Há uma “pessoa”, uma entidade aparente aí, que, na realidade, é só um fantasma. Falo desse senso de uma identidade separada pensando, fazendo, realizando, controlando, escolhendo, resolvendo, amando, odiando… Afinal, do que esse sentimento é feito? Do que esse pensamento é feito? Do que essa imagem que a pessoa tem dela mesma é feita?
Você pega um computador, coloca nele dois bracinhos, duas perninhas e, através de sensores e motores elétricos, esse robozinho anda e consegue falar também. Ele consegue fazer coisas como levar um objeto de um lado para o outro, aí você olha para ele e diz “ele está cheio de vida!”. Ele está cheio de vida porque fala, se move, anda e pega objetos?
O que nós temos ali é só um mecanismo, uma máquina falando, respondendo a estímulos externos, caminhando, apanhando objetos e executando diversas tarefas, inclusive tarefas muito complexas para o cérebro humano. Isso não significa presença de Consciência, então como podemos ficar admirados do ser humano também falar, correr, andar, casar, comer, procriar e fazer descobertas científicas para combater uma pandemia mundial? Quem disse para você que é necessário Consciência para isso?
A Consciência, como eu coloco essa palavra aqui, é um luxo. Consciência é Inteligência, mas não é essa “inteligência” de se fazer pesquisas e experimentos científicos – essa é a inteligência do cientista. Para mim, a palavra “Consciência” carrega o sentido de autêntica Liberdade, que é a Liberdade de não carregar conflitos de ordem psicológica, e Isso é Real Inteligência.
A compreensão da Verdade sobre Si mesmo lhe faculta essa Real Inteligência. Quando essa Inteligência está, não há mais sofrimento, não há mais conflito, não há mais ignorância. Essa estupenda e maravilhosa conquista humana nas ciências, na medicina, nas pesquisas espaciais, enfim, em todas as áreas humanas, trouxe agilidade, rapidez, longevidade física, mas o homem continua internamente miserável, conflituoso, infeliz, perturbado, estúpido. Nada disso nos deu uma real civilização.
Isso nos permite, por exemplo, essa comunicação aqui. Aqui tem um menino do Canadá, uma menina da Áustria, e estamos em tempo real. Isso há cem anos seria impossível! Mas o que, de fato, isso representa em relação à Paz, à Liberdade, à Consciência Divina? O que isso representa quanto à ausência de medo e sofrimento?
Nesse sentido, nossa civilização é a da idade da pedra, igualzinha, a mesma civilização, pois a inveja é a mesma, o ciúme é o mesmo, a ignorância sobre o viver e o morrer é a mesma, o medo é o mesmo…
A beleza deste encontro chamado Satsang é que aqui você pode descobrir uma vida sem medo, sem ignorância, sem sofrimento. É possível descobrir a Verdade sobre Si mesmo! A Felicidade é possível, a Liberdade é possível, o Amor é possível, a Inteligência é possível, a Paz é possível, mas não o que você entende por “felicidade”, “liberdade”, “amor”, “inteligência” e “paz”.
Então, do ponto de vista psicológico, somos uma civilização da idade da pedra, já do ponto de vista científico e tecnológico nós somos uma civilização do século XXI. Isso é uma coisa fantástica? Não, absolutamente não.
Você não precisa se orgulhar disso se ainda está sofrendo de inveja, de ciúmes, de despeito; se carrega questões como diferenças de raça, classe, cor; se vive na ilusão de ser um agente, um fazedor, um realizador, alguém que tem o poder de escolher e total controle sobre a vida e a morte, todo esse tipo de fantasia. Do que você deve se orgulhar? Quem sentiria orgulho e do quê? Do que você deve se orgulhar se não sabe do que os seus sentimentos são feitos, se não sabe lidar com pensamentos?
É só você olhar para si e ver como você reage o tempo todo a provocações que o pensamento e o sentimento criam. É só você observar toda a confusão que esse “vírus” do sentido de separatividade tem provocado. Esse “vírus” tem desenhado um jogo bem interessante, que falsifica sua real identidade e faz você se identificar com aquilo que não é, perdendo de vista a Verdade do que realmente Você é.
A responsabilidade por essa ignorância sobre quem você é dessa “pandemia”, desse “vírus” – o “vírus” do sentido de separatividade! Isso requer agora uma observação cuidadosa, paciente, de si mesmo. Você precisa descobrir o que eu tenho chamado aqui de “Meditação”, a arte de não se identificar com as histórias que os pensamentos criam e os sentimentos, bastante convincentes, confirmam. Nessa ilusão, temos bastante certeza de que isso faz parte do nosso Estado Real, do nosso Estado Natural. Quando você vai fundo nessa investigação sobre quem é você, não fica “você”.
Alguns de vocês passaram por diversos caminhos antes de se depararem com este encontro aqui. Tudo o que nós esperamos, na mente, é fazer algo, e tudo o que se descobre, quando não há mente, é que nada existe para se fazer. Não existe qualquer coisa que você possa fazer para aproximá-lo Daquilo que Você é. Aquilo que Você é, é agora, aqui! Isso já é assim!
Aqui é parar de fazer. A auto-observação é a visão de uma testemunha que não interfere, que apenas se aproxima para observar. A mente egoica tem sempre a intenção de fazer alguma coisa, de mexer aqui e ali, de tentar alterar, de uma forma ou de outra, o que aparece.
O ego se passa por policial, por detetive, para encontrar o criminoso, mas, na verdade, ele é o criminoso se disfarçando de policial. Ele não tem nenhum interesse em ser encontrado, então ele vai alterar a cena do crime e vai atribuir a outros o crime que ele mesmo está cometendo. Como ele faz isso? Fazendo coisas!
As pessoas têm uma visão equivocada, elas acreditam que, fazendo alguma coisa, terão alguma coisa, e aqui não se trata de ter alguma coisa, mas de perder tudo! Não se trata de chegar em algum lugar, mas de descobrir que você já está dentro de casa.
Se você percebe a confusão, ela se desfaz. Quando você chega ao suspeito, acontece uma coisa misteriosa: você descobre que ele não está ali. Não existe tal coisa como uma identidade separada! A Meditação não lhe mostra quem Você é; Ela desfaz a ilusão da mente e, quando não há mente, você tem a casa em ordem. Não há mais um criminoso nem bagunça, não há mais provas nem crime.