Autoconhecimento: como desenvolver? Meditação Advaita. Importância do Autoconhecimento.

Uma aproximação direta disso tudo o que tratamos aqui, de todos esses assuntos que nós abordamos aqui com você, requer uma visão nova de como aprender. Sim, isso: nós precisamos aprender. A questão é: como aprender?

Para nós aprender é adquirir informações, conhecimentos, experiências e, depois que tivermos essas informações e experiências adquiridas, podemos agir a partir delas. Em geral, é assim o nosso contato com o aprendizado que temos aí fora. Ao menos boa parte do que nós aprendemos, aprendemos assim.

Eu tenho tocado em uma outra forma de aprendizado, um olhar novo de como se aproximar desse assunto aqui. Ele é novo porque as pessoas têm procurado encontrar a Realização de Deus, Iluminação ou o Despertar, nos livros. E aqui eu tenho algo para lhe dizer: você não pode tomar ciência da Verdade de Deus nos livros.

Nos livros nós temos palavras. Palavras simbolizam imagens, imagens de coisas, de lugares, de pessoas, de tudo aquilo que o pensamento reconhece. Mas aqui, quando tratamos da Verdade Divina, não estamos tratando de algo que o pensamento possa reconhecer. Portanto, não podemos encontrar a Verdade nas palavras, nos símbolos e, no entanto, é assim que estamos nos distraindo.

Sim, nos distraindo, porque quando passamos boa parte da nossa vida lendo livros, estudando teorias, conceitos, palavras, nós estamos perdendo um tempo enorme que poderia estar sendo utilizado na observação de nossas reações. Porque é assim que verdadeiramente aprendemos sobre a Verdade de Deus: estudando a nós mesmos, tomando ciência de como nós internamente funcionamos, para irmos além dessa condição de identidade egoica, que vive nesse sentido de separação da Realidade de Deus.

Nós estamos apenas cultivando o intelecto quando estamos estudando teorias, quando estamos lendo os livros. Sim, há uma grande beleza nos livros sagrados, mas esses livros apontam para aquilo que é Você em seu Ser. E se você ler esses livros apenas com o intelecto, você estará apenas trazendo mais conhecimento e informações, palavras, símbolos, imagens sobre essa coisa, mas nada disso é o contato com a Verdade do seu Ser, com a Verdade Divina.

Então, não nos basta estudar teorias, palavras, conceitos. Nós precisamos de um contato direto com aquilo que somos nesse instante, se você aprende a aprender sobre isso. E é isso que estamos fazendo aqui e, também, em encontros online e presenciais. Nós estamos descobrindo o que é aprender sobre nós mesmos.

Veja, Sabedoria não é assunto para filosofia, não é assunto para uma doutrina também teórica ou conceitual, seja no Zen, nos Vedas ou nas Escrituras. A Sabedoria é a ciência da Verdade de Deus. Se há essa Verdade de Deus se revelando, essa vida não é mais essa particular vida do ego presente. Temos a Verdade da Sabedoria. Então, a Sabedoria é um assunto possível para cada um de nós quando a Realidade de Deus se apresenta, se mostra, quando há o fim para a ignorância, essa visão equivocada que esse modelo de intelecto condicionado que nós temos tem da vida.

Assim, todo o cultivo do intelecto, inclusive dentro dessa formação teológica, teórica, conceitual, verbal de palavras, isso ainda é parte do condicionamento, dessa mente condicionada, dessa consciência, que é a consciência egoica. Definitivamente, nós precisamos ter uma aproximação de Deus, mas essa aproximação de Deus requer a presença da investigação da natureza do “eu”, da natureza dessa egoidentidade, para o fim dela. Isso é ter uma verdadeira aproximação de Deus. Isso não pode vir das teorias, isso não pode vir dos livros, não pode vir de ouvir falas ou palestras, isso nasce do Autoconhecimento.

Então, a expressão “como desenvolver o Autoconhecimento” é algo de grande importância quando compreendemos o significado real dessa palavra, assim como da palavra “desenvolver”. Você não pode se aproximar de algo que requer vivência, prática, com crenças, conceitos, idéias, teorias.

