É comum a pergunta: “Onde está a felicidade?” Uma outra pergunta é: “Quem é Deus?” Uma outra pergunta é: “Quem sou eu?” Então, reparem que coisa interessante: “Onde está a felicidade”, “Quem é Deus” e “Quem sou eu” parece que são perguntas diferentes. Na verdade, a resposta é a mesma; você tem a mesma resposta para essas perguntas, aparentemente, diferentes.
É muito interessante a questão da linguagem. É bem interessante a questão da fala e das palavras. Você sabe que nós temos palavras que são sinônimas, elas carregam o mesmo significado. E existem palavras que não são sinônimas e, curiosamente, trazem o mesmo significado. As palavras “Deus” e “Amor” não são sinônimas, as palavras “Felicidade” e “Verdade” não são sinônimas, mas, uma vez que você compreenda o que isso significa, você compreende que são só palavras. É bem interessante notarmos que palavras não declaram o que é a coisa, elas apenas são símbolos, são imagens, são figuras que representam a própria coisa.
Então, quando alguém pergunta onde está Deus, o pensamento logo se projeta com um símbolo, com uma imagem, com uma fotografia do que Isso representa, e isso é completamente equivocado. Uma vez que a realidade não é a palavra, a coisa real não é a palavra, pegar esse símbolo, essa imagem, essa fotografia e colocar ela no lugar da própria coisa é um equívoco. E é isso que nós temos feito com a palavra “felicidade”.
Qual é o símbolo da felicidade para a maioria de nós? São os sonhos, as realizações, a conquista do prazer, o preenchimento nisso ou naquilo; isso é sempre de ordem pessoal. Então, para nós a felicidade está no preenchimento pessoal, no prazer pessoal, na realização pessoal, no sonho pessoal. Então, para nós a felicidade está na realização de coisas; para nós a Verdade de Deus está num símbolo emocional, sentimental, espiritual. Tudo isso são representações de imagens que o pensamento cria, que o pensamento formula. A Verdade de “quem sou eu” é a mesma coisa.
Qual é a ideia que você faz sobre você? Essa ideia é um símbolo, é uma fotografia, é uma imagem, uma construção do pensamento sobre você. Então, nós não sabemos a verdade desse “quem sou eu”. Temos imagens, temos crenças, temos ideias, podemos fazer uma biografia desta pessoa. Tudo que temos em uma biografia de alguém são descrições de memórias, lembranças, imagens, o que representa apenas pensamentos, ideias. Uma autobiografia ou a biografia não representa a verdade daquele que ali está sendo descrito; tudo o que temos ali são pensamentos, memórias, histórias, ideias.
Qual é a verdade sobre esse “eu sou”? Qual é a verdade sobre Deus? Qual é a verdade sobre a Felicidade? Observar o próprio movimento do pensamento em você. Você irá, nesta observação, tomar ciência de como você funciona e, assim, perceberá que esse “você” é apenas um conjunto de lembranças, de recordações, de memória.
Qual é a verdade desse “eu”? Observem isso aqui, agora. Quando você descreve quem você é, o que você está descrevendo? Quando você escreve sobre esse “você” que você é, o que você está escrevendo? Pensamentos, memórias, lembranças, imagens. Então, o que é o eu? O “eu” é aquele que está presente em razão da memória. Sem a memória, não há esse “eu”. Se você não pode ter uma lembrança clara do seu próprio nome, você não tem nome. Alguém pode ter a ideia, a imagem, a lembrança do seu nome, mas isso é uma memória dele ou dela. Se você não tem a memória, a lembrança do seu nome, você continua sem nome.
Esse sentido de um “eu” presente é apenas uma história que se pode lembrar. Se você pode lembrar, você tem história. Se você não pode lembrar, você não tem história. É simples. Se você pode lembrar o seu nome, você tem um nome; se você não pode lembrar, você não tem nome. Essa é a realidade dessa consciência do “eu” em você. Assim, esse sentido de um “eu” presente é um conjunto de lembranças, memórias, recordações. Isso demonstra a presença do experimentador.
O experimentador é esse presente que, ao passar por experiências, registrou isso em algum momento – registrou o nome, registrou a história. É isso que nós chamamos de “consciência”, a consciência do “eu”, é apenas isso. Você não pode ter consciência do que não se lembra. Você não pode ter consciência do que não se recorda. Assim, a presença da consciência é a lembrança, é a recordação. Esse é o sentido de consciência que nós conhecemos, de autoconsciência, de ego consciência, de “eu” consciência.
Assim, reparem como é interessante tudo isso: o que você pode ter sobre Deus é apenas uma imagem, uma ideia, uma crença. Isso é memória, algo que você aprendeu, que você tem como um pensamento presente, mas você não conhece a Realidade além do pensamento, a Realidade chamada Deus. Essa Realidade que nós chamamos de Deus, Ela não tem nome, Ela não faz parte da história, não faz parte da memória, não faz parte da lembrança ou do esquecimento, Ela não faz parte dessa consciência, que é só lembrança.
Então, qual é a Realidade de Deus? Qual é a Realidade da Verdade deste Ser que somos quando essa consciência do “eu” não está, quando esse nome não está, quando essa história não está? Percebem o que queremos colocar aqui para você? Então, onde está Deus? Onde podemos encontrá-Lo? Podemos encontrá-Lo ou a Realidade de Deus é a Única Realidade?
