GC: Olá, pessoal! Estamos aqui para mais um videocast. Novamente, o Mestre Gualberto aqui conosco. Gratidão, Mestre, pela presença.
Hoje, eu vou ler um trecho de um livro do Joel Goldsmith chamado “Transformação da Consciência”. Num trecho desse livro, Mestre, o Joel faz o seguinte comentário: “Devemos evitar o sofrimento de toda reivindicação material que apareça”. Sobre esse assunto do sofrimento, o Mestre pode compartilhar a sua visão de como podemos superar, de como podemos nos livrar do sofrimento?
MG: Gilson, a sua pergunta é: “Como se livrar do sofrimento?” Observe que nós temos diversas formas de sofrimento. De que sofrimento específico você está falando? Veja, de um ponto de vista geral, a mente egoica, essa mente do “eu”, em razão desse sentido de separação, vive no medo. Então o medo, por exemplo, é uma forma sempre presente de sofrimento no ser humano. Então, se livrar do sofrimento é se livrar desse sentido de separação, desse sentido de dualidade. É quando o medo, por exemplo, desaparece.
Como podemos nos livrar do sofrimento? Isso é como perguntar: como se conserta um carro? Veja, você sabe dirigir um carro. Você pega o seu carro e pega a estrada, mas você não sabe consertar o seu carro se ele der um problema. Você não sabe consertar porque você não é um mecânico; você não é um mecânico porque você nunca estudou isso, você trabalha em uma outra profissão. Na vida, nós não sabemos lidar com o sofrimento, porque o sofrimento é uma pane que dá em nosso carro psicológico, em nossa mente. Nós estamos o tempo inteiro viajando com a mente e a mente dando pane, mas não sabemos atender a essa situação, porque não sabemos consertar a mente, não sabemos lidar com a mente, porque nós nunca estudamos o que é a mente, como ela acontece para cada um de nós.
Então, o mecânico estuda mecânica, o engenheiro estuda engenharia, o médico estuda medicina. Então, quando ele se depara com um problema. qualquer um desses especialistas, ao se depararem com um problema, eles conseguem atender. Aqui, nós temos esse “sentido de pessoa”. Esse “sentido de pessoa” em cada um de nós está em pane, está com problema, porque esse “sentido de pessoa” em nós se vê como um elemento separado da Vida. Em razão disso, o sofrimento está presente; essa é a pane dessa “pessoa”. Essa “pessoa” é esse “eu”. Não sabemos a Verdade sobre quem nós somos, porque nós nunca estudamos e, porque nunca estudamos, não sabemos lidar com nós mesmos, nem com a vida, nem com o outro. E por não sabermos lidar com nada disso, nós estamos funcionando em pane, com problema, com sofrimento.
Então, há sofrimento, desordem, medo, confusão, em razão da ignorância. Se o seu carro pifa na estrada e você não é um mecânico, você tem que chamar o reboque. Esse carro terá que parar em uma oficina mecânica e um mecânico irá atender a essa situação, não você. Aqui, nós estamos numa situação também muito, muito delicada. Nós estamos em contato com a Vida como Ela acontece; nós temos um modo de responder à Vida, e esse modo de responder é inadequado, em razão da presença da “pessoa”, porque a “pessoa” é a ignorância, a “pessoa” é a pane, a “pessoa” é o conflito, é o problema, a “pessoa” é o sofrimento. Se aproximar da Verdade sobre Si mesmo é descobrir a Verdade de que não existe “pessoa”. A descoberta dessa Verdade representa a Liberdade; essa Liberdade é o fim para o problema, para o conflito, para o medo, para o sofrimento.
Portanto, para a sua pergunta “como se livrar do sofrimento?”, tome ciência da verdade da pessoa que é você. Se conheça, se compreenda, se autoinvestigue, estude a si mesmo, se aproxime do Autoconhecimento, veja a importância disso para si mesmo. Você não pode lidar com um problema sem compreender o que é o problema, e você não pode se aproximar da compreensão do que é o problema sem olhar de perto o que ele representa. Então, veja, nós estamos sofrendo, mas não compreendemos o sofrimento, porque não olhamos de perto. Nós somos criaturas humanas possessivas, por exemplo. Não percebemos que essa posse é uma ideia, em nós, de possuir, o que é algo completamente falso, porque na Vida não existe alguém para ser dono de alguma coisa. Tudo na Vida está conosco por um tempo e depois desaparece, e se você acredita ser o possuidor, você acredita que é alguém que controla, que domina, que sustenta com você. Você tem a crença de que isso é seu.
