Existe uma coisa aqui que eu gostaria de investigar com você, é a questão de como encontrar Deus. Repare, quando você olha para Deus a partir de uma ideia que você tem, você parte de um princípio equivocado, de que o pensamento em você é capaz de retratar ou fazer um retrato fiel dessa Verdade, que é a Verdade Divina.
Então, quando nós falamos desse encontro com Deus, quando nós formulamos a pergunta “como encontrar Deus”, nós não colocamos isso em relevância. É como quando você não sabe onde deixou a chave do seu carro; você sabe que está dentro de casa, mas não sabe exatamente onde você colocou, e você se propõe nessa busca, nessa procura, porque você tem que sair com o carro.
Então essa procura pressupõe duas coisas: a primeira delas é que você sabe onde a chave está, mesmo que ela esteja perdida, ela está perdida dentro de casa, então você sabe exatamente onde procurar; e a segunda coisa aqui é que até encontrar a chave, isso irá levar alguns segundos ou alguns minutos. Então nós temos aqui um outro elemento presente, que é o elemento tempo. E nós estamos empregando o mesmo princípio aqui para esse encontro com Deus, quando nós temos em mente a imagem de Deus em algum lugar, e algo assim, que é Deus, para ser encontrado no tempo.
Aqui estamos diante de um equívoco, porque a Realidade Divina não é uma Realidade que você encontra, é uma Realidade que se revela. Ela se revela fora do tempo, então o tempo aqui não entra; e é Algo que se revela fora de toda essa noção de localização de espaço, é Algo que está nesse momento, aqui. Então a Realidade Divina é aqui, não está no espaço; e esta Realidade Divina é agora, também não pertence ao tempo.
É isso que os sábios, os santos, aqueles que Realizaram a Verdade, constataram, e é exatamente isso que estamos mostrando aqui para você, dentro deste canal. Nós precisamos, sim, de um encontro com Deus, mas esse encontro com Deus é uma revelação, é uma constatação, não é algo para ser encontrado, porque não é algo que está perdido. Além disso, nós temos um outro fator aqui muito importante, que é a presença desse que está na procura, que está na busca; não existe esse elemento, que é o “eu”, esse “mim”. Nós precisamos tomar ciência da verdade sobre a ilusão do tempo psicológico.
Nós temos o tempo cronológico, mas nós não temos o tempo psicológico. Quando você, por exemplo, diz: “Ontem eu fui a tal lugar e fiz isso, aquilo e aquilo outro”, aqui estamos lidando com uma expressão formulada pelo pensamento. É o pensamento que nos fala desse ontem e é o pensamento que nos fala desse “eu”, ontem: isso é uma ideia. A ideia de ser alguém, aqui e agora, é algo que o pensamento está criando. Não existe esse “mim”, esse “eu”, esse “alguém”. Tudo isso tem que ser investigado.
A ilusão desse “eu”, desse “mim”, desse “alguém”, uma ilusão criada pelo pensamento, nos coloca também na ilusão de um tempo criado pelo pensamento, que foi o ontem. Sim, coisas aconteceram ontem, mas é a vida acontecendo, e o que você tem agora, aqui, sobre o ontem é só uma memória, uma recordação, uma lembrança. Na verdade, o que você tem aqui e agora é só um pensamento. A ideia de alguém presente aqui, como ontem ou amanhã, é a ideia desse futuro psicológico, algo que o pensamento está produzindo, e nós estamos vivendo assim há milênios.
Se você tem quarenta, cinquenta, sessenta anos, você está vivendo assim há sessenta anos, na ideia de que você é alguém que vive nesse tempo: passado, presente e futuro. Isso é uma ilusão. Portanto, a primeira coisa aqui que nós temos que investigar é a verdade sobre a ilusão do “eu”, isto requer a presença do Autoconhecimento, da compreensão de como, internamente e externamente, você funciona: como você atua a partir de gestos, palavras, ações, atividades e, internamente, como isso se processa dentro de você, que são os pensamentos, os sentimentos, as emoções, as formas de reações, como tudo isso se processa.
Então, aprender sobre o Autoconhecimento é a base para a compreensão desse fim do tempo psicológico. Aqui eu me refiro ao fim dessa ilusão, que é a ilusão desse tempo, porque o fim do tempo psicológico é o fim da ilusão, algo que o pensamento está estabelecendo como sendo real, como sendo um fato, o que não é; é uma imaginação, é uma construção idealizada pela imaginação. Nós aqui estamos, com você, explorando isso, investigando isso, trabalhando com você essa Realização da Verdade de Deus.
A vida é aquilo que está aqui acontecendo, nesse momento; ela não é algo que aconteceu no passado. A ideia da vida no passado é a ideia, é a lembrança, é a memória, é o pensamento nesse momento. A vida para o futuro é a ideia, é a imaginação, é a projeção do pensamento para o amanhã. Esse elemento tempo tem assumido um valor desmedido, muito, muito grande em nossas vidas.
Nós não sabemos lidar com essa questão do tempo. Nós precisamos, sim, do tempo, mas apenas do tempo do relógio, do tempo cronológico. Atender um compromisso, atender a agenda, o horário está anotado lá, o dia também. Então nós temos uma agenda, nós temos um calendário, nós temos um horário; nesse sentido, nós precisamos do tempo cronológico. Mas aqui a confusão consiste na ideia de um tempo que o pensamento constrói para ideais e propósitos, e um desses ideais, um desses propósitos é ter um encontro com Deus.
