Aquilo que nós temos colocado aqui pode parecer, a princípio, bastante estranho para você, porque aqui o nosso modelo de pensar e de sentir começa a ser desafiado. Nós temos um modelo, um padrão de pensamento, de sentimento e, naturalmente, de comportamento na vida, que é, na verdade, algo cultural, algo que adquirimos da nossa sociedade, do nosso modelo de mundo.
Aqui nós estamos investigando isso, tornando isso claro, que essa forma de viver, que esse modelo de ser alguém dentro desse contexto de cultura, de sociedade e de mundo está sustentando, para as nossas vidas, condições conflituosas, condições de desordem.
Os problemas são inúmeros, são inumeráveis quando estamos vivendo dentro desse regime, que é o regime do “eu”, do ego, o regime da pessoa. Dificilmente nós questionamos isso. Raramente nos deparamos com um desafio desse tipo que estamos apresentando aqui para vocês. O desafio é investigar a natureza desse “eu”, desse “mim”, desse senso pessoal de ser alguém. Enquanto não questionamos isso, nós continuamos dentro desse modelo. Quando começamos a questionar isso, quando começamos a investigar, a olhar de perto isso, algo novo começa a acontecer, uma mudança começa a ocorrer.
Essa estrutura de vida como nós conhecemos é a vida comum, é a vida de rotina da grande maioria das pessoas à nossa volta. Nós estamos repetindo, psicologicamente, internamente, o padrão da cultura onde fomos criados e educados. O time que você torce, você aprendeu a torcer por ele. A visão política de direita ou de esquerda, isso você aprendeu, você adquiriu.
Ao longo da vida, você tem uma formação, você recebe uma formação. Na realidade, é uma formação de cultura, de propaganda. Então, estamos torcendo para um determinado time, nós somos desse ou daquele partido político, nós temos esse ou aquele modelo de crença religiosa. A religião a que pertencemos é algo de cultura, é algo de família, é algo de herança de tradição.
O que estamos colocando aqui facilmente você pode observar em si mesmo. Você tem a linguagem da tradição, da cultura, você tem o modo de se comportar e de fazer as coisas com base na imitação, na cópia e na repetição de padrões. O modelo de pensamento é de propaganda, de sentimento, de emoção e sensação, e de formas de experimentar a vida. Repare, tudo isso é parte de uma programação, de um modelo. Esse condicionamento de comportamento, de sentimento, de emoção, de pensamento, de modelo de vida, é algo próprio em cada um de nós, é algo presente em todos nós.
Qual será a verdade sobre quem somos? Já que nós somos esse modelo, já que nós estamos replicando esse padrão, toda essa modelagem está ocorrendo, acontecendo e se repetindo. Estamos repetindo o padrão dos nossos pais, avós, bisavós, estamos repetindo o padrão da cultura, do país onde nascemos. Psicologicamente, somos criaturas humanas carregadas de inveja, ciúme, ambição, desejos contraditórios, conflituosos e medos inumeráveis. Então, repare, isso tudo é parte desse modelo do “eu”. Tudo isso é parte desse padrão de identidade que assumimos ser, que acreditamos ser, que pensamos ser.
Então, é natural que essas palavras possam nos assustar um pouco ou talvez isso venha nos despertar para algo que internamente nós já desconfiamos. Existirá alguma coisa além disso? Além desse modelo de existência ansiosa, angustiada, tediosa, depressiva, sofrida, aborrecida, com alguns breves momentos de prazer, de satisfação, de realização, de alegria, de preenchimento de ordem emocional, sentimental – mas que boa parte de nossas vidas consiste de problemas de toda ordem, de sofrimentos diversos.
Haverá alguma coisa além disso tudo, além dessa condição que tem sido, tem se mostrado sendo hoje nossas vidas? É isso que estamos tratando aqui com você: a Verdade da compreensão de si mesmo, desse estudar a si próprio, dessa verificação de si mesmo aqui e agora; compreender algo aqui, fora desse movimento, que é o movimento do “eu”, da pessoa, do ego, fora desse conjunto que é todo esse condicionamento de sociedade, de cultura, de mundo, de história de humanidade, de propaganda. Descobrir a Verdade sobre isso é, sim, ter a oportunidade de ir além disso.
O Despertar de sua Identidade Real, de sua Natureza Real, do seu Ser Real, d’Aquilo que está aqui, mas que está além desse corpo, dessa mente e dessa estrutura social, religiosa, filosófica, política, tradição familiar, descobrir Aquilo que está aqui e que transcende tudo isso é a descoberta da Verdade Divina, é a descoberta da Verdade de Deus, é a constatação da Realidade que está além de todo esse movimento.
Então, vamos colocar dessa forma: nós temos todo esse movimento que acabamos de descrever, esse é o movimento que nós conhecemos, com o qual estamos familiarizados, e aqui estamos falando com você a respeito de Algo fora de tudo isso. Se há Algo fora de tudo isso, não faz parte desse movimento conhecido. Estamos lidando com algo que é o Desconhecido.
Algo que é o Desconhecido não tem nome, então, é Inominável. É o Desconhecido, não tem nome, então, é Indescritível. Essa é a Realidade Divina. Então, quando nós usamos aqui a expressão “Deus”, nós estamos nos referindo a essa Realidade, a essa Realidade Divina do seu Ser, de sua Natureza Essencial, da Verdade Essencial de cada um de nós. Então, quando as pessoas perguntam: “O que é o Despertar da Consciência?” A resposta é: o Despertar da Realidade.
