Despertar Espiritual | Observador e a coisa observada

Aqui a pergunta é: “Como me livrar do sofrimento?” Eu gostaria de fazer outra pergunta para você: Será verdade que existe alguma separação entre o sofrimento e aquele que sofre? Porque, geralmente, a ideia que temos – e isso é algo comum a todos nós – é que uma coisa sou eu, outra coisa é o sofrimento.

Nós temos, sim, alguns momentos onde não há sofrimento e temos momentos onde o sofrimento está. Então, qual é a ideia que se tira disso? É que, se o sofrimento está algumas vezes e outras vezes não está, eu sou uma coisa e o sofrimento é uma outra coisa.

Veja como é interessante. Isso parece bastante razoável para todos nós. No entanto, nós precisamos investigar melhor, porque, no momento do sofrimento, que separação existe entre aquele que sofre e o sofrimento? Não há qualquer separação! Quando o sofrimento está presente e há um “eu” em sofrimento, esse “eu e o sofrimento” são um.

Se, por exemplo, você sente uma dor, a dor está nesse sentir. Esse sentir não se separa da dor, esse sentir é o sentir de alguém. Alguém no sentir é a dor no sentir. Então, nós temos a dor e temos o sentir, e isso não se separa. Se não houver o sentir, não existe a dor. Sem a dor, sem o sentir, não tem alguém na dor, não tem alguém no sentir.

Repare, não há qualquer separação, mas a ideia equivocada em nós é exatamente essa. Não percebemos que não existe qualquer separação entre um pensamento presente e aquele envolvido no pensamento. Se existe um envolvimento com o pensamento, esse envolvimento com o pensamento é o próprio pensamento, e é esse que está envolvido. Então, esse que está envolvido é o próprio pensamento.

Assim, se um pensamento está presente, o pensador está presente. Não podemos separar o pensamento do pensador. O pensamento é o pensador, porque quando não há pensamento, não existe qualquer pensador. Se não há sentimento, não existe esse elemento no sentir, então não existe aquele que sente. Assim como se o sofrimento está presente, isso implica a presença de um sofredor.

Vejam como isso é muito simples e razoável – verdadeiramente razoável. O sentido de alguém presente na experiência é o experimentador da experiência. Mas a experiência e o experimentador não se separam, são um único fenômeno. Percebam a importância dessa compreensão.

Como me livrar do medo? O princípio é o mesmo. Como me livrar da ansiedade? O princípio é o mesmo. A ansiedade pressupõe a presença do ansioso, e o medo, a presença do medroso. Assim como o pensamento pressupõe a presença do pensador, e o sofrimento, a presença do sofredor.

É isso que nós precisamos compreender. Se precisamos do fim do sofrimento, precisamos, naturalmente, do fim daquele que sofre. É isso que estamos tratando aqui com você, explorando aqui com você, investigando aqui com você.

Estamos tomando ciência do fim dessa condição psicológica desse “eu”, que é o experimentador da experiência, que é o sofredor do sofrimento, que é o observador daquilo que ele está observando, que é o pensador dos seus pensamentos.

A forma real de uma aproximação para a liberdade da ansiedade, do medo, do sofrimento, de tudo aquilo que esse “eu” representa na experiência, a verdade da Libertação disso é o fim desse “eu”, porque é a presença desse “eu”, desse centro, desse modelo do experimentador, do observador, é esse modelo de ser alguém que está sustentando essa condição em cada um de nós.

Qual é a verdade sobre você? A verdade sobre você está além dessa verdade que é você, como você se mostra, como você demonstra, como você parece ser. A verdade daquilo que é o que somos quando isso que somos, porque parecemos ser, não está mais presente, a Realidade d’Aquilo que verdadeiramente somos se mostra.

Nós temos explorado esse assunto com você, investigado esse assunto com você aqui. Nós temos que tomar ciência de todo esse fundo psicológico que trazemos, porque todo o nosso problema, toda a nossa dificuldade está nessa condição psicológica de ser alguém.

Tudo isso reside nessa condição psicológica de ser alguém. Então, nós fomos educados socialmente, religiosamente, politicamente, filosoficamente, espiritualmente, dentro desse modelo – além de tudo que nós recebemos da tradição familiar e de todos aqueles que chegaram aqui antes de nós.

Tudo que nós temos recebido nesse mundo, dessa cultura, é parte daquilo que se constitui essa humanidade; essa humanidade em nós, esse modelo como o nosso cérebro funciona, como essa mente em nós acontece.

O que é essa mente? Essa mente é o resultado da raça, do grupo, da família, da história humana. Nós estamos funcionando assim na vida. Estamos transportando esse modelo de separação, de dualidade, algo totalmente ilusório. A ideia de ser o pensador está sustentando todos os problemas que o pensamento em nós está sustentando, em nós está mantendo.

Essa condição em nós, nessa ideia de ser o pensador com pensamentos, controlando pensamentos, resolvendo situações através do pensamento, tendo problemas através do pensamento, tem nos colocado numa condição psicológica de existência onde estamos sustentando uma ilusão: a ilusão da dualidade, da separação.

