Não está lá fora Aquilo que você busca encontrar e não sabe que está buscando; está dentro de você! Eu quero dizer algumas coisas aqui para você sobre essa questão da busca.
Nós aqui nos deparamos com um problema muito, muito básico. O problema é que tudo que estamos buscando, a nível consciente, na realidade, é parte de uma imaginação que temos. Só podemos estar à procura, na verdade, daquilo que imaginamos, e aquilo que imaginamos nós já conhecemos, então é parte do conhecido, e se é parte do conhecido, porque imaginamos, não pode ser real. Isso explica porque a felicidade não é encontrada em objetos, em experiências, nem em sensações – e aqui os objetos podem ser inanimados, como um carro, uma casa, ou animados, como o marido e depois os filhos.
Então não importa se os objetos são animados ou inanimados, não importa o ideal presente em você, nesse buscar está implícito a ilusão de sua busca, porque o que você busca é parte daquilo que você conhece, e aquilo que você conhece e está à procura pode te dar satisfação, e juntamente com a satisfação, em algum momento, essa satisfação ficará não satisfatória, porque é assim a natureza dos objetos e das sensações com esses objetos: desgasta, envelhece, entendia, cansa, perde o elã, perde a beleza, perde a alegria. Tudo é assim, e por que tudo é assim? Só em razão da natureza efêmera das experiências, das sensações e dos objetos animados e inanimados? Não! É porque a natureza daquele que está em contato com isso – que não é outra coisa a não ser a mente egoica – é, por natureza, insatisfeita. Em outras palavras: você jamais será feliz! Nada lhe dará satisfação, nada lhe satisfará. Nada! Porque a natureza da mente é permanecer insatisfeita. Temos que compreender o que é a mente, uma vez que você está se confundindo com ela, sem a compreensão do que ela é, jamais encontrará em alguma forma de busca, uma real realização!
Então, qual é a natureza da mente? A natureza da mente é um conjunto de memórias, de lembranças, de crenças, de imaginações, sempre acumulando, juntando, sempre buscando ali uma sensação. A ilusão é que há “alguém” presente nisso, porque há uma sensação na mente, então você carrega a ilusão de “alguém” que se preencherá numa sensação; esse “alguém” é a mente egoica e ela é, por natureza, infeliz, pobre, carente, desejosa por mais, ávida, invejosa, imaginativa: essa é a natureza da mente egoica – mente egoica é o “eu”, o “mim”, esse sentido de humanidade presente no ser humano. Esse sentido de ser “alguém” jamais se preencherá com alguma coisa. Todo esse movimento se processa dentro dessa não ciência de Ser, dentro dessa não percepção real de Ser, dentro dessa inconsciência, como eu tenho chamado.
Assim, esse sentido de individualidade, que é o sentido do “eu”, que é a presença da mente egoica em suas projeções, idealizando o que ela, na verdade, já conhece, colocando o rótulo de “felicidade”, “amor real”, “amor eterno” – são expressões que nós usamos –, “a verdadeira felicidade”, “a paz perfeita”, esses rótulos com os quais rotulamos nossa imaginação, nossas autoprojeções. Alguns outros rótulos existem também: “a verdade de Deus”, “o encontro com Deus”, são outros rótulos que também usamos. E aí nesse instante nos propomos a entrar nessa busca, essa autoprojeção é uma ilusão. É uma ilusão. Não está lá o que você busca e não é o que você idealiza na busca o que, na verdade, está procurando. O que você está procurando é Você, o que você está buscando é Você, mas você está indo para fora, esse “fora” é o movimento de dentro da mente – é o movimento dentro da mente esse “fora” –, você quando se confunde com esse movimento interno da mente egoica, que é, basicamente, memória, lembranças, imaginações, crenças, “felicidade”, “amor”, Deus, “Verdade”… tudo rotulado, cheio de etiquetas; esse movimento de inconsciência é, na verdade, um afastamento da Natureza Simples, Real, de Ser o que Você É.
Então nós não podemos continuar indo para fora, nós temos que parar. Mas a mente não pode parar; olhe para si mesmo, ela não para, a mente dentro de você é um movimento inquieto, agitado, que se projeta a todo instante para o futuro, ou para o passado; você precisa disso para ser “alguém”, ficar remoendo historinhas, lembranças, memórias – que é, basicamente, passado –, e precisa se projetar num ideal de mais, o que é ambição; o futuro não é outra coisa a não ser isso: a ambição de ser mais, de fazer mais, de realizar mais, de se livrar de mais alguma coisa, ou muitas outras coisas.
Então há sempre esse movimento dentro de você, o passado sendo as recordações do antigo marido, dos filhos, do que foi, do que não está mais aqui, do que você perdeu. Você precisa dessa sensação de ser “alguém”, mesmo que isso represente a dor da perda, mas isso me dá a sensação de identidade, que é, basicamente, ser “alguém”, uma pessoa, uma pessoa no tempo; e precisa do futuro, porque com o futuro você será melhor, haverá um momento melhor do que esse para “mim”, para esse “eu”, para esse “você” que o pensamento diz que é você, com o qual você se confunde. Então, ou você está no passado ou está no futuro.
