Ramana Maharshi de Arunachala | A consciência do “eu” | Real Consciência

Muito bem! Eu tenho para mim que a coisa mais importante é estudarmos a nós mesmos, e só podemos estudar a nós mesmos se deixarmos de lado aquilo que dizem os filósofos, os psicólogos e os especialistas; só podemos estudar a nós mesmos olhando para nós próprios, nos tornando cientes daquilo que se passa aqui e agora dentro de cada um de nós. Então, o propósito desses encontros aqui nesse canal é termos um contato com essa Verdade, com a Verdade do nosso Ser, com a Verdade de nossa Natureza Divina, de nossa Natureza Essencial, e não podemos fazer isso a nível intelectual, a nível de palavras, a nível de conceitos, a nível verbal. Uma aproximação de nós mesmos requer uma aproximação do Autoconhecimento. Eu tenho chamado de a Verdade do Autoconhecimento, e só pode ser a Verdade do Autoconhecimento porque não é algo que você está lendo em um livro, não é algo que você está ouvindo de alguém, não é algo que você está aprendendo com outro, é algo que você está descobrindo em si mesmo.

Então, qual é a Verdade do Autoconhecimento? Essa Verdade do Autoconhecimento está na observação do movimento desse “eu”, daquilo que esse “eu” representa, daquilo que esse “eu” implica, envolve, significa. Aqui se trata de um olhar para nós mesmos, de um estudar a nós mesmos, de nos tornarmos cientes de nós próprios, até porque ninguém pode nos dar isso, ninguém pode fazer isso em nosso lugar. Então o nosso trabalho aqui consiste numa aproximação, numa aproximação de revelação sobre quem somos.

Houve um Sábio na Índia chamado Ramana Maharshi, conhecido como o “Sábio da Montanha de Arunachala”. Quando as pessoas iam a ele, eram levadas até essa pergunta, que ele colocava diante delas, a pergunta é: “Quem sou eu?” Tudo o que realmente importa nessa vida consiste no reconhecimento da Verdade sobre quem nós somos, isto era chamado por Ramana Maharshi como Atma Vichara ou Autoinquirição. Então a Verdade do seu Ser se revela quando há uma aproximação da Verdade do Autoconhecimento. É interessante dizer isso aqui também, hoje em dia as pessoas usam a expressão “autoconhecimento” numa intenção de tomarem ciência da pessoa que elas são, no entanto, a pessoa que elas são consiste numa crença sobre quem, na verdade, elas acreditam ser. Então a ideia de ser uma pessoa, a ideia de ser alguém em razão de um interesse de algum tipo de realização, de benefício, de obter algo, em razão disso as pessoas podem querer se aproximar delas mesmas para terem esse, assim chamado, “autoconhecimento”. Não é disso que estamos falando aqui, estamos falando do Verdadeiro Autoconhecimento. Não é o autoconhecimento para um desenvolvimento pessoal, para se obter alguma coisa, para se alcançar alguma coisa, para melhor se relacionar com o patrão e conseguir uma promoção, para melhor se relacionar com os seus empregados e conseguir mais produção deles, para conseguir uma melhor habilidade de lidar com seus clientes e vender mais produtos para eles ou melhorar como pessoa. Então há uma preocupação no “eu” de melhorarmos como pessoas para termos bons negócios, para termos bons relacionamentos, para termos sucesso e não é disso que estamos falando. Estamos falando da Verdade do Autoconhecimento, da ciência daquilo que se passa dentro de cada um de nós, observarmos esse modelo, esse programa, esse formato de ser-psicofísico que assumimos nessa vida – eu me refiro a esse sentido de um “eu” que, na verdade, é uma identidade egoica presente.

