O que é Atma Vichara? Essa é uma expressão de Ramana Maharshi. Ramana Maharshi foi um Sábio que viveu no sul da Índia e compartilhou a Verdade deste Ser com aqueles que se aproximaram dele.
Eu quero falar sobre Atma Vichara. Eu tenho chamado isso de o poder da Real Meditação. Não há nada semelhante a isso. A aproximação da Verdade da Real Meditação é Atma Vichara. Atma Vichara significa auto-observação. E o que é esta auto-observação? Alguns traduzem isso por autoinvestigação, eu prefiro auto-observação. O que é esta auto-observação? É uma aproximação de si mesmo tendo uma visão da verdade de como você funciona.
O ser humano tem se perguntado como controlar a mente, como vencer o medo, como observar a mente. Por que isso é importante? Porque sem uma visão da verdade sobre quem você é, basta olhar para o mundo e perceber a condição em que ele se encontra. Não só esse mundo constituído de países, de nações, de cidades e bairros, mas esse mundo, também, mais próximo.
A família, os amigos do trabalho, nossas relações entre marido e mulher, entre pais e filhos, nossas relações uns com os outros, tudo isso constitui esse mundo, esse “nosso mundo”. Sem uma compreensão da verdade de quem nós somos, de como nós funcionamos, não há Amor, não há Harmonia, não há Beleza, não há Verdade, não há Liberdade, não há Felicidade nessas relações.
Então o mundo é exatamente aquilo que nós somos, aquilo que apresentamos ser, que demonstramos ser, que parecemos ser. É isso que o mundo é. O mundo à nossa volta é o mundo dentro de nós. Uma aproximação Divina, uma aproximação de Deus, uma aproximação da Verdade requer a compreensão de nós mesmos. Tudo que fazemos ao olhar para o mundo, ao interpretar o mundo com base naquilo que nós acreditamos ser tem colocado o mundo e a nós mesmos dentro dessa condição.
Eu quero repetir isso: não há separação entre nós e o mundo. O mundo somos nós, nós somos o mundo. Se há confusão nesse “mim”, nesse “eu”, há confusão nesse mundo. Assim, descobrir como nós funcionamos é colocar nesta vida – nesse contexto de nossas relações uns com os outros que se constitui o mundo – Harmonia, Verdade, Inteligência, Compreensão.
Não podemos dar ao mundo aquilo que não temos. Não podemos receber do mundo uma outra coisa a não ser aquilo que nós somos. Se nós somos confusão, é o que estamos dando para o mundo e é o que estamos recebendo do mundo.
Em nossas relações uns com os outros queremos harmonia, queremos felicidade, queremos companheirismo, queremos amor, mas o que estamos dando para o mundo é aquilo que estamos recebendo do mundo. Se há confusão nesse “eu”, nesse “mim”, nesse ego, nessa pessoa que acredito ser, é isso que recebo do mundo, porque é isso que eu dou para o mundo, porque é isso que o mundo é, aquilo que eu sou.
Assim, a aproximação da Atma Vichara, da auto-observação, lhe mostra o que é a mente e como ir além dessa condição de mente no “eu”, de mente pessoal, de mente do mundo, de mente egoica. Então a auto-observação – que é a Atma Vichara – é a Verdade da Real Meditação, um cérebro quieto, silencioso, uma mente livre de padrões, que são os padrões comuns da mente do mundo, da mente do “eu”, da mente egoica.
Que padrões são esses? Nós sabemos o que é a mente? A mente é aquilo que carregamos dentro de nós com o peso da inveja, da violência, do medo, de todas as características desse centro que se separa, desse “eu” que se vê como uma entidade separada.
Reparem, isso não é nada confuso. É muito simples observar e ver o quanto somos pessoais, o quanto somos egocêntricos, o quanto estamos presos a opiniões particulares, a crenças particulares. Isso nos separa do outro e coloca a nossa relação com o outro numa relação em conflito, onde esse autointeresse, esse interesse meramente pessoal nos faz querer que o outro nos dê algo, nos preencha de alguma forma, nos satisfaça de alguma forma.
Há sempre essa condição de egoísmo e, portanto, de medo nesse “nosso mundo”, nesse mundo dessa mente. Observar esse movimento do “eu”, perceber esse elemento que se separa da experiência do momento presente para tentar algo, para buscar algo, para fazer algo com isso que observa, o que nos coloca sempre numa posição de reagir ao instante, reagir a esse momento.
Há uma diferença entre uma ação e uma reação. O movimento do “eu” em nós não conhece uma ação. A ação é aquilo que ocorre nesse instante, sem esse autocentramento, sem esse autointeresse, sem esse egocentrismo. Nós desconhecemos isso. Nossas ações, nossas atividades são egocêntricas e, portanto, são ações reativas. Vamos esclarecer isso aqui para lhe mostrar onde está a questão de todo o problema. Na verdade, esse é o único problema que nós temos.
O que temos dito nesses encontros – e pode soar muito estranho para você – é que os problemas são ilusórios, mas são ilusórios se o sentido de um “eu” é visto como uma ilusão. Se isso se desprende de nós, se esse sentido de um “eu” se desfaz, não há mais problemas. Todos os problemas partem desse “eu”, desse sentido de uma egoidentidade que está reagindo a esse instante.
O sentido de “alguém” presente, que é o “eu”, é algo vindo do passado. Tudo que você tem da pessoa que você acredita ser são conjuntos de imagens, são conjuntos de memórias, de lembranças, algo vindo do passado. Existe um nível de informação que trazemos que vem do passado, que vem da memória, que é algo prático, é algo funcional, precisamos disso.
