Busca pela espiritualidade | Como vencer os traumas do passado?

Aqui nesses encontros, nós temos tratado com você de diversas questões, todas que dizem respeito à verdade da Autorrealização, à Realização d’Aquilo que nós somos, a esta Realização Divina. E hoje eu quero trabalhar com você essa questão da busca.

Há em cada ser humano uma procura, um anelo, um anseio, uma busca por algo além daquilo que têm sido as nossas vidas. Alguns identificam essa busca como a procura ou a busca pela espiritualidade. Mas quando nós nos aproximamos dessa palavra, “espiritualidade”, o que nós percebemos é que a mente humana tem muitas ideias a respeito do que ela representa.

Assim sendo, as pessoas estão nessa, assim chamada, busca pela espiritualidade, procurando alguma experiência, algum contato com algo fora da rotina, do tédio, da repetição, da continuidade que têm sido a vida delas. Mas qual será essa verdade da busca? O que, afinal, estamos buscando?

A meu ver, a verdade dessa busca, para a maioria das pessoas, é aquilo que está presente em razão de um nível interno de não conformidade, de não estabelecimento, de não aceitação dessa condição em que elas se encontram. Ocorre isso em razão de um nível profundo de insatisfação. E aqui nós temos que investigar essa questão da insatisfação, e ver se, de fato, existe a possibilidade de encontrarmos essa, assim tão sonhada, realização de satisfação nessa busca da espiritualidade.

A maioria das pessoas terminam procurando antes no mundo, na busca do preenchimento de uma realização externa, nessa experiência com realizações externas. Cansadas disso, elas começam a se voltar para essa, assim chamada, busca pela espiritualidade. E, no entanto, essa, assim chamada, busca espiritual ou pela espiritualidade é, ainda, a busca da substituição do estado de vida em que elas se encontram, que é de insatisfação, por alguma coisa que possa preenchê-las.

Portanto, há uma busca de preenchimento, de satisfação, de realização, na tentativa de se completar, de se sentir feliz, de se sentir em paz, em liberdade, em amor, em completude. Aqui nós estamos vendo isso com você, dizendo claramente que nós não podemos continuar dentro desse modelo, nessa tentativa de substituir algo que temos, que estamos vivendo no momento, por algo que queremos viver depois, alcançar depois, ou algo que temos e que precisamos nos livrar disso ou substituir por alguma outra coisa.

Nós precisamos ter um olhar direto para essa condição, que é a condição da insatisfação. Perceber esse elemento presente na insatisfação. Qual é esse elemento que está insatisfeito? Observe, não se trata daquilo que está faltando ou daquilo que aqui está presente que não nos dá a satisfação que nós desejamos, e, sim, esse elemento presente que está infeliz, que está insatisfeito.

Assim, o que, na verdade, estamos buscando? É o fim da insatisfação ou a compreensão do que a insatisfação representa? Reparem que é algo totalmente diferente. A busca para o fim da insatisfação com uma substituição é algo diferente da compreensão direta da insatisfação para o fim dela.

Compreender a insatisfação é, na verdade, compreender esse elemento que está infeliz, que está insatisfeito. E procurar algo para preencher e para pôr fim a essa insatisfação, na realização de alguma coisa, é apenas procurar uma substituição. Então, notem que é algo completamente diferente daquilo que estamos propondo aqui para você.

Aqui não se trata de encontrar alguma coisa, não se trata de se livrar de alguma coisa que nos deixe infeliz ou encontrar alguma coisa que possa nos deixar felizes. Aqui se trata da compreensão da verdade sobre a infelicidade presente naquilo que “eu” sou. Nada na vida, no mundo, em qualquer realização, seja alcançando algo ou seja se livrando de algo que irá lhe fazer feliz.

Observe que o que nós chamamos de felicidade está nessa sensação de estar feliz. Então, quando você se sente feliz, você está em felicidade. Agora, por quanto tempo dura esta felicidade de se sentir feliz? Quando algo acontece que lhe preenche, que lhe completa, que lhe satisfaz, você é feliz. Mas o que você chama de felicidade aqui, em se sentir feliz, se trata de estar temporariamente preenchido por algum nível de satisfação, de realização, de prazer.

Isso que nós chamamos de felicidade, que consiste em uma experiência que nos acontece e é logo substituída por uma outra experiência, e depois por uma terceira, por uma quarta, e assim por diante, está dentro desse modelo ainda, que é o modelo da rotina, que é o modelo do tédio, que é o modelo da continuidade.

Então, nós precisamos nos perguntar qual é a verdade daquilo que estamos buscando. E aqui estamos apontando, sinalizando para você a verdade sobre isso. A verdade é que você não está à procura de algo. Você está na busca – e é claro que tudo isso é inconsciência, isso se processa no nível do qual você não toma ciência –, está à procura de algo que não faz parte do conhecido, que não faz parte do modelo do pensamento.