A pessoa que você acredita ser está envolvida numa constante procura ou busca de alguma forma de satisfação, de preenchimento, de realização e de sucesso, o que é mera ambição. Então, nessa tentativa de melhorar a si mesma, a si mesmo, o que o ego está buscando é um resultado melhor para esse “mim”, para essa pessoa, então não há verdade nisso. Por maiores que sejam as conquistas dessa pessoa, por maiores que sejam as conquistas desse “eu”, sem a Verdade do seu Ser se revelando, dessa Real Consciência… Eu não falo dessa consciência que você tem, aqui no canal temos explicado a diferença entre essa consciência do “eu” e esta Real Consciência. A ciência desta Real Consciência que é o seu Ser é a Realização de Deus, é o Despertar da Consciência, e aqui eu me refiro ao Real Despertar da Consciência, não àquilo que as pessoas têm chamado de “despertar da consciência”. A pessoa passa por uma experiência mística, tem alguma percepção de alguma coisa fora de sua vida comum, de sua vida ordinária e acredita que passou por uma profunda experiência, assim chamada, “espiritual”, não é disso que estamos falando. Estamos falando do Real Despertar da Consciência. O Real Despertar da Consciência é o fim da ilusão de uma identidade presente, que é o “eu”, o ego, isso é o fim da ilusão de “alguém” dentro desse instante, que teve uma experiência, que pode falar sobre isso depois e que, em razão dessa experiência, pode agora ter uma vida um pouco diferente. Não estamos falando disso. Estamos falando do fim da egoidentidade, Algo como tem acontecido há milênios a seres que como você, como todos nós, que nasceram neste mundo e Realizaram Algo fora desse sentido egoico, desse sentido de um “eu” separado, de uma identidade separada – como ocorreu a Ramana Maharshi e a diversos outros seres que Realizaram a Verdade sobre si mesmos.

Então, nós estamos trabalhando aqui com você Algo fora da ilusão do “eu”, a ciência da Verdade do seu Ser, Algo que se torna possível quando você se aproxima do Autoconhecimento. Nós temos uma vida presa a desejos e medos e em razão disso confundimos nossa vida com a história de vida que temos. Nessa história de vida, nós temos uma família, nós temos um trabalho, nós temos aqueles que amamos ou dizemos amar. Na verdade, esse sentido de história de vida para esse “eu” são apenas apegos, estamos tentando sustentar essa história de vida, toda a forma de relações que alcançamos nesta história de vida, como sendo algo pessoal. Então, se somos casados, se temos filhos, se temos um negócio, se temos um trabalho, se estamos dentro de um relacionamento com o mundo é sempre esse sentido de um “eu” presente, nesse autocentramento, carregado de desejos e medos nessa relação com tudo isso e isso nós chamamos de “minha vida”, “minha história”; e há medo nisso, há muito apego nisso, há conflito nisso, há sofrimento nisso. Então estamos aqui lhe propondo uma vida completamente diferente, um novo modo de viver, um novo modo de sentir, um novo modo de pensar, um novo modo de se relacionar com essa, assim chamada, “vida” que você chama de “minha vida”.

Aqui estamos para dizer para você que, com base na Verdade do seu Ser, no Reconhecimento de sua Identidade Real, que não é uma identidade pessoal, mas é a única Realidade aqui e agora, além de toda a dualidade, de toda essa separação – dualidade é isso: “eu e o outro”, “eu e a vida”, “eu e o mundo” – esse padrão de dualidade de existência não é a Verdade do seu Ser. Seu Ser é Aquilo que está presente como sendo a Realidade de toda essa manifestação, de toda essa existência. A Não dualidade é a Natureza do Ser. Então os Sábios, como Ramana Maharshi e todos os outros, sempre colocaram a beleza e a importância da Advaita, da Não dualidade. Uma vez que você Realiza o seu Ser fica claro que não há nenhuma separação entre você e Deus, entre você e outro, entre você e a vida, então não é mais “minha vida”, não é mais os “meus negócios”, não é mais a “minha família”, não é mais o “meu filho”. Tudo isso são imagens que temos em nossas relações com o mundo, com o outro. Quando estamos em contato com a família é esse “eu” no contato com a família, é esse “eu” nessa ignorância de ser “alguém”, de ter essa existência separada que está apegada, agarrada e a isso nós damos o nome de “amor”. Nós temos posses materiais inanimadas como uma casa, um carro, um tapete, e temos posses animadas como o nosso pet de estimação, o nosso marido, nossa esposa, nossos filhos. Esse controle, essa posse, dentro dela pode haver afetividade, pode haver carinho, pode haver apreciação, mas nada disso é amor. O que está presente é o apego e o medo de perder, e fica muito claro quando você olha para si mesmo e percebe que você tem algum nível de inveja do outro, tem ciúme de perder, tem desejo de controlar, fica agressivo quando não consegue isso, quando os seus desejos são frustrados ou rejeitados pelo outro que você diz amar, e você fica com raiva, se torna violento. Fica muito claro que não existe amor em nossas relações, há muito medo, muita dependência, então o que prevalece é o ego, essa egoidentidade, a ilusão de “alguém” presente.

