Satsang não é um relacionamento entre duas pessoas, é uma aventura para você descobrir o que significa abandonar a “pessoa”. Quando você vai fazer uma escalada, tem que pagar o preço pra conseguir chegar lá em cima. Aqui, o preço é ir além da pessoa, além desse senso de pessoalidade.
Então, estamos falando de uma aventura que tem como preço a desistência, o descarte do “sentido de pessoa”. Se você se coloca disposto a pagar esse preço, haverá um contato entre nós, então você poderá fazer perguntas, se aproximar, olhar de perto, investigar isso. Dessa forma, haverá um contato e não um relacionamento.
Aqui, nós temos algumas dificuldades quando usamos a expressão “desistência da pessoa”. Na verdade, eu sei que a pessoa não irá desistir dela mesma, a personalidade nunca poderá desistir dela mesma. A única coisa que torna isso possível é a compreensão da ilusão que representa a “pessoa”. Então, não é simplesmente dizer “eu quero desistir” para que você possa desistir, porque você é a própria pessoa dizendo que irá desistir.
Uma das coisas muito básicas no ser humano é a mentira: você nasce mentindo, cresce mentindo, se torna criança, adolescente, jovem e está sempre mentindo. Depois vira adulto, envelhece e continua mentindo, e, então, morre na mentira! Portanto, você não vai dizer a verdade para si mesmo. Você vai dizer “eu quero desistir”, mas na verdade você não quer desistir.
A diferença de um encontro como este para um encontro em terapia é que lá você vai buscar ajuda para ser uma melhor pessoa e aqui a proposta é a desistência da pessoa. Como a pessoa não vai desistir e vai mentir sobre isso, Satsang não é para quem está em busca de ajuda para melhorar como pessoa. A terapia, sim.
É verdade que a Realização é o fim do conflito, o fim do sofrimento, mas é claro que Isso tem o preço do fim da mentira. O que o ser humano quer não é parar de sofrer, mas sofrer menos. Por isso ele busca ajuda em terapias e, de fato, elas ajudam; é possível se administrar bem essa questão do sofrimento. Mas Satsang é o encontro com a Verdade, que é o fim do erro, o fim da mentira, o fim desse conjunto de crenças que você tem sobre quem você é, sobre o que o outro é, sobre o que a vida é. Então aqui a pergunta é “quem sou eu?”.
Essa inclinação para a Verdade é a inclinação para a Sabedoria, que é Inteligência, a Inteligência de não mais sofrer. Esse Conhecimento sobre Si mesmo, essa Visão da Verdade sobre quem Você é, é a base da Sabedoria. Então, Autoconhecimento aqui não é o que dizem aí fora, é esse descarte do “sentido de pessoa”, que é a base da Sabedoria, a plataforma da Inteligência e, quando há Inteligência, o Amor está presente e o sofrimento termina.
Em geral, as pessoas passam uma vida inteira de uma forma tola, medíocre, resignada ao padrão vigente da confusão, da desordem, do medo, do desejo, do ciúme, da inveja, e assim por diante. Elas assim nascem, crescem, vivem e morrem. Elas nunca se perguntam se é possível viver de uma forma diferente, inteligentemente, sem conflito, sem sofrimento, com a real Consciência da Presença Divina controlando tudo, fazendo tudo do jeito Dela. Elas nunca perguntam “quem realmente está no controle de tudo?” ou “o que é isso que governa todas as coisas?” Pelo contrário, elas arrogantemente buscam um caminho próprio, acreditam piamente que podem ser felizes em suas escolhas, tomando suas decisões. Não é assim que o Sábio, aquele que está neste mundo vivendo com Inteligência, vive. Por isso Satsang, este espaço aqui, é algo único!
Essa escalada, que tem como objetivo o topo – e, aqui, o topo é o fim desse “sentido de pessoa”, com todos os conflitos que isso representa – envolve uma entrega, envolve um compromisso de profunda honestidade e lealdade consigo mesmo. Qual é a natureza da mente? Quem é você? O que são suas escolhas? O que de fato você já fez? Quem é esse “eu” fazendo coisas, decidindo, resolvendo e fazendo acontecer? Isso é real? Lá vamos nós em nossa escalada!
A personalidade não é real, mas quem está disposto a pagar o preço para ter certeza disso? Até agora, você não tem certeza disso, mas tem a arrogância de ter certezas, diversas formas de certeza, e uma delas é a certeza de que você é uma pessoa, e eu afirmo para você: a personalidade não é real! Esse sentido de pessoa é uma fraude! Você jamais irá desistir disso!
Sem Compreensão, essa desistência é impossível! Essa Compreensão é o preço, não é um entendimento. Isso é como dirigir um automóvel. Você não dirige um automóvel lendo um livro sobre como dirigir um automóvel; isso não vai fazer de você um motorista. Quando vai à autoescola, você toma lições de leis de trânsito, faz uma prova teórica e, depois, já sai com a sua carteira de motorista? Não, não é assim que um motorista acontece. Motorista não é uma teoria, é um condutor de veículos, e precisa ser aprovado na prática.
Você pode decidir se tornar um piloto e fazer um curso pela internet. É assim que acontece na aviação civil ou militar? Não. Isso requer muitas horas de voo até que você possa levar alguém com o seu aviãozinho para algum lugar.
Viver em Felicidade também é algo assim: você compreende a Verdade sobre Si mesmo, para de mentir e, então, Deus se mostra. Você se conhece e, então, conhece Deus, e, se você conhece Deus, sabe que está tudo certo, que não tem nada errado acontecendo em lugar nenhum. Isso representa Paz, representa Liberdade, representa Felicidade.
