Atma Vichara Ramana Maharshi | Autoinquirição | Auto-observação

“Como se livrar do sofrimento?” Nós aqui estamos lidando com algo fundamental para a vida. O sofrimento é como uma dor de dente. Se você, de repente, acorda pela manhã e percebe que há uma dor presente na boca, algo está errado com os dentes. É possível que seja uma dor em um dos dentes. E aí você se levanta e assume o dia, como se nada estivesse acontecendo. É assim? Não!

A primeira coisa que você faz é descobrir o que há de errado com a boca e se realmente é um dos dentes que está doendo. E o que você faz? Você procura uma ajuda médica. Veja, lidar com uma dor de dente é assim, com uma dor na boca é assim, com uma dor em qualquer parte do corpo é assim. Nós procuramos ajuda porque sabemos que não é natural. Não estamos lidando com algo natural. Estamos lidando com uma experiência inusitada, com uma experiência de dor.

Então eu me pergunto por que é que nós não descobrimos ainda isso, no que diz respeito a essa nossa vida interna, que é essa vida psicológica? Por que não atentamos ainda para aquilo que se passa em nós, dentro de cada um de nós? De um modo geral, como desde pequenos, psicologicamente, já passamos por muitas experiências de dores, chegou um momento em que nós nos habituamos.

Um dente doendo na boca, você não se habitua com ele. Mas esses estados internos psicológicos de sofrimento, uma boa parte deles, nós já estamos habituados a conviver com eles. Aqui nós estamos com você lhe comunicando a possibilidade, nesta vida, de tomar plena ciência da Realidade do seu Ser.

Estamos lhe dizendo também que Você em seu Ser, em sua Natureza Verdadeira, n’Aquilo que realmente é Você, não há dor, não há desordem, confusão, conflito, sofrimento. Aqui estamos lhe comunicando que esse não é o seu Estado Natural. Você sabe que o estado natural da boca é sem dor, mas não sabe que o seu Estado Natural em Ser, em seu Ser, n’Aquilo que é Você, não há sofrimento psicológico, não há desordem, não há confusão.

Dificilmente nós conseguimos, a princípio, compreender uma fala como essa, ver a implicação ou todo o significado daquilo que está sendo colocado aqui. Sim, nós estamos dizendo exatamente isso para você: você não nasceu para o sofrimento, assim como não nasceu para viver uma vida inteira com um dente doendo dentro da sua boca.

A natureza do “eu”, desse “mim”, dessa pessoa, não é a Verdade do seu Ser, não é a Verdade sobre Você. É isso que dói. Esse é o seu dente que dói. Mas, diferente de um dente na boca, que quando dói você procura ajuda, porque sabe que não é natural essa dor dentro da boca, essa continuidade de vida ou de convivência com esse “eu”, essa pessoa como você se vê, é algo que você encara como sendo a realidade da vida, uma verdade sobre você, o seu estado natural.

Alguns homens e mulheres, dentro da história da humanidade, descobriram, claramente, a ilusão sobre isso e abandonaram essa ilusão. E aqui nós estamos, com você, fazendo o mesmo, descobrindo isso com você, explorando isso com você, investigando isso com você.

Nós desconhecemos a Verdade sobre quem somos e nos confundimos com aquilo que não somos. Nós nos confundimos com aquilo que nós não somos, mas aquilo que nós não somos, nós já somos, porque assumimos. Então, a verdade sobre quem nós somos é a verdade que assumimos ser. Mas essa verdade que assumimos ser não é a Realidade; não é a Realidade última, não é uma Realidade Divina, não é a Realidade de Deus sobre nós.

Precisamos liberar de nós esse dente que dói. Esse dente é o sentido do “eu”, do ego, desse “mim”, é a pessoa. Então, temos que estudar a pessoa, tomar ciência dessa pessoa. Os médicos são maravilhosos, eles estudam para nos ajudar a nos livrar do sofrimento, da desordem física, do sofrimento físico. Naturalmente, um sofrimento físico implica também em um sofrimento psicológico, sentimental, emocional. Então, quando você vai a um médico, ele estudou para lhe ajudar a se livrar daquilo que não é natural, que é essa dor.

