Satsang é uma oportunidade de investigação da natureza da Consciência, da natureza da experiência, da natureza do Ser. Afinal, o que é essa experiência acontecendo aqui e agora? O que é essa Consciência aparecendo aqui e agora? Qual é a Verdade desse presente momento?
Nós estamos tendo um contato com o mundo externo através dos sentidos. Desta forma, nossa percepção do mundo externo é uma percepção sensorial. Essa experiência de mundo é semelhante à experiência do sonho. É bastante interessante essa comparação, ela é perfeitamente adequada para esse tipo de investigação. No sonho, você tem um mundo semelhante a esse, um corpo semelhante a esse e você tem um contato com o mundo externo, com objetos através dos sentidos da mesma forma que você tem nesse momento, nesse estado que chamamos de “estado de vigília”.
Então, a sua experiência de sonho é semelhante à sua experiência no estado de vigília. Aqui, eu falo do ponto de vista do sentido de consciência e de experiência sensorial. No sonho, você pode ouvir, ver, sentir; toda experiência sensorial está presente lá e aqui. Da mesma forma que, durante o sonho, você se vê como um experimentador experimentando, você se vê aqui também, como experimentador experimentando. No sonho, você se separa da experiência exatamente como você faz nesse momento, no estado de vigília.
Assim, nós perguntamos: Qual é a natureza dessa experiência, qual é a natureza dessa Consciência que está presente nesses dois estados, exatamente da mesma forma? Qual é a natureza do Ser, qual é a Natureza do seu Ser? Onde você está de verdade? O que é que o faz ter tanta certeza de que esse estado de vigília é mais real do que aquele estado de sonho? Em que sentido ele é mais real?
Quando você sai do sonho e acorda pela manhã, você vê que o sonho não era real. Mas, enquanto o sonho acontecia, ele era muito real e não havia o estado de vigília, somente o estado de sonho. Assim, quem lhe garante que você está acordado nesse momento? Quem lhe garante que esse estado no qual você se encontra nesse momento é real, é o único e último estado de seu Ser? O “único” não pode ser, porque você sabe que o estado de sonho se apresenta também como uma experiência na sua vida, assim como o sono profundo. Portanto, esse não pode ser o seu último estado, assim como não pode ser o seu estado verdadeiro de Ser, uma vez que você também tem a experiência do estado de sonho e de sono profundo.
Ok! Mas, por que começamos falando dessa forma para você? Porque se você não conhece o seu Estado Real e Verdadeiro, em qualquer um desses três estados – vigília, sonho e sono profundo –, você é sempre incompleto. É incompleto porque esses estados não são reais, eles são mutáveis, aparecem e desaparecem. O estado de sono profundo é substituído pelo estado de sonho, que é substituído pelo estado de vigília, que, depois, é substituído pelo estado de sono profundo novamente. Assim, o que estou lhe dizendo é que esses três estados não são o seu Estado Real e Definitivo, seu Estado Natural. São simples estados experimentados pela mente.
É a mente que experimenta o sono profundo, na ausência do mundo e do experimentador; é a mente que experimenta o estado de vigília, com a presença do experimentador, da experiência, assim como do sonho também. A mente é uma constante nessas três experiências, nesses três estados. No sono profundo, ela mergulha no desconhecido; no estado de vigília e de sonho, ela sustenta o conhecido. Todos esses três estados estão acontecendo em sua Natureza Real, em sua Natureza Verdadeira.
Nós estamos chamando sua Natureza Real de Ser, Consciência, Verdade, Presença, mas reparem que ela não faz parte da vigília, do sonho e nem do sono profundo. Estamos dizendo que o mundo não é real, que o corpo é parte do mundo, que o mundo e o corpo são parte da mente e que, assim, a mente também não é real.
Eu estou levando você por um caminho que Ramana chamava de “Autoinvestigação”. Estamos investigando a Natureza do Ser, a Natureza da Consciência. Tudo que você pode relatar, contar, lembrar, recordar… nada disso é parte de sua Natureza Verdadeira. É apenas parte do sonho da mente, parte de uma de suas manifestações.