É como se ver no espelho. Para se ver no espelho você tem que olhar para o espelho, você jamais vai conseguir se ver no espelho sem estar diante do espelho. Você pode ter até uma fotografia do espelho, mas você não estará lá. Uma fotografia, a fotografia do espelho, é só uma imagem de um objeto, mas você não estará lá. Alguém pode lhe falar desse espelho, lhe dar uma foto dele, mas você terá um contato com a verdade desse olhar para si mesmo quando estiver diante do espelho, apenas quando estiver diante do espelho. Quando encarar o espelho, poderá se ver no espelho. Um conceito de espelho, uma ideia de espelho, uma fotografia do espelho, da moldura do espelho não é se ver no espelho.

Aqui nós precisamos ter uma ciência da Verdade sobre quem somos, e isso só é possível quando você aprende o que é aprender sobre si mesmo. Isso requer um olhar direto para todos esses movimentos internos presentes dentro de você, que são essas reações que surgem, de lembranças, memórias, recordações, onde temos presente os sentimentos, as emoções, as sensações, as percepções. Isso está presente aqui, nesse instante, quando você olha para aquilo que se passa aqui, nesse instante, com você.

Então, esse é o livro, esse é o aprendizado real. A sua aprendizagem a respeito da verdade sobre você é nesse instante. Eu tenho dito isso inúmeras vezes. E é bem proposital essa coisa de estarmos sempre voltando, e precisamos voltar sempre ao básico, porque nós temos um movimento psicológico muito complexo. Agora mesmo, aqui, boa parte de tudo o que foi dito, o seu cérebro, nesse modelo condicionado como nós temos, já editou. Algumas coisas você capturou e outras você desprezou, isso porque nós não sabemos o que é aprender sobre nós mesmos.

Não sabemos, por exemplo, escutar. Aprender sobre si mesmo requer esse escutar. Mas escutar até o fim, acompanhar por completo o som. É como quando você escuta o som de um avião cortando o céu – você já deve ter tido essa experiência –, você acompanha o avião, o som do avião, do início, ele passa, até o fim. Acompanhar até o fim esse som e depois o silêncio se estabelece novamente. Então, primeiro há um silêncio e aí o som começa fraquinho e ele vai aumentando, aumentando, aumentando, aumentando, aumentando e chega num ponto que ele começa a diminuir, e nesse instante ele começa também a desaparecer, até que o silêncio está presente novamente. Isso é escutar.

Quando você se prontifica a escutar um pássaro cantando, ele está cantando e você o escuta. Ele começa a fazer suas notinhas e você acompanha. Veja como é interessante essa aproximação do escutar. Conseguimos escutar um avião, conseguimos escutar um pássaro, conseguimos escutar um assovio, quando ele inicia e ele termina, mas não conseguimos escutar a nós mesmos, nossas reações internas. Não sabemos acompanhar um movimento de pensamento interno surgindo. Há sempre um elemento em nós que interrompe isso.

Quando o pensamento é prazeroso, esse elemento se agarra e flutua nesse sentimento, emoção ou sensação específica daquele pensamento. Se o pensamento é doloroso, de imediato, esse elemento que surge não quer esse pensamento, então começa a lutar contra o pensamento. Fazemos isso de uma forma inconsciente quando vamos, por exemplo, fazer uma outra coisa ou quando começamos a cantarolar ou a procurar outra coisa externamente para ouvir, para abafar aquele som interno daquele pensamento que não queremos presente.

Então veja, nós não sabemos o que é ter uma aproximação desse aprender sobre nós mesmos. Não escutamos nossos pensamentos até o fim. Os sentimentos quando surgem, também não sabemos escutar, as emoções quando aparecem, o modo de perceber, não sabemos tomar ciência disso.

Não sabemos porque estamos sempre colocando um elemento presente nessa experiência. Esse elemento é o “eu”, esse que gosta ou não gosta do que sente, do que pensa, do que vê. Então, há sempre esse elemento, que é o ego, que é o “eu”, que é esse que vem do passado interferindo nessa escuta, nesse escutar o que se passa conosco.

Assim, nunca nos colocamos diante desse espelho de autorevelação do “eu”, desse “mim”, desse ego. O nosso movimento interno é de fuga. Quando a coisa é desagradável ou é de apego, de fixação quando aquilo é prazeroso, o resultado disso é a manutenção ou a continuidade desse elemento, que é o ego, esse sentimento de “eu”, de “mim”, de pessoa presente. Então não há Liberdade.

