A arte da Meditação

Afinal, o que é isso que alguns dão o nome de “meditação”? O que é essa coisa chamada meditação? Qual é a importância? Qual é o valor? Que importância isso, de verdade, tem?

Primeiro, precisamos compreender o que é Real Meditação. Hoje em dia, essa palavra é uma palavra muito conhecida e muito usada, e nós chamamos de meditação várias técnicas ou práticas para aquietar a mente, para silenciar a mente. Então, isso é o que tem sido chamado de meditação.

Quando eu uso a expressão “Meditação” nesses encontros, em Satsang, estou colocando de uma forma diferente, completamente diferente disso. O que eu coloco como Meditação, eu considero como a Meditação Real. A Meditação Real não é silenciar a mente, não é aquietar a mente, até porque, através de uma técnica, através de uma prática, dessa assim chamada “prática de meditação”, é possível conseguirmos esse resultado, mas não é nesse sentido que eu uso a palavra “Meditação”. Porque, para mim, Meditação não tem esse propósito.

Meditação Real é Aquilo que está presente como a expressão do seu próprio Ser, como a própria expressão da sua própria Natureza Real, dessa sua própria Natureza Divina. Então, Meditação, como eu tenho colocado, é algo possível quando o terreno é completamente limpo. É necessário limpar o terreno para que a Real Meditação se expresse.

Meditação, em si, é o seu próprio Estado Natural. Então, não se trata de uma prática, não se trata de um exercício, de algo técnico, de algo mecânico, que você pratique para obter esse resultado. A Meditação Real é possível quando o terreno está completamente limpo para que Ela possa florescer. Então, Meditação é uma arte, é a arte de Ser, de Ser Aquilo que Você é.

A base para essa Meditação é a auto-observação, é observar a si mesmo, aquilo que se passa aí dentro, as suas reações, os pensamentos surgindo, os sentimentos surgindo, as emoções aflorando em razão de pensamentos, as reações como respostas da memória, como respostas do pensamento, as sensações… Quando tudo isso é observado, nessa auto-observação – o que alguns têm chamado também de autoinvestigação –, nós temos a base real para a Meditação, a Meditação como uma arte, a arte de Ser.

Então, a Meditação é uma arte, a arte de Ser, de Ser Aquilo que Você, de verdade, é. Aquilo que é Você de verdade está desidentificado, está livre, não está contaminado por esse senso de pessoalidade, por esse senso de uma particular visão condicionada, pelo condicionamento psicológico, por esses padrões de crença, por esses padrões de desordem interna, algo tão comum nesse estado confuso, que é o estado egoico.

Portanto, Meditação é o fim da confusão, mas você não vai até a Meditação, Ela é algo que floresce quando esse terreno está inteiramente limpo.

A sua Liberdade não está em controlar os pensamentos ou em levá-los ao Silêncio. A sua Liberdade está em observá-los, em se tornar ciente deles. Uma vez que você esteja ciente dos pensamentos, eles deixam de exercer o controle. Uma vez que você esteja cônscio de todo o movimento de pensamentos, eles, por si mesmos, se dispersam, param de criar um fortalecimento de uma identidade presente.

Veja, é nesse fortalecimento dessa identidade que está a confusão. Pelo fato de você não estar cônscio do movimento do pensamento, quando ele chega, ele o captura. Isso é o mesmo com o sentimento, com a emoção, com uma sensação física. O que quer que o capture, termina lhe dando uma identidade falsa.

Então, o seu sofrimento está em cima dessa identidade falsa, algo que ocorre nessa falta de auto-observação. E, sem esta auto-observação, não há Meditação.

Então, repare: Meditação é uma arte, e a arte da Meditação é simplesmente Ser! Ser é estar livre dessa falsa identidade, desse falso “eu”.

Então, no Zen, por exemplo, a expressão é: “Meditação é Iluminação”. Então, veja: não há distância entre o seu Estado Divino, o seu Estado Natural – que é o seu Estado Real –, e a Meditação. Portanto, não se trata de uma prática, não se trata de um exercício.

Então, é compreensível a existência de algumas práticas de “meditação”? Sim! Isso faz bem? Sim! Psicologicamente, fisicamente… mas não é disso que estamos tratando aqui.

Quando aponto para a Meditação, estou falando de algo que desabrocha, de algo que desperta, que floresce, com base nessa autoinvestigação, com base nessa auto-observação. Sem essa base, você não tem essa qualidade real de Meditação, você não tem a Meditação Real.

Então, Meditação é Ser. Isso não requer tempo, lugar… Você está dirigindo o carro, você está caminhando, você está comendo, você está deitado antes do sono, você está deitado, depois que acabou de dormir, e lá está Você em seu Ser! Isso é Meditação! Então, Meditação é algo presente em seu Estado Natural.

É claro que, para que isso “evolua” até esse ponto (e aqui a palavra “evoluir” deve ser colocada entre aspas, porque não se trata de algo que irá fazer você crescer até chegar lá. Eu uso essa expressão apenas de uma forma didática), há todo um processo de disciplina interna de auto-observação.

Então, enquanto você não exercitar essa disciplina de se auto-observar, de observar os movimentos internos do pensamento, para não mais se embolar com eles, para não mais se confundir com eles, nada estará acontecendo. Não haverá Real Meditação, até então. Então, há todo um “processo”.

Tornar-se cônscio de si mesmo! Agora, veja: tornar-se cônscio de si mesmo é algo que, curiosamente, não requer tempo. Então, essa palavra “processo” também não é adequada, porque isso é algo que você faz agora, aqui. Se você não fizer agora, aqui, essa constatação, através dessa auto-observação, não haverá Meditação, e isso não requer tempo.

Então, o seu trabalho nessa arte de Ser, que é Meditação, é se tornar cônscio de si mesmo, agora, aqui, de tudo que se passa, e, na razão em que você se torna ciente disso, há uma quebra, há uma desidentificação, uma desidentificação desse centro falso, desse personagem. É quando a Liberdade do seu Ser, que é Silêncio, que é Paz, que é Verdade, que é Amor, se revela.

Essa é a sua “união com o Divino”. Na realidade, é o seu Reconhecimento de Ser Um, Um com o Divino. Só há Ele! Podemos chamar de Consciência, Verdade, Deus, Ser, e podemos chamar também de Meditação. Então, Meditação é Ser, e Ser é Consciência, e Consciência é Deus, e Isso é Paz, Isso é Amor.

Na Índia, há uma expressão para isso. Eles chamam de “ananda”, o que significa Felicidade, Real Felicidade.

Dezembro de 2021
Gravatá – PE, Brasil