Quando você acorda pela manhã, sabe que todo aquele mundo do sonho estava dentro da mente, fazia parte apenas da mente, de uma ilusão pessoal, porque era um sonho pessoal. Repare que havia muitas pessoas durante o seu sonho, mas elas não estavam num mundo comum, estavam apenas nesse “seu” mundo particular. Agora, no estado de vigília, você acha que está num mundo comum a todos, então, acha que as pessoas que você vê nesse “seu” mundo, no estado de vigília, estão em um mundo comum. No entanto, isso é algo que pertence ao sonho. Sua esposa, marido, filhos, seu patrão, seu empregado, seus negócios… todos estão somente no mundo privado e particular deste “eu”.
Então, primeiro surge esse “eu” e depois surge o mundo desse “eu”, que não é um mundo comum a todos, porque não existe “todos”. Primeiro você aparece e, então, o seu mundo aparece… Mas, você é o seu mundo e o seu mundo é você – não existem “muitos”! Sendo assim, só existe a mente e não “muitas mentes”. A mente é a base dessa ilusão, a ilusão do sonho desse “eu”.
Quando você se confunde com o corpo, você faz o mundo surgir como algo separado desse “corpo” que você acredita que é você. Na verdade, toda essa crença é somente a mente criando essa ilusão, criando esse jogo. Na Índia, eles chamam essa ilusão de Maya. Com o aparecimento desse “eu”, surge o outro, os objetos, as pessoas e o mundo – essa é a dualidade, essa é a ilusão da mente dual, é isso que sustenta a ilusão do sofrimento. Eu disse exatamente isso: “A ilusão do sofrimento!” e agora você sabe exatamente por quê. Não existe tal coisa chamada “sofrimento”! Isso está na ilusão de um experimentador se separando da experiência de dor. Assim, não existe nenhum sofrimento psicológico, porque não existe nenhuma psique, não existe nenhuma mente como algo separado dessa experiência, do que está acontecendo aqui e agora.
A dor física é a dor do próprio corpo, não tem alguém nessa experiência. Então, isso não é sofrimento, é uma experiência neural, fisiológica. O que quer que esteja acontecendo ao corpo está acontecendo no sonho, em uma das formas de manifestação da mente, mas isso não é pessoal, não tem alguém para sofrer. O corpo pode estar com frio, com fome, com calor, com dor, mas essa é uma experiência neurofisiológica, sensorial, absolutamente natural. Não há alguém nisso! Então, é simples dizermos: “Ninguém nasce e ninguém morre… É só o corpo que parece aparecer e parece desaparecer!”.
Tudo que você busca é descobrir sua Real Natureza. Esse é o único desejo profundo que todos carregam dentro de si mesmos: o desejo de ir além do sofrimento e, portanto, o desejo de ir além do desejo. A Natureza última do desejo é o fim do desejo, é a Felicidade. É interessante dizer aqui que a Felicidade não é a “felicidade” de alguém, mas a Felicidade da Felicidade, é Deus à procura Dele próprio; é a Felicidade no encontro Dela mesma; é o Ser na busca do Ser, na procura do próprio Ser; a Consciência assumindo Consciência. Essa é a Natureza de Deus; essa é a sua Verdadeira Natureza: Ser, Consciência, Felicidade.
Esse é o seu momento de Realizar Isso – a única coisa que você está aqui para realizar! Na Índia, aquele que assume sua Real Identidade, sua Real Natureza, é chamado de Bhagavan… É um Jivamukti! Se você não assumir Isso aqui e agora, sua vida permanecerá semelhante à vida da barata, da formiga, do pássaro ou de uma árvore. Você aparece no cenário (com o assim chamado “nascimento”), cresce, trabalha, casa, se reproduz, adoece, envelhece e morre – exatamente como acontece na natureza. Talvez sofra um pouco mais que uma barata, um pássaro ou uma árvore, justamente e simplesmente, em razão dessa crença forte em uma entidade separada da Existência. Não sabemos até que ponto isso na natureza é tão bem delineado, como acontece com os seres humanos.
Quando você Realiza ou Constata sua Natureza Verdadeira de Ser, Consciência, Felicidade, você está além destes três estados, do qual falamos há pouco. Esse é o seu Estado Natural! Ramana chamava esse estado de “Quarto Estado”, “Turya”, o Estado do Ser, o Estado além da ilusão da separatividade. Então, não há mais a ilusão do experimentador em sua experiência e todo sentido de egoidentidade – que só é possível na mente dualista, no sonho da separação – se desfaz…
Ok pessoal, vamos ficar por aqui! Até o próximo encontro. Namastê!