A pergunta é: como lidar com a insegurança no relacionamento? É na relação que você tem com você mesmo, é na relação que você tem com o outro, é na relação que você tem com situações que ocorrem, é com os momentos que a vida apresenta que temos o problema. Os diversos problemas estão presentes dentro dessas relações.
A vida humana consiste, nesse formato psicológico de ser como nós conhecemos, de problemas. Não conseguimos romper com isso. Não há como romper com isso, sem rompermos com esse elemento que vem do passado. A vida aqui, nesse instante, o contato com pessoas nesse instante, com situações agora, com ocorrências, eventos e acontecimentos surgindo, não se constitui de problemas. Nada disso é, de fato, um problema.
O problema surge quando esse elemento, que se vê separado daquilo que está presente aqui, nesse instante, aparece. Esse elemento vem do passado. Então, nós temos que investigar a natureza do “eu”, desse “mim”, dessa pessoa que nós somos, porque é essa pessoa que vem do passado. O seu nome é algo que vem do passado, a sua história é algo que vem do passado, suas lembranças e memórias vêm do passado.
Assim sendo, o seu contato com a esposa, o seu contato com ele ou ela, com o marido, com o filho ou com alguém é um contato onde o conflito está presente, e ele está presente porque você como pessoa, o que você traz para esse momento nesse contato, é o passado, é a lembrança dele ou dela. Você nunca está num contato real com aquilo que está presente aqui, nesse instante. O seu contato é a partir de um olhar, de uma perspectiva, de uma visão, que vem do passado.
Assim, há uma cortina entre esse momento presente, o que está aqui, e você, uma vez que, como pessoa, como alguém, você é esse elemento que não é outra coisa a não ser um conjunto de memórias, recordações, lembranças e imagens de ocorrências, situações, acontecimentos, e outras relações que você já teve com ele ou ela.
A memória que você tem lhe dá a identidade que você é: é simples. O nome é a memória, a história é a memória, as situações desagradáveis com ela ou ele são a memória, as situações também de prazer com ele ou ela são a memória. Tudo é memória. A pessoa é a memória. Você não tem nada a dizer sobre você sem o passado, que você é, que você representa.
Aqui estamos dizendo para você que há sim uma Vida Real, livre do passado. E essa Vida Real não consiste desse você como você se vê, como os outros te veem, porque eles também estão olhando pra você com base no passado que você representa pra eles, que você representou para eles. Assim como você os vê, eles também estão te vendo.
A beleza desse encontro aqui é descobrir que, nesse momento, é possível nós termos um contato direto com a Verdade sobre nós mesmos. Esse encontro é aquilo que eu tenho chamado de imersão no Autoconhecimento. Me parece que todas as nossas falas aqui giram em torno exatamente dessa visão clara da Revelação do que somos, aqui e agora. Isso requer a eliminação desse formato de passado, que o “eu” representa, que a pessoa representa, que esse “mim” representa.
Como lidar com as diversas situações que surgem na vida? Isso é algo impossível: lidar com tudo que surge sem conflito, sem contradição, sem sofrimento quando não há a visão da Verdade de como você funciona, de como você estabelece essas relações que acabamos de colocar aqui pra você. Elas são estabelecidas com base no passado.
Então, é impossível uma vida de relação sem conflito, sem contradição, sem problema, sem sofrimento, enquanto estiver presente essa entidade, essa suposta real identidade. Não há nada de real nessa identidade, a não ser essa realidade que o pensamento tem construído, tem estabelecido, com base na memória, com base no passado.
Um olhar direto para todo esse movimento interno, um olhar direto para todo esse movimento do “eu”, para todo esse movimento do ego, é o fim dessa ilusão, é o fim dessa psicológica condição de relação ou relacionamento. Nossa relação é com situações, acontecimentos, objetos. Você está numa relação com o seu carro, com a sua casa, com o seu telefone celular: isso é relação.
Em geral, não temos problema com esse nível de relação, embora mesmo aqui, psicologicamente, esse sentido do “eu”, do ego, está sempre criando algum nível também de desconforto ou conflito, mesmo numa relação com objetos. Mas é muito mais comum o problema surgir na relação com situações e com pessoas. E essa relação com pessoas é o que nós chamamos de relacionamento.
Observe que um percentual muito grande de problemas em nossas vidas está presente dentro exatamente dessas relações entre pessoas, que são os nossos relacionamentos. Descobrir a Verdade sobre si mesmo é ir além dessa psicológica condição, que é prisioneira do modelo do pensamento. E por que é que esse problema está presente aqui, nesse relacionamento? Porque esse relacionamento é um relacionamento que se assentou na base do pensamento.
O pensamento que eu tenho sobre você e o pensamento que você tem sobre mim são conclusões mentais, são idéias, são crenças. Em alguns momentos, eu gosto de você, em outros, eu não gosto de você. Em outros, fico à vontade; em outros momentos, me sinto intimidado, ou apavorado, ou com medo. Em outros, eu fico apaixonado, atraído, seduzido.
