Tempo psicológico | A visão do Autoconhecimento | A natureza do pensamento

O que, na verdade, nós estamos procurando: a felicidade ou a satisfação? Parece que a maioria de nós não tem a menor ideia do que a felicidade, de verdade, representa. Nós temos uma projeção, nós temos uma ideação, nós temos uma imaginação a respeito dessa coisa misteriosa chamada felicidade. Eu digo “coisa misteriosa” porque nós não estamos lidando com algo que o pensamento consiga esclarecer, ter uma ideia, uma noção da verdade do que isso representa. Tudo que nós temos feito é idealizar, é pensar a respeito, é imaginar alguma satisfação que nos dê essa coisa chamada felicidade. Assim, qual será a verdade desse encontro? Qual será a verdade dessa constatação?

Primeiro, antes de tudo, vamos ver uma coisa aqui. É possível encontrar a felicidade? É possível encontrar essa “coisa misteriosa” ou o que nós podemos encontrar é apenas satisfação? Ao longo das nossas vidas, nós temos encontrado muitos momentos de satisfação. Em algum nível de preenchimento e realização, nós nos deparamos temporariamente satisfeitos; logo depois essa satisfação desaparece. Mas o ser humano está projetando, idealizando, imaginando uma satisfação que seja permanente, e nós estamos dando nome a esse nível de satisfação de “felicidade”. E aqui estamos dizendo para você que isso não é encontrável. Você não pode encontrar uma satisfação que seja permanente, muito menos pode se deparar com esse encontro com a felicidade, uma vez que fique claro o que a Felicidade, de verdade, significa.

Felicidade é aquilo que está presente agora, aqui. Não é algo dentro do tempo e, portanto, não é algo que você encontra numa busca, numa procura. No entanto, essa Felicidade está presente quando o sentido desse “eu” não está mais. Então, nessa procura ou nessa busca nós não estamos investigando a natureza daquele que busca, daquele que procura. Então, nesse pensamento sobre a felicidade nós não estamos investigando a natureza desse pensador. O pensamento da felicidade, será que isso é algo que se separa desse que pensa, que é o pensador? Há uma separação entre o pensador e o pensamento? Há uma separação entre esse que busca e aquilo que ele idealiza como seu propósito para ser encontrado?

Então, notem, nós não temos uma visão da Verdade sobre nós mesmos. Nós desconhecemos quem somos, desconhecemos esse que busca, desconhecemos esse que pensa, não compreendemos a natureza do pensamento, a estrutura desse pensador. Não conhecemos a natureza daquilo que está sendo procurado ou buscado, que damos o nome de felicidade, e que, na verdade, é a busca da satisfação permanente, que nós estamos dando o nome de felicidade, e não compreendemos a estrutura desse buscador.

Então, o nosso momento aqui é um momento de investigação da Verdade, daquilo que se passa agora, aqui, dentro de cada um de nós. Tomar ciência desse buscador, tomar ciência desse pensador, compreendendo a estrutura desse pensador, desse buscador, compreendendo a natureza desse pensamento, a natureza dessa, assim chamada, “felicidade” para esse “eu”, para esse “mim”, é o que estamos fazendo agora, aqui.

Ter uma aproximação de si mesmo, percebendo que esse pensamento está presente em razão desse pensador, e que essa busca está presente em razão daquele que busca, tomando ciência que não há qualquer separação entre a busca e o buscador, entre o pensamento e o pensador, isso nos coloca numa posição nova, aqui, nesse instante. Agora não há mais esse movimento de busca, não há mais esse movimento de pensamento. E quando isso termina, porque ao olharmos para aquilo que está aqui presente nos tornamos cientes dessa divisão, dessa separação, a ciência disso é o fim dessa separação, é o fim dessa divisão entre pensamento e pensador, entre esse buscador e aquilo que ele está buscando. Quando isso ocorre aqui, nesse instante, se revela a visão do Autoconhecimento.

Então, o Autoconhecimento é a única coisa que se faz necessária nesse momento para a compreensão da Verdade de onde se encontra a Felicidade, de onde se encontra a Verdade, de onde Deus se encontra. A Verdade da Felicidade, a Verdade de Deus, a Verdade sobre isso está na constatação de que esse sentido desse “eu”, desse “mim”, desse que é o próprio buscador, que é o próprio pensador, o descarte desse sentido do “eu” – notem que coisa importante temos aqui – é o descarte desse movimento que é o movimento do tempo.

O pensador é algo que vem do passado. Observe isso em você: todo pensamento em você é o pensamento que está presente em razão desse pensador. Então, o pensador está produzindo pensamentos – ao menos essa é a ideia que fazemos a respeito de quem nós somos: nós somos o pensador produzindo pensamentos. A realidade sobre isso, a verdade disso é que esse pensamento, que é o “eu”, é o próprio pensador. Se não houvesse pensamento agora, se mostrando nesse instante, não haveria qualquer pensador.