Então, há uma Verdade presente, mas essa verdade presente não é esse “eu”, esse “mim”, esse ego. Esse “mim”, “eu”, ego, é a “verdade” psicológica de ser alguém. É isso que conhecemos como a nossa verdade de ser uma pessoa.

Essa verdade de ser uma pessoa tem nos colocado numa tremenda confusão, numa tremenda desordem, num grande peso de existência, porque há esse padrão de sofrimento psicológico, de sofrimento humano para cada um de nós em razão dessa visão particular desse centro, que é o “eu”, o ego; isso que tem se constituído como sendo a verdade sobre cada um de nós em razão desse condicionamento psicológico, desse padrão de história de humanidade.

Tomar ciência de tudo isso, o fim para tudo isso, em razão da compreensão de como nós funcionamos, nesse estudar a nós mesmos, isso é Autoconhecimento. Se isso está presente, se isso começa a florescer, podemos ter a Revelação d’Aquilo que está fora disso que somos, para a verdade desta Realidade que está presente nesse momento, quando a ilusão não está mais, quando esse sentido de separação, de dualidade não está mais.

Quando não há mais a separação entre esse observador e a coisa observada, quando não há mais a separação entre o pensamento e o pensador, entre o sentimento e aquele que sente, entre a vida e esse, assim chamado, “ser vivo”. Quando essa separação não mais existe, então temos o fim para essa dualidade. Então temos a Revelação de Algo. Esse Algo é a presença da Verdade de Deus, a presença da Verdade Divina.

Se isso está presente, não há mais sofrimento. Se isso está presente, não há mais ansiedade. Se isso está presente, não há mais depressão, angústia, medo. Porque não existe mais esse centro, que é o “eu”, o ego, se separando da vida, se separando do outro, se separando da experiência, se mostrando sempre, invariavelmente, como o experimentador, o pensador, o controlador, o manipulador e, portanto, o sofredor, o medroso, o ansioso, o deprimido.

Ter uma aproximação da verdade daquilo que somos, tomar ciência desse modelo de separação, de dualidade, tomar ciência dessa ilusão de ser alguém fazendo escolhas, resolvendo, tomando decisões, controlando, manipulando, sempre se projetando no futuro para mudar as coisas, para alterar as coisas. Tomar ciência desse modelo de ser alguém que vive nesse tempo. Percebam a beleza disso.

Esse tempo só está presente em razão desse modelo de separação. Precisamos psicologicamente, de uma forma ilusória, desse tempo para controlar, para resolver, para fazer, para obter, para se livrar, porque se há esse sentido de um “eu” para fazer tudo isso, precisamos do tempo para isso acontecer. Esse tempo é uma invenção do próprio pensamento. Percebam isso.

Sempre o pensamento está introduzindo em nossa vida, em nossa existência, essa noção: “não tenho paz, não tenho amor, não tenho felicidade, mas eu terei”. Observem o truque do pensamento, que é esse pensador, que é esse ego, que é esse experimentador, que idealiza no futuro encontrar a paz, o amor, a liberdade, a felicidade, ou encontrar, no futuro, o fim para o sofrimento, para a ansiedade ou para a depressão.

Há sempre uma ideia equivocada de tempo. Sempre o tempo está presente. Esse “sempre” está presente porque o pensamento está se movendo a cada instante, procurando prevalecer, procurando se estabelecer, procurando manter sua continuidade. O pensamento cria esse futuro, esse amanhã. Então, o pensamento sempre se mantém nesse formato, nessa continuidade.

Aprender a arte de olhar o movimento do pensamento e pôr fim há esse modelo de pensador, então ocorre um fim para essa condição psicológica de ser alguém, porque temos o fim dessa continuidade, o fim desse modelo conhecido – tão conhecido de todos nós – de estarmos nessa ilusória noção de tempo, de alcançar no tempo ou se livrar no tempo.

Esse é o nosso trabalho aqui com você. Estamos aprofundando isso, tomando ciência desta Verdade Divina que trazemos. Isso é o fim do conhecido, é o fim do modelo de ser alguém. Isso é o fim do tempo, é o fim dessa continuidade do pensamento em você. Se isso termina, a ansiedade, que tem raízes no pensamento, termina; a depressão, que tem raízes no pensamento, termina.

Todo esse modelo de vir a ser, de alcançar, termina, porque isso tem raízes no pensamento. O ego, o “eu”, é um movimento de pensamento nesse tempo criado pelo pensamento. Aqui, nós estamos aprofundando isso. A Verdade do seu Ser é o fim dessa psicológica condição de alguém presente dentro dessa experiência, sendo ele o experimentador de tudo isso.

Assim, esse trabalho aqui com você consiste nessa ciência de Ser, de simplesmente Ser, de puramente Ser. Alguns chamam isso de o Despertar da Consciência, ou Iluminação Espiritual, ou Despertar Espiritual. É a Verdade Divina se revelando, a Verdade de Deus se mostrando. Aquilo que é Você em seu Ser é o fim para a desordem, para a confusão, para o sofrimento.

Maio de 2024
Gravatá – PE, Brasil