Então reparem, todos esses estados em que o ser humano se encontra são estados que estão variando. São estados internos, de ordem emocional, sentimental, que estão variando em razão do pensamento do momento e da pessoa específica com a qual você trata; você sente isso dela, dessa ou daquela outra pessoa, e aquela ou a outra pessoa, sentem isso de você.
Nossas relações, assentadas no pensamento, são conflituosas, problemáticas, desordeiras, contraditórias. Vivemos em estados internos que estão variando em razão da sensação que o pensamento produz, seja um sentimento, uma emoção, uma apreensão, ou qualquer estado que esteja presente em razão da sensação que se faz presente.
Aqui nós temos a presença da conclusão mental, da certeza que o pensamento nos traz, que o pensamento nos dá: uma conclusão. Reparem, é só uma conclusão, uma absoluta certeza. Veja, uma absoluta certeza temporária, porque no momento em que eu aprecio você, o pensamento me diz que isso será para sempre.
Essa questão do amor presente, que sentimos pelas pessoas. Repare, vamos investigar isso. O que é esse amor que sinto por alguém? Primeiro: quem é esse alguém que sou “eu”, que sente o que sente, especificamente, por quem sente? E por que sente isso com aquela pessoa e não por uma outra pessoa? Isso tem algo a ver com ele ou ela ou tem a ver com o modelo psicológico de pensamento que está presente aqui, nesse “mim”, nesse “eu”? Observe que nada disso nós investigamos.
Quando uma emoção, sentimento, sensação está presente, não percebemos que o que há por trás disso é um modelo de pensamento. E todo pensamento em você é algo presente em razão do passado, é só uma experiência registrada dentro de você nesse formato de pensamento, sensação, sentimento e emoção.
Algumas experiências, que são lembranças em você, já lhe deram prazer, já lhe preencheram psicologicamente em algum momento. Isso está reservado, guardado, é parte dessa memória desse “mim”, desse “eu”, daquilo que, hoje, é você, e nesse encontro com ele ou ela, isso de novo aparece, o que não é outra coisa a não ser uma memória, um pensamento com uma sensação, sentimento ou emoção de prazer nesse contato.
Observe que é isso que nós chamamos de amor, de estar amando, de estar apaixonado. Evidente que não temos qualquer ciência de nada disso a nível consciente. Aqui se trata de uma memória ou lembrança em um nível profundo, oculto, reservado, algo a nível inconsciente que está, agora, aparecendo.
Assim, é importante que compreendamos isso. Os nossos sentimentos, emoções, sensações e percepções desse momento têm por princípio esse fundo do qual não temos consciência. Então, esse fundo inconsciente se revela nesse ou naquele formato. Se é no formato de prazer, preenchimento e satisfação, nós chamamos de amor, no contato com ele ou ela. Mas tudo isso está o tempo inteiro mudando. Quando as situações mudam, as circunstâncias mudam, novas situações acontecem, esse pensamento, sentimento, sensação e percepção também altera.
Assim, não compreendemos a Verdade sobre nós mesmos, e queremos descobrir o que é lidar com a insegurança no relacionamento. Reparem, isso requer a presença da visão da Verdade sobre você. Ramana Maharshi, o sábio lá da montanha de Arunachala, a todos que se aproximavam dele com problemas, a única recomendação era que ele ou ela se tornasse ciente desse próprio “eu”, porque é nesse “eu” que está todo o problema.
Ramana chamava de Atma Vichara. Então, Atma Vichara, de Ramana Maharshi, é a aproximação desse olhar para esse movimento interno. Uma vez que você se torna ciente desse próprio movimento interno, que é o movimento do “eu”, você tem uma visão da Verdade sobre você. Então aqui a pergunta é: quem sou eu?
Enquanto não ficar claro para você que é exatamente esse movimento psicológico dessa egoidentidade presente, se processando, ocorrendo de uma forma completamente mecânica, inconsciente, enquanto isso se sustentar, a ilusão estará presente e o problema estará presente. Assim, a ilusão estará presente, a ignorância estará presente, o sofrimento estará presente.
A Verdade da Revelação d’Aquilo que é Você é a compreensão do movimento do “eu”, do movimento do ego, então ele cessa, ele termina. Esse sentido do “eu”, do ego, desse “mim”, a ilusão dessa identidade que se vê separada e à parte da Vida, separada do outro, separada de Deus, é essa identidade que se sustenta com problemas, em razão desse modelo de separação.
Qual é a verdade d’Aquilo que é Você? Ter uma aproximação de si mesmo é ter a ciência da Revelação da Verdade Divina. Então, Atma Vichara é a aproximação direta da Revelação do Autoconhecimento. E quando isso está presente, Algo novo surge. Isso é o fim dessa velha condição de identidade egoica e, portanto, de problema presente na vida.
É isso que estamos trabalhando aqui com você. Aos sábados e domingos estamos juntos investigando esse assunto, aprofundando isso em encontros online – e também temos encontros presenciais e retiros. Há algo que se faz necessário para as nossas vidas nesse momento: é o Despertar desse Natural Estado Estado de Ser, onde o sentido do “eu” não está mais presente.