As pessoas dizem que Ramana estava em silêncio… Sua Upadesa, seu ensino, foi sempre através do Silêncio. Mas, você não deve confundir o Silêncio de Ramana com o silêncio da não fala. Ele estava no Silêncio e comunicava em silêncio. Para nós, comunicação é fala; para o Sábio, comunicação é comunicação. Ele estava dando um recado em silêncio, mas ele não estava no silêncio da não comunicação. Até em nossa experiência ordinária, nós sabemos que comunicação não depende de fala.
O som da voz, a fala, é apenas uma forma de comunicação, mas não é a mais importante. Para o Sábio, a maior forma de comunicação é o Silêncio, mas o Silêncio não implica ausência de voz, de fala… Ramana também falava!
O que vemos, na mente, é uma fala que não comunica e um som que não diz nada. Em nossa experiência comum do dia a dia, percebemos que basta um olhar, um gesto ou uma expressão facial para que algo seja comunicado. Quando é direcionada a você uma expressão facial de raiva, você sabe que o outro está com raiva. Quando ele abre um sorriso, você sabe que ele está feliz em vê-lo, que você está deixando-o bem.
Vocês estão em Satsang para receber a comunicação, para saber o que está sendo pedido a você. Você vem a Satsang para descobrir como Realizar o que Você É e a premissa primária é que você está diante de um Buda, ou assim deveria ser. Você está aqui para descobrir como não sofrer mais, como não se equivocar mais, como não ser infeliz. Então, se esse é o propósito em Satsang, você precisa descobrir o que deve pegar e o que deve largar; o que é relevante e o que não é relevante para você.
A questão para você formular, em Satsang, é: “Quem sou eu?”. Então, você aguarda a comunicação, que pode vir pela fala, pelo gesto, pelo olhar, pelo silêncio… Se a sua disposição estiver em receber, em descobrir o que tem que pegar e o que tem que largar, a comunicação virá.
Essa foto para mim [Mestre aponta para a foto de Sri Ramana Maharshi], durante todos esses anos, não foi apenas uma imagem parada, uma expressão facial. Através dessa foto, o meu Guru, o Mestre, estava dizendo o que era falso e o que não era; o que era ilusão e o que era real; o que eu tinha que pegar e o que eu tinha que largar para realizar a Felicidade. Então, essa imagem nunca foi a mesma, ela estava sempre comunicando essa investigação.
Isso não é de se admirar, porque a vida está o tempo todo lhe dando sinais do que são meras repetições, hábitos e práticas que não significam absolutamente nada para você, para sua Felicidade, para sua Realização, e que você deve soltar. Da mesma forma, a vida está lhe indicando aquilo que você deve pegar; o que é relevante e o que não é relevante; o que é importante e o que não é importante.
Em geral, a pessoa não consegue ver esses sinais da vida, não consegue ver essas expressões no “rosto” da vida. Então, ela precisa de um Mestre vivo, de um Guru, para ver, na expressão de um rosto humano, o que é Real e o que não é real; o que vale a pena sustentar e o que não vale. Então, o Guru sempre será importante.
O Guru não precisa, necessariamente, ter uma forma humana, mas precisa ter um rosto. Se ele tem um rosto, ele é o Satguru, e se você pode olhar em seu rosto, ele é o seu Mestre. Mas, se você não pode olhar em seu rosto, você continua cego. A capacidade de olhar em seu rosto é a capacitação da Graça, desse poder misterioso que lhe dá abertura, inteligência e fervor… Uma Real Paixão por Isso! Eu chamo Isso de Graça, que é o que lhe dá a possibilidade dessa aproximação, para que você consiga Ver.
Eu era cego, mas agora vejo! Você vê, a face comunica e, então, você tem a inteligência, o fervor e a capacidade de “aprender”. Você “aprende” quando desaprende! Quando desaprende seu modelo, você “aprende” o que é Real. Em certo momento, essa “face” estará sorrindo para você e, no momento seguinte, ela dirá: “Você está segurando o que não deve segurar, está sustentando um equívoco, um engano, uma mentira. Solte isso!”. Na verdade, essa “face” não é a comunicação natalina do Papai Noel – “Ho, Ho, Ho! Feliz Natal para todos!”. O Papai Noel é uma ilusão e o seu saco de presentes também.
O que você está sustentando que, basicamente, o impede de Realizar a Felicidade? Qual é o seu real impedimento?
Participante I: Eu mesmo!
Mestre Gualberto: O que acontece com esse “eu mesmo”, que é o impedimento real? Se esse “eu mesmo” é uma ficção, como ele pode se constituir em um impedimento real? Como é configurado esse “eu”? Do que ele é feito?
Participante II: É feito da valorização! Quando eu valorizo os pensamentos que aparecem, quando dou importância a isso.
Mestre Gualberto: Quando você valoriza os pensamentos, o que, basicamente, você está valorizando?
Participante I: A ilusão de alguém separado, com uma vida própria, que deve ter as coisas do jeito que quer, que deve ter os desejos alcançados… É conflito! É ficar em contraposição à vida!
Mestre Gualberto: É bem isso! Saber o que quer e o que não quer; o certo e o errado; o que deve ser e o que não deve ser. Esse é o impedimento!