Para a pergunta como praticar a meditação, há uma grande confusão na cabeça das pessoas. Elas querem descobrir um método, uma técnica, uma fórmula, uma maneira de se aproximarem da meditação. E, realmente, existem diversas fórmulas, técnicas e métodos, mas nada disso representa a verdade sobre a Meditação.
Aqui, por exemplo, quando tocamos na palavra Meditação, ou quando investigamos isso aqui com você, estamos falando da verdade sobre a Meditação. A verdade sobre isso é que o seu Natural Estado de Ser se revela como um natural estado onde a Meditação está presente quando o sentido do “eu”, do ego, não está. Esse é o seu Natural Estado de Ser.
Todos nós já experimentamos momentos onde o sentido do “eu”, do ego, não estava. Nós só tivemos alguma lembrança muito vaga disso depois daquele estado. Até porque esse estado não deixa registro. Vamos esclarecer isso aqui para você.
Não existe nada mais natural na vida – e aqui nos deparamos com algo muito paradoxal – do que esse estado de Ser presente já, aqui e agora, em cada um de nós, que é Meditação. E é simples a gente confirmar isso quando, por exemplo, estamos em meio à natureza ou diante da praia, tomando um banho de mar, sentado, vendo as ondas baterem nas rochas, diante de um pôr do sol.
Nesse momento, ocorre uma coisa muito simples que já está presente em nós: é a presença desse Natural Estado de Ser, onde o “eu” não está. Ali não tem, psicologicamente, nenhuma situação interna criando algum nível de sofrimento, de conflito, de contradição e de problema para você. Naquele instante, há um esvaziamento completo de todo esse conteúdo do “eu”, do ego. Isso é Meditação.
Então, a Meditação é aquilo que está presente quando o ego não está. E isso ocorre de uma forma muito natural quando você está em um contato assim, com a natureza, sentado ali naquela montanha, olhando para os vales lá embaixo. Nesse momento, você está em um contato direto com a Realidade do seu Ser, e isso é Meditação.
Seu Natural Estado de Ser é Meditação. Então, a sua mente, naturalmente, é meditativa. O problema é que nós estamos alienados desse estado constantemente, em razão de um fundo de condicionamento que trazemos, onde toda a nossa relação com a vida, com o mundo à nossa volta, com as experiências ocorrendo, é sempre a partir de uma ilusão, a ilusão de alguém para experimentar, de alguém para classificar, para nomear, para observar, para pensar a respeito, para fazer algo com o que está aqui. Então, há essa separação. Nesta separação, está presente, naturalmente, o conflito, o sofrimento e os problemas para esse “mim”, para esse “eu”, para o ego.
Quando as pessoas perguntam: “Como praticar a meditação?” Se você quer uma técnica, você pode adquirir uma técnica. Enquanto estiver na prática da técnica, a mente pode se aquietar. Você pode descobrir uma forma de, artificialmente, entrar nessa mecânica do cérebro e criar uma condição de relaxamento, desestresse, de silêncio. Enquanto a prática está ali, isso está presente. Mas depois disso, tudo volta a ser como era antes.
Ou seja, esse movimento de inquietude psicológica, de agitação mental, de tagarelice interna estão presentes porque isso não resolve essa questão do fim para essa identidade que é o “eu”, o “mim”, o ego. Enquanto que a verdade da Meditação é a constatação da Realidade do seu Ser, aqui e agora. Isso não requer técnica, não requer prática, não requer nenhum método, nenhum sistema.
Aquilo que se faz necessário para irmos além daquela condição que tínhamos lá na praia, e que já não está mais, é a ciência do Autoconhecimento. É aqui que entra a importância da verdade sobre a Meditação, da real Meditação. Não da prática da meditação, mas da Meditação de uma forma vivencial, da Meditação na prática. Isso requer essa atenção; uma profunda, significativa, uma plena atenção, uma Atenção Plena sobre todo o movimento do pensamento, do sentimento, da sensação, da percepção, de tudo que se faz presente aqui, neste momento.
Como as pessoas não sabem, não compreendem, não aprenderam ainda a arte de Ser, como isso não ficou claro para elas em razão desse modelo de inconsciência, de ignorância em que elas se encontram no viver, nesse modelo de separação e dualidade, elas só encontram um momento de alívio desse centro, que é o “eu”, o ego, quando vão para a praia, quando fazem uma caminhada na floresta, quando fazem um passeio. Mas ainda estamos diante de algo que não é natural, porque você não consegue viver assim. Você tem períodos assim. Você não vive de férias.
E a questão da mente é que ela é, de tal forma, constituída que mesmo em um período de férias, quando você está em um lugar como esse, é só por alguns segundos que você vivencia uma experiência livre desse centro, que é o “eu”, que é o ego. E depois que você experiencia isso, o que você tem é a lembrança, porque aquilo se foi. E se você tem a lembrança, um experimentador tentou registrar aquele momento. Parcialmente, alguma coisa ficou como registro de memória, mas não foi aquele instante, não foi aquele momento.
Então, mesmo no contato com a natureza, por alguns segundos você está livre desse centro que é o “eu”, o ego, mas logo a mente egoica, em razão do seu modelo de continuação, de repetição, de hábito, volta e assume de novo o cérebro. E você pode estar diante da mais bela paisagem, mas o ego está presente, tagarelando, trazendo lembranças do passado, colocando de volta aí dentro de você, naquele momento, o seu consultório, o seu escritório, sua oficina, o problema em lidar com clientes, com pacientes, todo tipo de coisa.