Aquilo que nós temos como “consciência” está dentro do conhecido. Essa, assim chamada, “consciência humana”, a consciência do “eu”, esse conjunto, todo esse condicionamento psicológico, tudo isso faz parte dessa estrutura. Então, nós estamos trazendo hoje e manifestando no mundo uma condição de existência que quando você olha para o mundo, você vê toda a confusão, toda a desordem, todo o sofrimento presente, todos os problemas presentes em todas as áreas de nossas vidas. Tudo isso está presente em razão dessa condição, que é a condição do “eu”, do ego, dessa ilusória identidade.
Talvez você pergunte: “E tudo isso que ocorre, tudo isso que acontece, todo esse sofrimento, confusão, balbúrdia, tudo isso que você acaba de descrever, onde isso tudo está acontecendo?” É isso que nós precisamos descobrir aqui juntos.
Quando há o Despertar da Verdade deste Ser Real, desta Real Consciência, fica claro que tudo isso o que estamos vendo está dentro de um sonho, o sonho de uma existência separada da Real Vida, da Real Consciência, da Real Identidade Divina. Repare, nós estamos aqui usando termos que as pessoas conhecem, mas com um significado, de repente, totalmente diferente do que elas conhecem, do que elas já ouviram, já leram aí fora. Estamos falando de uma Realidade que quando está presente, esse sonho de mundo perde toda a importância, toda a valorização, todo esse senso de realidade.
Repare que quando você sonha, você tem um senso de realidade, só que é o senso de realidade de um sonhador. Nessa vida, que é a vida centrada no “eu”, nesse modelo antigo e velho de condicionamento, onde a grande maioria das pessoas estão hoje se situando como sendo “alguém” dentro da experiência da vida, do viver, a condição é exatamente essa. É a condição de sonho no qual o sonhador está presente nesse “seu sonho de mundo”.
A ciência da Verdade deste Ser, desta Realidade Divina que somos é o Despertar para uma nova Consciência, a ciência da Realidade que está presente quando esse senso do “eu”, do ego, que é esse sonhador, já não está mais presente. Então há um novo modo de lidar com o sonho sem o sonhador.
Repare como é fascinante termos uma compreensão não intelectual, mas termos um toque direto de que aquilo que você está lendo aqui, ressoa aí dentro de você num nível fora do intelecto como uma possibilidade, uma realidade possível, algo além de um mero entendimento ou convencimento intelectual, uma certeza de dentro, e mostrando que o que estamos colocando aqui é algo fora do conhecido, mas é algo que ressoa dentro de você como uma Realidade possível. E isso é muito simples, porque isso é a Realidade do seu Ser, d’Aquilo que é Você.
Tomar ciência dessa Realidade é assumir na vida o seu Natural Estado de Ser-Consciência-Felicidade. Essa é a Natureza deste Ser, desta Real Identidade, desta Real Verdade, desta Verdade Divina que trazemos. Esse Natural Estado é descrito pelos Sábios antigos da Índia. Esse Natural Estado de Ser, fora desse modelo de condicionamento que acabamos de descrever para você aqui é reconhecido como o Estado de Turiya.
Turiya é um quarto estado. Além desse estado de vigília, onde está esse modelo de condicionamento, que é, na verdade, um sonho no qual esse sonhador, que é o “eu”, o ego está presente. Além desse estado de sonho, que é aquele que nós temos à noite quando dormimos e temos a experiência de um mundo semelhante a esse. Ali estamos diante de um sonho e a presença de um sonhador que não questiona a validade, a veracidade, a verdade daquele mundo, daquela existência onírica. Repare que é assim: o sonhador nunca questiona se aquilo é ou não um sonho, ele está vivendo no seu mundo particular, um mundo onírico, criado e produzido pelo próprio sonhador. Então, este é o estado de sonho. E temos o estado de sono profundo. Então, são três estados: o estado de vigília, sonho e sono profundo.
Aqui nós temos falado sobre esse Estado de Turiya. Então, os estados que nós conhecemos nesse estado egoico de ser alguém presente nesse modelo de consciência, de condicionamento, é vigília, sonho e sono profundo. Mas aqui estamos nos referindo a um quarto estado possível, que é Turiya: o seu Natural Estado de Ser, livre do senso do “eu”, do ego e, portanto, livre da identidade presente, que é a identidade egoica, nesse estado de vigília, nesse estado de sonho e, temporariamente, esquecida no estado de sono profundo.
A Realidade deste Ser que somos, desta Verdade Divina que trazemos é o quarto estado de Consciência, é o seu Natural Estado de Ser. Então, aqui quando nos referimos ao estado de Turiya, ao quarto estado de Consciência, estamos nos referindo a esse Natural Estado Divino, onde há uma vida livre de todas essas complicações, de todos esses problemas, de toda a forma de sofrimento como nós conhecemos, porque estamos diante d’Aquilo que é Inominável, Indescritível, é a Verdade do Desconhecido.
Então, o que é a Iluminação Espiritual? É o Despertar desse quarto estado. É a Verdade do seu Ser se revelando, livre de sofrimento, de complicações, de dilema, de conflitos, de contradições e de ações centradas nesse sentido de egoidentidade. O seu Natural Estado de Ser é Amor, é Liberdade, é Felicidade.