Nós não temos um movimento de Inteligência, de Presença, de ciência de simplesmente Ser. Isso requer esse escutar, e nós não temos esse escutar. Então, o som do avião, o som do pássaro ou aquele assovio, aquilo não interfere com esse elemento autocentrado, que é esse “mim”, esse “eu”, esse ego. Ele não tem prazer, nem dor nesse som, então ele escuta. Mas esse elemento em nós, que é o ego, vive dentro de um modelo de dualidade; ele está sempre buscando o prazer e sempre tentando se livrar ou se afastar da dor. Então, o prazer ele agarra e se apega a ele, e a dor ele foge e ele rechaça ela.

Assim, não nos conhecemos, não nos compreendemos, então não temos uma ciência da Verdade sobre quem nós somos aqui nesse instante, nesse contato com o outro, com a situação, com o acontecimento, com a experiência. Porque, no ego, estamos dentro desse modelo seletivo de sentir, de pensar, de agir. É todo esse movimento de volição, de querer, de não querer, de buscar mais ou de se livrar. Então, queremos ou não queremos, gostamos ou não gostamos.

Assim, vivemos dentro de um princípio de dualidade, de egocentramento. Não sabemos a Verdade da vida como ela é, como ela acontece, porque estamos sempre fazendo “nossas escolhas” a partir desse centro, que é uma entidade artificial presente dentro da experiência da vida. Vejam como isso é delicado. Essa condição de comportamento é de ignorância, é de ilusão, é de autoafirmação egocêntrica.

“Eu gosto das pessoas que delas eu tenho uma imagem de prazer, porque elas me oferecem, me ofertam, me gratificam com o prazer, eu gosto delas, e eu não gosto das pessoas que não me dão nada ou que quando se aproximam, ao invés de trazer prazer, trazem problemas”. Tudo isso pode parecer muito razoável, e do ponto de vista desse centro, que é o “eu”, sim, é bastante razoável, mas não percebemos que esse movimento é separatista, ele me separa da Totalidade da Vida e faz com que eu me sinta sempre uma pessoa dentro da experiência do viver nas relações. E um detalhe: uma pessoa com medo e, também, carregada de desejos.

Isso é inconsciência da Totalidade da vida, do movimento da vida. Isso é não ciência da Verdade sobre quem somos, porque você não é uma pessoa. Há uma Realidade presente aqui e agora além desse modelo de gostar e não gostar, de ver o outro e de ver a si mesma, a si mesmo, nessa dualidade, nessa separação, onde tem você e o outro, você e o que eu gosto, você e o que você gosta, você e o que você não gosta.

Aqui estamos, com você, lhe mostrando que há uma Realidade presente além desse “você”, desse “eu”, desse “mim”, desse modelo de existência em egocentramento. Isso requer um olhar novo, um novo modo de sentir, de agir, de pensar, de estar em relação com o outro, com a vida, com o mundo à sua volta, mas isso requer que você se aproxime e descubra como internamente você funciona.

Por que as reações são como são? Por que existe esse modelo egocêntrico de ser, onde vivemos dentro de um padrão de acepção de pessoas, de conceitos, pré-conceitos, busca de mais, essa ânsia por querer, essa incompletude de ser, todo esse nível de insatisfação presente e de modelo de relação com o outro, com a vida, com nós mesmos com base nesse centro falso. Tomar ciência disso é ir além disso.

Então, o Despertar de sua Natureza Real é Autoconhecimento. A base é esse Autoconhecimento. Então, floresce a Verdade da Meditação. Aqui estamos lhe mostrando o que é a visão Real da Meditação dentro de uma aproximação da Não dualidade. Então, a visão da Meditação Advaita, do Autoconhecimento que lhe aproxima da Realidade do seu Ser, que é Não dual. Esse é o nosso assunto aqui com você.

Nós temos encontros online que ocorrem nos finais de semana. Sábado e domingo estamos juntos aprofundando tudo isso com você. Então, nesse contato com o Silêncio, com um trabalho direto de Meditação, estamos trabalhando essa visão da Realidade do Despertar da Consciência ou Iluminação Espiritual. Além disso, temos encontros presenciais e, também, retiros.

Agosto de 2024
Gravatá – PE, Brasil