O que significa isso de estar consciente? Estar consciente… O modo como nós nos aproximamos da experiência presente – é bem interessante a gente investigar isso.
Nós estamos, nesses encontros, aprofundando essa coisa, descobrindo… descobrindo em nós mesmos, com nós próprios, o que significa estar consciente, o que significa viver a experiência, a experiência deste momento.
Em geral, o programa, a forma, o modelo, a programação em nós, aquilo que eu tenho chamado aqui de condicionamento psicológico, é de, em contato com a experiência, a gente se deparar com isso já trazendo uma fotografia. Então, sempre parece que é um contato de reconhecimento, porque sempre trazemos uma fotografia de experiências passadas, e essa é a forma mais estreita, limitada, de estarmos em contato com o momento presente. É assim que processamos as experiências.
A Vida é algo agora aqui. O que quer que esteja surgindo está surgindo de uma forma inédita; é pela primeira vez que isso está acontecendo. Quando, por exemplo, nós temos um contato agora e, amanhã, nós nos encontramos, na verdade o que irá se encontrar são 2 fotografias: a que você tirou de mim e a que eu tirei de você. É isso que nós chamamos de estar consciente, é assim que nós processamos as experiências do presente momento.
Essa condição psicológica em nós é uma deformidade, não é algo natural em seu Ser. É assim que nós processamos todas as informações. Essas informações são registros que temos como arquivos que trazemos. Fazemos uso disso para uma vida meramente mecânica. Essa é uma forma técnica de colocarmos isso. Nós poderíamos chamar de uma vida meramente egoica, colocamos dentro de um ponto de vista psicológico.
Todo o movimento da “pessoa” presente é um movimento do “eu”, é esse movimento de memórias, de arquivos, de fotografias. Assim, o que nós temos presente é a ação egoica, o movimento egocêntrico, o movimento do “eu”. A tragédia disso é que a nossa vida fica inteiramente presa ao movimento dessa limitação de uma identidade ilusória, como se ela fosse real aqui, neste presente momento, conseguindo acertar.
O nosso trabalho juntos aqui é descobrir a Vida agora, como Ela se mostra, como Ela é, quando o “eu” não está. Então, a Liberdade de viver é a Liberdade de estar livre do ego, desse modelo egoico, dessas atividades, desses relacionamentos com base nesse fundo, que aqui nós temos chamado de condicionamento psicológico.
Toda a infelicidade em nós presente está em razão de que toda a Beleza, toda a Graça, toda a Verdade deste momento presente fica anulada quando o sentido do ego está. Em outras palavras, minha relação com você, baseada nessa fotografia que eu tirei de você e que você tirou de mim – isso aconteceu ontem e, agora, está havendo esse encontro –, essa relação é sempre uma relação com base nesse modelo egoico; é sempre o sentido do “eu” presente nessa experiência, nesse contato, nessa relação.
Então, o que nós temos? A infelicidade. É possível nós descobrirmos uma ação livre do ego e, portanto, uma ação livre do passado? É possível nós descobrirmos um modo novo – que não é mais de estar consciente, nesse antigo modelo de como funcionamos –, para ter um olhar novo, um ouvir novo, um sentir novo, quando o outro está presente? E, aqui, o outro pode ser uma pessoa, pode ser a natureza, pode ser os objetos, pode ser um pensamento que esteja surgindo, um sentimento… Olhar para isso de uma forma nova, olhar para isso sem isso de estar consciente… Eu vou chamar isso de ser Consciência, no lugar de estar consciente.
Estar consciente é pegar esses registros, essas fotos, é pegar esse fundo de condicionamento, esse modelo de memória, e fazer esse encontro, que, na verdade, não está acontecendo. Não é um encontro, é, na realidade, um choque. Eu tenho dito isso: você com o outro não se encontra, você entra em choque.
O sentido do ego presente, nesse modelo de exigência, de desejos, de esperança, desesperança, de medo… esse encontro é sempre um choque! Nossas relações egoicas são tediosas, cansativas, enfadonhas, repetitivas. É um modelo de vida onde o que predomina é, de fato, o sofrimento, a infelicidade, porque o que está presente é o ego em suas exigências, é esse “eu” que precisa de você, que quer algo de você, que está cobrando algo de você.
