Se tem uma coisa que nós temos feito ao longo da vida é a valorização desse modelo, que é o modelo do pensamento como nós conhecemos. Assim, a ideia que eu tenho sobre quem você é, a ideia que você faz sobre quem eu sou, é uma ideia, é uma memória que vem do passado, uma lembrança sobre quem eu acredito que você é. Você tem o mesmo de mim.
Essa autoimagem, que é a imagem que eu tenho sobre quem sou, está sempre projetando nessa relação com você aquilo que ela pretende obter dentro dessa relação. Assim, nossas ações são ações, primeiro, centradas no modelo do pensamento. Ou seja, algo que vem do passado e se introduz dentro da relação. E, além disso, esse padrão de pensamento é autointeresseiro, é autocentrado.
Então, reparem a importância de termos uma aproximação nova da compreensão da Verdade sobre nós mesmos. E estamos dando importância Real a isso dentro deste trabalho. Eu me refiro à importância do Autoconhecimento. Nós precisamos ter uma aproximação da Verdade daquilo que nós somos.
Veja, não se trata de uma autoimagem na psicologia, uma aproximação apenas teórica ou conceitual dentro da ciência da psicologia. A abordagem nossa é de uma aproximação direta, de uma forma vivencial da revelação dessa autoimagem, dentro de uma compreensão daquilo que demonstramos ser vivencialmente, na prática.
Nós abrimos mão da teoria e nos voltamos aqui para um aprendizado de como olhar isso, como tomar ciência dessa autoimagem. Notem que a não compreensão dessa autoimagem é se manter na vida sem saber lidar com os pensamentos.
Quando as pessoas perguntam como lidar com os pensamentos, elas já perceberam o problema que reside nesse movimento de condicionamento psicológico que trazemos. Alguns de nós já percebeu claramente todo o problema que consiste em uma vida centrada nessa inconsciência, nesse movimento inconsciente do pensamento. Repare, o pensamento em nós é inquieto, é tagarela, é negativo, é intruso.
Então, como lidar com os pensamentos? Porque essa qualidade de pensamento que nós conhecemos, nesse modelo de vida centrada no “eu”, no ego, para alguns de nós já ficou muito claro que há algo errado nisso. Então, enquanto não aprendermos a lidar com essa inquietude psicológica que o pensamento em nós sustenta – e lidar com isso significa exatamente por fim a essa condição –, nós continuaremos levando isso como a coisa mais natural da vida.
Todo esse movimento de pensamentos, inclusive esses pensamentos que produzem essa autoimagem, uma imagem em nós que está sempre numa relação com o outro, criando problemas, enquanto esse padrão de afirmação de memória, que é essa condição de pensamento que vem do passado, estiver conduzindo nossas ações nas relações, nossas relações serão relações conflituosas.
Essa autoimagem não é a verdade sobre quem nós somos, é aquilo que demonstramos ser, que parecemos ser, é aquilo que, na verdade, nós somos nessa ilusória identidade egocêntrica. Esse contato que tenho com você a partir dessa autoimagem, produz conflito, produz problemas. É isso que nós precisamos compreender.
Será que podemos nos livrar dessa condição psicológica de ser “alguém”? O que nós temos visto aqui, nessa investigação, nesse estudo sobre nós mesmos, são constatações de fatos que ocorrem na realidade, em nossas vidas.
O sentido de uma pessoa é um problema. A relação da pessoa com a pessoa é a relação entre duas imagens. Não há qualquer verdade presente nesse nível, porque o que temos é um encontro entre pensamentos. Pensamentos são lembranças, são memórias, algo que vem do passado. O encontro com esse instante é um encontro novo. O pensamento é aquele que, nesse instante, aparece, mas ele vem do passado.
Nessa desatenção em que nós, psicologicamente e internamente, vivemos, nessa condição de ser “alguém” na vida, no viver, na experiência, nesse momento presente, nos coloca numa condição em que nós estamos sempre ressuscitando esse passado, dando vida ao pensamento. Então, o pensamento é algo que vem do passado, e nós estamos ressuscitando isso aqui.
A imagem que eu tenho sobre você, a imagem que você tem sobre mim, se isso é ressuscitado aqui, esse encontro é um encontro entre imagens. Estamos alienados da beleza desse momento, desse instante, daquilo que aqui está ocorrendo, porque estamos trazendo esse modelo programado, condicionado de ser “alguém” para esse momento.
Então, o que nós temos feito na vida? Sustentando a continuidade do tempo psicológico. Esse tempo psicológico é esse padrão de pensamento. O pensamento em nós não é algo vivo, é algo que já foi. Ele recebe vida, ele é ressuscitado nessa inconsciência, e assim estamos dando continuidade a esse padrão de pensamento.
Assim, nossas relações não são relações vivas, são relações mortas. Não há Beleza, não há Verdade, não há Amor. Nós temos alguns momentos de carinho, de afeição, de cuidado, de trato, mas são acordos – acordos entre pensamentos, entre memórias.
O fato é que não nos conhecemos, porque não há um reconhecimento da Realidade Divina, deste Ser, deste único Ser presente, que é a Realidade de Deus, nesse instante. Porque o encontro é um encontro no ego: a imagem que eu tenho de você e a imagem que você tem de mim.
Assim, nós temos enfatizado aqui com você a importância dessa compreensão de nós mesmos, a importância do Autoconhecimento. Tomar ciência de como a mente funciona aqui, nesse instante, nesse contato, numa relação com a vida como ela acontece nesse presente momento.