Veja, esse é um exemplo, o exemplo dessa ilusão do possuidor, com aquilo que ele possui. Não existe esse possuidor, porque nada pode ser possuído. Reparem a implicação disso, o que, por exemplo, isso representa. Nós poderíamos, aqui, citar diversas formas de situações de sofrimento em razão dessa ilusão, que está presente em nós, que é a ilusão desse “eu”, dessa “pessoa”, que aqui no caso, nesse particular caso, essa “pessoa” acredita ser o possuidor e ter coisas. Reparem a ilusão disso! Você não leva absolutamente nada quando a morte acontece, porque nada é seu. Assim, se queremos investigar a verdade sobre o problema do sofrimento, temos que investigar a natureza dessa “pessoa”, que carrega todos esses aspectos ilusórios de identidade. E um desses aspectos acabamos de citar: é o aspecto dessa “pessoa” que possui. Repare, isso sustenta o medo, porque esse possuir gera apego, dependência; esse equívoco de segurar, controlar, isso gera ciúme. Tudo isso está dentro dessa ilusão da posse. Isso é sofrimento!
Você vem e pergunta: “Como se livrar do sofrimento?” Se livre do possuidor, se livre dessa ideia de ser “alguém”, que é essa ilusão da “pessoa” na relação com a Vida, na relação com objetos, na relação com pessoas, na relação com ideias. Tudo isso está favorecendo estados internos conflituosos, de sofrimento, de pane. É isso que estamos com você aqui investigando. O Despertar da Verdade sobre Si mesmo é o Despertar da Sabedoria, e quando há Sabedoria, não há sofrimento. Quando há Sabedoria, não há confusão, não há desordem, não há conflito. Temos, na realidade, com a presença da Sabedoria, o Amor. O Amor não possui, não controla, não domina, não se apega, não carrega esse equívoco de inveja, controle, posse, ciúme, medo, desejos. Tudo isso está dentro dessa psicológica condição que dá formação a essa “pessoa”. E, volto a repetir, essa “pessoa” é o sofrimento. Não existe nenhuma separação entre o sofrimento e o sentido de alguém no sofrimento, que é a “pessoa”.
É isso que estamos, com você, investigando aqui no canal. Nós temos diversas playlists aqui no canal, onde estamos investigando com você essa possibilidade da Liberação, da Realização de Deus, da Realização da Verdade, do fim para essa ilusão, para essa confusão, para esse sofrimento.
GC: Mestre, nós temos uma pergunta de um inscrito aqui no canal. O Joel faz o seguinte comentário e pergunta: “Boa noite, Gualberto. Pergunta: no instante em que um indivíduo se encontra no ponto de mutação entre o fim do ego e o início de um estado de Iluminação, dá medo de ser transformado?”
MG: Gilson, é bem interessante nós usarmos expressões sem uma profunda compreensão, sem uma profunda investigação do significado delas. Aqui, por exemplo, na pergunta, a pessoa faz essa pergunta usando a expressão “esse ponto de mutação entre o estado de ego e de Iluminação”. Repare, nós fazemos perguntas, mas sem investigar o que isso significa. E aí ele continua a pergunta: “Com essa mudança, ocorre o medo?” Veja, seria muito mais importante investigarmos a verdade do que é, de fato, esse processo de aproximação da Realização do que ter essa ideia ou curiosidade a respeito do que acontece ou do que acontecerá.
Veja, Gilson, a nossa ênfase aqui está em um trabalho em nós mesmos, neste instante. Escutem isso: não se ocupem com o que será, com o que acontecerá. Trabalhem neste momento a verdade sobre esse processo do Despertar, e a verdade sobre isso requer a presença de um olhar para este momento, para suas reações. Então, falar de ponto de mutação, falar sobre se haverá medo ou não, repare, isso não tem relevância! Assim, estamos tratando do futuro, primeiro porque se tem a ideia, em geral – isso é muito comum -, de que a Iluminação é algo que acontecerá no futuro, então haverá um ponto de mutação. Abandonem isso! Vamos trabalhar neste momento essa questão da presença do “eu” nesse contexto de relações, relações com objetos, com pessoas, com ideias, com lugares, relações com sentimentos, emoções. Trabalhar isso é ter a base para a ciência desta Visão, que é o Despertar da Consciência. De outra forma, ficamos nesse adiamento, quando ficamos pensando no que será, no que acontecerá ou como será.
