A pergunta é: “Como lidar com os pensamentos?” Veja, estamos diante de uma pergunta muito importante. Nós não podemos subestimar uma pergunta como essa. E por que não? Porque na nossa vida, se você olhar de perto, você vai ver que o pensamento está em tudo.
Nós vivemos no pensamento, vivemos pelo pensamento. É ele que dirige nossa fala, é ele que dirige nossas ações, é ele que dirige todo comportamento nas relações, é ele que dirige boa parte do nosso sentir. Então, o nosso pensar, e isso envolve esse modelo de pensamento – pelo menos o pensamento como nós temos acesso, como nós conhecemos –, está direcionando nossas vidas.
Então nossas ações precisam ser compreendidas. Não compreendemos o que são nossas ações. Os nossos sentimentos precisam ser compreendidos. Nossas emoções, o nosso modo de sentir, de falar com ele ou ela, de nos relacionarmos, tudo isso envolve pensamentos. Nós queremos descobrir com você aqui o que significa esse pensar.
Como lidar com os pensamentos representa o que é o pensar, o que é o sentir, e que é o viver. Se isso não fica claro para você, o sofrimento está presente, a desordem está presente, a confusão está presente, a desorientação está presente, as ações conflituosas estão presentes. E tudo isso está presente porque psicologicamente há sofrimento, há desordem, há confusão, existe a ausência da Inteligência; e tudo isso em razão da não compreensão de como a mente funciona, de como o pensamento funciona. Ou seja, nós não sabemos lidar com o pensamento.
Não sabemos lidar com o pensamento porque não compreendemos que há em nós o sentido de “alguém” presente no pensamento. Esse “alguém” é a ideia que fazemos de um pensador, de um fazedor, de um realizador de coisas, de “alguém” presente sentindo, de “alguém” presente emocionado, de “alguém” presente na relação.
A não compreensão do que é o pensamento é a não compreensão do movimento do “eu”, que é pensamento. Então, vamos aqui fazer logo uma outra pergunta para investigar essa primeira. Além da “O que é o pensar?”, que envolve esse lidar com o pensamento, nós temos que fazer a própria pergunta sobre o que é o pensamento.
Primeiro temos que compreender o que é o pensamento para compreensão do que é o pensador. Por que isso é fundamental? Porque sem isso nós estamos alienados da Verdade deste Ser. Nós usamos muito a expressão “eu” e temos só a imaginação de um Ser. Observe como é curioso, nós usamos a expressão “eu”, o pronome eu, e temos a imaginação de Ser. A Verdade é outra. A única Realidade é Ser, e esse “eu” é que é a imaginação.
A Realidade presente na relação com o outro é a relação de Ser, não existe esse “eu” presente na relação. Esse “eu” é a imaginação. A não compreensão de que esse “eu” é a imaginação é a confusão de uma identidade que é o pensador pensando seus pensamentos, tendo seus sentimentos, suas emoções, suas sensações e suas relações.
A Verdade d’Aquilo que nós somos é a Realidade d’Aquilo que é Deus. A Realidade de Deus é a Realidade de Ser. Essa é a Realidade de cada um de nós, mas a imaginação do “eu” é a imaginação do pensador, do experimentador, do observador, daquele que sente e daquele que faz, e a nossa vida está situada exatamente nesse nível, porque não há o Despertar da Verdade.
Se a Verdade Desperta, se a Verdade Floresce, temos a ciência da Real Consciência, da verdadeira Consciência, que é Ser. Então, notem o que estamos colocando: nós temos uma consciência comum a todos, é a consciência da mente, é a consciência na mente, é a consciência do “eu”. Essa é a consciência egoica, é a consciência da “pessoa”.
Observe todo o estado caótico, psicológico em que nós nos encontramos. Isto está presente porque não estamos vivendo a Verdade de Ser e, sim, a ilusão do pensador, a ilusão do experimentador, a ilusão desse “mim”. É aqui que está esse estado caótico desse movimento de pensamento descontrolado, inquieto, desordenado. É por isso que fazemos a pergunta “Como lidar com o pensamento?”, porque já percebemos que o pensamento cria muita confusão, cria muita desordem. E isso é simples: é porque ele é a base que orienta a vida desse centro que é o “eu”, o ego.
Esse centro, que é o “eu”, se vê separado do outro, se vê separado da Vida, se vê separado como sendo o autor das ações, se vê separado da fala como sendo aquele que está falando, separado do ouvir sendo aquele que está ouvindo. Tudo isso consiste de uma ilusão, a ilusão do pensador presente. Mas o que é esse pensador? Esse pensador é o próprio pensamento. Você quer controlar o pensamento, mas você é o pensador.
Então, o próprio pensamento se separa como sendo o pensador para gerenciar, para alterar, mudar, controlar o pensamento. Não sabemos lidar com o pensamento porque não sabemos lidar com esse centro que é o “eu”. Não estamos cientes de que esse “eu” que quer lidar com o pensamento é o próprio pensamento, é ele que se separa como sendo o pensador.
Não sabemos lidar com nossas emoções, não percebemos que essas emoções é algo que acontece nesse corpo-mente, mas não tem um centro para essas emoções. Esse centro é o próprio pensamento que cria um centro ilusório, que é o “eu”, que quer lidar com as emoções.
É assim que nós temos funcionado. E por que funcionamos dessa forma? Porque nós não conhecemos a Verdade sobre nós mesmos, não estudamos o movimento do “eu”, que é o pensador, que é aquele que se separa e diz estar sentindo, e diz que está emocionado, e diz que está pensando, e diz que está fazendo as coisas.
