Eu tenho me deparado com diversas perguntas, e é interessante que essas perguntas sempre giram em torno de algo a se realizar no tempo, algo para ser alcançado em algum momento, algo que deve estar lá, em algum lugar, e não aqui, nesse instante.
As pessoas têm perguntas do tipo: “Como alcançar a maturidade espiritual?” Eu não sei exatamente o que elas entendem por espiritual ou por maturidade. Cada uma tem uma ideia do que isso significa para elas.
A palavra maturidade lembra uma fruta que ainda está verde e que não amadureceu. Então a palavra maturidade significa amadurecimento. Agora, nesse sentido da espiritualidade, o que significa isso? Primeiro, o que é espiritualidade? Cada uma também dá um sentido bem peculiar, bem único, exclusivo, a esta expressão.
Aqui eu quero que você tenha um pouco de paciência em explorarmos esse assunto. A meu ver, a Verdade d’Aquilo que é espiritual é Aquilo que está fora do conhecido. Tudo aquilo que faz parte do conhecido, ainda está no campo da mente. E se pode ser reconhecido e, naturalmente, encontrado, aqui, no contexto dessas falas, isso não é espiritual.
Então, nesse sentido, a Verdade d’Aquilo que é espiritual é aquela Realidade que está fora do conhecido, fora do limite ou dos limites daquilo que é identificável ou reconhecido pelo pensamento. E aquilo que está fora do pensamento, fora do conhecido, não está no tempo. Tudo o que faz parte do tempo, no espaço, é identificável e reconhecido pelo pensamento.
Nesse sentido, aqui, nós usamos a expressão espiritual de uma forma muito específica, muito direta. Quando, por exemplo, usamos a expressão “o Despertar Espiritual”, estamos falando do Despertar de Algo completamente desconhecido. Não é nada disso que as pessoas chamam de despertar aí fora.
Então, como alcançar a maturidade espiritual? Notem: aquilo que é espiritual não está no tempo. Se não está no tempo e no espaço, não é alcançável, porque não está dentro do conhecido. Então, essa, assim chamada, maturidade espiritual aqui se trata da ciência da Realidade deste Ser. Isso realmente é o fim da limitação, da ilusão, do sentido de separação.
Não se trata de um amadurecimento até esse ponto. Não se trata de chegar lá. Trata-se de constatar aqui, nesse instante, a ilusão daquilo que é conhecido, que está dentro do reconhecível, que está dentro do pensamento.
Há Algo, sim, além do conhecido, além do pensamento, além do tempo. Isso é Algo que se faz presente, se mostra presente quando esse padrão de pensamento como nós conhecemos, dentro do tempo, desaparece.
Assim, nós temos uma aproximação possível aqui nesses encontros: a aproximação da Realidade que está fora do conhecido. Então temos a Realidade d’Aquilo que é espiritual. Não daquilo que o pensamento alcança, identifica, reconhece.
A Realidade do seu Ser não é detectável pelo pensamento, nem é reconhecida por essa mente. É Aquilo que está presente quando não há mais o passado, o presente e o futuro, uma vez que esse presente, passado e futuro são noções de tempo que apenas o pensamento reconhece. Se isso está dentro do tempo, está dentro de sucessão no tempo.
A Verdade d’Aquilo que é Deus, a Realidade Divina, não é algo passivo no tempo. Portanto, Aquilo que é realmente Você, em sua Natureza Real, não amadurece. Você em seu Ser é Algo que não nasceu, não está vivendo, nem é passivo de velhice, acidente, doença ou morte.
O que é esse Despertar Espiritual? É a ciência desta Realidade atemporal, que é a nossa Natureza Divina. Uma constatação desta Verdade é, nesta vida, a própria Vida em Liberdade, em Felicidade.
Uma outra pergunta comum é: “Como lidar com o ego ferido?” Reparem o equívoco aqui da pergunta. Quem é esse elemento em você que está vendendo o ego no outro? Quem é esse observador que vê coisas separadas dele mesmo o tempo todo?
Veja, nós fomos educados para ter esse modo de olhar, um olhar a partir desse que observa. Então, olhamos com ideias, conclusões, avaliações, aceitações, rejeições. Olhamos a partir de um centro que olha, que é o observador. Esse observador é o “eu”. Esse “eu” é o sentido de alguém presente na experiência do olhar.
Veja, nós temos o olhar e temos a ilusão de uma identidade presente nesse olhar. E quando isso ocorre, aquilo que é visto, é visto a partir de um fundo, de uma experiência, de um conhecimento, de um pensamento, de uma conclusão, de uma ideia, de uma avaliação. Reparem, aqui nos deparamos com o sentido do observador, que é o “eu”, o ego.
