É muito interessante quando as pessoas se aproximam e fazem perguntas do tipo: “Como vencer o sofrimento? Como vencer o medo? Como vencer a ansiedade?” Observe que nós queremos vencer, não temos ideia de quem é esse que está dentro dessa condição de medo, de sofrimento, de ansiedade; quem é esse em ansiedade, quem é esse em medo, quem é esse no sofrimento.
Qual é a verdade da vida como ela se mostra aqui, nesse instante? Nós queremos a solução para um problema, sem a compreensão daquele que está no problema, daquele que se encontra no problema. O final para todos os nossos problemas é a compreensão do que o problema representa nesse momento.
O nosso modelo de pensamento a respeito de como lidar com o problema é sempre a ideia de que esse problema, ele pode ser vencido, pode ser superado, de que é possível superar esse problema, vencer esse problema. E a ideia de vencer e superar consiste em algo que você irá fazer para realizar isto depois.
Aqui nós temos uma abordagem diferente. Estamos dizendo para você que é nesse instante, agora, e não depois, o direto contato com a verdade do que é. Qual é a verdade daquilo que aqui se encontra? Esse problema para “nós”, esse problema para “mim”, esse problema para o “eu” está na compreensão desse “mim”, desse “eu”. Então esse “nós” precisa ser compreendido, esse “mim” precisa ser compreendido. Esse “nós” que têm o problema, esse “mim” que carrega o problema, esse “eu” que está vivendo esse problema.
Assim, é agora que nos deparamos com a verdade, com o fato, com a realidade do problema, quando nos deparamos com esse “mim”, com esse centro, com esse “eu”. Como podemos resolver isso? Tendo uma compreensão do que é esse “mim”, do que é esse “eu” nesse instante. É aqui que temos o problema, e é aqui que lidamos com o problema. Não é depois desse instante, não é depois desse momento.
Perceba a beleza disso. O medo está agora, aqui, é uma realidade presente nesse instante, então há esse “eu” no medo. A ansiedade está presente nesse instante, então há esse “eu” na ansiedade. O sofrimento está presente, então há esse “eu” no sofrimento. Esse “eu” no sofrimento é o sofrimento; este sofrimento é o “eu”. No medo, esse “eu” é o medo; este medo é o “eu”. Na ansiedade, esse “eu” é a ansiedade; esta ansiedade é o “eu”.
Aqui, neste instante, você não pode separar o “eu”, que é o sofredor, do sofrimento, o “eu”, que é o medroso, do medo, o “eu”, que é o ansioso, da ansiedade. É sempre nesse momento! É sempre nesse momento que estamos lidando com a Realidade do que é, do que é o problema. A nossa ideia é: “Preciso me livrar. O que farei? O que realizarei? O que preciso fazer?” Assim, nós estamos sempre lidando com algo que se encontra aqui, nesse instante, a partir de um idealismo de futuro.
Quando lidamos com uma experiência, nós não estamos lidando com a possibilidade do tempo, só estamos lidando com a verdade do momento presente, só estamos lidando com a realidade deste agora se mostrando, e não há qualquer separação entre este agora e o medo, o sofrimento ou a ansiedade. Não há nenhuma separação entre esse “eu” e a ansiedade, o medo ou sofrimento. Assim, o “eu” é o sofrimento, é a experiência, e isso está aqui, agora.
É possível eliminarmos essa separação entre o pensador e o pensamento? Porque não há nenhuma separação. Quando o pensamento está, o pensador também está. Se há sofrimento, o sofredor está presente. É possível eliminarmos a separação entre o medo e o medroso, entre a ansiedade e o ansioso?
A nossa visão é a visão ilusória do tempo para resolver isso que está agora, aqui. Notem a ilusão: esse tempo é só uma fantasia, uma imaginação criada pelo pensamento. Não existe esse “depois” do instante presente; não existe esse “amanhã” para resolver o medo agora, o sofrimento agora, a ansiedade agora.
A presença do “eu”, que é o sofredor, que é o medroso, que é o ansioso, está agora se revelando quando esse aspecto da experiência está presente. Não há separação. Mas reparem o truque do ego, desse pensador: ele está idealizando um futuro, está idealizando o amanhã para resolver isso. Esse amanhã está dentro desse tempo psicológico, esse futuro está dentro desse tempo psicológico. É o pensamento que tem produzido essa qualidade de tempo, que só existe sendo o próprio pensamento. Assim, esse pensamento é o tempo.
Então não há separação entre o tempo e o pensamento, e o tempo e o pensamento é uma imaginação. Agora, notem: esse pensador quando está presente, o pensamento está presente, o tempo está presente, a imaginação está presente. Mas se eliminamos esse pensador, esse tempo psicológico desaparece, esse amanhã psicológico desaparece, esse futuro psicológico desaparece. Assim, podemos lidar com esse momento, com a experiência, com o que ela representa nesse instante. Então, estamos lidando com o que é, não com o que deveria ser, com o que poderia ser, com o que será. Estamos lidando com o que é.
