Fugas psicológicas | Como vencer o medo?

Nós temos procurado apresentar para você esses assuntos de uma forma muito direta, porque nós precisamos urgentemente compreender aquilo que nós somos. Porque é quando há essa compreensão que a libertação dessa confusão ocorre. Eu me refiro a essa confusão do “eu”, do ego.

Nós, como criaturas humanas, agimos de uma forma muito curiosa. Nós não temos ciência da confusão em que nós nos encontramos. Perceba o que estamos dizendo aqui para você.

Nós não temos ciência clara de como estamos confusos, desorientados, desordenados, o quanto vivemos uma complexidade interna, psicológica, que nos coloca numa condição de vida externa, numa grande desordem e confusão. E, no entanto, não temos a mínima noção de que, na verdade, estamos vivendo assim.

Nós temos tantas formas, tantos mecanismos de ocultarmos isso de nós mesmos, de nos escondermos de nós próprios dentro dessas situações, que nós não temos ciência de como, de fato, nós nos encontramos.

Então, uma das coisas muito curiosas no que diz respeito ao ser humano é que ele vive fugindo. Nós temos diversos mecanismos de fugas psicológicas para não presenciarmos em nós mesmos, não tomarmos ciência em nós próprios dessa dor que representamos para nós mesmos e para o outro. Então se faz fundamental para todos nós, de grande urgência, termos uma aproximação da Revelação do nosso Ser.

O que estamos fazendo juntos aqui é investigando a natureza da verdade sobre quem nós somos. Porque não está na Real Verdade do nosso Ser toda essa confusão. Está, sim, naquilo que somos, naquilo que apresentamos ser, naquilo que manifestamos ser nesta vida, toda essa confusão. Então, a verdade sobre nós precisa ser compreendida.

Então, há duas coisas aqui: a compreensão da verdade sobre quem somos e a Realidade do nosso Ser, que é outra coisa. A verdade sobre quem nós somos é fácil ser constatada. Digo fácil, se dermos atenção para isso, o que nós não temos feito. Tudo que nós temos feito é fugir desse olhar para nós mesmos.

Quando a dor se torna muito aguda, muito intensa, nós procuramos uma ajuda. Então nós buscamos na psicoterapia, buscamos na hipnose, buscamos alguma forma de tratamento para termos, temporariamente, um alívio dessa implacável dor que está presente nesse “mim”, nesse “eu”, nesse ego.

Então, através de um tratamento ou de medicações, nós estamos sempre, de uma certa forma, tendo, temporariamente, um alívio para essa condição crucial, que é a condição do ego. Eu sei que soa desafiador ler isso aqui, mas nós temos que tornar isso claro para você.

Esse “eu”, esse ego, não tem cura. O que podemos dar a ele é um tratamento, uma condição de melhor ajustamento. Então ele se ajusta, de uma forma mais adequada, religiosamente, politicamente, socialmente, familiarmente, com ele próprio. Ele busca alternativas de ajuste. Então há um alívio temporário dessa aflição de ser alguém.

Esse “ser alguém” pode ter um alívio dessa sua aflição, mas a aflição continua. Enquanto houver esse sentido do “eu” presente, que é o sentido do ego, haverá sofrimento. Então nós temos diversas perguntas desse tipo: “Como vencer o medo?” “Como lidar com os pensamentos?” “Como atender essa questão em nós do desespero, da ansiedade, da depressão, da angústia, dessa dor existencial, dessa dor da solidão?”

Tudo o que temos feito é buscar uma forma de ajuda para minorar, para minimizar essa condição psicológica sofrida, complicada, de ser alguém. Nos falta a compreensão da verdade sobre quem nós somos aqui, nesse momento. Tomar ciência da inveja, do ciúme, da raiva, do medo, do conflito que os desejos causam. Veja, esses aspectos para nós, claramente são aspectos de sofrimento.

Embora não tenhamos ciência de que eles são aspectos presentes em cada um de nós, eles estão aí presentes. Mas temos também outros aspectos dos quais nem mesmo temos a menor aproximação para perceber que também são causas de contradições, conflitos e sofrimentos em nós. Por exemplo, a busca pelo prazer.

É nessa insatisfação que essa busca por essa ou aquela outra forma de preenchimento – emocional, sentimental, sexual, ou adquirindo bens móveis, imóveis – ocorre. Tudo isso são alternativas em nós nessa busca do prazer.

Então, há esse movimento dessa busca de prazer em razão dessa insatisfação. Isso nos leva a sustentar também, ainda, as contradições, as complicações e os conflitos existenciais para cada um de nós.