Assim, quando as pessoas perguntam como lidar com o ego ferido… Onde é que você está encontrando esse ego ferido? É lá fora? O ego de quem? Quem é esse que encontra o ego no outro? Percebem a pergunta?
Assim, esse sentido de “eu”, que é o observador, é aquele que vê uma imagem no outro, que ele chama de ego. Mas é através dessa imagem que ele tem, também, sobre quem ele é que ele olha e vê o outro. Então, é um olhar a partir do observador.
Tudo que você vê ou está vendo a partir desse centro, que é o “eu”, o “mim”, essa autoimagem, é a imagem que você tem sobre você lidando com o outro. A nossa arrogância particular nesse centro, que é o “eu”, o ego, nos faz acreditar ser possível saber, entender, aprender a como lidar com o ego do outro. Mas quem é esse que está lidando com o ego do outro?
Então, estamos dentro de um grande jogo do próprio ego. Estamos vendo o outro a partir dessa autoimagem: a imagem que “eu” faço sobre você e a imagem que você tem sobre “mim”. Assim são as nossas relações no mundo, na vida, em nossos contatos, assim chamados, pessoais. Enquanto isso se mantém, a ilusão se sustenta. E se ela se sustenta, o conflito está estabelecido, a confusão, a desordem, o sofrimento.
Aqui estamos trabalhando com você o fim dessa condição, o início de algo novo, o surgimento de um estado livre dessa autoimagem, livre desse sentido de alguém presente na vida, no viver, na experiência. Uma compreensão direta disso é a Verdade da Não dualidade.
É o nosso assunto principal aqui, o assunto da Não dualidade, da Não separação, a Verdade da Advaita, a ciência da Realidade que é uma só Realidade presente, onde não existe esse “eu” e o não “eu”, onde não existe esse sentido de alguém presente aqui, nesse instante, vendo o outro, vendo a si mesmo, uma mente livre. Não essa mente inquieta, essa mente tagarela, essa mente comum dentro desse modelo de mente inquieta, de inquietude mental, de inquietude psicológica, de desordem psicológica em que nós, no ego, nos encontramos.
Eu me refiro a uma mente livre desse modelo de pensamento que já está estabelecido em nós, que é esse padrão de modelo de pensamento condicionado. Quando essa mente está presente, há um espaço que se abre, que é Silêncio, então há uma quietude.
E como isso se torna possível? Tendo uma aproximação da atenção, da visão, da compreensão do que é olhar para todo esse movimento do pensamento, sentimento, emoção, percepção, sensação, sem colocar esse elemento presente para interferir naquilo que está sendo visto aqui.
Ter um olhar, uma observação, um modo de perceber sem o percebedor, um modo de olhar sem esse elemento que olha. Um constatar. Um direto constatar de todo esse movimento do pensamento nessa mente inquieta, tagarela, isso faz com que essa autoimagem se dissolva. Isso faz com que você possa olhar quando há essa atenção, que é um olhar livre desse centro, que é o “eu”, o ego. Ocorre, nesse momento, a liberdade de olhar o outro sem conclusões, sem crenças, sem opiniões, sem ideias, sem imagens.
Então, de fato, nesse momento, você está aprendendo a lidar com ele ou com ela, mas não está lidando com o ego ferido dele ou dela, porque você está livre dessa autoimagem aí em você. Livre, você fica livre da imagem que você faz dele ou dela. Então, nesse momento, há um encontro de relação onde se estabelece a Presença da Comunhão, da Paz, do Silêncio, do Amor nas relações. Percebem a diferença?
Não se trata de lidar com o ego do outro, se trata de se livrar desse “mim”, desse “eu”, da ilusão da própria autoidentidade egocêntrica. Então temos um encontro com a Vida como ela é.
Assim, se aproximem agora disso que estamos dizendo aqui. Olhe para o outro sem o passado. Repare, isso não é algo tão simples ou tão fácil, em razão desse hábito, desse modelo, de identidade egoica, que já há decênios vem olhando através de imagens, que são pensamentos, crenças, conclusões, gostar, não gostar.
Você olha para o outro através de toda essa cortina. Mas, coloque nesse momento atenção e olhe. Faça isso. Trabalhe isso. Descubra o que é olhar sem o passado, olhar sem o pensamento, olhar sem essas conclusões, crenças e avaliações que o “eu” tem, que esse “mim” tem. Apenas constate, tome ciência dele ou dela, sem o sentido de alguém, sem esse “eu” e, naturalmente, sem essa imagem do outro.
A presença disso é a Verdade do Autoconhecimento, da revelação da ausência do próprio “eu”. Então um espaço se abre nesse instante. Esse espaço que se abre é a presença da Realidade, da Não dualidade, que é Advaita Vedanta. Esse espaço da Não dualidade é conhecido nos Vedas como Advaita, a Não dualidade.