Repare, nós temos uma lista de ideais, uma lista de propósitos. Alguns colocam no topo dessa lista encontrar Deus e formulam a pergunta: “Como encontrar Deus?” Mas nós precisamos compreender com clareza isso, de que é apenas o pensamento em você que está lhe dando essa noção de tempo. Repare, observe, à noite, enquanto você dorme, toda essa noção de tempo desaparece. Você dorme oito horas de relógio, e ao acordar você não tem a noção do tempo, porque não há registro.
Reparem que essa noção de tempo é algo atrelada a um movimento de pensamento em você. Quando há um movimento de pensamento, você tem uma certa noção de tempo; essa noção de tempo é em razão da presença do pensamento. Isso porque o pensamento é tempo. Enquanto você sonha, por exemplo, à noite, você não tem qualquer noção de tempo, não há memória, não há registro, não há história de percepção de tempo.
Toda a nossa noção de tempo está associada à movimentação de pensamentos. É o movimento do pensamento nessa consciência, e essa consciência é esse sentido do “eu” que se separa do próprio pensamento na sensação, na experiência, no experimentar, nesse sentido de dualidade entre esse “eu” e o pensamento, que surge essa noção de tempo.
Observe que quando você está em uma tarefa desagradável o tempo passa muito devagar. Isso porque a sua ansiedade para terminar a tarefa é muito grande. Então existe esse você e a tarefa, há uma separação entre esse “eu” e aquela ação acontecendo; como ela é desagradável para o “eu”, o “eu” está ansioso para terminar. Nesta ânsia por terminar a tarefa, a noção de tempo está presente e parece que o tempo não passa, assim como parece que a tarefa não vai terminar. Esse estado de separação determina essa noção psicológica de tempo.
Assim, o tempo é o pensamento. É a noção de pensamento em separação, a partir desse “eu”, desse pensador, desse “mim”, que nos dá essa noção de tempo. Então nós temos o tempo psicológico e temos o tempo cronológico, e nós estamos vivendo nesse tempo psicológico. Esse tempo psicológico está produzindo confusão, desordem, sofrimento.
Nos falta uma visão da verdade sobre quem nós somos. Portanto, aprender sobre o Autoconhecimento é a base para nos desvencilharmos dessa ideia de tempo, desse modelo de pensamento, desse modelo de estrutura do “eu”, onde está presente essa separação, onde está presente esse “gostar” e “não gostar” e, portanto, toda essa noção de passado, presente e futuro.
Podemos descobrir a vida acontecendo agora, aqui, sem esse “eu” e, portanto, sem esse tempo, que tem sua estrutura no pensamento? É importante que se diga isso aqui para você: esse pensamento é algo que vem e aparece em razão de registros do passado. Não há qualquer pensamento nesse instante sem o passado. Mas o passado não é outra coisa a não ser a lembrança, a memória. Se aprendermos a lidar com a vida nesse momento sem o sentido do “eu”, e isso, naturalmente, requer a presença da verdade sobre como você funciona, sobre como nós funcionamos, estaremos livres do pensamento.
Será possível atender a vida nesse momento livre do pensamento? Isso requer a presença de uma visão da vida livre do “eu”, livre do ego. Esta visão é a presença da Inteligência. Uma resposta para esse momento, uma real resposta, uma verdadeira resposta para esse momento, sem confusão, sem desordem, sem sofrimento, requer a presença de uma adequada resposta; essa adequada resposta nasce dessa Inteligência, de uma ação livre do pensador, do pensamento, do experimentador com suas experiências passadas. É isso que estamos propondo aqui para você.
Uma vida livre do ego é uma vida livre do tempo psicológico, livre desse modelo de tempo, onde está presente essa dualidade. Então, esse é um assunto aqui no canal, descobrir, aprofundar isso, a verdade da Revelação da Não dualidade, aquilo que os sábios na antiga Índia chamavam de Advaita, a Não separação.
Há uma Realidade presente aqui e agora; essa Realidade é a Realidade Divina, essa Realidade é a Verdade deste Ser. Não é algo ligado a esse “eu”, a esse “mim”, é Aquilo que está presente quando, exatamente, esse “mim”, esse “eu”, essa forma de pensamento psicológico, de tempo psicológico, não está mais presente. Então temos a presença dessa Realidade, que é Advaita, a Não dualidade.
A natureza do seu Ser é Amor, Felicidade, Paz, Liberdade, Sabedoria, Inteligência. É o que estamos com você aqui explorando, investigando, aprofundando. Precisamos, na vida, nos dar conta da Vida, tomar ciência da Vida, assumir a Realidade da Vida, que é a Natureza do seu Ser, que é a Natureza de Deus. Então aqui não se trata de encontrar no futuro, de realizar no futuro, de descobrir no futuro.
Assim, a resposta para a pergunta “como encontrar Deus” reside na compreensão da ausência do “eu”, desse tempo psicológico, dessa ilusão que o pensamento está sustentando em cada um de nós: “eu fui, eu sou e eu serei”. Por isso nós precisamos de uma aproximação da ciência da Meditação, porque a Meditação é essa aproximação que revela Aquilo que está fora do pensamento e, portanto, fora de tudo aquilo que o pensamento tem estabelecido como parte daquilo que ele conhece.
Portanto é isso que estamos, com você, investigando, aprofundando, tomando ciência, nesses encontros que nós temos aqui aos sábados e domingos – são encontros online; neles nós estamos explorando com você essa questão dessa Realização, que é a Realização de Deus nesta vida.