Então há sempre esse movimento de infelicidade, que é o movimento do tempo produzido, sustentado, abalizado pelo pensamento. Então o tempo psicológico tem sido a base dessa estrutura de vida que estamos vivendo. Então nós temos como base dessa estrutura o elemento “pensamento”. Então notem, o elemento “pensamento” é a base e a estrutura desse tempo psicológico que nos permite ser “alguém” e usarmos com muita arrogância afirmações como: “minha casa”, “meus filhos”, “meu marido”, “meus negócios”, “meu dinheiro”. Isso é um absurdo! Você não tem o dinheiro, o Banco Central tem o dinheiro, o dinheiro passa por suas mãos; você não tem os filhos, os filhos passam, os filhos são da Vida, são de Deus; aquela pequena criança, aquele menininho de dois anos, cadê ele? Já casou e foi embora, nunca foi seu, uma outra menina, também crescida, de outros pais, roubou o coraçãozinho dele e ele foi embora, ele nunca foi seu! Cadê seu marido? Ele foi embora. Você tenta colocar outro no lugar, mas jamais será o primeiro marido. Nada se repete! “Ele não era bom”, mas eu não estou dizendo que ele era bom, eu estou dizendo que não é o mesmo. Nada se repete porque nada é da mesma forma e nada é seu, mas, arrogantemente, dizemos: “meu”, “minhas lembranças”. Não! São lembranças gravadas nesse cérebro, você leva uma pancada forte na cabeça e as lembranças desaparecem, elas não são suas. Você não tem lembranças, lembranças surgem como os filhos surgem. “Meus pensamentos”. Não! Pensamentos passam por você. Tudo passa. Você diz: “meu corpo”. Não! O corpo é uma experiência que está passando, o nariz que você tem não é o mesmo nariz que tinha quando tinha doze anos de idade, nem em seis meses de vida, é um outro nariz; a cada sete anos, o corpo é um novo corpo, porque muita mudança já aconteceu nesse corpo e tudo já é novo. Chega a Vida, a Existência, e muda sua mão, seus olhos, as células da epiderme, tudo muda, você não tem absolutamente nada. Tudo quem tem é a Vida.
As palavras “meu” e “eu” não há nenhuma verdade nisso, nenhuma verdade nisso. “Meu” e “eu”, examine isso, investigue isso, se aproxime disso, olhe para isso. Se isso não é real – o “eu” e o “meu” não são reais –, e os sonhos? E a felicidade? E a paz? E a liberdade? E Deus?
As pessoas dizem: “O meu Deus”. Como somos arrogantes, até porque dizemos: “O meu Deus é maior que o seu Deus”. Quando vamos assistir aos nossos times jogarem, eles começam a jogar e a gente reza, cada um reza para Deus, mas são times opostos; eles são de times opostos, mas cada um está rezando para o mesmo Deus, mas é o “seu Deus”, então o seu time vai ganhar, só que o outro está fazendo a mesma coisa. Olhem para a chuva, você não gosta do seu vizinho, mas quando a chuva desce, e ele tem uma horta, a chuva cai também sobre a horta do seu vizinho – dentro da sua visão particular de autoimagem, você vê ele como uma pessoa ruim –, mas não adianta você rezar para o “seu Deus” para a chuva ser “sua” e cair só na sua horta, porque vai cair na horta do vizinho, seu inimigo, também.
Então vivemos nessa ilusão, na ilusão de “alguém” para realizar, para alcançar, para ser feliz, para ter paz, para realizar lá fora alguma coisa. E aqui eu estou dizendo para você: o que você está buscando não é o que você está, de verdade, procurando; e o que você nem tem ideia de que está presente, que nem precisa procurar, você não tem a menor consciência, que é o que te fará feliz, que é a Paz que você precisa, o Amor que você precisa, a Liberdade que você precisa, Deus, o Real – aqui eu me refiro à Realidade de Deus.
Então o nosso trabalho, nosso encontro, propõe lhe mostrar Isso: a Verdade que É você em seu Ser. A realização d’Isso, que é a realização desta Verdade que está presente agora, aqui, não é um caso de procura, não é um caso de busca, não é um caso de projeção, não é um caso de algo para amanhã, é a Verdade se revelando agora, aqui, n’Aquilo que É você. Olhar para tudo aquilo que o pensamento produz e apenas se desfazer disso, nenhum momento será maior que esse momento, nenhuma felicidade será maior que a Felicidade desse momento, nenhuma liberdade será maior que a Liberdade desse momento, e nenhum Deus existirá fora desse momento.
Se você suspeita que em Deus está tudo, você está certo; e se você suspeita que em Deus não há absolutamente nada, você também está certo. A compreensão d’Isso é o Despertar Espiritual, ou a Iluminação Espiritual. Isso é, sim, sem rótulo, sem nomeação, a Paz perfeita, a Felicidade perfeita, o Amor perfeito, a Realidade do seu Ser neste momento, e Isso é o fim de toda busca, Isso é o fim de toda procura.
É isso!