Aqui nós temos considerado diversas questões com você, porque são questões que dizem respeito a essa mudança fundamental e que se faz necessária em nossas vidas, uma vez que não compreendemos a realidade da vida como, de fato, ela é.
Reparem: existem dois aspectos aqui muito importantes para serem investigados. O primeiro é essa vida que nós conhecemos, o segundo é a Vida, na verdade, como ela é.
A Vida como ela é difere dessa vida que nós conhecemos, uma vez que essa vida que nós conhecemos é a vida onde temos que investigar essas questões, as questões dos problemas, da confusão, da desordem, do sofrimento, esses diversos aspectos da personalidade presentes nessa condição, onde está presente essa vida dentro desse padrão, dentro desse formato.
Então aqui, nós temos investigado essa questão do Despertar da Consciência. Repare: são diversas questões que temos que investigar e nós temos, propositalmente, voltado a elas vez, após vez, após vez.
Em geral, a princípio, nossa aproximação não é uma aproximação clara, até porque a nossa aproximação é a aproximação intelectual, já dentro de um formato de intelecto condicionado, que é o intelecto que nós temos, que nós conhecemos. E a aproximação desses assuntos requer mais do que uma aproximação intelectual, de palavras e de informações verbais.
Existe uma diferença entre entender algo e compreender aquilo. Você, por exemplo, pode entender como se processa um voo de uma aeronave. Você estuda as leis da aerodinâmica e aprende como um avião se sustenta no ar durante o voo. Isso porque você estudou as leis de aerodinâmica. Então você sabe o que é um avião voando, como ele se sustenta no ar. E, no entanto, apesar de entender isso, de saber isso, você não é um piloto.
Um piloto requer um conhecimento que não seja só teórico, um conhecimento a respeito da lei da aerodinâmica. Um piloto tem um conhecimento além disso. Não é um conhecimento teórico, livresco, verbal, intelectual. Ele tem uma aproximação experimental de como aquela máquina funciona, de como uma aeronave funciona na prática.
Então, você pode, teoricamente, saber muito sobre aviação, muito sobre a ciência de voar, teoricamente, intelectualmente. Você pode até saber dar aulas sobre isso, e tudo que você pode comunicar nessas aulas é um conhecimento teórico, intelectual, verbal do assunto. Nada disso faz de você um piloto, alguém que pode pilotar uma aeronave.
Assim, existe uma diferença entre entender algo e ter uma direta compreensão daquilo. Você entende o que é fazer um bolo quando tem uma receita. Você sabe todos os ingredientes, você sabe o tempo em que a massa tem que descansar, você sabe o tempo de cozimento, de assar, de preparar aquele bolo, e, no entanto, você nunca fez.
Uma coisa é diretamente compreender o que é o bolo, como fazer o bolo, outra coisa é ter um entendimento de como se faz um bolo, dos ingredientes que um bolo tem, e de todo tipo de conhecimento a respeito de fazer esse bolo.
Então, na prática, vivencialmente, você pode compreender algo; intelectualmente, você pode entender daquilo. Aqui, quando tratamos com você da Realização da Verdade d’Aquilo que é Você em sua Natureza Essencial, Real, não estamos falando de entendimento, de uma aproximação de palavras, de conceitos, de ideias.
Nós temos tentado isso durante muitos anos. As pessoas já leram muito sobre este assunto. Tanto é assim que, quando você se depara com este blog e começa a ler, a sensação que você tem é que não existe nada novo realmente aqui sendo dito. E, de fato, você está certo.
No que diz respeito à linguagem, tudo isso é de fácil reconhecimento. No entanto, estamos abordando com você a verdade de uma aproximação direta, não do entendimento. O entendimento você já tem, você já leu muitos livros, você conhece o assunto, você sabe o assunto.
Onde se situa esse saber, esse conhecimento? No intelecto. E esse intelecto em nós tem uma formação. Essa formação é o que eu tenho chamado de condicionamento intelectual. Então, nós temos um condicionamento intelectual, ou seja, psicológico, deste assunto e de diversos outros assuntos, assim como de diversas outras condições em que psicologicamente estamos vivendo.
Aqui quando tocamos na importância do Autoconhecimento, estamos falando de um olhar novo para essa condição psicológica de ser alguém, nesse padrão de intelecto condicionado, de mente condicionada, onde um trabalho se faz necessário, na prática, porque teoria nós já temos, as pessoas têm.
Os livros tratam da teoria, os livros religiosos, os livros sagrados, as palestras que já ouvimos, as que nós continuamos ouvindo, tudo isso nos dá, intelectualmente, um acervo maior, um entendimento melhor, mas tudo isso fica a nível do intelecto.
Reparem como é importante nós termos aqui uma nova visão, um novo olhar para tudo isso. A beleza de um encontro como esse é que estamos lhe mostrando como se torna possível, nesta vida, o fim do sofrimento psíquico. Isso mesmo: o fim de toda forma de sofrimento psicológico.
Nós temos, por exemplo, a questão da ansiedade e depressão. Veja, são estados psicológicos ligados a essa condição de identidade do “eu”, de identidade egoica. Por mais que você leia ou estude sobre o assunto, isso fica a nível intelectual, teórico, verbal. Nada disso pode livrar você dessa condição psicológica. Isso porque não há uma compreensão direta ouvindo palestras ou escutando outros nos falando sobre isso.