Aqui estamos trabalhando com você o fim desse “eu”, desse ego, a Realização da Verdade do Despertar da Consciência, o seu Ser em Amor, em Paz Real, em Felicidade Verdadeira. Então, toda essa “felicidade” que você imagina, toda esta “paz”, que é a paz dos políticos, a paz dessas pessoas religiosas que falam sobre isso em seus púlpitos e em classe de escola bíblica, não é disso que estamos falando. Estamos falando de uma Paz que ultrapassa toda compreensão humana, a Real Paz. Não estamos falando do amor que as pessoas conhecem. Há muitas canções sobre o amor, mas é verdade isso? Elas estão falando sobre o amor ou estão retratando dependência psicológica, apego, desejo, medo, traição, dependência emocional? Nada disso é Amor. Não é Amor aquilo que sentimos, porque se tem um “eu” comprometido nisso, o que está presente é a ilusão de “alguém”. Estamos juntos?

Assim, o nosso trabalho aqui consiste na investigação da natureza dessa consciência do “eu”. Neste “eu” existe o pensador com o seu pensamento, existe aquele que sente com o seu sentimento, aquele que se emociona com a sua emoção. Existe esse autor das ações com os seus feitos, com as suas ações, com as suas realizações, então há essa separação, há essa dualidade. Agora mesmo, existe aqui o falar e a ilusão de “alguém” ouvindo, isso é uma crença. Acreditamos que estamos dentro do corpo ouvindo alguém, esse ouvir é um movimento agora aqui presente dos sentidos e o intelecto está, também, aqui presente dentro de um condicionamento que pode estar aceitando ou rejeitando, concordando ou discordando daquilo que é dito. Na verdade, o que temos presente é o sentido ilusório de um “eu” estabelecido agora, aqui, nessa experiência do ouvir, avaliar, julgar, comparar. Não há Verdade agora, aqui para esse “eu”, essa é a ilusão da egoidentidade, da pessoa que acreditamos ser. O trabalho aqui consiste no reconhecimento d’Aquilo que está além desse concordar, discordar, desse “alguém” ouvindo, desse “alguém” falando. A ciência de Unicidade, de Não separação, a Verdade da Não dualidade, a Verdade de que só há Deus, nisso consiste a Verdade do Amor, a Verdade da Consciência, a Verdade da Paz, a Verdade do Despertar da Consciência, da Iluminação Espiritual.

Uma aproximação de si mesmo lhe faz perceber a beleza desse contato com a Real Meditação de uma forma prática, vivencial, e isso é o fim da ilusão, é o fim do sofrimento, é o fim dessa confusão toda, que é a confusão do “eu” dentro dessa particular vida, dentro dessa história assustada, complicada, aflitiva. O convite para a Verdade do seu Ser é o convite para a Realização de Deus, a Realização da Beleza, a Realização do Amor, então aqui se inclui tudo: amigos, parentes, vizinhos, empregados, o patrão, a família, mas nada está separado desse Amor, e quando há Amor, não há confusão, não há sofrimento, não há medo, não há desejo, não há apego.

Julho de 2023
Gravatá – PE, Brasil