Essa ideia de futuro, não percebemos, Gilson, é uma distração. A inclinação do pensamento em nós é sempre a inclinação de avaliar, de retratar, de fazer conjecturas, de fazer observações particulares, de viver fazendo leituras. Nós precisamos abandonar isso, ter uma aproximação daquilo que se passa conosco neste instante, olhar para isso. Tudo que nos interessa é este momento, tudo que nos interessa está aqui e agora, nesta observação, neste trabalho em nós mesmos. Por muito tempo, o pensamento dentro de nós vem fazendo leituras, naturalmente interpretando, traduzindo, buscando, na verdade, avaliar as coisas a partir do seu passado, das suas antigas e velhas conclusões. E eu quero repetir: isso tudo são adiamentos.
Aqui, com você, nós estamos trabalhando exatamente o fim para o passado, o fim para o pensamento, o fim para essas ideias, para aquilo que surge nesse formato de pensamento, como uma crença sobre o amanhã, um ponto para ser encontrado, a Iluminação para acontecer, o medo que poderá surgir ou não. Tudo isso nós descartamos. Uma aproximação deste momento irá lhe revelar a verdade da Meditação, o descarte do “eu”. Quanto à questão do medo, o medo é algo que precisa ser descartado como parte desse olhar para todo esse movimento do pensamento que está presente neste instante.
Nós já estamos lidando com o medo. Dentro desse processo do Autoconhecimento, a cada momento estamos lidando com essa questão do medo. Então, por que a ideia desse medo lá nesse ponto, assim chamado, de mutação? Precisamos nos aproximar da Meditação neste momento, desse trabalho de Autoconhecimento neste instante, e deixarmos de lado completamente todas as teorias, todas as crenças, todos os conceitos, todas as formas de imaginações sobre esse assunto para, de fato, vivenciarmos, neste instante, esse trabalho, esse processo de percepção da Realidade. Então, o Autoconhecimento é algo que está aqui se revelando, neste momento, e é aqui, neste momento, que se revela o Despertar, a Iluminação. Este é o instante, este é o momento.
GC: Mestre, nós temos outra pergunta, de outra inscrita aqui no canal. A Mercedes fez o seguinte comentário e pergunta: “Você pode falar um pouco mais do ego? Qual é esse ‘eu’ que você fala? Conheço o ‘Eu Maior’, o ‘Eu Sou’. É essa vida do ‘eu’ ligada com o ego?”
MG: Repare, Gilson, a pessoa diz: “Eu conheço esse ‘Eu Maior’, esse ‘Eu Sou’. De que ‘eu’ você está falando?” Então, vamos ver isso aqui. O que é esse “Eu Maior”, o que é esse “Eu Sou”? Veja, quando usamos expressões como “Eu Maior”, “Eu Sou”, repare, dentro de nós surge uma imagem, uma ideia, um pensamento. Então, estamos lidando, na verdade, com um conceito, com uma crença. Assim, nós temos essa crença desse “Eu Maior”, desse “Eu Sou”. Afirmamos isso em palavras em razão de uma imaginação que temos. Aqui, nós temos que descobrir, Gilson, a Verdade d’Aquilo que está além da imaginação e, portanto, além do pensamento, além dessa ideia “Eu Sou”, além dessa ideia “o Eu Maior”.
As pessoas usam expressões como “o Eu Superior”, “o Eu Divino”, “o Eu Sagrado”, “o Eu Maior”. mas são expressões! São palavras que apenas retratam ideias! Ideias, palavras, tudo isso é parte, ainda, do pensamento. Há uma Realidade, sim, presente, mas é quando há o descarte dessa “pessoa”, desse “eu”, desse “mim”, com o que, de fato, estamos lidando neste momento. É que nós fomos educados, Gilson, para crenças, para teorias, para conceitos, para afirmações de palavras. Então, nós passamos muito tempo lendo livros, estudando, aprendendo toda essa linguagem da espiritualidade e fazendo afirmações com palavras, só que tudo isso ainda está no campo, no terreno do pensamento. Isso ainda faz parte daquilo que o pensamento está construindo. Dentro do pensamento, dentro de sua construção, estamos lidando com aquilo que ainda é parte do conhecido. A Realidade Divina não é parte do conhecido, a Verdade está além da mente.