Podemos eliminar essa separação? Quando eliminamos o pensador, eliminamos o tempo, e se eliminamos o tempo, eliminamos essa separação, porque não há mais esse sofredor no sofrimento, esse medroso no medo, esse ansioso na ansiedade. Estamos num direto contato com a experiência, e esse direto contato com a experiência é o fim para essa experiência.
Observe isso, investigue isso, se aproxime e olhe diretamente para isso. Não fique nessas palavras, perceba por si mesmo, compreenda por si mesmo o que estamos colocando aqui. Entre em um direto contato com a experiência sem esse centro, sem esse pensador. Entre em um direto contato com a experiência, mas não coloque esse experimentador que dá o nome para a experiência, para essa forma de sofrimento, chamando de medo, de ansiedade, de angústia, de depressão.
Veja, essa é uma forma completamente diferente de nos aproximarmos daquilo que aqui está, porque nós nunca nos aproximamos disso de verdade. Nós nomeamos para controlar, para tentar nos livrar, para tentar fazer algo com isso, ou para explicar para nós mesmos, por isso nós nomeamos a experiência.
Então, reparem: é um grande equívoco nosso, é um grande erro classificarmos, nomearmos, porque a nossa inclinação é de fazer algo com isso. Tudo isso é um grande jogo do próprio ego, desse pensador. Na verdade, o pensador faz tudo isso para se sustentar sendo esse pensador. O pensador faz tudo isso porque isso é a continuidade desse “eu”, desse ego. O resultado disso é que não nos libertamos do sofrimento, ficamos nomeando e procurando controlar isso.
Então, em geral, nós fazemos duas coisas: ou buscamos nos livrar, e por isso perguntamos “como nos livrar” – “como me livrar da inveja”, “como me livrar do medo”, “como me livrar da ansiedade” –, ou procuramos um expediente de fuga, de escape para essa condição psicológica.
Perceba, estamos sendo bem direto com você: quando nos sentimos desconfortáveis, em dor, em razão de um sofrimento, nós procuramos lidar com isso ou tentando nos livrar da experiência – e quando tentamos nos livrar disso estamos confirmando a presença desse ego, desse “eu”, desse pensador, estamos confirmando a presença desse experimentador para se livrar da experiência – ou procuramos fugir disso.
Assim, temos diversos expedientes de fugas psicológicas dessa dor, desse sofrimento. Nós precisamos do tempo que o pensamento constrói para realizar isso. Então, fugindo ou procurando nos livrar, nós precisamos de uma ideia, de um conceito, que o pensamento formula, para lidar com essa experiência. De qualquer forma, não entramos em contato direto com isso. O pensamento pode dizer “amanhã ficarei livre”; ou o pensamento pode encontrar alguma coisa para substituir, para colocar no lugar dessa experiência dolorosa de sofrimento psicológico, então o pensamento diz: “vamos beber”, “vamos assistir um filme”, “vamos passear”, “vamos namorar”.
Assim, há diversas formas de fugas do sofrimento, do medo, da ansiedade. Mas isso vale também para a angústia, para a depressão, para o sentido de solidão – essa dor presente nessa, assim chamada, “solidão”. Então estamos sempre procurando uma forma ou outra de nos livrarmos ou de escaparmos desse sofrimento psicológico.
Ter uma aproximação, um olhar livre desse centro, desse “eu” é algo possível quando há a Verdade da Revelação da compreensão desse processo de separação, de dualidade. A ciência da Realidade deste Ser, da Verdade do seu Real Ser, da Realidade Divina que você traz, que você é quando o “eu”, o ego, não está é a Realidade da Não dualidade. Na Índia, isso é conhecido por Advaita, a Não separação.
A Não separação, esse Natural Estado de Ser, onde a única Realidade é a Realidade Divina, é a Realidade de Deus. Isso na Índia é conhecido por Advaita, “o primeiro sem o segundo”. Essa é a Verdade que somos, essa é a Natureza Divina que trazemos. Ela não carrega nenhum desses quadros de infelicidade psicológica. O ser humano vive dentro dessa condição porque ele não conhece a Verdade sobre ele. O Despertar do seu Ser – alguns chamam isso de Iluminação Espiritual –, o Despertar de sua Natureza Divina é a ciência da Não dualidade, que é Advaita, a Não separação.
O contato direto com a Verdade do seu Ser é algo fundamental. A única coisa na vida é Realizar o fim para toda forma de sofrimento, para toda confusão, para toda desordem. Esse encontro com a Verdade de Deus, com a Verdade do seu Ser é a constatação da Felicidade. Então esse encontro é um constatar da Verdade Divina, que está presente quando Algo fora de tudo aquilo que a mente egoica, que o ego conhece. Quando esta Realidade se mostra, Aquilo que é Desconhecido, que é Inominável, que é Indescritível se apresenta.