É importante que se diga isso aqui: tudo que o pensamento conhece está dentro daquilo que ele representa. O que ele representa, porque é aquilo que ele conhece, está dentro dessa limitação, e isso nós temos experimentado. Então, a vida inteira, nós passamos muitos anos de nossas vidas envolvidos na busca ou na procura de alcançar algo ou de se livrar de algo que o pensamento conhece, que está dentro desse padrão do pensamento.

Portanto, a nossa vida mental, que é essa vida dessa consciência do “eu”, está determinando essa procura, essa busca, e essa Felicidade real não é compreendida, não é constatada, porque estamos sempre no campo do conhecido, que é o campo do pensamento.

Quando as pessoas se aproximam desses encontros e perguntam como meditar de verdade, alguém parece ter dito para elas que a meditação irá, também, lhe proporcionar alguma coisa, lhe dar alguma coisa e ela vai alcançar, a partir da meditação, alguma coisa que lhe fará feliz. Não é essa a verdade sobre a Meditação. Nós temos que investigar o que é a Meditação, perceber a realidade da Meditação e o que significa meditar.

Meditar é exatamente ter um esvaziamento de todo esse conteúdo do conhecido, conteúdo da mente, que é o conteúdo que faz parte desse movimento do pensamento. Então, a verdade da Meditação é a ciência de Ser, e ela está presente quando esse elemento de insatisfação não está. E o elemento da insatisfação não é a ausência de alguma coisa que está faltando, nem é se livrar de alguma coisa que está presente, causando a insatisfação. A verdade da Meditação é o fim para a ilusão desse insatisfeito, que é o “eu”, o ego, esse “mim”.

Então, qual é a verdade da Meditação? Como meditar de verdade? Tomando ciência desse elemento da insatisfação, que é o “eu”, o ego; compreendendo que nada pode preencher essa condição, que é a condição de uma identidade ilusória presente que carrega toda essa condição psicológica de desordem, de todo tipo de desordem, de todo tipo de sofrimento. E tudo isso faz parte desse padrão do passado. É ele que sustenta esse elemento de insatisfação, que é o “eu”, que é o ego.

Quando as pessoas perguntam: “Como vencer os traumas do passado?”. Notem, o estado interno de consciência do “eu”, do ego, é carregado de todo tipo de problemas, de desordem e sofrimento. Existem diversas formas de traumas, por exemplo.

Ter um contato com a realidade daquilo que esse “eu” representa, tomar ciência do movimento dele e ter um esvaziamento de todo esse conteúdo que vem do passado, que se abaliza, que se assenta basicamente no pensamento, isso é o contato com a verdade da Meditação. Então é possível um esvaziamento desse conteúdo. Não se trata de vencer o trauma, trata-se de ter uma compreensão direta desse elemento que é o “eu”, o ego, que vive no passado, que vive do passado e, portanto, está nesse trauma.

Quando as pessoas perguntam: “Como vencer os traumas do passado?” Tomando ciência desse passado, desse sentido do “eu” presente na experiência, na continuidade desse estado de sofrimento, de conflito, de dor, de pesar, de insatisfação. Ter um olhar direto para todo esse movimento interno dessa consciência do “eu” é ter um esvaziamento desse conteúdo, então nós temos o fim dos traumas do passado, porque temos o fim do passado.

Lidar com esses traumas é como lidar com toda forma de medo, de sofrimento psíquico. Tomando ciência do movimento dessa consciência, é possível o esvaziamento desse conteúdo. Quando ocorre esse esvaziamento, nós temos um contato com Algo além da mente, além do “eu”, além do ego. Então a beleza do Despertar acontece, desse florescer da Consciência acontece. Essa é a Realização Divina, essa é a Realização de Deus.

Então, o que é isso que estamos buscando? O que, de fato, nós precisamos para nos libertarmos de tudo aquilo que psicologicamente o sentido do “eu” representa aqui, nessa vida, nessa particular vida do “eu”, do ego? Do que, de fato, nós precisamos para o fim dessa insatisfação, para o fim desses traumas, desses diversos temores, aflições, conflitos, dilemas e problemas? Precisamos ter uma aproximação da verdade sobre a Meditação.

É isso que estamos trabalhando aqui com você; lhe mostrando que, sim, é possível a vida ocorrer sem esse elemento que se separa dela, que é o “eu”, o ego, e, portanto, produz conflito, contradições e toda forma de confusão. Assim, o contato com a realidade deste Ser Real, que é a Natureza de Deus, aqui e agora, é o fim dessa desordem, é o fim dessa confusão, é o fim desse sofrimento, dessa insatisfação.

Junho de 2024
Gravatá – PE, Brasil