O que estamos propondo aqui para você é a tomada da ciência de uma relação com a vida, livre desse “eu”, desse ego. Uma vida assim é uma vida onde a ciência da Verdade de Deus está presente, do Amor está presente, da Liberdade está presente, da Inteligência está presente. Isso está presente quando o ego não está.

O ponto é que não podemos eliminar esse sentido do “eu”, do ego, a partir desse próprio centro se movimentando. Notem, como acabamos de colocar, tudo que esse centro faz, entre outras coisas, é ocultar de nós mesmos a confusão que ele produz.

Então, reparem como é bastante curioso o nosso comportamento. Nós estamos em conflito, mas não nos sentimos em conflito, porque estamos como que amortecidos, anestesiados, incientes desse estado conflituoso. Temos diversas formas de escaparmos desse olhar para nós mesmos.

Aqui o convite é estudar a si próprio, é colocar atenção para esse próprio movimento da mente. Sim, precisamos compreender como o pensamento funciona, como o sentimento, a emoção, o modo de perceber, a percepção na relação com o outro, com as situações diversas à nossa volta. Perceber dentro de cada um de nós o movimento do pensamento, da sensação, da emoção.

Tomar ciência, ter um contato direto, real, com a insatisfação, com a contradição, com o conflito, com toda forma de sofrimento. Olhar para tudo isso dentro de cada um de nós, nesse instante, isso é Autoconhecimento. Tomar ciência de como esse “eu” se processa, como ele se separa. E, quando ele se separa, é ele que está produzindo tudo isso.

A sua Natureza Real, a sua Natureza Verdadeira, a Realidade deste Ser Divino que trazemos não carrega nada disso. Isso é algo periférico. Mas está na periferia desse centro. Observe isso. É um centro que está sempre se mantendo dentro de uma continuidade por não ser observado, por não ser compreendido.

O Autoconhecimento, o estudar a si mesmo, é compreender essa estrutura, que é a estrutura do “eu”, desse centro. A compreensão desse centro é o fim dele com sua periferia. Essa sua periferia é o sofrimento em suas diversas formas. Esse centro é a raiz de toda essa árvore. O ponto é que, psicologicamente, o ser humano é isso. O nosso movimento psicológico de ser alguém é somente isso.

Olhar essa estrutura, tomar ciência dessa estrutura, é compreender essa raiz, é compreender essa árvore, é se ver livre dessa raiz e, portanto, dessa árvore. Então, uma Vida Divina, uma vida em Amor, uma vida em Paz, uma vida em Liberdade é algo possível quando você compreende a Verdade do seu Ser, que é a Verdade de Deus. Então o conflito termina, o sofrimento termina, esse movimento caótico de pensamento termina.

Não se trata de alguém lidando com os pensamentos, e, sim, do fim desse alguém, porque é esse alguém que é o pensador. É esse pensador sendo esse alguém que está sustentando essa continuidade de pensamento caótico, conflituoso. Nós não perguntaríamos como lidar com os pensamentos se os pensamentos não se constituíssem de problemas para cada um de nós.

Aqui, o ponto interessante para você estudar é compreender que o pensamento em si é funcional quando não é disfuncional. Ele é funcional quando você precisa da memória técnica para trabalhar em uma profissão, para se lembrar do seu próprio nome, para se lembrar do nome de uma outra pessoa, para se lembrar do endereço dela.

Essa qualidade de pensamento, que é a memória simples, nós precisamos dela, precisamos do conhecimento nesse sentido, nessa área. Então, esse pensamento simples é algo funcional.

O problema é que nós temos um modelo disfuncional de pensamento, que é esse pensamento que produz contradição, que produz conflito. É por isso que perguntamos como lidar com os pensamentos, porque essa qualidade de pensamento é qualidade de memória psicológica, no qual esse “eu”, esse ego, é constituído.

Assim, uma aproximação direta de todo esse movimento, que é o movimento do “eu”, do ego, pelo Autoconhecimento é ir à raiz dessa árvore. Então é possível haver um esvaziamento para esse conteúdo psicológico que constitui essa identidade, que é a identidade egoica.

A ciência da Verdade da Meditação, da Verdadeira Meditação, dessa arte que é parte do Autoconhecimento, é fundamental. Qual é a Realidade do seu Ser? É aquilo que está presente quando a Meditação, a Real Meditação, está presente.

Aqui eu me refiro à Verdadeira Meditação, não o que as pessoas chamam aí fora de “meditação”. Aqui eu me refiro à Verdadeira Meditação, à Real Meditação. A ciência da Real Meditação, que é parte do Autoconhecimento, revela a Natureza deste Ser Divino, desta Realidade de Deus, que está além do “eu”, que está além desse “mim”, dessa egoidentidade.

Maio de 2024
Gravatá – PE, Brasil