da Real Meditação de uma forma prática.
Então, esse é o nosso trabalho aqui com você. Estamos insistindo nisso, na possibilidade de uma vida sem sofrimento, onde temos a presença do Amor, da Liberdade, da Paz, da Verdade. Alguns chamam isso de o Despertar Espiritual, o Despertar da Consciência, a Realização de Deus. O ponto é que esses nomes não importam, o que realmente importa é compreendermos o que é essa ação.
Uma vez que você tome ciência de como esse “eu”, esse ego funciona, essa Atenção – a simples e direta Atenção sobre esse movimento – é o fim para esse movimento. Não se trata de um esforço, de uma dedicação. O esforço implica a presença de “alguém” no esforço; a dedicação implica a presença de “alguém” na dedicação. Aqui, no entanto, se trata da simples disposição de observar, de se tornar ciente desse “mim”, desse “eu”. Então temos uma aproximação da Verdade dessa Atenção, dessa Plena Atenção sobre nós mesmos. Essa Atenção Plena, esse olhar é algo extraordinário.
Nessa Real Atenção Plena não há o esforço, não há a autodisciplina, porque o “eu” não está envolvido para traduzir, interpretar ou tentar ajustar aquilo que está sendo constatado, para transformar isto em alguma outra coisa. É necessário compreendermos essa questão do controle, do ajustamento, da autodisciplina. Nada disso é real dentro de uma Atenção onde há simplesmente o interesse Real de olhar, de observar o movimento do “eu”, que se move pelo desejo, pelo medo, pela intenção, pela motivação, pelo pensamento. Então nós temos o fim para essa ação egocêntrica, temos a Revelação da Verdade de Algo além do “eu” aqui e agora.
Assim, aqui estamos apontando esse assunto aqui pra você, a importância de uma vida livre do ego, de uma vida livre de toda forma de sofrimento, uma vida onde haja a presença da ciência da Realidade de Deus, que é esse Ser, Isso é o fim da dualidade. A Realidade d’Isso é aquilo que os Sábios na Índia chamam de Advaita, a Não dualidade, a Não separação.