O ser humano aprecia muito essa questão do mito. Você sabe, o mito é aquela história fantástica que tenta explicar alguma coisa a partir de uma narrativa bastante imaginativa, bastante criativa. Então, a verdade do mito é que ele é algo que o pensamento cria dentro da sua imaginação – e o ser humano gosta muito dos mitos.
Eu quero investigar com você aqui duas coisas que podem não parecer, mas são dois mitos dentro desse, assim chamado, conhecimento espiritual como nós conhecemos. Um deles é a questão desses sinais do Despertar Espiritual, de como as pessoas valorizam a busca, a procura ou a expectativa da espera de um ou mais desses sinais para aquilo que elas chamam de despertar espiritual.
O outro mito é a questão tão amplamente aceita dessa coisa chamada de crescimento espiritual. Notem que aqui estamos lidando com duas coisas ligadas, necessariamente, à presença do tempo.
Nós, como seres humanos, estamos em busca de alguma coisa fora daquilo que tem sido a nossa vida trivial, comum, e queremos realizar isso através de um contato de experiência incomum, extrafísica ou, assim chamada, espiritual. Um tipo de experiência tão rica e profunda que possamos dali sair com a certeza de que algo está acontecendo, que está havendo esse, assim chamado, despertar ou crescimento espiritual.
Vamos compreender uma coisa aqui. Quando nós estamos lidando com a Realidade Divina, com a Realidade de Deus, estamos lidando com Algo que está fora daquilo que o pensamento possa construir, idealizar e, portanto, alcançar pela imaginação. É isso que nós precisamos compreender.
Nós, geralmente, estamos à procura de uma experiência, sem investigar a natureza daquele que está nesta procura. Você não precisa de sinais do Despertar Espiritual, você não precisa de crescimento espiritual. Tudo, de fato, o que você precisa é tomar ciência da Verdade da Real Consciência que já está presente aqui. Isso não irá acontecer com uma experiência rica, profunda e maravilhosa, como o pensamento imagina e nem isso irá lhe trazer esse tão sonhado crescimento espiritual.
A Realidade do seu Ser é a Natureza de Deus e Isso já está agora, aqui. Então, não desanime ao ouvir que você não precisa de experiências, que você não precisa de sinais, que você não pode esperar, depender da ideia de um crescimento, assim chamado, espiritual. Aquilo que já está presente aqui é Aquilo que se Revela como sendo a Verdade do seu Ser.
Então é, na verdade, um mito, essa ideia de que através de uma experiência você irá alcançar o despertar espiritual. Não há você para alcançar e não há algo para ser alcançado. Você pressupõe a presença de uma identidade aqui, nesse instante, que irá passar por um processo de mudança, de transformação dentro de um contato com uma rica e profunda experiência que irá acontecer amanhã, e o resultado disso será o “despertar espiritual”, a “iluminação espiritual”: isso não é real. Não é real porque o sentido do “eu”, do “ego”, desse “mim”, dessa pessoa, não entra.
A verdade do Florescer do seu Ser, de sua Natureza Divina é o fim exatamente desse “eu”, desse elemento que passa por processos de ampliação, de fantásticas experiências, que pode passar por um processo de evolução ou crescimento. Esse elemento ainda é o ego, ainda é o “eu”. Toda a experiência é aquilo que você reserva dentro de você como uma lembrança, como uma recordação.
Notem como é interessante isso. Quando eu lhe peço para contar algo sobre a sua experiência, o que você tem para me contar, para me relatar é uma memória pela qual você passou, guardou no cérebro e agora nos conta essa memória. Então, quando você me traz essa memória, você está contando para mim ou para outros algo pelo qual você passou. Mas quem é esse elemento que passou por isso, que guardou essa memória?
Esse elemento em nós que guarda lembranças, que guarda memória, na verdade, é uma ideia, é um conceito. Nós temos a ideia de alguém presente tendo lembranças, guardando memórias, passando por experiências e falando sobre essas experiências. O que temos, na verdade, são essas experiências como memória, como lembranças voltando, de novo, como uma resposta do pensamento.
Quando você tem uma lembrança, o que está presente é só a lembrança. Mas existe a ideia desse “você” se lembrando. E, na realidade, uma lembrança é só um pensamento que volta do passado como uma memória, uma recordação, e sendo relatado de novo aqui. Então, através desse mecanismo da fala e desse trabalho do cérebro de trazer a lembrança, acontece o depoimento.
Então, você nos conta algo. Na verdade, esse contar algo apenas está acontecendo como um movimento do pensamento sendo colocado em palavras e podendo ser ouvido. Essa palavra pode ser ouvida, esse relato pode ser escutado, mas o que temos presente é só uma lembrança, uma memória. Nós não temos o experimentador. Nós não temos o experimentador. Esse experimentador é o sentido de um “eu” presente. Ele só surge quando a lembrança surge.
Assim, esse experimentador é a própria experiência. Quando a experiência é relatada, o experimentador está presente. O experimentador não é outra coisa a não ser essa experiência sendo relatada. Repare como é simples isso. Você não tem qualquer experimentador sem a lembrança de uma experiência. A lembrança de uma experiência traz a ideia, o pensamento de um experimentador que passou por aquilo, mas é só a lembrança que faz isso. Se não há lembrança, não existe o experimentador.