Nosso contato com esse momento é de relação: relação com objetos, relação com lugares, relação com pensamentos, com emoções, com sentimentos, com pessoas. Assim, descobrir o que é lidar com o pensamento é tomar ciência do fim dessa qualidade de pensamento que dá formação a essa autoimagem.
Notem a beleza disso. Se há um estado interno aqui de tristeza, de culpa, de medo, alguma forma de sofrimento interno, nesse contato com você, isso estará presente. Reparem, esse contato é um contato, agora, a partir de uma imagem. A imagem que faço sobre quem “eu” sou nesse momento está construindo esse estado interno aqui em mim. Então, nesse contato com você, não há uma relação livre, em Paz, em Liberdade, porque o sofrimento está presente aqui.
Então, nossas relações são relações entre imagens – imagens que sofrem ou imagens que desfrutam de um ilusório senso de prazer pessoal, egocêntrico e, portanto, separatista. E, onde a separação está presente, o conflito está presente. Esta ou aquela forma de sofrimento está presente. Esta ou aquela forma de confusão está presente.
Será possível termos uma vida livre, onde um encontro Real, num nível novo, esteja acontecendo? Nesse encontro, há a presença da Realidade Divina, desse único Ser, que é a Verdade de Deus. Um encontro nesse nível é um encontro livre da separação, livre da dualidade. Então, isso é conhecido na Índia por Não dualidade. A Não dualidade, Advaita, a Não separação, o sentido de Ser Consciência, Presença, nesse momento, nesse encontro.
Aqui se trata de olharmos juntos para esta Realidade que somos, livre desse sentido de um “eu” presente na vida, no instante, no momento, dentro dessa experiência. O que temos dito para você aqui é que, sim, é possível uma vida livre dessa autoimagem, desse centro, desse “eu”, desse ego. Isso não é assunto para a psicologia, isso é assunto para cada um de nós.
Estudar a si mesmo é algo que todos nós podemos e precisamos fazer nesta vida. Tomar ciência de como o pensamento funciona, descobrir essa arte de Ser Pura Consciência. Então, lidar com os pensamentos é algo muito básico, fundamental na vida, porque a vida consiste de ações. Falar aqui é uma ação, ouvir é uma ação, tratar com o outro é uma ação. E em todas as ações o pensamento está envolvido.
Se não compreendermos claramente o que é o pensamento, como ele se processa, como lidar com isso, a vida se torna complicada, porque nossas ações são ações que, naturalmente, o pensamento está sempre presente. Podemos nos livrar desse padrão de pensamento que vem do passado e sustenta essa autoimagem que está sempre sendo ressuscitada em nossas relações?
Reparem a insanidade de tudo isso. Você é sempre alguém novo quando o sentido de ser “alguém”, aqui, não carrega essa autoimagem, quando esse sentido de ser “alguém”, aqui, esse sentido desse “eu”, aqui, não está mais presente. Então, esse encontro com você sem o sentido de “alguém” aqui é um encontro novo. Estamos falando de algo inusitado, desconhecido do pensamento, um encontro sem imagens.
O que é esse encontro? Experimente olhar para uma pessoa sem o sentido de tudo que você tem sobre ele ou sobre ela, sem toda a ideia que você tem sobre ele ou sobre ela. Experimente olhar sem esse fundo. Observe: estamos diante de um grande desafio, porque a primeira coisa que o pensamento faz é, para se estabelecer dentro da sua segurança, sustentar já uma imagem, nessa ilusão de “eu sei quem ele é”, “eu consigo reconhecer quem é ele, quem é ela”. Reparem a ilusão disso tudo.
Nós podemos estar convivendo com uma pessoa já há dez, quinze, vinte anos – como acontece num relacionamento mais próximo, íntimo. O marido não conhece a esposa e a esposa não conhece o marido. Você não conhece os filhos. Você não os conhece porque você não se conhece. Tomar ciência da autoimagem é pôr fim à autoimagem.
Precisamos estar livres dessa autoimagem, porque é ela em nós que ofende o outro, que fere o outro, que magoa o outro, que aborrece o outro, que não gosta do outro. Essa autoimagem em nós se sente magoada, se sente ferida, se sente ofendida, se sente aborrecida com ela mesma. Essa autoimagem em nós é o conflito em nossas relações com o outro, em nossas relações com nós mesmos.
Estamos trabalhando aqui o fim do “eu”, o fim do ego, isso é o Despertar da Consciência, é a Iluminação Espiritual, é o fim da ilusão de “alguém” presente dentro do viver e, naturalmente, em sofrimento. Uma vida em Amor é possível, mas ela é possível quando o ego não está.
Não sabemos o que é o Amor em nossas relações, porque nossas relações são relações onde o pensamento está imperando dentro desse padrão. O passado está sustentando nossas relações. Assim, a continuidade das nossas desavenças, das nossas contradições, dos nossos conflitos, dos nossos medos e desejos, isso está prevalecendo, não só em nosso encontro mais próximo e íntimo, como na relação em família, mas também entre nações, entre países.
A condição do ser humano no mundo, na vida, é uma condição de confusão, de sofrimento, de desordem. Podemos ir além disso? Podemos descobrir a Verdade da Realidade Divina presente para uma Vida Real, Feliz, Livre, carregada desta Presença, deste Perfume, onde a Compaixão, a Compreensão, a Inteligência estejam presentes?
Descobrir como você funciona é Autoconhecimento. Tomar ciência do fim da separação, da dualidade entre “eu” e o “não eu”, isso é conhecido por Advaita, a Não dualidade, o fim dessa ilusão, desse sentido de “alguém” presente na vida, na experiência. É a realidade deste ser, que é a consciência, Felicidade, é a Natureza Divina.