Em um certo nível, nós precisamos, sim, do pensamento. Repare, todo pensamento é algo que vem do passado, é uma lembrança, é uma memória. O seu nome é uma memória, o endereço da sua casa é uma memória, o nome da sua esposa, da sua namorada, o nome do seu filho, isso é memória e isso é algo prático, objetivo, funcional, precisamos disso agora, aqui.
O mundo funciona assim. Nós funcionamos na vida dessa forma, então nesse nível a memória se faz necessária. Mas eu tenho, também, uma qualidade de memória que dá essa formação a esse “eu”, a esse ego, a essa pessoa e é esse conjunto de memórias que se mostra agora, aqui, que me fazem reagir.
Então nossas ações são atividades egocêntricas porque nascem dessa qualidade de memória. É a memória disfuncional, é a memória do “eu”, é a memória do ego, é a memória dessa mente mundana, dessa, assim chamada, “mente humana”; é o resultado de um condicionamento, de uma programação, de um modo de acontecer que está sempre se repetindo.
Eu posso lhe dar aqui um ou dois exemplos e você irá compreender claramente que tipo de memória é essa. Você me disse alguma coisa ontem e eu gostei do que ouvi, e nesse contato com você agora, hoje – aquilo aconteceu ontem, mas que eu registrei essas palavras –, eu gosto de você porque você me disse palavras amáveis. Então esse gostar dessa pessoa que é você, é só uma imagem que eu trago de alguém que conheci ontem. Esse alguém é uma imagem dentro de mim.
Então, notem, essa qualidade de encontro no nível da mente egoica, da memória, desse passado, é um encontro entre imagens. A imagem que eu faço de você, eu gosto dela. Esse “eu” também é uma imagem que eu tenho de quem eu sou. Então o que eu tenho sobre quem eu sou é um conjunto de imagens que eu faço de quem eu sou, que tenho de mim mesmo, de todas as experiências pelas quais passei – que esse eu passou, essa ideia de ser “alguém” passou – e agora isso está aqui e é essa a imagem que eu faço de você.
Então esse encontro é um encontro entre pessoas. As pessoas não passam de imagens para esse “eu”, e esse “eu” não passa de uma imagem, também, para elas. Nesse nível, a qualidade de memória é a memória do ego. Então nossas ações nascem desse tipo de memória: “Eu gosto de você enquanto você é amável comigo, quando você deixar de ser amável comigo eu faço uma outra imagem de você”, “Você não é mais alguém que eu gosto, você não é mais alguém de quem eu gosto, você é alguém de quem eu não gosto”. O “meu gostar”, o “meu não gostar”, o “meu amar você ou odiar você” é um movimento da memória e, portanto, é um movimento reativo do “eu”, do ego.
Compreendam o que é o ego. O que é o ego? É esse movimento de autoimagem, a imagem que eu faço de você, a imagem que você tem de mim. Então o seu nome é uma memória funcional, é uma memória prática, é uma memória objetiva, mas essa autoimagem é uma autoprojeção. Estou projetando quem você é, acredito que sei quem você é em razão dessa imagem que tenho de você; acredito que sei quem eu sou em razão dessa imagem que faço de mim mesmo.
Uma aproximação com a Atma Vichara, com a auto-observação, com a Real Meditação, é olhar para esse movimento da mente e descartar esse movimento de memória psicológica, de passado, para lidar com esse momento livre desse movimento de pensamento – esse movimento de pensamento que eu tenho chamado de tempo psicológico.
Não é a memória objetiva, não é a memória prática, é a memória subjetiva, é a memória imaginária desse “eu”. Olhar para esse movimento, tomar ciência desse movimento do “eu”, isso é o fim para esse movimento. Então é um contato com a vida nesse momento livre desse sentido de separação desse ”eu e você”. Estamos livres do sentido de dualidade, estamos livres do sentido do ego, estamos livres do movimento de reação de memória, então há uma ação agora, aqui.
Eu não faço uma imagem sobre quem você é, não registro isso, não registro uma imagem sobre quem eu sou, então há um contato livre desse sentido de separação, desse sentido de dualidade. Então não há esse “eu e você”, isso é o fim para essa egoidentidade, é o fim para essa memória psicológica do ego, Isso é possível quando há uma aproximação da auto-observação, da observação do movimento da mente sem o observador, esse olhar sem o “eu”, se relacionar sem essa imagem.
O nosso trabalho aqui consiste em descobrirmos uma vida livre de problemas e, portanto, livre de sofrimento. Uma vida assim é uma vida livre do “eu”. Eu quero repetir para você: os problemas estão presentes enquanto o sentido do “eu” está presente; os problemas estão presentes dentro desse sentido de um “eu” que está presente. Sem esse sentido de um “eu” que se separa nesse momento dessa experiência do viver, há só a vida. Não há mais esse elemento que se separa e, portanto, não cria conflito, não cria problemas, não cria dificuldades.
Assim, o nosso trabalho aqui consiste em olhar para esse movimento do “eu”. Essa ciência da auto-observação desse movimento nós chamamos aqui de Atma Vichara ou Real Meditação. No nosso canal no Youtube, nós temos uma playlist sobre essa Verdade da Real Meditação de uma forma prática, como realizar Isso nesta vida.
A aproximação do Autoconhecimento é parte disso, dessa autodescoberta da Verdade do seu Ser, livre desse movimento do pensamento. Então, não se trata de controlar o pensamento, se trata de descobrir a verdade sobre esse movimento. Isso é o fim do movimento do “eu”, é o fim do movimento desse pensamento psicológico, dessa condição psicológica de separação, de dualidade. É o fim da ilusão entre esse observador e a coisa observada.