Nós temos alguns questionamentos bastante curiosos. Um deles é como lidar com o ego ferido. A ideia que a pessoa tem é que ela tem como aprender a lidar com o ego do outro quando ele está magoado, ofendido, chateado, aborrecido ou ferido de alguma forma. Então, a gente quer descobrir como lidar com o outro quando ele está no ego, quando ele está inteiramente identificado com o ego.
Reparem de onde nós partimos, notem a confusão presente dentro de cada um de nós. Na vida, aquilo que se faz presente nesses contatos de relacionamento são relações que se assentam em ideias, quadros, fotografias, imagens que um tem do outro. Mas ao olhar para o outro parece que o outro está com o ego ofendido, ferido, magoado, aborrecido, chateado, e nós queremos aprender a lidar com isso. Queremos entrar em um bom acordo, em uma boa negociação. Mas quem somos nós dentro dessa relação, senão, também, uma outra autoimagem?
A pessoa tem uma imagem sobre quem ela é, sobre quem ela acredita ser, e ela está chateado, mas nós temos uma imagem sobre quem nós somos, sobre quem acreditamos ser, e nessa crença de ser alguém melhor ou estando bem, melhor que ela, eu posso ajudá-la se eu aprender como fazer isso. Quem é esse “eu”? Também uma autoimagem. Apenas uma autoimagem que também se ofende, se magoa, se entristece, se aborrece, se chateia.
Assim, nossas relações são relações que ocorrem entre imagens. Relações entre imagens são encontros entre pensamentos, uma vez que a imagem que você tem sobre quem você é é um conjunto de memórias, lembranças, recordações, pensamentos. Então, aquele que “eu” sou se encontra com você como você é. Mas como você é e como “eu” sou, isso é um encontro entre pensamentos, que vêm do passado.
Você não tem um só pensamento que não seja o resultado do passado. Portanto, você não tem qualquer ideia sobre você que não venha do passado e qualquer ideia sobre o outro que não venha do passado. Então, um encontro como esse nós chamamos de relação, mas, na verdade, o que estamos tendo é um relacionamento. Não há uma relação real. Essa relação é um relacionamento entre imagens, que são pensamentos, que vêm do passado.
Notem como nós funcionamos psicologicamente. Reparem que isso é fundamental para a Liberação, nesta vida, dessa condição de egocentrismo, de egoidentidade, de prisão nessa ilusão de separação entre você e a vida, entre você e Deus, naturalmente, entre você e o outro, porque o que temos são pensamentos se encontrando, imagens negociando. É isso que nós chamamos de vida, de relações.
Será possível termos uma vida real? Uma vez que essa vida, como nós chamamos, é algo que está dentro do contexto do movimento dessa consciência comum a todos, que é a consciência do “eu”, que é a consciência do ego, que é essa autoimagem tendo consciência. Nós chamamos de consciência a presença dessa autoimagem em reconhecimento. Nós usamos expressões e nunca investigamos o que estamos dizendo.
Quando você diz que está consciente ou quando você diz “eu tenho consciência”, o que você está dizendo? O que você está dizendo, na verdade, é que há um movimento de pensamento aí reconhecido. É isso que chamamos de consciência. Você está sempre consciente do que se lembra, do que recorda. Você passa por experiências, guarda essas experiências como memória, tem a lembrança, a recordação e chama isso de consciência.
“Eu tenho consciência de quem eu sou”. Que verdade há nisso? A única verdade de que tudo que o pensamento tem sobre quem ele é é a imagem que ele faz dele mesmo. Isso não é a Verdade da Consciência, é estar consciente. Nesse estar consciente, existe o pensamento presente e a ideia de um ser consciente por detrás da memória, da lembrança, do pensamento. E agora estamos vendo que isso não é verdade, porque esse pensamento não é outra coisa a não ser esse ser consciente.
Vejam como é simples isso, e isso é algo que sempre nos escapa. Nós não temos ciência dessa inconsciência que é viver nesse movimento do pensamento, o pensamento se reconhecendo, e estamos chamando isso de consciência. Como podemos tomar ciência de tudo isso? Autoconhecimento.
Aquilo que você compreende, você está livre. Se você não compreende, você não está livre. Se você compreende o medo, isso é o fim do medo. Se você compreende a inveja, isso é o fim da inveja; do ciúme, é o fim do ciúme. Então, quando as pessoas se perguntam como lidar com o ego ferido, precisam antes compreender como o ego funciona. Mas não é o ego do outro, é o seu próprio ego. A gente vê o ego no outro, mas quem é esse que está vendo o ego no outro?
O Despertar da Consciência Real é a Verdade da Revelação de que esse sentido do “eu”, do ego, presente, esse “mim”, é uma ilusão. Então, não se trata de como lidar com o ego ferido do outro. Se trata de tomar ciência da ilusão desse estado de isolacionismo, de separatividade, de egocentrismo, de autointeresse, de ilusão que eu faço sobre esse “eu” que sou, que acredito ser, aqui.
Agora nós entramos em uma outra questão. Como podemos lidar com isso? Tendo uma visão direta de como meditar de forma correta. Reparem, agora temos a resposta aqui para uma pergunta que é feita: “Como meditar de forma correta?” Compreenda, a Meditação não é uma ferramenta da qual você
se utiliza para encontrar paz, quietude, silêncio, relaxamento e tranquilidade.