Portanto, esse sentimento de ser alguém que passou por algo no passado e que está aqui, agora, isso é uma imaginação do pensamento em razão da presença da memória, em razão da presença da lembrança. O ponto é: que valor isso tem? Que importância isso tem? Uma memória, uma lembrança, uma recordação, é uma experiência.
Toda experiência é algo pelo qual você já passou, mas você é esse experimentador que só aparece quando a memória surge, quando a lembrança surge. Então, quando a gente fala de experiências, a gente está falando de memória, de lembrança, de pensamento, algo que vem do passado. Mas estamos, vez após vez, confirmando a presença de alguém importante, porque passou por experiências. Esse alguém é só a ilusão de alguém e essa experiência é só a lembrança, é só a memória, algo que vem do passado, não tem qualquer importância.
Então, isso não tem nada a ver com o Despertar Espiritual. “Ah, mas eu passei por uma experiência muito rica, muito bonita, muito profunda, muito real”. O ponto é que ela não está aqui, agora. O que você tem aqui, agora é só uma lembrança dela. Como uma lembrança, ela não tem realidade no instante, no momento presente, e temos ainda esse elemento, que é o “eu”, esse “mim”, essa “pessoa”. Onde ela está? Onde está esse experimentador agora, aqui? Se o que temos é só uma memória, uma lembrança, algo que já foi, que já desapareceu.
Então, nós temos que descartar essa ideia da necessidade de uma experiência, de passarmos por sinais do despertar. Por que quem é esse elemento que fica passando por esses sinais, se o Despertar Real é exatamente o fim do ego, o fim do “eu”, o fim desse elemento? Ele não tem importância, assim como as experiências também não têm qualquer importância, porque são apenas lembranças, que ficam no passado.
A Realidade do Despertar Espiritual, da Realização Divina é Aquilo que se Revela agora, aqui. Esse elemento presente não está, então não fica essa ideia de crescimento. Crescimento pressupõe a presença do tempo para uma entidade presente, para o “eu”. A Realidade do seu Ser está fora do tempo, portanto, não cresce nem diminui. A Realidade do seu Ser está fora do tempo, não faz parte do passado, nem dessa ideia do presente, nem do futuro, porque isso está dentro do tempo.
Apenas o pensamento nos fala sobre o tempo, sobre o que foi, sobre o que é e sobre o que será. Quando não há pensamento, só temos, nesse momento, a vida como ela é, sem qualquer descrição, sem qualquer experiência, sem qualquer experimentador, sem algum elemento presente para evoluir, para vir a ser, para alcançar, para chegar em algum lugar.
Reparem que tudo isso é apenas parte daquilo que o pensamento tem construído. E tudo que o pensamento faz é, a partir de memórias, lembranças, ideais, sonhos, desejos e projetos, se projetar na imaginação, criando todo o tipo de ideia a respeito de algo que quando está presente, nenhuma ideia fica. A Realidade do seu Ser não está nesse movimento, nem de experiências, nem de sinais, nem de crescimento.
Veja, se autoconhecer, o Autoconhecimento, esse “como conhecer a si mesmo” significa tomar ciência da ilusão de uma identidade presente que se confunde com esse movimento, que é o movimento do “eu”, nessa procura por experiências.
Nós eliminamos a questão do tempo quando eliminamos esse movimento, que é o movimento do pensamento nessa ideia de “eu fui, eu sou e eu serei”, e quando isso ocorre, não existe mais sinais para o Despertar, não existe mais essa ideia de crescimento espiritual. Assim, nos aproximamos daquilo que se passa nesse instante, o que são esses pensamentos, sentimentos, emoções, sensações, percepções.
Tomar ciência de todo esse movimento, que é o movimento do “eu”, desse “mim”, desse elemento que, na verdade, é um conjunto de memórias, de lembranças, de pensamentos, é descartar esse elemento de dualidade, de separação, que é esse pensador, esse experimentador, esse que vê, esse que observa a partir do passado, esse que está em busca de um objetivo, seja ele de um crescimento, assim chamado, espiritual ou de experiências mais ricas e profundas, assim chamadas, espirituais, ou aguardando esses, assim chamados, sinais do despertar.
O fim para essa condição psicológica é o Florescer de sua Natureza Divina. Então, a questão da Realização d’Aquilo que é Você em sua Natureza Real está quando essa condição psicológica, que é a identidade egoica, se dissolve; e quando ela se dissolve, se dissolvem com ela todos os problemas ligados, lincados a esse sentido egoico.
Então, o trabalho é real quando você toma ciência daquilo que está aqui e agora como sendo esse movimento, que é o movimento dessa egoidentidade, dessa ilusória identidade, desse sentido do “eu”, desse sentido do ego, desse que se move nesse movimento do pensamento, que é o movimento do tempo, que quer alcançar alguma coisa e que, também, quer se livrar de algumas outras coisas.
Aqui estamos lhe convidando a ter uma aproximação da Verdade da Real Meditação de uma forma vivencial, de uma forma prática. Isso é possível quando você tem uma visão clara da importância do Autoconhecimento, do valor do Autoconhecimento. Então, eu quero lhe convidar a se aprofundar nisso, tomar ciência disso, de como ter uma real aproximação da Verdade do Despertar Espiritual, da Realidade sobre Isso, da Verdade sobre Isso.