A mente tem a necessidade de conhecer, porque ela tem a carência de não saber. O “não saber” na mente é a ignorância que busca conhecer. A ignorância do Sábio não busca conhecer, porque não há necessidade nenhuma de saber. A ignorância do Sábio é Ser, que é completo e, portanto, não é limitado, finito, nem é conhecido; não tem o que sabe e o que não sabe, nem o que sabe e o que ainda falta saber. É uma ignorância que carrega a compreensão do que É e o que É já está completo, não se estende, não se acrescenta, não aumenta nem diminui. Isso é Sabedoria, que é Ignorância, que é o “não saber”.
Qual o problema com a mente egoica? A mente não fica com o “não sei”, aliás, ela só tem continuidade no “vir a ser”, no “se tornar”, no “chegar”, no “alcançar”. Ela se movimenta nessa ilusão de estar num processo de crescimento, de evolução e de ampliação − é a natureza da mente egoica! Quando não há mente, não há esse movimento e isso é o que eu chamei agora de “ignorância”; não é uma ignorância que pode deixar você ignorante, mas a Ignorância que é pura Inteligência.
De onde nasce essa fala? Nasce da Inteligência! Não nasce do inteligente, porque não há o inteligente. Há somente a Inteligência, que é sinônimo de Ignorância, que não tem necessidade de saber qualquer coisa. Isso é Sabedoria! Então, Sabedoria é igual a Ignorância, que é igual a Inteligência, a Consciência, a constatação do que É, a Totalidade, ao Absoluto… Sua Natureza Real é assim.
A cultura, a educação, o estudo e os livros não podem lhe dar Isso, mas a Meditação pode fazê-lo constatar… não vai lhe dar Isso, mas vai fazê-lo constatar, porque já está aí. Então, você constata, ou descobre, o Sábio que você é e a ilusão termina. Com o fim da ilusão, há o fim da ignorância e a constatação da Compreensão, da Verdade, da Inteligência, e, com isso, o fim do sofrimento.
Quando o sofrimento termina? Quando o desejo e o medo terminam! Você quer ser algo por temer, por medo, ou por desejar escapar da dor, que também é medo. Então, desejo é medo e medo é desejo. Na Meditação, isso termina! Meditação que é a constatação de sua Natureza Real, que é Deus, que é Consciência, Presença, Verdade. O nome não importa, porque o nome é como eu coloquei agora há pouco… Mais uma vez, a gente volta para o conhecimento. Abandonemos isso, porque já sabemos que isso é ignorância aprendida… Então, a gente abandona o nome e toca na “Coisa”, ou melhor, se dissolve na “Coisa”. A mente se dissolve, se dilui na Fonte, que é a Consciência, a Verdade, Deus.
Participante: E essa experiência é transferível? Você pode transferir? Como garantir que o que você está falando não é mais um conhecimento?
Mestre Gualberto: Isso é mais um conhecimento! Se você quiser que seja, será mais um conhecimento. Se você desistir dele, ele desaparece.
Participante: Mas, qual é a diferença?
Mestre Gualberto: A diferença é existencial e não intelectual. A minha terminologia é intelectual, mas minha vivência é existencial. Eu não comunico o “intelectual”, porque eu estou além dele. Porém, você pode transformar Isso em algo intelectual; fazer como muitos hoje em dia e até se propor a fazer Satsang por aí. Depois de algumas lições, você pode transformar isso num conhecimento também, como qualquer conhecimento que se adquire.
Participante: Assim como acontece com as religiões, Mestre?
Mestre Gualberto: Sim, como fizeram com Buda, com Jesus, com Mahavira, com Krishna… Transformaram o existencial em Krishna em intelectual nos livros; o existencial em Cristo, no intelectual nos evangelhos. Então, não há nenhuma garantia de que isso aqui seja realidade… no intelecto não! Existencialmente, sim! Existencialmente é Real! Agora, se você ouvir e quiser adquirir isso, você adquire como uma nova informação, um novo conhecimento. Mas, você vai continuar aí, tendo mais uma coisa a acrescentar em cima das outras que você já tem; ou seja, será mais um lixo, mais um conhecimento Advaita ou Neo Advaita.
