Mais uma vez, estamos voltando nosso coração para essa Realidade, para Aquilo que é tão simples e que, ao mesmo tempo, é tão sublime, tão ímpar. Estar em Satsang é dar um passo para essa abertura, é se colocar em uma posição em que a Verdade pode vir até você. Você não vai convidar a Verdade, o Silêncio – você não pode fazer isso. Estamos falando de algo que não aceita ou responde a qualquer provocação. Essa é a maravilha das maravilhas! Você nunca poderá provocar esse convite! Não estamos falando de algo que está dentro do espaço. A Verdade, o Silêncio, não é algo aprisionado no tempo nem no espaço.
Então, você não pode provocar essa Presença, mas é possível descobrir uma abertura para que isso aconteça. É o que estamos fazendo dentro de Satsang… Estamos descobrindo qual é o significado real dessa receptividade, dessa abertura.
Estamos diante de algo simples e, ao mesmo tempo, extraordinário. A Verdade não é parte e nem está presa no tempo ou no espaço. Isso significa que não é algo que necessita de tempo ou de espaço para se manifestar. O Silêncio, a Verdade, é o fundo, a base, a sustentação de tudo que se apresenta, de tudo que se manifesta. Portanto, é algo que já está presente em todos os acontecimentos, em todas as atividades, em todas as aparições. Estar em Satsang significa estar aberto e sensível a essa constatação.
Você não pode convidar Isso, mas pode descobrir como estar aberto e sensível a essa Realidade que já está presente. É algo que está presente fora do tempo e espaço, fora de qualquer esforço seu. É aqui que você se depara com um grande mistério, com um grande paradoxo: você não pode provocar o convite, mas, identificado com o ego, você fecha todas as portas. Então, você não pode convidar, mas pode se manter um bom tempo aprisionado dentro de padrões que não lhe possibilitarão perceber essa Verdade, a Verdade da Realização de Deus, da Iluminação.
Aqui, o segredo é: sensibilidade e abertura. Quando você descobre a importância de abandonar o seu ponto de vista, o seu modo pessoal de se deparar com aquilo que está presente neste instante, neste momento, automaticamente você se abre para essa Verdade, para esse Silêncio. Esta é outra forma de falarmos sobre a arte e a beleza de Ser, que é Meditação.
A Meditação não faz um convite para essa Realidade – que já está presente – se manifestar. A Meditação é a própria abertura dessa Manifestação, dessa Verdade, desse Silêncio, que podemos também chamar de Consciência, de Presença.
Primeiro, é preciso que você compreenda que a mente egoica é muito hábil, muito esperta, e ela está contra o misterioso movimento da vida, contra a vida como ela é. Em outras palavras: você não aceita a vida como ela acontece. Todo o seu treinamento, desde a infância, é para buscar, resolver, controlar e acertar as coisas. Então, o seu movimento, que é o movimento da mente, da “pessoa”, desse “eu”, é um movimento hábil e esperto que se posiciona contra a vida como ela é.
É claro que, quando digo “hábil e esperto”, não é no sentido de “movimento inteligente”, mas no sentido de “movimento astucioso, astuto”. Então, esse é o primeiro ponto e não pode ser ignorado.
O segundo ponto é que a mente sabe que não há espaço para a sua psicológica astúcia, para a sua psicológica “habilidade” e “esperteza” no real movimento da vida. Isso significa que ela corre o risco de desaparecer se for vista, se for desmascarada. Então, nós temos duas coisas aqui: a primeira, é que a mente está contra a vida. A segunda, é que ela sabe que não haverá mais espaço se ela for desmascarada.
Estou colocando para você os dois terríveis e complicados problemas do velho ego, desse velho “eu”. Primeiro, ele não aceita a vida como ela é; segundo, ele tem medo de ser desmascarado e ter seu jogo destruído. Agora, vamos complicar um pouco mais para o lado “dele”, para o lado desse disfarçado inimigo que se finge de amigo, dentro de você.
Deixa eu lhe dizer algo que a mente egoica não vai gostar. Vamos expor um pouco mais esse seu truque antigo. Você está pronto? Quando você não mais valoriza o sentido da “pessoa”, quando não há mais espaço para o sentido pessoal, não há mais por que esse jogo de resistência à vida, de resistência ao que é, continuar. Quando você fica atento a esse movimento, que é esse jogo de memória, padrões, conceitos, crenças, ideologias, sonhos, projetos, desejos, todo esse condicionamento que o sentido de pessoa carrega, o jogo da mente é visto.
Só há uma forma disso acontecer, que é através daquilo que eu tenho sempre considerado nessas falas e mostrado a você em todos os encontros: Real Meditação. Ela está presente quando você não mais valoriza a “pessoa”, que é quando não existe mais o desejo da memória, essa energia para o falso “eu” continuar. Então, é possível que esse sentido do “eu” sofra uma trinca, uma rachadura; é uma estrutura que, agora, pode vir abaixo, porque você não confia mais na “pessoa”, nesse sentido do “eu”, nessa memória, nesse fundo. Só então o jogo pode terminar.
Você está se tornando consciente das resistências da mente à vida como ela é, do “eu”, do ego, desse “mim” com relação ao misterioso movimento da vida, como ela acontece. Ao mesmo tempo, a mente está sendo desmascarada; o seu jogo psicológico de continuidade, de funcionamento no dia a dia, está sendo observado. Então, não há mais por que essa memória psicológica do “eu” permanecer tendo razão, decidindo, escolhendo, resolvendo, controlando.
Este é um daqueles encontros em que eu dou para você tudo o que pode ser apresentado aqui. Não estou lhe escondendo nada! Você está consciente de suas ações, reações e resistências… É muito importante que você veja essas resistências, que você se torne consciente dessa prisão do falso “eu”. No momento em que você consegue ver isso, você está fora desse processo, está fora dessa prisão de reação. Quando você vê isso, você permanece do lado de fora da mente egoica. Essa é a abertura, a sensibilidade necessária (que é Meditação) para a revelação dessa Verdade, desse Silêncio, dessa Consciência, que está presente aqui e agora. A Liberação, a Iluminação, a Realização é o fim dessa ilusão da mente egoica e de sua “esperteza” e “habilidade”.