Eu sei que isso pode parecer estranho para você a princípio, mas se você olhar de perto, investigar, você vai perceber essa dualidade, esse “eu” sendo o pensador, se separando do pensamento que tem, esse “eu” sendo aquele que sente, se separando do sentimento que sente. Essa separação é que sustenta o conflito do qual queremos nos livrar pelo controle.
Então, quando nós perguntamos como lidar com o pensamento é porque nós acreditamos que somos o responsável pelo pensamento, o senhor do pensamento e, portanto, o que pode controlar e gerenciar o pensamento. Qual é a verdade sobre isso? A verdade sobre isso é que nós somos apenas um movimento de reação de memória. Essa reação de memória é o próprio pensamento.
Quando você escuta alguma coisa, quando você vê alguma coisa, quando entra em contato com uma experiência, é o corpo, a mente, o cérebro entrando em contato com esse som, com aquilo que está ali aparecendo ou com essa experiência. Não tem “alguém” sendo o “eu” nesse contato. O que temos é uma resposta do cérebro que, de imediato, reage, ou depois de algum tempo, de alguns segundos reage àquela experiência. A sensação ilusória de uma identidade reagindo é uma imaginação.
Quando um pensamento surge, porque um estímulo visual surgiu, então um pensamento surge, um estímulo auditivo surgiu, então um pensamento surge ou um sentimento surge, e quando isso aparece, já por uma condição de condicionamento cerebral, condicionamento humano, de cultura, existe a ilusão de “alguém” dentro dessa experiência – um pensamento, um sentimento, uma emoção –, enquanto que, na verdade, o que estamos tendo é uma reação do próprio cérebro, da própria máquina a esse instante, a esse momento presente em razão de um estímulo.
Não existe esse pensador, não existe esse que está sentindo, não existe esse que está emocionado. Há uma resposta de condicionamento cerebral e, também, de corpo e de mente, mas não existe esse “eu” presente. Isso pode ser constatado quando há Autoconhecimento.
Perceber a inexistência do “eu”, a inexistência do ego, a inexistência do centro, tomar ciência de que um pensamento é só um pensamento, uma emoção é só uma emoção, uma sensação é só uma sensação. Se isso é percebido, como não há separação, o conflito desaparece, o problema desaparece, o sofrimento desaparece.
Percebam a beleza disso! O pensamento está presente, carregado com uma ideia de um pensador por detrás dele. Se o pensamento é agradável, esse pensador quer sustentar esse pensamento; se é desagradável, esse pensador quer se livrar desse pensamento. Quando há esse movimento, nós temos a dualidade e, portanto, o conflito, o problema. Queremos lidar com o pensamento, mas quem é esse que vai lidar com o pensamento?
Então percebam claramente isso: o pensador é o pensamento, a emoção é aquele que está se separando como o elemento que é o “eu”, que se diz emocionado. Essa dualidade é um jogo. É o jogo do “mim”, do “eu”, do ego para se sustentar; ele cria esse movimento, ele sustenta esse movimento, ele tem a prática desse movimento. Aqui o convite é aprender a olhar para o pensamento sem colocar o pensador, olhar para o sentimento ou para a emoção.
Então como lidar com o pensamento? Tomando ciência de que não há nenhum pensador, é somente um pensamento. Todo o nosso treinamento cultural, de história humana foi sempre pelo esforço para lidar com o pensamento, ou a emoção, ou o sentimento, ou a ação. Então, estamos sempre sustentando a ideia do “eu”, do “mim”, do ego, para acolher, aceitar aquilo, para se agarrar àquela experiência ou para rejeitar aquela experiência.
Então, não sabemos lidar com o pensamento, porque temos o “eu”, o “mim” querendo fazer isso. Tomar ciência do pensamento, da emoção, da sensação, da experiência sem o pensador é a forma real de lidar com o que está aqui, neste instante, neste momento presente. Isso termina com o conflito, isso termina com o problema, porque isso termina com essa dualidade.
Esse modelo de separação, de dualidade é o que sustenta todo o problema do ser humano, todo o sofrimento para o ser humano, toda essa confusão para o ser humano e toda essa ilusão de poder controlar o pensamento, sendo ele o controlador.
Quando percebemos esse jogo de dualidade, ficamos livre da dualidade, isso é o fim para essa dualidade. Na Índia eles chamam de Advaita, a Não dualidade, a Não separação, esse Estado de Ser onde Você está vivendo a plenitude da Consciência, livre do “eu” E quando Isso está presente, não existem problemas com os pensamentos, porque não existe a ilusão do pensador, e se não há essa ilusão do pensador, esse pensamento psicológico desaparece.
Então podemos lidar com o pensamento no viver. Precisamos do pensamento em alguns níveis. Podemos lidar com o pensamento, precisamos do pensamento de uma certa forma. O seu endereço, o seu nome, a habilidade de lidar com o trabalho técnico, funcional, isso requer a presença do pensamento. Nesse nível ele se faz necessário, ele está presente, mas, agora, sem o centro, que é o “eu”, o ego, o “mim”.
Então nós ficamos livres desse modelo de pensamento psicológico, que é o pensamento que sustenta em nós a inveja, o medo, o ciúme, a ansiedade, a angústia, a depressão, o sentimento de tédio, de solidão, de conflito e de todos os problemas a partir desse centro, que é o “eu”, o ego, o pensador.