Advaita Vedanta. Observador e coisa observada. Como lidar com os pensamentos?

Vamos tratar com você do fim dessa ilusão da separação. Algo presente dentro de cada um de nós está sustentando toda essa complicação de vida que estamos tendo, que estamos levando.

As pessoas querem se livrar do sofrimento. Elas perguntam: “Como me livrar do sofrimento?” Elas querem se livrar dos pensamentos que geram preocupações, problemas, desordem emocional, como angústia, ansiedade, depressão. Então elas perguntam: “Como lidar com os pensamentos?”. Elas querem lidar com os pensamentos porque querem se livrar dessa qualidade de pensamento.

Então, vamos ter aqui uma aproximação dessa questão do fim desse movimento interno psicológico em nós, de separação, de dualidade. Essa dualidade psicológica, os Sábios na Índia chamam de dvaita. Esse sentido de separação criado e sustentado pelo pensamento em nós: a separação entre o observador e a coisa observada.

Essa coisa observada pode ser pensamentos aflitivos, conflituosos; essa coisa observada pode ser o sofrimento, pode ser o medo, pode ser este ou aquele problema. E esse observador é esse centro, que é o “eu”, o ego, esse sentido de “pessoa” presente, que está com o problema.

Então, vamos investigar com você aqui o fim para essa condição psicológica de dualidade, de dvaita. Quando ocorre o fim para essa dualidade, nós temos o Advaita, a Não dualidade. Isso é direto dos Vedas, das escrituras dos Sábios Indianos.

Mas deixando de lado todo conceito e ideia, deixando de lado as palavras, as expressões, como “Advaita” – direto da Vedanta –, deixando de lado essas expressões, podemos ir diretamente a uma compreensão Real do significado disso, aqui, neste instante. E, assim, podemos tomar ciência do fim dessa separação.

Então temos o fim para os problemas, porque temos o fim desse sentido de um “eu”, de um ego, de uma identidade que se separa para sustentar o problema. É isso mesmo que estamos dizendo: o problema é sustentado quando existe essa separação.

A vida é como ela é. Não há problema na vida. A vida tem uma forma de expressão enigmática, estranha, misteriosa, indescritível, mas essa é a perspectiva do pensamento sobre a vida.

A vida é como ela é. Mas nós temos esse elemento, que é o elemento “eu” presente, que ao se deparar com a vida como ela é, com os desafios que ela representa, esse sentido de um “eu” se vê ameaçado, se vê desafiado, se vê com problema, porque ele se vê como uma entidade separada.

Será que podemos eliminar essa separação? Entre dois objetos nós temos um espaço. Será possível eliminarmos esse espaço? Quando nós eliminamos esse espaço, não significa, necessariamente, que os objetos desaparecem. Eles podem continuar presentes, mas sem um espaço.

Há uma qualidade de espaço inteiramente nova, um espaço inteiramente indescritível quando a vida está acontecendo, e há uma relação entre duas coisas, e temos a presença desse novo espaço. Então nós temos uma relação nova.

Entre eu e você é possível, sim, uma relação sem a ilusão de uma identidade aqui, sem a ilusão de uma identidade aí. Esse contato, nesse novo espaço, é o contato da Não dualidade, da Não separação. Então não há problema, não há sofrimento, não há medo, não há essas aflições criadas pelo pensamento.

É isso que estamos tratando aqui com você, lhe mostrando que é possível, sim, uma vida livre dessa dualidade, dessa separação. Uma vida assim tem o perfume, a beleza da presença da Verdade de Deus, carrega esse perfume do Amor nas relações. Então essas duas coisas não são exatamente duas coisas, temos uma única realidade presente. As formas são diferentes, mas a Realidade é única.

Nós desconhecemos isso. E é natural que seja assim, porque aqui estamos tratando com você de Algo Desconhecido, que é possível para a sua vida, mas é desconhecido desse modelo do pensamento, como você funciona, como nós aprendemos a funcionar aí fora, onde existe esse “eu” como uma entidade separada desse “você”.

Percebam a beleza do que estamos colocando aqui. Ao estar, por exemplo, diante de uma flor, você vê no jardim uma flor, ou uma árvore no campo, ao presenciar uma cena da natureza, como um pássaro em vôo, não há qualquer separação entre esse olhar e aquele pássaro, e aquela árvore no campo, e aquela flor no jardim. Não há qualquer separação. Por dois ou três segundos, não há um outro espaço, a não ser esse espaço da Não dualidade.

Veja, você não se transformou na flor, nem naquela árvore, nem naquele pássaro. Há uma aparente separação das formas, mas, psicologicamente, não existe separação. Por dois ou três segundos, esse é um instante de Beleza, de Quietude, de Graça.

O ego não está. Não há qualquer preocupação psicológica, qualquer aflição, qualquer sofrimento. Não há pensamentos negativos, não há pensamentos repetitivos, obsessivos. Por dois, três segundos, não existe dualidade. Temos a presença da Advaita, da Não separação.

Todos nós sabemos, já vivenciamos, já experimentamos isso. É claro que agora isso é só uma lembrança de algo pelo qual você passou. Na verdade, você não passou por isso. O que você tem nesse instante é uma memória, uma lembrança, uma imaginação do que, de verdade, ocorreu naqueles três segundos, porque nem disso você pode ter uma memória clara desses três segundos.