Evidente que se há uma desordem de alguma ordem no corpo, aquela dor se apresenta como um mecanismo de autoproteção, de autorregulação, de autodefesa do corpo. Então, nesse sentido, do ponto de vista biológico, é muito natural que uma dor surja quando uma desordem está presente, quando algo não está indo bem. Mas é só quando algo não está indo bem, é só quando há alguma desordem.

É apenas quando o corpo está afetado por algum invasor ou por alguma forma de problema que a dor se apresenta. Mas o trabalho do médico é livrá-lo da dor, porque não é natural. Não é natural. É algo presente com a desordem, mas não é natural. Quando não há desordem, não há dor. Você não sente os seus pés, nem as suas mãos, a não ser que haja algo errado com elas, a não ser que haja algo errado com eles

Se há algo errado com os pés, você sente a presença do pé. Se não tem, você não sente a presença do pé. Se há algo errado com as mãos, você sente um dedo na mão direita. Se você não sente nada nas suas mãos, é sinal de que elas estão sem desordem; os seus pés estão sem desordem. Assim é o corpo.

A presença da saúde é a ausência da ideia do corpo. Quando há um pensamento sobre uma parte do corpo é porque esse corpo está em desordem naquela parte e chamou a atenção para cuidados. Por que nós não percebemos isso sobre nós mesmos?

Então, nós nos habituamos a viver em sofrimento. Não percebemos que o medo é sofrimento, a inveja é sofrimento, o desejo é sofrimento, a culpa, a raiva, a cólera, a angústia, tudo isso é sofrimento. Essa tagarelice interna de pensamentos dentro de você, isso é sofrimento.

Então, é possível uma vida livre de tudo isso? É possível uma vida livre de sofrimento? Uma vida livre da mente, do “eu”, do ego, é uma vida sem a ciência dessa inquietude interna, dessa tagarelice interna, dessa dor emocional, sentimental, psicológica. Então nós temos a ausência da mente egoica. Essa é a ausência da mente.

É por isso que, em algumas escolas de sabedoria, isso é chamado de não mente, porque você não pode sentir aquilo que não está presente. E a mente não está presente, então você não sente a presença da mente. A doença não está presente, então você não sente a presença do corpo.

Qual é a verdade de sua Natureza Real? É a ausência do corpo, assim como a ausência da mente. É você em seu Estado Natural, livre do “eu”, do “mim”, do ego. É nele que estão presentes esses estados internos aflitivos, conflituosos, de desordem, de confusão, de problema, de sofrimento. É o que estamos vendo aqui com você, investigando aqui com você.

O fim para o sofrimento é o fim daquele que sofre, assim como o fim para a doença é o fim do doente. Se não há doença, não há esse doente. Se não há desconforto, se não há sofrimento, não há esse elemento em desconforto e em sofrimento.

Aqui temos um trabalho juntos, e esse trabalho é tomarmos ciência da Verdade sobre quem nós somos. O fim disso é o fim da ignorância. É nessa ignorância sobre quem nós somos, é nessa identificação com aquilo que nós não somos e que assumimos como sendo nós mesmos, como sendo a verdade da vida, que está presente o sofrimento. E o sofrimento nesta vida como nós conhecemos.

O Despertar de sua Natureza Divina é o fim para essa condição psicológica, é o fim para essa desordem. A pergunta é: como se aproximar disso? Investigando, observando, tomando ciência de como você funciona internamente. Nós não estamos cientes de todo esse processo de ser alguém. Com isso, estamos nos confundindo.

Então, estamos desorientados, estamos perplexos, estamos confusos, estamos atemorizados, desejosos, ansiosos, invejosos, preocupados, porque estamos vivendo dentro de um modelo de pensamento de condicionamento mental, algo comum dentro dessa civilização, dessa cultura, nesse formato humano de ser alguém, como nós conhecemos. Isso se tornou algo natural e, no entanto, estamos lidando com algo comum. Nós temos dito aqui para você: nós tomamos o comum por natural, então assumimos aquilo que é comum como sendo algo natural.