Então, as relações humanas estão dentro dessa base. Nossa relação humana também com a natureza, a nossa relação humana também com os objetos, essa nossa assim chamada relação humana com o sentimento e com o pensamento… Há sempre essa confusão, há sempre esse enrosco.
Então, essas fotografias não estão ordenadas, elas não têm um modelo coerente. A Vida agora aqui carrega uma Plenitude, uma Totalidade, uma Verdade que desconhecemos quando nos posicionamos com base no passado, com base na memória, com base nesses registros. Então, temos que descartar de nossas vidas esse modelo de “estar consciente” para ser Consciência. E Ser Consciência é possível quando o ego não está, quando o “eu” não está.
Então, o meu contato com você, na verdade, é o meu contato com a Alegria de ser Consciência, porque é Isso que posso reconhecer n’Aquilo que Você é, porque é Isso que Eu sou, então não há separação.
Isso soa muito estranho para a gente, porque nós fomos programados, condicionados, a ver o mundo dentro dessa ótica de separação: tem eu e tem você; tem você e suas exigências, crenças, opiniões, julgamentos, comparações, desejos e medos, e tem eu… eu com os meus medos, desejos, comparações, exigências.
Então, os nossos encontros são esses encontros nessa relação de separação. A beleza da Iluminação Espiritual, do Despertar Espiritual – esses são os termos que as pessoas usam, né? Mas, na verdade, é o Florescer do seu Ser, desse Ser-Consciência, seu Estado Natural.
A beleza desse Ser-Consciência, que alguém chama de Iluminação, Despertar da Consciência, é que, nesse contato, aquilo que prevalece é o Silêncio, a Inteligência, a Compaixão, o Amor, o Cuidado, uma Apreciação livre de intenções escusas, de desejos secretos. É sempre a Alegria de ser Consciência. Essa Alegria de ser Consciência faz os seus olhos brilharem com essa Alegria de olhar para o outro vendo a Si mesmo.
A não ser que tenha algum problema com a sua cabeça, você seja alguém muito fora da curva, da normalidade, quando você pega um bebê no colo e olha nos olhos, você não quer nada daquele bebê… a não ser que você esteja fora da normalidade. Mas, em geral, você pega um bebê no colo e olha nos olhos do bebê… você não quer nada! É só a alegria de estar com ele no colo. Não é o conforto que ele recebe, é a Alegria do conforto de ser Você Mesmo, porque, nesse momento, o sentido do “eu” desaparece: você não exige nada, não quer nada, não está cobrando nada, não está pedindo nada… O bebê não vai lhe dar nada, ele apenas compartilha da sua Alegria de tê-lo ali. Ele é essa Alegria e você é essa Alegria. Eu não sei se você está com ele no colo ou se é ele que está com você no colo, porque é um instante de ausência do sentido do ego, ausência do sentido de separação.
Todos nós temos momentos assim na vida, onde o sentido do “eu” não está. E há um encantamento, um sentido de beleza, de gratidão, de conforto, de colo, de Presença Divina, de naturalidade e frescor naquele instante, pelo menos por alguns segundos, até você não se aborrecer, ou parecer que a criança o aborreceu… mas, ao menos por alguns segundos, existe um instante de encontro com Aquilo que é inexplicável: é o instante do Novo, do Desconhecido; é o instante da Beleza, seja uma criança, seja um animalzinho, um pet, ou o sorriso de uma criança ao olhar para você… é só um sorriso, não há intenção, não há motivação, não há nada para se ganhar, para se trocar; uma coisa gratuita, livre, sem desejo, sem medo.
Por alguns segundos, o sentido do “eu” não está, do ego não está, dessa consciência egoica não está; por alguns segundos, não há nenhuma atividade egocêntrica. Nesse instante, tudo é Ser, Consciência, é esta Presença.
Eu quero convidá-lo a esse Despertar de sua Natureza Essencial, para ter olhos assim no seu viver, momento a momento, para tudo! Nós só temos alguns momentos assim, no contato com a natureza, no contato… no momento em que você vê um pássaro pousado num galho de uma árvore… Por alguns segundos, existe um olhar livre do “eu”. Uma árvore não lhe dá nada; não há nenhum impulso, nenhum desejo, não há nenhum estímulo a qualquer atividade egoica. Esse instante é o instante da Consciência, é o instante da Presença.
