Aqui nós não temos nenhum outro propósito além de tomarmos ciência da Verdade sobre quem nós somos. Porque é essa Verdade sobre quem nós somos que nos liberta da ilusão dessa crença sobre quem nós somos. Então, veja, há duas coisas aqui.
Primeiro, nós temos uma crença sobre quem nós somos. Nós não temos a Verdade sobre quem nós somos. Tomar ciência da Verdade sobre quem nós somos quebra completamente essa ilusão psicológica que o pensamento tem produzido em nós sobre quem somos.
Nós fazemos uma ideia, uma imagem, um quadro sobre quem nós somos, mas não entramos em contato direto sobre quem nós somos de verdade. E nós fazemos isso porque esse sentido do “eu” em nós sempre se protege, ele coloca uma máscara quando olha para si mesmo – ele coloca a máscara que ele gostaria de ter, que ele gostaria de ser, que ele deseja ter dele mesmo.
Nós temos uma visão completamente equivocada sobre quem nós somos. A Verdade daquilo que nós somos – e olhando de uma forma muito clara, iremos perceber – é medo, inveja, ciúmes, raiva, ignorância. É isso que nós somos.
Para nos proteger disso que nós somos, nós temos uma imagem de autoapreciação. É a tentativa de não sofrermos tanto com aquilo que somos. Existem algumas coisas aqui que nós precisamos ver, precisamos investigar.
O ser humano fala de autoestima e de baixa estima. O que temos feito na vida é só criar imagens de nós mesmos para nos protegermos de toda essa confusão psicológica em que nós nos encontramos, para nos protegermos de termos um contato direto com isso que nós somos.
Mas aqui eu tenho uma notícia muito boa para você: isso que nós somos, assim como isso que desejamos ser ou queremos parecer ser para nós mesmos, tanto uma coisa quanto a outra são ilusões.
Há uma Real Verdade de ser em nós. Não é o que nós somos, é a Realidade deste Ser que trazemos, do qual não temos acesso nem à mínima compreensão do significado disso. A significação disso nós desconhecemos. Desconhecemos porque não conhecemos a nós mesmos.
Primeiro temos que entrar em contato direto com isso que nós somos, temos que nos despir dessa máscara que fazemos sobre nós, tendo um contato direto com aquilo que, de verdade, nós somos, para irmos além disso. Isso é algo fundamental para aquele que está, nesta vida, se perguntando: “Há realmente alguma coisa além de tudo isso?”
Será que a vida consiste apenas nisso: a gente cresce, se torna adulto, encontra uma profissão, trabalha, constitui família, adquire alguns bens e depois de alguns poucos anos, através de uma doença, da velhice ou de um acidente, alguma coisa ocorre e a morte acontece? Será isso a vida? A vida consiste nisso?
Observe em você: há um estado interno de incompletude, de insatisfação. Há uma pergunta que ainda não foi respondida. A pergunta é: o que é a vida? Quem sou eu? Qual é a verdade? Qual é o significado para tudo isso? Nós não temos nenhuma resposta.
O ser humano, ao longo de toda a história da humanidade, vem procurando uma resposta para essas questões fundamentais da vida. O ser humano vem buscando, pela filosofia, na teologia, no conhecimento, em toda forma de experiência, de história da humanidade. A gente busca na história humana, busca na filosofia, busca na espiritualidade, busca na teologia.
Nós criamos diversos sistemas de crenças na tentativa de encontrarmos uma resposta para tudo isso, porque há dentro do ser humano essa incompletude, essa insatisfação. Aqui, a única coisa que temos real interesse em trabalhar com você é exatamente encontrarmos o fim para essa condição antiga, velha, problemática, não resolvida, que todo ser humano tem nessa “não resposta”.
Nós estamos aqui trabalhando, procurando juntos descobrir a Verdade sobre tudo isso, a Verdade sobre quem realmente nós somos, e qual é o significado da vida, qual é a verdade daquilo que estamos procurando, além de tudo aquilo que nós já buscamos em todo esse antigo e velho movimento, que é o movimento da “pessoa”, que é o movimento do “eu”, do ego.
Todo o nosso empenho aqui consiste nessa investigação. Investigar o movimento do pensamento, do sentimento, da sensação, do modo de sentir e reagir à vida, a tudo o que a vida representa, ter uma aproximação nesse olhar para nós mesmos.
Aqui nós temos algo para lhe dizer: sim, é possível essa constatação desta Realidade deste Ser. Este Ser é Consciência, é Felicidade, é Liberdade. Este Ser é a Verdade Divina, é a Verdade de Deus. Este Ser está presente neste instante.
Tudo o que nós precisamos é descartar essa ilusão desse ideal de ser, que é essa máscara, que é essa ideia que fazemos sobre quem nós somos, e descartar, também, essa “verdade de ser” que está por detrás dessa máscara. Precisamos nos livrar desse sentido desse “ser alguém”, porque é neste “ser alguém” que está o problema, o sofrimento, o conflito, a contradição, o medo, a inveja, o ciúme, a raiva, a ilusão da autoimagem.