A presença desse “eu” é uma coisa aprendida, faz parte da memória. Esse nome, essa história, essa consciência do “eu”, tudo isso apareceu no tempo e, também, no tempo isso desaparece, enquanto que a Realidade de Deus é Aquilo que aqui está, fora do tempo, fora da história, fora da memória. Percebam para onde estamos sinalizando, para onde estamos apontando. Então, para a resposta “Onde está Deus?”, temos a Verdade de que só há Deus. Para a resposta desse “Quem sou eu?”, qual é a verdade desse “eu”? O fim para a ilusão desse “eu” é a resposta de onde está Deus, onde Deus se encontra”.
Então, estamos falando da mesma Realidade, da mesma Verdade. E aqui, a palavra “Deus” e a palavra “eu” não são sinônimos, mas a Verdade da Realidade Divina, a Realidade da Verdade Divina é a Realidade que está aqui, nesse instante, além desse sentido do “eu”, do ego, além desse sentido de uma identidade separada, se vendo separada do outro, do mundo, da vida e de Deus. Tudo isso faz parte das crenças, tudo isso é parte, ainda, do pensamento.
Assim, descobrir a Verdade d’Aquilo que somos é descobrir a Verdade de onde Deus está. A compreensão disso é a compreensão do Amor. Para nós, amor é sensação, é prazer, é alegria de estar com o outro. Há nesse, assim chamado, “amor” a relação entre duas coisas: aquele que ama e aquilo que é amado. Então, amor pra nós é sensação, é prazer, é relação sempre entre duas coisas. Não compreendemos a Verdade do Amor.
Aquilo que nós chamamos de “amor” está carregado de ciúme, de posse, de controle, de desejo e, portanto, de medo, de violência, de sofrimento. Isso não é amor, mas nós chamamos de amor porque de alguma forma isso dá um certo preenchimento para esse “eu”, isso traz algum nível de sensação para esse “eu”. A verdade é que esse “eu” depende sempre da outra coisa para se sustentar como sendo uma identidade separada.
Assim sendo, a presença desse “eu” é a ausência do Amor, porque quando o Amor está presente, não fica o outro, não fica a busca dessa ou daquela sensação, desse ou daquele preenchimento. É algo completamente diferente daquilo que o “eu”, o ego, a pessoa conhece. A questão da felicidade é a mesma coisa. A Felicidade não é algo no tempo, não é algo alcançável, realizável, não é a felicidade para “mim”, não é a felicidade para o “eu”. A presença da Felicidade é a Verdade do Amor, que é a Verdade de Deus, que é a Verdade desse Não eu.
A presença do seu Ser, desse Ser Real, que está fora do conhecido, que está fora dessa limitação do pensamento é a Verdade de Deus, é a Verdade da Felicidade, é a Verdade do Amor. Se aproximar disso é possível, sim, quando há uma compreensão de todo esse movimento, que é o movimento do “eu”, e quando há um esvaziamento de todo esse interno movimento que sustenta a ilusão desse experimentador, desse que está sempre cultivando o movimento do pensamento e se sustentando como sendo experimentador de suas experiências pessoais e particulares.
Aqui estamos lhe dizendo que existe uma qualidade de vida nova, livre do senso do “eu” e nessa plena ciência da Realidade do Amor, da Realidade de Deus, da Realidade da Felicidade. Essa Realidade de Deus, essa Realidade do Amor, a Verdade da Felicidade é a Natureza de Deus, é a Natureza desse Ser que somos. Isso se torna possível quando há um esvaziamento de todo esse conteúdo psicológico, de todo esse condicionamento psicológico que trazemos, que tem nos dado essa ilusória identidade, que é a ilusória identidade do “eu”.
Percebam que esse “eu” está sempre vivendo dentro de sua insatisfação, dentro de seu conjunto de crenças, ideias, conceitos, opiniões, julgamentos e avaliações do que é a vida, de quem ele é, de quem é o outro. Esse sentido do “eu”, que é o ego, está carregado de inveja, medo, ciúme, vivendo nessa insatisfação, porque lhe falta a clara compreensão de que a Única Realidade não é ele. Quando a mente se torna pronta, quando aprendemos a tomar ciência do próprio movimento do “eu”, quando a mente começa a se auto-observar, começa a ficar claro essa interna confusão, essa interna desordem.
Quando há essa Atenção Plena, essa Plena Atenção para essa observação do próprio movimento do “eu”, esse ego, esse sentido de separação, esse experimentador perde relevância, então há um esvaziamento de todo esse conteúdo psicológico. Esse experimentador, esse pensador, esse que se coloca na ação para buscar, para realizar coisas, isso perde relevância. Então, o sentido do “eu” se desfaz quando há ciência da Verdade do Autoconhecimento.
Quando há uma verdadeira aproximação da Verdade da Real Meditação, que é essa ciência de todo esse movimento interno, então, o cérebro se aquieta, a mente de uma forma muito natural silencia e Algo novo, indescritível, inominável se revela. Esse Algo novo está além de todo o nome, de toda a formulação verbal, embora nós também chamamos de Deus, de Verdade, de Consciência, mas é Algo indescritível, inominável. Essa é a Realidade do seu Ser, da Felicidade, do Amor.