Isso é Meditação sem o meditador, sem a prática da meditação. Você não se prepara para Isso, você não sabe quando Isso vai acontecer. Isso é um momento novo desconhecido. Isso vem como um toque, uma invasão de algo fora das suas premeditações, do seu “mim”, do seu “eu”, do seu ego. Isso está fora da sua cartela de fotos, dos seus arquivos de “guardados”; Isso está fora do “eu”. Essa cartela de fotos, esse arquivo, é aquilo que eu tenho chamado de tempo psicológico; é aí que o seu ego vive, o seu “eu” vive, a “pessoa” que você acredita ser tem existência.
Então, o que é o Despertar, a Iluminação? É permanecer livre desse seu “eu”, desse seu “mim mesmo”, “eu mesmo”, “eu sei”, “eu quero”, “eu não quero”, “eu gosto”, “eu não gosto”, “eu aceito”, “eu não aceito”, “eu perdoo você”, “não, eu não perdoo você”… viver livre desse sentido de um “eu” presente com suas necessidades, suas carências, suas motivações. Faz sentido isso ou não?
Isso é Meditação! Isso é Meditação! É permanecer como Ser-Consciência! Essa é a real forma – que não é uma fórmula, que não é um caminho, que não é um método, que não é um sistema –, é a real forma de permanecer livre de todas as formas, de todos os formatos de aproximação com a Vida como Ela é agora aqui.
As pessoas querem descobrir o que é a Meditação. Elas, na verdade, carregam a Meditação já nelas. Isso é uma experiência comum a todos! Isso vem o acompanhando desde a infância, só que, ao longo da vida, você perdeu isso. Você se embrenhou pela mata da civilização, você se embrenhou pelo mundo dos desejos, dos sonhos, dos projetos, das conquistas, da tentativa de ganhar, de conseguir, e, também, de se livrar; se embrenhou pela mata, pelo caminho das escolhas, perdeu o seu Natural Estado de Ser-Consciência, que tem o seu próprio modo de conduzi-lo, porque Você é essa Presença, Você é essa Consciência. Essa forma humana, corpo-mente, é essa Presença, é esse Puro Ser-Consciência.
A rendição à Verdade – o que agora temos que fazer. Temos que nos desfazer do que fizemos, temos que desaprender o que aprendemos, temos que sair dessa mata, sair dessa floresta, sair dessa antiga e velha jornada, e nos voltarmos para a Verdade que somos agora e aqui. E isso lhe dá essa real condução, a esse corpo e mente, a uma vida amorosa, feliz, bem-aventurada, pacífica e, também, próspera.
Então, não se trata de você procurar caminhos diversos para obter resultados a partir de imaginações, sonhos, um “eu” se projetando para realizar coisas, para viver Isso, essa Completude de ser Consciência. Isso já está agora aqui quando o sentido do “eu” não está. Então, tudo o que se faz necessário e real para essa Vida de Plenitude, de Felicidade, de Amor e, também, de Prosperidade, já está presente quando o sentido do “eu” não está.
Então, mentalizações para realizar sonhos, projetos, objetivos, metas… a meta dos 5 anos, a visualização de objetos colados na geladeira, o famoso “The Secret”, nada disso faz o menor sentido para Isso que é Você, que é Ser-Consciência, que é a própria Fonte de tudo, de tudo, absolutamente de tudo!
Então, essa é a forma sem fórmulas de estar aqui e agora, nesse contato. Ouvir o outro dessa forma, ouvir uma fala como essa, se relacionar dessa forma, sentir o que se passa dentro e fora de si mesmo sem esse fundo, sem essa programação, sem esse condicionamento, sem essa ilusão de ser consciente… É isso que estamos fazendo nesses encontros: descobrindo a Verdade sobre quem somos. A Revelação d’Isso é a Verdade sobre o que é Deus, o que é a Vida, o que é a Consciência. OK?
Esse é o assunto. Vamos ficar por aqui!