As pessoas têm usado ou têm procurado usar a meditação como uma ferramenta para o estresse, para a ansiedade, para a angústia, para lidar com algumas fobias. Então, elas terminaram estudando técnicas de meditação, práticas de meditação, com esse propósito. Aqui, quando falamos ou usamos o termo Meditação, estamos falando de outra coisa. Estamos falando do encontro com a Verdade do Silêncio, mas de um Silêncio de uma qualidade totalmente diferente da qualidade do silêncio que alguém consegue através de uma técnica ou prática meditativa.
Você pode silenciar a mente, aquietar a mente, encontrar um determinado silêncio. Na verdade, você irá se deparar com um estado de estupor, de transe quando faz uma técnica. Aprende a respirar, a entoar um mantra, se senta de pernas cruzadas. Aqui estamos tratando com você da Verdade da Meditação, da Meditação que revela o Silêncio. Mas não é um silêncio que você encontra por uma técnica, por uma prática. Não é o silêncio que se revela quando você obriga o cérebro, através de um modelo, técnica ou prática de quietude, a se aquietar.
Aqui se trata de um Silêncio que nasce naturalmente quando o sentido do “eu”, do ego, não está presente. Então, sim, o cérebro se aquieta, a mente se aquieta, o Silêncio está presente e há Algo agora, aqui, presente se revelando, além do conhecido: é a Realidade do seu Ser, é a Realidade de Deus.
No entanto, compreenda: isso só se torna possível quando, primeiro, aprendemos a ter uma aproximação do Autoconhecimento. E esse Autoconhecimento é olhar, ver, perceber, de uma forma nova, o que quer que esteja aqui acontecendo, porque o elemento, que é o “eu”, o ego, não está presente. Então, o que é Autoconhecimento? É a aproximação direta daquilo que aqui está, sem esse elemento que se separa para fazer algo com isso que aqui se mostra.
E qual é a base para o Autoconhecimento? Auto-observação, aprender a arte de olhar o pensamento, o sentimento, a emoção, uma sensação que surge nesse instante, uma percepção desse momento. Isso no dia a dia, momento a momento. Não em horas específicas do dia, mas enquanto você caminha, conversa com alguém, lida com uma dada coisa.
Trazer consciência para esse instante, se tornar ciente de toda e qualquer reação psicológica, assim como também física: os seus gestos, o seu tom de voz, a linguagem, as palavras, o que quer que você esteja presente nesse momento, sendo visto. Não é para alterar, mudar, modificar, ajustar, consertar ou fazer algo com o que está sendo visto. É ver, e isso é visto sem alguém vendo. Então, o movimento interno do “eu”, do ego, esse movimento que vem do passado, que de dentro sempre vem reagindo, não entra.
Olhar para aquilo que aqui está presente nesse momento, sem um pensamento, uma intenção, uma razão, um desejo, apenas olhar, se tornar ciente desse instante, o que é que você está surgindo nesse momento. Assim nós temos presente a Verdade da auto-observação, que é a revelação do Autoconhecimento, porque tudo o que se mostra aqui é visto sem o sentido de alguém para fazer algo com isso.
Então, nesse momento, há uma aproximação real da ciência da Meditação. A mente silencia, o cérebro se aquieta, o sentido do “eu”, desse “mim”, que sustenta essa dualidade, tudo isso se desfaz aqui, neste instante. Então, estamos diante da Revelação da Vida como ela é, como ela acontece.
Então, como meditar de forma correta? Tomando ciência daquilo que aqui está presente. Nesse contato com o marido, um olhar livre da imagem; com a esposa, um olhar livre da imagem que você tem dela. Você não tem, agora, qualquer imagem da pessoa com quem você está lidando. Nesse instante, estamos diante de uma real relação e não de um relacionamento centrado na imagem. Então não temos um choque entre pensamentos.
Experimente isso: olhar como que pela primeira vez. Você irá perceber que isso não é nada fácil, porque o movimento antigo do “eu”, do ego, que é o movimento dessa autoimagem, sempre entra. Isso requer a presença de uma Atenção. Veja, não se trata de um esforço para estar atento, se trata de um interesse simples, natural, para olhar sem a imagem, sem o passado, sem trazer de volta esse movimento interno, que é o movimento do “eu”, do ego. Nesse instante, você elimina a autoimagem. Livre dessa autoimagem aí, você fica livre da imagem que você faz dele ou dela, ou do mundo à sua volta.
A Meditação é algo que está aqui, nesse instante, quando o “eu” não está, a autoimagem não está, o ego não está, todo esse movimento de consciência egoica perdeu a importância. Podemos viver a vida assim, livre desse sentido de separação? Então, nesse momento, não existe mais o ego ferido, porque o sentido do “eu”, do ego, não está presente. Livre da ilusão dessa autoimagem, você está livre nesse contato com ele ou com ela, também sem a imagem dele ou dela.
Então, essa é a resposta para a pergunta: “O que é essa Atenção Plena?” A Atenção Plena é a ciência da Verdade deste Ser quando a mente não está, quando o ego não está, quando a ilusão da separação não está presente. Estamos diante da Realidade da Vida acontecendo aqui e agora. E nesta Atenção Plena se revela essa Verdade, que está além do conhecido, além da mente, além do corpo, além desse “eu” e desse você. Então temos a Realidade da Não separação, da Não dualidade.