Eu tenho para mim que uma das coisas mais importante aqui é aprendermos a acompanhar uma fala como essa e aplicar em nossas vidas aquilo que aqui estamos vendo, percebendo, investigando. De outra forma, nós ficamos apenas no aspecto verbal, no aspecto teórico daquilo que aqui está sendo colocado.
Reparem que nós estamos vivendo numa condição de mundo onde há confusão, onde há desordem, onde não há clareza, onde, na verdade, há muito sofrimento. Essa é a condição desse mundo – na realidade, desse sonho de mundo que nós temos, porque é o mundo que nós conseguimos reconhecer dentro desse sonho. Na verdade, esse mundo é o mundo desse próprio “eu” com o qual nós nos identificamos, com o qual nós nos confundimos, então essa é a condição de sonho de mundo que vivemos. Portanto, se a gente não aprender a lidar com essa situação, que é a vida como ela se mostra, como ela se apresenta, sem esse elemento que está produzindo essa confusão – que é o “eu” –, nossa vida continuará da mesma forma. Então, não adianta nós ouvirmos uma fala como essa apenas intelectualmente.
Eu quero tratar com você aqui sobre o aspecto, por exemplo, da escolha – essa é uma ilusão muito comum para todos nós. Nós trazemos uma ideia de que, a partir das escolhas que podemos fazer, podemos encontrar essa Felicidade, esse Amor, essa Liberdade e, assim, nós nos colocamos num movimento de ação que tem por base nossas escolhas.
Nós nunca investigamos a natureza desse “eu” que faz essas escolhas. Primeiro que essa ideia de escolha parte de uma ilusão: a ilusão de que podemos decidir, que podemos resolver e que podemos aplicar nossas decisões, nossas resoluções. Então a ideia é “alguém” presente sabendo o que é e o que não é, o que deve fazer e o que não deve fazer, o que precisa fazer e o que não precisa fazer, ou seja, estamos sempre com uma ideia equivocada, a ideia de “alguém” presente agora, aqui, fazendo essas escolhas.
O que nós precisamos descobrir é que esse fundo de escolha em nós não passa de uma programação, de um formato de pensar e de sentir. Então, a nossa base de escolha – que vem desse formato – é o resultado de um condicionamento egoico, de um condicionamento mecânico inconsciente, que é esse condicionamento do ego, do “eu”.
Assim, esse pensar e esse sentir que decidem, que resolvem e que se põem a fazer, como isso está nascendo de um condicionamento, como isso está nascendo de um programa já preordenado, com base no passado, quando entra em contato com aquilo que aqui está, produz confusão. O que estamos colocando aqui para você é que a nossa ação nesse presente momento, com base em um condicionamento do passado, tendo essa crença de escolha, de que tem “alguém” aqui capaz de saber o que é bom e o que é ruim, o que é certo e o que é errado, é completamente confuso.
Todas as nossas ações que têm por base o passado, que têm por base esse condicionamento são ações ilusórias desse “eu”, desse ego, e isso não se ajusta a esse momento presente; isso não corresponde, de verdade, a esse momento presente. Essas ações em nós que nascem do ego, que nascem do “eu” são ações com base numa escolha de condicionamento, de programação. Como é um condicionamento, como é uma programação, aquilo que a gente chama aqui de “escolha” é só a repetição do velho.
A nossa vida está confusa, desorientada, nós não temos um comportamento na ação aqui, nesse momento, que possa, de verdade, favorecer a Felicidade, porque são ações egocêntricas, são ações que nascem desse “eu” que, por natureza, está confuso. Uma ação que nasce dessa confusão, desse estado de confusão, de desordem, não pode produzir uma ação que favoreça a Liberdade, o Amor, a Paz, a Felicidade.
Nossas ações são egocêntricas porque nascem desse centro que é o “eu”, algo que está vindo do passado. Então, quando falamos de escolhas, estamos aqui falando de uma ilusão. Não existem escolhas. Todo o nosso comportamento já é um comportamento programado por um cérebro condicionado, dentro de uma mente condicionada.
Nós podemos fazer escolhas simples, escolher entre sorvete de morango ou de chocolate, mas mesmo essa escolha, que é uma escolha simples, nasce de um fundo de condicionamento cerebral. De qualquer forma, essa escolha já é uma escolha condicionada, ou seja, não é uma escolha, já existe um programa predeterminado, já existe um movimento predeterminado no próprio cérebro de decidir entre uma coisa ou outra, e isso não é uma escolha. Então essa escolha é uma escolha desse “mim”, desse “eu”, desse ego, uma escolha desse condicionamento. Portanto, não há liberdade naquilo que nós chamamos de “escolha”, porque é uma decisão já precondicionada, predeterminada por esse sentido de “alguém”.
Agora, quando estendemos esse tipo de ação para os diversos comportamentos em nossas vidas, percebemos em que confusão nós nos encontramos. Não há liberdade em nossas ações porque não há Verdade nessas decisões. Elas nascem desse fundo de condicionamento e, portanto, dessa confusão, e isso, naturalmente, produz mais confusão, mais desordem em nossas vidas. Então, nada disso representa uma Real Verdade nessa procura do Amor, nessa procura pela Felicidade. Na verdade, essa procura pela Felicidade, essa procura pelo Amor, dentro desse condicionamento, produz mais sofrimento, mais confusão.
Nesse trabalho aqui nós estamos trabalhando com você o fim da ilusão desse “mim”, desse “eu”, desse ego e, portanto, o fim da ilusão de “alguém” presente fazendo escolhas, só então podemos nos deparar com uma ação livre do condicionamento, uma ação livre do “eu”, uma ação que nasce desse Estado Natural; assim, livre da escolha. Esta ação é a ação da Inteligência, da Presença, da Consciência, da Verdade dessa Consciência, e não dessa suposta consciência que é a consciência do “eu”, que é a consciência do ego, que está sempre se movendo na ilusão de “alguém” presente dentro da experiência.