Então, aqui, nós temos que tomar ciência desse movimento, que é o movimento do “eu”, desse “mim”, desse “sentido de pessoa”. Quando há o descarte dessa ilusão, sim, algo se revela, mas esse algo é inominável, é indescritível! Qualquer imaginação sobre Isso é algo totalmente ilusório. Chamar essa Realidade Divina de “o Eu Divino”, “o Eu Superior”, “o Eu Maior”, tudo isso está dentro, ainda, daquilo que o pensamento alcança, daquilo que o pensamento ainda produz. Aqui, é quando tomamos ciência da verdade daquilo que está aqui, que é esse “eu” com o seu modelo de pensamento, sentimento, emoção, sensação, imaginação, é quando há o descarte dessa ilusão – porque esta Verdade está sendo vista -, é quando há esse descarte que esta Realidade se revela, e essa Realidade é inominável, é indescritível.
Portanto, Gilson, nós precisamos nos livrar por completo das crenças, porque crenças são mentais, crenças são conceitos, crenças são ideias, crenças estão dentro do pensamento e, portanto, da imaginação. A Ciência da Realidade não é uma imaginação. A Ciência da Verdade, nesta Liberação, não é uma imaginação. A Realidade Divina está presente quando esse “eu” não está, quando esse movimento do pensamento, nessa “pessoa”, não está; juntamente com ela, não está, justamente quando ela não está. Então, no fim dessa ilusão, desse “sentido de pessoa”, desse “sentido do eu”… porque estamos lidando com um condicionamento psicológico. Esse condicionamento psicológico nos dá essa formação desse “eu” que acreditamos ser, que sentimos ser, que parecemos ser. Isso é algo que nos dá essa sensação dessa “pessoa” que assumimos ser.
Quando isso se dissolve, quando isso desaparece, há uma Realidade presente. Essa Realidade é a Realidade Divina, que é inalcançável pelo pensamento, indescritível pelas palavras, inimaginável pela mente. É isso que nós precisamos compreender diretamente, e essa compreensão se revela quando a ilusão termina, quando essa visão equivocada do pensamento não está mais presente. Portanto, me parece que já ficou claro: sim, essa vida do “eu” não é outra coisa senão essa vida do ego. A Realidade não pode ser colocada em termos de imagem, pensamento, ideia, conceito ou crença. Volto a dizer: a Realidade está fora do conhecido e, portanto, fora do pensamento, desse pensamento “eu”, “Eu Maior”, “Eu Superior”, “Eu Divino”. Onde o pensamento está temos ideias, e ideias são conclusões, são crenças, são imagens. Essa Realidade Divina está além de tudo isso, está fora de tudo isso, é algo inalcançável pela mente; inalcançável e indescritível também, pelo pensamento.
GC: Gratidão, Mestre, já fechou o nosso tempo. Gratidão por mais este videocast.
E, para você que está acompanhando o videocast até o final, quero deixar aqui um convite. Aqui no primeiro comentário, fixado, tem o link do WhatsApp para poder participar dos encontros intensivos de final de semana que o Mestre Gualberto proporciona. Esses encontros são muito mais profundos do que qualquer vídeo que tem aqui no YouTube. Primeiro, porque o Mestre Gualberto responde diretamente, ao vivo, às nossas perguntas. Segundo, e mais importante e impactante, é que o Mestre Gualberto, por já viver nesse Estado Desperto de Consciência, compartilha esse Estado de Presença e, nesse compartilhar há uma Força, um Poder e uma Energia, e a gente acaba entrando de carona nessa Energia. E isso é um facilitador incrível para a gente poder observar a nós mesmos, para a gente poder entrar de carona nesse Silêncio com o Mestre.
Então, fica o convite. No primeiro comentário, fixado, tem o link. Além disso, já dá um “like” no vídeo, já faz um comentário com perguntas para a gente trazer para os próximos videocasts.
E, mais uma vez, Mestre, gratidão pelo videocast.