Você sabe que havia algo ali; esse Algo era indescritível, era o Silêncio, a Beleza, o encanto, a ausência do “mim”, do “eu”, do ego. Então, o que você tem agora, aqui, é uma lembrança.

O pensamento está procurando, de novo, tentar apreender ou compreender aqueles três segundos. Ele não estava lá. Então, a lembrança que você tem é que aconteceu algo.

Reparem, isso ocorre todos os dias conosco, mas não percebemos a importância desses instantes. Esses instantes estão sinalizando a presença de Algo fora do ego, fora dessa dualidade, fora dessa separação, fora do “eu”, fora do ego.

Então, para a pergunta: “Como me livrar do sofrimento?”. Eliminando a ilusão da dualidade, da separação, desse “mim”, desse “eu”, desse ego. É algo Real isso. Se torna possível agora, aqui, quando você descobre a arte do Autoconhecimento, a ciência da Real Meditação.

O Autoconhecimento é o esvaziamento desse conteúdo psicológico de uma identidade presente. É esse conteúdo psicológico que sustenta essa dualidade, essa separação, porque existe a ilusão de um pensador por detrás da lembrança, da memória, do pensamento, da sensação, da experiência. Então, é a ilusão desse pensador que sustenta a dualidade.

Qual é a Verdade do Autoconhecimento? Não o que alguns chamam aí fora de “autoconhecimento”. E qual é a Verdade da Real Meditação? Mais uma vez, não aquilo que alguns chamam de “meditação” aí fora. Aqui não se trata de uma prática de meditação, de uma técnica, de um sistema de meditação, mas a ciência da Verdade agora, aqui, da ausência da dualidade, da ciência do movimento de separação entre pensamento e pensador, entre o observador e a coisa observada.

A verdade sobre isso, o fim da ilusão entre o observador e a coisa observada, entre o pensador e o pensamento, traz o esvaziamento de todo esse conteúdo psicológico dessa egoidentidade. Então temos a ciência do fim para o sofrimento, para esse sofrimento do “eu”, do ego.

Ter uma aproximação da Verdade do seu Ser é ter uma aproximação do Silêncio, da Liberdade, do Amor, da Paz, de sua Natureza Divina, de sua Natureza Essencial. A expressão aqui é Advaita, a Não separação, a Não dualidade.

Então, na Vedanta, nos livros sagrados indianos, os Sábios já tratam disso há milênios, desta verdadeira possibilidade para cada um de nós de uma vida, de uma existência, sem esse “mim”, sem esse “eu”, sem o ego.

Então, quando alguém quer se livrar do sofrimento, não compreende que esse “alguém”, como não há separação entre o observador e a coisa observada, uma vez que essa coisa observada é o sofrimento, e esse observador é aquele que sofre, que é o sofredor, uma vez que não existe qualquer separação entre sofrimento e sofredor, não há separação entre aquele que sofre e o sofrimento: os dois estão juntos.

Você não pode separar o sofrimento daquele que sofre, porque quando não há sofrimento, não existe “alguém” sofrendo. Quando não há pensamento, não existe “alguém” pensando. Então, quando há pensamento, o pensador está presente. Quando há sofrimento, o sofredor está presente. Então, não existe essa separação.

Já que não existe essa separação, quando há o fim para esse centro, que é o “eu”, o observador, a coisa observada se dissolve. Esse observador é aquele que sofre, é o sofredor, e a coisa observada é o sofrimento.

Olhe para si mesmo e você irá perceber que o sofrimento presente em você está presente em razão do pensamento. Quando você tem a lembrança de algo que perdeu, você tem o sofrimento. Sem a lembrança de algo que perdeu, nada foi perdido, porque “alguém” não está presente, esse “mim” não está presente. Não há “alguém” presente sem a lembrança. Não pode haver o pensador sem o pensamento.

Percebam como tudo isso é simples, mas ao mesmo tempo é bastante delicado, porque o vício do pensamento em você está sustentando o pensador e, portanto, sustentando o sofrimento.

Então, é o vício do pensamento em você que está sustentando todo esse problema de sofrimento criado pelo pensamento – pensamentos intrusos, pensamentos obsessivos, pensamentos ruins, pensamentos negativos.

“Como me livrar dos pensamentos negativos, ruins, obsessivos?” A angústia é sustentada pelo pensamento. A ansiedade é sustentada pelo pensamento. “Como me livrar da ansiedade?” Ansiedade é pensamento. O pensamento cria e sustenta o futuro, então ele sustenta a ansiedade. Ele cria e sustenta o futuro, então ele sustenta o medo.

Se há medo, é porque o pensamento está produzindo o futuro. É o pensamento que está me falando de algo que pode vir a acontecer que eu não quero. O que é esse “eu”? É o pensador. Mas esse pensador já é o pensamento.

Investigar tudo isso é fundamental para o fim do sofrimento, para o fim da ansiedade, para o fim da depressão, da angústia, e de todos esses problemas ligados à ilusória identidade presente.

Então, o nosso trabalho aqui consiste nessa investigação, nessa descoberta, nessa constatação. Nós temos trabalhado com você isso aqui. Estamos propondo para você um trabalho direto para que, nesta vida, você realize seu Natural Estado de Ser de Pura Consciência, para que você viva nesta vida neste Despertar, neste Florescer de Presença, de Consciência.

Abril de 2024
Gravatá – PE, Brasil