Precisamos ter um contato direto com essa psicológica condição em que no “eu”, no ego, nos encontramos, nessa particular vida do “eu”, da pessoa. Então olhar diretamente para esses estados: ansiedade, depressão, angústia. As pessoas sofrem. O sofrimento está presente em cada um de nós como seres humanos, nesta vida, nessa particular vida do “eu”.
“Como lidar com as injustiças?” Há uma dor presente quando você sofre uma injustiça. O que é essa injustiça? Quem é esse elemento em nós que sofre por ser injustiçado, por ser rejeitado, por não ser aceito, por não ser compreendido, por quebrarem o contrato com ele? Quem é esse elemento presente aqui que sofre de tédio, solidão, angústia, medo, ansiedade, depressão?
São inúmeros os estados internos conflituosos presentes nessa condição de vida, que é a vida do “eu”, que é a vida do ego. Esse assunto aqui não é um assunto para o estoicismo resolver, nem para a psicologia resolver. É importante que se diga isso.
Nós temos procurado diversos caminhos para uma resposta para essa condição de pessoa, de “eu”, de ego, de alguém presente, que somos, e nós estamos em busca de uma solução para isso, em diversos caminhos. Portanto, temos que ter um olhar aqui, nesse instante, para essa condição em que nós nos encontramos. Temos que descobrir como, diretamente, lidar com isso, não com teorias, dentro da filosofia estoica, da psicologia, dentro de uma visão na teologia, ou seja, religiosa.
Esse é um assunto para cada um de nós. Precisamos aprender a tomar ciência do movimento desse “eu”, conhecer a si mesmo, compreender o movimento do pensamento, tomar plena ciência desse movimento do “eu”, que é o movimento da pessoa. Isso requer a presença de um olhar nesse instante, onde tenhamos presente uma atenção para todo esse movimento interno, que é o movimento da consciência. Então essa Plena Atenção sobre todo esse movimento aqui, neste instante.
Então, o assunto dessa Atenção Plena, desse olhar direto, não é assunto para teologia, para filosofia. É um assunto para cada um de nós descobrir o que é a Atenção Plena. Não é no estoicismo, não é na filosofia, não é segundo a psicologia, não é segundo esse ou aquele sistema, técnica ou prática.
Descobrir o que é a Atenção Plena: um olhar direto, claro, simples, sem o compromisso desse movimento interno desse elemento que olha a partir da separação, da divisão, que é esse observador, que é o “eu”. Observe que quando você olha para algo, você olha a partir de um lugar. Esse lugar é o lugar da conclusão, avaliação, aceitação, rejeição, desse gostar ou não gostar.
Observe que nós passamos uma vida inteira envolvidos dentro desse modelo de ser alguém. Assim, ao lidarmos com a vida como ela acontece, estamos sempre avaliando a partir desse observador. Isso explica esses estados conflituosos e de sofrimento presente. Isso está presente porque existe esse padrão de separação, onde há essa rejeição a isso que aqui está presente nesse momento.
Nós precisamos investigar em nós, aqui e agora, todo esse movimento do pensamento, do sentimento, da emoção, da percepção, do modo de sentir e pensar e, naturalmente, a forma como procedemos na vida. Aprender a olhar sem o observador.
Nós temos diversos textos aqui lhe mostrando que esse observador é o elemento que se separa da experiência para avaliar, para comparar, para julgar, para rejeitar o que aqui está presente. Então esses quadros de sofrimento no “eu”, no ego, estão sempre surgindo e não sabemos lidar com isso.
O sábio de Arunachala, chamado Ramana Maharshi, nos mostrou que, através da Atma Vichara, ou seja, desse olhar em Plena Atenção, nessa atenção total, completa, sobre todo esse movimento do “eu”, há uma compreensão direta desse “quem sou eu”. Ramana Maharshi chamava isso de Atma Vichara. Aprender a tomar ciência do próprio movimento da consciência desse “mim”, dessa pessoa.
Assim, nós estamos juntos aqui explorando isso com você, aprofundando esse assunto com você, descobrindo como ir além dessa condição psicológica, onde o sentido de uma pessoa está presente. Essa pessoa é aquela que, na vida, se vê separada e tendo uma particular vida.
Notem, a Vida tem esse aspecto dela, como ela é. Mas o elemento “eu”, o ego, esse “mim”, essa pessoa, traz para essa Vida a ideia de uma particular vida, que ao se deparar com o que acontece, tem sempre uma disposição interna de avaliação egocêntrica, nesse gostar, não gostar, aceitar, rejeitar. Então se estabelece o sofrimento, se estabelece o conflito.
O conflito, o sofrimento, é algo presente no ego, não na Vida. É na vida do “eu”, não na Vida. Essa vida do “eu” é essa vida centrada nesse formato de ser alguém. O ser humano está vivendo numa condição artificial de vida, porque está vivendo essa artificialidade não natural de ser alguém, onde está presente essa separação entre a Vida como ela acontece e esse elemento em conflito com ela.
Aqui estamos investigando isso com você, aprofundando isso. Uma vez livre dessa condição psicológica, estamos livres do sofrimento: uma vida real. O assunto nosso aqui é o florescer desse Natural Estado de ser, que alguns chamam de Iluminação Espiritual ou Despertar Espiritual.