Nós precisamos, na vida, da arte do Autoconhecimento, tomar ciência do movimento do “eu”, aqui e agora. Então, você está no trabalho, você está lidando com a família, você está tratando de algum assunto, envolvido em alguma atividade, no dia-a-dia, ao mesmo tempo, você está trazendo ciência para esse movimento, que é o movimento do “eu”, do ego, que é o movimento dessa identidade presente. Nesse momento, você está trazendo ciência para esse movimento, que é o movimento desse “eu”, desse ego, dessa ilusória identidade com os seus assuntos.
Observar o movimento do pensamento nesse instante requer essa atenção, essa plena atenção para esse movimento. Veja, isso não requer qualquer técnica, qualquer esforço, qualquer prática. Quando há um real interesse para tomar ciência do movimento do pensamento, esse real interesse é o suficiente.
Um pensamento surge, um sentimento surge, uma emoção, uma sensação, um modo de sentir, um modo de perceber e, nesse instante, em razão desse interesse de olhar para esse movimento, apenas olhar: é aqui que se encontra a verdade da Meditação.
É olhar sem interferir, sem fazer algo, sem esse gostar ou não gostar, sem julgar, sem avaliar, sem condenar, sem tentar se livrar, sem tentar segurar: apenas olhar. A inclinação da mente egoica é de buscar prazer na memória, na lembrança, que é pensamento. E quando isso ocorre, a identidade do “eu” está viva na memória.
É isso que temos feito. É assim que estamos vivendo nossas vidas, sem a menor ciência da desidentificação desse centro ilusório, porque não há Meditação, porque não há Autoconhecimento, não há essa atenção, então não temos a verdade da Meditação.
Quando um pensamento é ruim, nós queremos nos livrar dele. Essa reação é uma reação desse centro, que é o “eu”. Então, ele quer se livrar desses pensamentos, ou então, ele quer agarrar os pensamentos de prazer. Essa é a condição da identidade egoica. É assim que estamos vivendo nossas vidas.
Quando a pessoa pergunta: “O que é o Despertar Espiritual?” É o fim disso. É o fim dessa condição onde há uma identidade presente, que é o “eu”, o ego, se separando da experiência e, naturalmente, nessa separação da experiência, está vivendo dentro de um egocentramento da ilusão de uma identidade presente na experiência, buscando lidar com a vida do jeito que ele deseja. Mas não é assim que acontece.
A vida é como ela é, e esse sentido do “eu” é uma ilusão – autointeresseiro, voltado para ele mesmo, tendo uma particular visão do mundo. Nesse autocentramento, ele está sustentando toda forma de contradição e conflito, vivendo violentamente, vivendo infeliz, vivendo em desordem emocional, sentimental, em razão de todos esses conflitos que o pensamento sustenta nessa ilusória identidade.
Então, olhar para isso, tomar ciência dessa condição psicológica, que é a condição de padrão, de história, de programa, de condicionamento humano psicológico, tomar ciência disso é o fim para tudo isso. Isso é o Despertar Espiritual ou Iluminação Espiritual.
Essa questão do Despertar Espiritual é algo que se torna possível quando há essa ciência do Autoconhecimento, que implica a presença da Meditação. Então, essa questão da prática da meditação não é alguém fazendo, não se trata desse “eu” na prática, como as pessoas procuram.
O que é Atenção Plena? É esse interesse de olhar para todo esse movimento do pensamento, do sentimento, da sensação, da percepção, sem intervir, sem interferir nisso. Tomar ciência do que é a Atenção Plena é tomar ciência do que é a verdade da Meditação.
A única forma real de uma aproximação da verdade sobre como praticar a Meditação é descobrindo qual é a verdade dessa Atenção Plena. Então, a resposta para a pergunta o que é Atenção Plena é a resposta sobre essa ciência de Ser-Consciência e, naturalmente, Felicidade, algo presente na Meditação.
Não há separação entre essa Atenção e essa Meditação. No entanto, não tem “alguém” nisso. É exatamente a ausência desse movimento do observador, do pensador, do experimentador. Tomar ciência do pensamento e não se identificar com ele, porque ele é prazeroso. Tomar ciência do pensamento e não se identificar com ele na procura da rejeição dele, de rechaçar ele, de se livrar dele, porque ele é doloroso. Tomar ciência do pensamento sem o pensador é o fim para essa condição de continuidade do pensamento e, portanto, do pensador.
Uma aproximação da verdade da vida, sem esse sentido do “eu”, do ego, de uma identidade presente, sendo o pensador, o observador, o experimentador, o contato com essa Realidade da vida, sem esse elemento, é o Despertar Real.
É nesse sentido que nós usamos a expressão, aqui, o Despertar Espiritual. Veja, não tem nada a ver com o que as pessoas dizem sobre esse, assim, chamado, despertar espiritual. As pessoas aí fora ligam a todo tipo de coisa que não tem nada a ver.
Aqui estamos falando do florescer do seu Natural Estado de Ser, que é Consciência, Felicidade. Está presente quando a Meditação, como seu Natural Estado de Ser, está aqui, em qualquer parte, em qualquer lugar, em meio a qualquer atividade, no viver, no dia-a-dia, momento a momento. Aqui está presente essa ciência de Ser-Consciência-Felicidade.