Estamos habituados a viver nesse sentido do “eu”, do “mim”, da pessoa, nesse isolacionismo, onde o centro de nossas ações, nesse centro, a figura principal é alguém presente que se vê separado das ações, alguém presente que também se vê separado dos pensamentos, alguém presente que se vê separado das emoções, das sensações, daquilo que percebe à sua volta.

Esse autocentramento é uma condição psicológica de desordem. É aqui que está presente a ilusão sobre você, porque, de fato, você não é isso. Embora, de fato, você esteja assumindo isso como sendo você e, por isso, o sofrimento está presente.

Então, quando você vem a mim e pergunta como se livrar do sofrimento, eu volto para você a pergunta e pergunto: quem é esse elemento que sofre? A sua resposta será, naturalmente: “Sou eu”. Mas eu pergunto a você: o que é esse “eu”? Quem é você?

Quando as pessoas procuravam Ramana Maharshi, o sábio lá do sul da Índia, que vivia na montanha de Arunachala, e perguntavam a respeito da vida, a respeito do sofrimento ou de situações de que estavam vivendo, ele voltava para elas a pergunta: “Mas quem é esse que sofre? Quem é esse que faz a pergunta?” Então, a sua resposta, naturalmente, será: “Eu. Eu mesmo”. “Então, quem é esse que quer saber?” Eu. “Quem é esse que sofre?” Eu. “Quem é você?” Investigue, interrogue a si mesmo. Olhe. Descubra o que é olhar para si mesmo. Então, pergunte: quem sou eu?

Veja, ele não estava dizendo para as pessoas fazerem uma pergunta verbal, intelectual. Ele estava dizendo: tome ciência, fique cônscia de si mesma, nesse instante. É isso que nos falta. É isso que nos falta. É aqui que está a medicina. É aqui que está o tratamento, é aqui que está a cura, é aqui que está a Libertação, a Libertação dessa condição de sofrimento.

E esse contato que eu tive com essa visão, que ocorreu lá no mês de junho de 1986, mudou tudo aqui. O contato com a Verdade da autoinquirição, em sânscrito é Atma Vichara. Então, essa Atma Vichara de Ramana Maharshi, ter uma aproximação desse observar, desse se tornar cônscio de si mesmo, ciente de suas reações, isso pode romper com esse padrão de identidade egoica, de identidade do “eu”, de pessoa. Isso é algo que detona com esse centro, então ele explode.

O sentido do “eu”, do ego, do “mim”, de pessoa sofre uma explosão quando a Verdade se Revela. Temos o fim para esse observador, pensador, experimentador quando descobrimos o que é olhar sem o “eu”, olhar sem o observador, perceber sem o perceber. É a ciência do pensamento sem o pensador.

Então, a autoinquirição, a auto-observação, a Atma Vichara é a aproximação da Verdade da Meditação, porque ela lhe aproxima do Autoconhecimento. Eu quero repetir: é aqui que está a cura. Isso requer o coração envolvido, a mente envolvida, todo o seu ser envolvido nessa autodescoberta.

É por isso que temos encontros nos finais de semana. Sábado e domingo estamos juntos, olhando para isso. Eu quero lhe mostrar como realizar Isso nesta vida. Eu quero lhe dizer que Isso, sim, é possível nesta vida. Descobrir uma qualidade de Vida completamente diferente dessa vida como a pessoa, o “eu”, o “mim”, conhece.

É isso que alguns chamam de Despertar da Consciência ou Iluminação Espiritual. Foi isso que me foi mostrado e aqui estamos compartilhando com você. Portanto, sábado e domingo estamos juntos. Nós também temos encontros presenciais, é uma outra qualidade de encontro, e também temos retiros.

Setembro de 2024
Gravatá – PE, Brasil