Participante: Mas, qual o “brinde” aí, onde você chega? Qual é o diferencial? Eu senti a sua Presença quando cheguei, mais no silêncio do que na sua fala…
Mestre Gualberto: Eu sou o Silêncio! Vocês é que me fazem falar. Eu não tenho nenhum problema em lidar com o que Sou, que é o Silêncio, mas vocês terão sérios problemas em ficarem somente com o Silêncio que Sou. Primeiro, não poderão capturar isso em sua totalidade − esse primeiro já é o último, porque vocês não poderão lidar com isso, dentro de todo esse peso de condicionamento que ainda carregam. Então, precisam de uma comunicação verbal para ir além dela e descobrirem a beleza de estar comigo nesse Espaço. A primeira coisa em que eu toco em vocês, quando vêm, é nessa dimensão.
Sabe qual é a primeira sensação que você tem, quando está comigo? Eu vou colocar em palavras, mas não tem nem como colocar em palavras… É algo que dentro de você bate assim: “Que coisa! O que é isso?”. Não é a minha fala… Antes de eu abrir a boca, olho para você e tem uma “coisa” que bate aí dentro. Então, quando eu começo a falar e gesticular, é a Natureza do Ser se expressando. Não é Marcos Gualberto, não é uma pessoa, não é uma figura, não é alguém. A mesma Consciência aqui é a mesma aí, é uma ressonância! Há um contato nessa dimensão.
Agora eu vou responder a sua pergunta. Como pode não haver mente aqui, e ter essa precisão, não só da linguagem, como o poder de acompanhar e não perder o fio da meada? A sua pergunta é: “Qual a diferença, onde está o diferencial?” O diferencial está na ressonância, que é existencial e não intelectual. Você não vai permanecer comigo porque “eu tenho um intelecto brilhante”, porque “intelecto brilhante” têm esses palestrantes por aí… Eu tenho um intelecto mediano. Não é o intelecto; é a Presença da Consciência, que é Inteligência. Só que isso não é o que impressiona você. O que impressiona você, aqui, é o poder desse Silêncio, é o que o Ser reverbera, aqui.
Como um participante disse, tem momentos em que esse Silêncio varre completamente sua mente e toda a sua história. É como se algo dissesse aí dentro: “Uau!”, e você fica paralisado, literalmente. Você olha para mim, como qualquer um que chegar aqui, e vai dizer: “Olhe o jeito como o pessoal olha para ele”! Mas, se duvidar, dentro de instantes, também, vai ser capturado pela mesma “coisa”, pelo mesmo toque de Presença, de Silêncio, de Consciência. Isso é o poder da Shaktipat, do toque da energia, do toque da Presença, da Consciência. É isso que mantém você nessa proximidade.
É claro que, com o passar do tempo, como Deus é muito completo, você vai perceber que está diante de uma Inteligência que não é ordinária; não está diante de um professor que você admirou na faculdade. Você vai sempre perceber que é algo um pouco maior, comparado àquele professor que você admirava na faculdade, porque é algo diferente. É essa ressonância que pode dar a você essa certeza, e esse é o diferencial.
Primeiro, você vai perceber que eu sou o único “cara”, a única “pessoa” (como é assim que você vê todo mundo, então vai me ver, também, como uma pessoa) que, por exemplo, não tem medo de dizer para você o que eu tenho que dizer, e, ao mesmo tempo, tenho uma Graça e uma Beleza que irão encantá-lo. Você vai dizer: “Caramba! Como pode? Ele está me dando ‘pancada’ e eu continuo gostando dele! Ele está me escrachando, ridicularizando a minha autoimportância e, ao mesmo tempo, eu me sinto muito bem”! No fundo, você vai perceber que não tem nada de pessoal, que não é como ser escrachado, ridicularizado por uma pessoa que não gosta de você. Na verdade, quando olhar para mim, você vai dizer: “Caramba! Tem algo nele que não me deixa ter raiva dele”; a ponto de não dizer “ele está sendo pessoal comigo”, porque não é verdade!
Participante: Mestre, eu senti essa ressonância. O Senhor traduziu exatamente isso. Eu ficava tentando entender com a mente o que é isso que eu sinto e não dá… É somente entregar “os pontos” e ficar aqui. Não dá para traduzir, melhor nem falar porque piora as coisas…