Então nós temos aqui duas formas de ilusões, nós acreditamos em duas coisas completamente absurdas. A primeira é o poder da escolha para esse “mim”, para esse “eu”, acreditando que esse “eu” pode fazer escolhas com base na Inteligência, na Liberdade, na verdadeira Consciência. A outra ilusão é a ilusão desse modelo de agir em liberdade, o que alguns chamam de livre arbítrio. Então nós temos aqui duas coisas muito interessantes: a primeira delas é a ilusão da escolha e a segunda é a ilusão do livre arbítrio. Podemos até mudar a ordem: primeiro vem a ideia desse livre arbítrio, desse poder de tomar decisões com Inteligência, com Presença, com Consciência e depois vem essa ilusão da escolha. Então, nem livre arbítrio, nem escolha tem qualquer realidade dentro dessa Inteligência, dessa Presença, dessa Consciência Real.
Na Consciência Real não há escolha e na Consciência Real se dispensa essa ideia de livre arbítrio. Não há alguém presente fazendo escolhas, não há alguém presente tomando decisões quando há Real Consciência. O trabalho do Despertar Espiritual, do Despertar da Consciência – me refiro ao Despertar da Verdade do seu Ser – é o para a ilusão desse, assim chamado, “livre arbítrio”, o fim para essa ilusão dessa, assim chamada, “escolha”. Uma ação que nasce nesse momento, em Liberdade, florescendo em Amor, em Pura Consciência é a ação de Deus, é a ação do seu Ser, é a ação livre do “eu”, do ego.
Assim, esse trabalho aqui consiste em investigarmos a natureza desse “eu”, em nos tornarmos cientes dessa estrutura e natureza dessa ilusória identidade com esse, assim chamado, “livre arbítrio” e seu poder de decisão e escolha. A Verdade é Pura Clareza, e nessa Clareza, como não há confusão, não se faz necessário qualquer escolha.
Percebam como é interessante isso: nossas escolhas são escolhas porque nós temos duas coisas, são escolhas porque nós nos deparamos com uma decisão – entre duas coisas, nós precisamos tomar uma decisão. Essa decisão de escolha entre duas coisas é algo que está presente quando não há clareza entre o que é Real e o que não é real, entre o que convém e o que não convém.
Quando há Clareza, não há escolha, há uma ação que nasce em Inteligência, em Liberdade, que flui com o momento presente. Essa ação não é uma ação que nasce do “eu”, não nasce da confusão, não nasce, portanto, da escolha. Quando há Clareza, quando há Inteligência, quando há Liberdade, a ação acontece e ela não acontece a partir de um “eu” fazendo escolhas e, portanto, de um “eu” confuso, procurando escolher entre uma coisa e outra; é uma ação nova, de uma outra qualidade.
Aqui estamos trabalhando o fim para essa velha e antiga ação presa a esse modelo de condicionamento psicológico, de condicionamento egoico e, portanto, presa dentro dessa ilusão. Repare que todas as nossas ações com base no “eu” se mostram a curto, médio e longo prazo como ações que produzem sofrimento para nós mesmos e para o outro, porque são ações centradas no ego fazendo escolhas com base nessa confusão, nessa ausência de Inteligência, de Clareza, de Liberdade. Há uma nova forma de agir, há uma nova forma de ação, e essa ação nasce desse espaço novo quando há uma mente nova, quando há essa Presença da Real Consciência.
Então, o nosso trabalho aqui consiste em descobrirmos a Verdade sobre quem nós somos, deixando essa imaginação, essa ideia de alcançar, de realizar, de obter alguma coisa no futuro. Esse é o movimento do “eu”, esse é o movimento do ego, é esse tipo de movimento que está centrado nessa escolha e, portanto, nessa confusão.
A Realidade é Aquilo que aqui está presente como sendo a Verdade. Nessa Verdade, há Clareza, há Liberdade e há, naturalmente, essa ação já em Amor, em Felicidade, Algo que está presente agora, aqui, é a Realidade de Deus, é a presença da Verdade, portanto, a presença da Felicidade. Não é algo para ser alcançado, para ser idealizado, buscado e procurado; isso tudo parte dessa ideia de “alguém” para alcançar algo no futuro, para deixar de ser o que acredita ser agora para se tornar alguma coisa que acredita que irá se tornar, que irá vir a ser no futuro. Essa é a projeção do “eu”, do ego.
Nossas ações são sempre ações centradas nessa ilusão do tempo, assim, precisamos fazer escolhas e ir em direção a esses objetivos e isso pressupõe a presença desse tempo. Nossas escolhas nascem da confusão e nossas ações nascem da ilusão desse tempo para realizar isso amanhã. Aqui o que estamos dizendo é que a Verdade Divina está agora, aqui presente. A Realidade do seu Ser é Aquilo que se mostra aqui presente quando esse sentido de separação, que é o sentido de um “eu” que se vê separado de Deus e procurando encontrá-lo amanhã, desaparece.
Assim, tudo o que nós precisamos é ter uma aproximação do Autoconhecimento. Ao olhar para esse movimento do “eu” dentro de você, ao perceber a ilusão desse sentido de uma identidade dentro do momento presente, dentro do viver, dentro desse instante, a ilusão desaparece, porque não há mais esse fundo de condicionamento, porque não há mais essa confusão. O contato com isso é a Real Meditação de uma forma vivencial, prática, aqui e agora.