As pessoas vêm a mim e dizem “eu quero paz”. Elas falam como se elas não tivessem Paz, como se fosse alguma coisa que elas tivessem que receber vindo de algum lugar, e isso não é verdade. A Paz não é algo que você recebe de algum lugar, não é algo que está faltando a você; é a sua Natureza Divina! O seu ser é Amor, é Paz, é Verdade, é Inteligência! Então, não está faltando Isso, é que você não sabe quem Você é, está embolado com pensamentos, com histórias que esse “senso de pessoa” criou e sustentou dentro de você por todos esses anos, uma coisa de cultura, que você aprendeu. Essas coisas se aprendem! A gente aprende a ser infeliz, a se agarrar a conclusões, a crenças, a objetivos materiais, a desejos… O ser humano tem uma inclinação muito forte a aprender, com rapidez, tudo o que não presta, e mais uma vez isso se mostra real: você aprendeu a ser uma pessoa!
Olhe para seus filhos, seus netos… Eles estão repetindo a sua ambição, a sua inveja, os seus maus costumes, seus maus hábitos, seus vícios. Você já aprendeu com seus pais, seus pais já aprenderam com seus avós, e a gente “toca a banda” dessa forma. É uma banda sem ritmo, sem afinação, sem arranjo. Então, você vem a mim e diz “eu quero paz”, e eu digo para você: Isso está presente quando você está em seu Ser. Se você permanece no mundo, você não tem Paz; se você permanece na mente, você não tem Paz; se você permanece como seus pais, como a sociedade, como a cultura, psicologicamente falando, você não tem Paz, porque não há Paz na cultura, não há Paz nos seus pais, não há Paz no mundo!
A Paz é algo que está dentro de você. Você descobre quem Você é, aceita Isso e explode o mundo! É isso mesmo: você tem que explodir o mundo, esse seu mundo confuso! A Compreensão coloca uma bomba no mundo e o explode. Deixe o mundo em paz e você terá Paz! Ou seja, não se meta com o mundo, não se meta na vida dos outros, não se meta em sua própria vida, porque você não tem uma vida própria, isso é uma mentira, uma ilusão.
O Sábio tem Paz, verdadeiramente; aquele que vive em Deus tem Paz. O homem santo tem Paz, a mulher santa tem Paz, porque não vivem na mentira, não cultivam a confusão, não cultivam o sofrimento, não vivem no mundo. O Sábio não vive no mundo, ele vive em seu Ser. O mundo do Sábio já explodiu, ele não está preocupado com o que acontece no mundo.
Por exemplo: você vive envolvido em questões políticas, em questões econômicas, em questões sociais? Você levanta bandeiras sobre causas de injustiça e justiça? Tudo isso é porque você vive no mundo. O Sábio não vive no mundo, esse mundo para ele já acabou, já chegou à conclusão, já explodiu! Isso é um sonho, não tem realidade para ele.
Ele não tem mais o que defender ou atacar. Ele já está morto para esse mundo, ele é um imprestável para esse mundo. Não dá para você chegar a um Ser Realizado e dizer “você pode me ajudar a consertar essa questão ou aquela outra?”. Você não vai poder contar com ele, ele é um “alienado”! Ele só não está alienado da Vida, mas está alienado da ilusão do que é a vida. Pessoas que atacam ou defendem, que querem consertar, ajustar ou resolver, são do mundo, estão no mundo… são pessoas!
Isso assusta você? Assusta, porque você gosta daquele partido, daquele clube de futebol, daquela militância, você gosta do governo A, do governo B… Sim, eu sei, você gosta. Pessoas gostam de coisas, elas só não sabem o que é o Amor, e é por isso que vivem gostando de coisas. Quando há Amor, não há o “gostar”; quando há Amor, você é Feliz! Quando há Amor, você é Paz; quando há Amor, você está livre desse “gostar” e “não gostar”, não há dependência, não há medo, não há sofrimento. É típico da pessoa ser infeliz, estar gostando e não gostando, querendo e não querendo, tomando decisões e fazendo escolhas, querendo consertar o outro, consertar o mundo, consertar a si mesmo. Você não tem conserto, você tem melhora. Eu amo os terapeutas, eu amo os médicos, mas eles não dão saúde, eles fazem ajustes, eles ajudam de alguma forma. Não há cura para a pessoa! Ela melhora, mas não fica curada.
A mente não tem cura, o ego não tem cura! O fim do “sentido de pessoa” é a solução final, e eu vou repetir mais uma vez: a pessoa não irá desistir! Ela não é real, mas tem a certeza de que existe. Ela não irá pagar o preço, ela não irá desistir dela mesma. Se essa palavra e esse contato que estamos tendo aqui está atingindo você de verdade, em um nível muito longe da “pessoa”, então é nesse nível de pura Compreensão. A única coisa que pode fazer com que a “pessoa” desapareça é a Compreensão, a pura e direta Compreensão da inutilidade dessa crença. Isso é algo que está atingindo você fora desse “sentido de pessoa” – não é na “pessoa” que Isso é visto, é fora da “pessoa”.
Você precisa chegar a uma Compreensão absoluta, firme, resoluta de que a “pessoa” não existe. Isso não é um entendimento, tem que ser uma Compreensão! A “pessoa” não existe, o “sentido de pessoalidade” não é real. Assim, você irá saber diretamente o que é não se identificar mais consigo mesmo, o que significa não mais se identificar com o “sentido de pessoalidade” querendo, inclusive, melhora.
Os fracos querem fazer melhoras, alguns ajustes, consertar algumas partes, quando o resto já está todo estragado. Quem se aproxima de Deus sabe que vai “morrer”, e parece que são os fracos que resistem. “Morrer” em Deus é Despertar para a Verdade de que não adianta só uma parte estar bem. Essa “morte” é a Vida Integral!