O pensamento se separa da emoção, e ele se separa para poder sobreviver àquela emoção. Ele tem que sobreviver como uma entidade para viver uma nova experiência daquele tipo. A emoção é real; o pensamento não! Se ela for tratada, ela desaparece. Tratada, aqui, significa ser vista quando aparece, sem a separação entre ela e o pensamento. Assim, tratada, a emoção desaparece, porque essa mesma energia do sentimento, da emoção presente, é a Consciência. Mas o pensamento não quer isso sendo tratado, então ele se separa para explicar a emoção. Quando o pensamento faz isso, ele está pronto para, de novo, se repetir com esse fundamento da emoção. A existência do “eu” é basicamente pensamento; não é emoção, não é sentimento. Isso é uma dica boa que você está ouvindo de mim agora! Quando você estiver triste, fique com a tristeza, mas não com a história. Experimente a tristeza sem a história para você ver o que acontece com ela. Por que o Jnani, o Acordado, não experimenta a tristeza?
É a desatenção que traz a sustentação, a continuidade daquela experiência. Quando há plena atenção ao que se apresenta, a experiência não deixa cicatriz, não deixa fundo, não deixa base, não deixa memória emocional. Desde criança você foi condicionado a não sentir dor emocional, a ser protegido da dor emocional. Quando a criança cai, o pai ou a mãe sai correndo e começa a consolar a criança para ela não chorar. Primeiro, porque o ego dele ou dela fica irritado; o pai e a mãe ficam irritados com a criança chorando. É uma coisa profundamente egocêntrica. A segunda razão é egocêntrica também, porque o pai não está permitindo a criança sentir o que precisa sentir, que é a frustração, a raiva, a dor… Quando se faz isso, interrompe-se um processo tão natural… o que termina condicionando a criança a não sofrer dor emocional.
Vocês foram criados assim: protegidos! Pior, vocês continuam fazendo isso quando os filhos estão adultos. Para a vida inteira, a ideia de ser mãe ou pai é a de ser protetor, e proteger é não permitir a dor, não permitir o sofrimento daqueles que você diz amar. Você tem que ser perverso a esse ponto?! Nessa inconsciência, você está sendo muito perverso, muito mau. O único que não poderia dar nenhuma proteção está dando toda proteção! Você está sendo um carrasco! Você está fazendo um mal enorme! Isso é um desamor muito grande! Isso acontece na desatenção, e, às vezes, essa desatenção é cultivada, é apreciada, é elogiada!
Então, vamos lá… Se você rompe a história, que é o pensamento da emoção ou do sentimento (a emoção em si está perfeita, o sentimento em si está perfeito) você quebra o padrão do ego de se repetir sendo alguém naquela experiência da dor. Quando você quebra a história para essa tristeza, você desaparece! Não tem como essa tristeza voltar, porque ela só está sustentada pelo experimentador. Agora você compreende quando eu uso a palavra experimentador? É alguém na experiência da dor, da frustração, da decepção, da tristeza…
Você não está aqui para ir além do ego? Tem algo dentro de você que diz que você não é essa pessoa, esse “mim”, esse “eu”? Então, assuma isso! Pare de alimentar essa identidade na experiência! Quando você descobrir que foi traída, fique com a dor, mas não com a história de alguém aí traída. Você pode tomar qualquer posição a partir dessa dor, mas não uma posição de alguém traída. Compreende? Porque não vai haver ego! Você vai fazer algo, mas esse “fazer” será simplesmente uma ação, não será uma vingança, uma reatividade, será algo natural aí. Você não precisa estar dentro dessa situação, ou vê-la se repetir. Mas, na verdade, o ego ama o sofrimento, então ele vê isso se repetir e consente, mantendo aquilo para ser alguém sempre naquela experiência de dor. Você sempre é a traída, a vítima, a sofredora, a “tadinha”, a coitadinha, a pobrezinha… porque isso alimenta o ego, o “mim”.
Nessa Consciência, que é essa atenção à experiência, em que somente ela é importante e não o experimentador, o sofrimento termina. Isso é Sanidade, isso é Santidade, isso é Amor, isso é Verdade! Então, diante da vida, fique com a experiência, mas não alimente alguém dentro dela. Pode quebrar o carro, pode danificar alguma coisa, mas esse problema é do carro, ainda não é problema seu. Se você não sabe agir assim em relação ao carro, que se dirá em relação ao próprio corpo, quando ele estiver doente ou estiver acidentado? Você vai olhar para a perna quebrada e vai ficar xingando-a, ou xingando o buraco que fez a perna se quebrar, porque, segundo você, terá sido o buraco a causa da quebra da perna. Mas isso já é explicação, da mesma forma que você explicaria que o carro quebrou porque passou dentro do buraco. Só que isso é problema do carro! Agora, se “você é o carro”, a irritação não é do carro, é sua!
O fato é que sua relação com a vida é relacionamento. Não há amor, mas um acordo, onde tudo tem que dar certo, o que significa tudo correr bem a “meu” favor! Tudo em conformidade com o que “eu” desejo, com o que “eu” quero… Só que a vida não é assim! A vida é muito generosa! Eu chamo isso de generosidade de Deus. Ela quer acordá-lo desse sonho de que você é importante, de que você é o centro do universo, de que você é o tal! Então, você fica com a experiência, mas livre da história. Não é da experiência desagradável, é de toda e qualquer experiência. Por que você fica apegado a um prazer? Porque você coloca o pensamento na experiência. Não é o prazer da experiência, não é a dor da experiência, é a ilusão de alguém presente para viver isso de novo, ou para passar por aquilo de novo. O problema do ego é esse! Não há ego na vida, não há ego na experiência. Só há ego na ilusão de que você é importante na experiência; de que você merece a experiência de novo, que é o que você deseja com o prazer; ou de que você não precisa passar por aquilo, que é a experiência da dor.
Você tem todo o poder aqui, de forma consciente, livre do experimentador, de escolher se quer continuar naquela situação ou não. Agora, se você escolhe ainda sendo um experimentador, essa sua escolha é uma escolha do ego. Você quer sustentar uma experiência de prazer, aí você se apega a ela, o que significa dar um significado pessoal para aquilo. E, na experiência da dor, você quer se livrar dela! O que você está fazendo é a mesma coisa, você está dando um significado pessoal para aquela experiência da dor. Resultado disso? Isso vai se repetir. Não tem como você sair desse circuito. Isso se chama Samsara, a roda!
O Sábio, que é Você, não se confunde com o experimentador na experiência. Aí, Você acolhe… acolhe tudo! Você é o Sábio, você é Consciência, Você acolhe! Isso requer Atenção, Presença, Consciência. Isso requer a Liberdade de ser o que você nasceu para ser. Isso é simples, não é fácil. O ego prefere a espiritualidade ou a espiritualização. Aí, ele vai se tornando cada vez mais espiritual, mais meigo, mais bondoso, mais caridoso, mais conciliador, mais pacífico… Não requer esforço nenhum ter a disciplina da sua espiritualidade, só o “esforço” de um empreendimento, que o próprio ego tem prazer de fazer. Mas aqui, nessa Consciência, não tem ego. Você não tem nenhum valor. Você não acrescenta nada a Si mesmo, nessa Atenção, nessa Consciência. Na verdade, você desaparece. Você não sai mais espiritual depois de ter passado pelo buraco. Passar por “buracos” na vida não vai torná-lo uma pessoa altamente espiritual. Percebam que, no fundo, o Despertar não lhe dá nada. A Iluminação não faz de você “alguém”, muito menos alguém especial. Quem desejaria a Iluminação?