Percebam claramente isso. O que você tem sobre quem você é é uma ideia, é uma imagem que você protege, que você defende. Na prática, vivencialmente, existencialmente, você é o que você é. Mas sempre estamos produzindo uma ideia, uma imagem do que desejamos ser, do que precisamos ser, do que devemos parecer ser para o mundo à nossa volta.
A Verdade do Autoconhecimento é ter uma aproximação do estudar a si próprio. Ao se tornar ciente desse centro que é o “eu”, o ego, podemos descartar essa ilusão, e assim podemos tomar ciência da Verdade de Ser, que é Consciência, que é Felicidade, que é Amor, que é Paz. Isso requer uma aproximação de si mesmo que nós não temos tido até esse dado momento.
Precisamos abandonar por completo todas essas distrações em que o nosso “eu”, o nosso ego, essa “pessoa” que nós somos, ou apresentamos ser, está envolvida. Aqui temos esse propósito.
Observe sua mente funcionando, toda essa inquietude interna de pensamentos. Somos psicologicamente – isso é o que somos no “eu”, no ego – inquietos. Temos um movimento de pensamento tagarela. Nós não estamos cônscios do pensamento, cientes do pensamento.
Os pensamentos funcionam, mas nós não sabemos como. Eles estão nos dando sugestões para ações, comportamentos, para essa apresentação de linguagem que tenho com ele ou com ela. Isso está dentro de nossas relações sociais, profissionais, familiares.
O pensamento é algo que está presente nessa relação com nós mesmos. A exemplo disso temos essas imagens que fazemos sobre quem nós somos, temos as imagens que fazemos sobre quem o outro é. Essa é uma outra forma de distorção da realidade.
Assim como nós não nos conhecemos, não conhecemos quem o outro é. O ponto aqui é que nós não temos como evitar as relações. E essas relações estão assentadas nessas imagens, que são ilusórias, porque são criadas pelo pensamento, e o pensamento é uma ilusão dentro de cada um de nós.
Reparem, o pensamento é só uma memória, uma lembrança, uma predisposição em nós, egoica, egocêntrica, de formar imagens, de aceitar ou rejeitar, de escolher. Os pensamentos são preconceitos, são conceitos sociais. Nós adquirimos isso da cultura.
Eu não estou me referindo aqui ao pensamento técnico, funcional. A lembrança técnica, funcional, essa lembrança simples é algo muito natural. Se lembrar do seu endereço, do seu nome, do rosto de alguém, isso é pensamento.
Aqui eu me refiro a esse modelo de pensamento egoico, egocêntrico, preconceituoso, que se baseia em conceitos de cultura, de sociedade, de ideias fantasiosas. Aqui eu me refiro a esse padrão de pensamento egocêntrico, no qual eu tenho minhas predileções e você tem as suas, eu tenho minhas ideias e você tem as suas, e isso nos separa, nos divide.
Esse modelo de pensamento é um modelo de pensamento psicológico, que cria conflito, que sustenta o conflito em nossas relações, porque são modelos de pensamento centrados no “eu”, no ego. Então, esses complexos pensamentos do “eu”, do ego, estão sempre produzindo sofrimento, porque estão falseando a Realidade.
Nesse contato com você, se você me agrada, eu gosto de você, se você me desagrada, eu não gosto de você: isso se baseia nesse modelo de pensamento psicológico, onde tem o “eu”, o ego, como centro dessas experiências. Esse “mim”, esse “eu”, esse centro, esse ego, é algo dispensável.
A desordem na humanidade, o sofrimento humano, toda a confusão em que nós nos envolvemos e que estamos dando continuidade na vida, em nossas relações, tudo isso está se sustentando nesse padrão. Esse é um padrão de condicionamento egoico, de condicionamento mental, de condicionamento psicológico.
Tomar ciência disso é poder descartar essa condição psicológica de ser “alguém”, para uma vida, aqui e agora, livre desse “eu”, desse ego, livre daquilo que sou aqui, daquilo que pareço ser, daquilo que demonstro ser, daquilo que almejo ser, para a Real Vida de simplesmente Ser Consciência, Inteligência, Felicidade, Amor, Deus nas relações.
Essa é a Verdade deste Ser, é a Verdade Divina, que está presente quando o ego não está, quando esse centro ilusório, que é esse “mim”, não está. Então, a ciência da Verdade deste Ser é o fim dessa condição psicológica, desse “eu sou”, desse “eu serei”, desse “eu fui”.
Esse “eu fui, eu sou e eu serei” está dentro desse modelo de ilusória identidade. Há algo além disso, que está fora desse aspecto do pensamento, do sentimento e da emoção centrada nesse ego. É a Realidade Divina, que é a presença do Desconhecido.
A Verdade Divina, a Verdade de Deus, não está nesse campo do conhecido, não está nesse modelo daquilo que o pensamento identifica a partir desse centro. Então, uma Vida Divina é uma Vida livre do passado, livre dessa ilusão desse “eu”, que é o ego, no presente, e desse “mim”, desse ego, desse “eu”, nesse sonho de vir a ser no futuro. Temos, assim, o fim do tempo psicológico, do tempo dessa identidade egoica, porque é o tempo psicológico, porque é o tempo do pensamento, é o tempo das imagens que o pensamento constrói.