Observe isso: quando não há pensamento, não há pensador. Então, o pensamento surge em razão do pensador presente, e o pensador surge em razão do pensamento presente, e eles aparecem nesse instante em razão do passado. Essa é a verdade sobre o “eu”, sobre o “mim”, sobre o pensador. Ele é o resultado do passado. Então, é o sentido de “alguém” presente, que vem do passado; esse passado é o movimento do tempo, da experiência guardada, da experiência adquirida. Então, a memória é pensamento. Esse pensamento é o pensador, e isso é o passado. Quando o sentido do “eu” é eliminado, o movimento do passado, que é tempo, desaparece.

Então, a vida é algo que se revela agora, aqui, sempre nesse instante, sem qualquer necessidade de um experimentador que vem do passado, que é um pensador que vem do passado, que é esse “eu” que vem do passado para estar presente nesse instante. Podemos viver uma vida livre desse “eu” e, portanto, desse pensador, desse que guarda essas lembranças, desse que é o próprio movimento do pensamento, que é o próprio pensamento em movimento? Podemos aqui, nesse instante, ter a Revelação da Vida como ela se mostra sem esse sentido de um “eu” presente?

Então, percebam a beleza disso, nós temos o fim para o pensador; e se não há esse pensador, porque o tempo não está presente, não há mais esse movimento do buscador, então essa ideia da felicidade se desfaz, porque esse buscador também não está mais presente. Então, com o que nos deparamos agora? Nos deparamos com a Vida, a Vida como ela, nesse instante, se Revela: sem o tempo, sem esse passado, sem esse “mim”, sem esse pensador, sem esse buscador. Então, nesse instante, a Realidade, que é Deus, se Revela. Veja, não é algo encontrável. É uma Realidade constatável nesse instante. Essa constatação está nesse perceber; perceber a Vida sem o percebedor, sentir a Vida sem esse elemento que é o “eu” nesse sentir.

Então, nós não precisamos desse pensamento, desse movimento de pensamento que vem do passado, que vem da memória, resultado da experiência, algo que deu formação a esse “mim”, algo que sustenta e estabelece esse pensador. Todo movimento do ego é um movimento de continuidade. Para o ego se manter, ele precisa da continuidade, e a continuidade desse ego está na presença desse pensador, e essa continuidade é estabelecida pelo próprio pensamento. Assim sendo, é o pensamento, em sua continuidade de memória, que estabelece sempre a presença desse “eu” nesse instante como sendo uma identidade real, como sendo uma identidade verdadeira, como tendo uma vida própria, pessoal, particular.

Então, aqui nós estamos lhe mostrando como esse “eu”, como esse ego, que é o pensador, se sustenta, se mantém. Ele se mantém exatamente nessa busca. Nessa insatisfação, ele carrega essa busca, a busca de uma satisfação permanente naquilo que ele chama de “felicidade”, que ele chama também de “paz”, de “amor”. Ele carrega esse movimento, também, de pensamento para produzir essas imagens, que são os símbolos que esse “eu” tem do que felicidade, amor, paz representam.

Nesse momento estamos eliminando esse elemento, que é o elemento do tempo. Então, nós temos o fim para o tempo. Se temos o fim para o passado, nós temos o fim para o futuro. É muito claro isso, é sempre o passado que se projeta, então, o futuro ainda é o passado se projetando. Esse é o movimento do próprio pensamento para sustentar esse “eu” em sua continuidade. Então, nós temos aqui o fim para o pensamento psicológico, que é esse pensamento de memória egocêntrica, de identidade egocêntrica, de identidade do “eu”. Esse é o tempo que nós temos chamado de tempo psicológico, o tempo sustentado por essa identidade, que é o pensador, que para se manter está sempre sustentando o futuro com base no passado.

Então, o que é esse “eu”? O que é o ego? O que é esse pensador? Quem é esse que está presente sendo o experimentador, aquele que está transformando esse momento presente em algo para ele, pessoal? Que está olhando para esse momento presente e vendo nesse momento presente apenas uma oportunidade de novo e de novo e de novo se projetar no futuro, se projetar para o futuro?

Então, a compreensão do sentido do “eu”, a compreensão do sentido do ego, desse ilusório estado de identidade de “alguém” presente, o fim disso é o início de algo desconhecido, que é a Realidade Divina, que é a Realidade de Deus. Essa Realidade é a Felicidade, é Aquilo que está presente agora, aqui quando esse tempo psicológico não está, quando o sentido do “eu”, do ego, não está.

Aqui nesse trabalho, nós estamos explorando esse assunto com você, tomando ciência dessa Verdade, que é a Verdade Divina, Algo que está presente agora. É agora, aqui. A Realidade de Deus é a Verdade do Amor, é a Revelação da Felicidade. Então a Vida se Revela com um experimentar livre do “eu”, do ego, livre desse movimento de psicológico tempo que o pensamento está sustentando, tem sustentado.

Janeiro de 2024
Gravatá – PE, Brasil