É comum a pergunta: “Como encontrar o meu propósito na vida?” Ou: “Como encontrar o propósito na vida?” Existe aqui uma coisa que a gente tem que esclarecer para você. Primeiro, precisamos descobrir, antes de tudo, o que é a vida, porque nós falamos da vida como se nós já conhecêssemos a vida. Então, “Eu já conheço a vida, agora só tenho que encontrar o meu propósito nela”. Isso é verdade?
Então, notem que coisa estranha nossa visão: primeiro acreditamos que nós já conhecemos a vida e que agora só precisamos encontrar o nosso propósito na vida; mas o que é a vida? Então, essa é a primeira pergunta. E existe tal coisa como “o propósito da vida”?
Notem que nós estamos dentro de uma confusão. Psicologicamente, nós nos sentimos sendo alguém, então nós temos esse ser psicofísico que acreditamos ser, corpo e mente, vontade, liberdade, autonomia de pensamentos, de ações… Será que isso é verdade? Será mesmo assim? Nós somos quem nós acreditamos ser? E nós podemos o que nós acreditamos poder? E agora temos esse ideal, o ideal de descobrir o nosso propósito na vida.
O ponto aqui é que nada disso é real, nós não nos conhecemos. Qual é a verdade sobre você? Qual é a verdade sobre a vida? Essa ideia de ser “alguém” nesse momento, aqui, dentro da experiência, naturalmente separado da experiência, é uma ilusão. É a ilusão do controle, é a ilusão do fazer, é a ilusão do poder, é a ilusão de ser. Por exemplo, a ideia que você faz sobre você é uma imagem, é apenas uma imagem que não se ajusta à realidade.
Veja, é muito simples ver isso. A ideia que você tem sobre quem você é, observe os estados internos de contradição presente dentro de cada um de nós. Você sente uma coisa, mas gostaria de sentir outra coisa, então há uma contradição entre o que você sente e o que você deseja sentir. Há uma contradição de movimento de pensamentos também: você tem um pensamento, você acredita que é seu esse pensamento, mas você não pode se livrar dele quando deseja se livrar.
Reparem os pensamentos em nós, como eles se processam. É verdade que você tem esses pensamentos ou são pensamentos que surgem apesar de você? Se você tivesse controle sobre os pensamentos, você não teria pensamentos produzindo contradição interna entre o que você quer e o que você não quer, entre o que você sente e o que você não quer sentir, entre o que você pensa e o que você não quer pensar.
A verdade sobre os pensamentos é que eles são automáticos, eles são mecânicos, eles se processam dentro de um cérebro. Você nunca se pegou cantarolando uma música? Nunca se pegou com uma música se repetindo dentro da sua cabeça? É verdade que você trouxe aquela música, ou ela apareceu? Você nunca percebeu que pensamentos surgem e você não sabe de onde eles estão vindo? Tanto é assim que você quer se livrar deles e essa vontade de se livrar é uma coisa, e o poder de se livrar é uma outra coisa.
Nós não nos livramos de pensamentos quando desejamos, não pensamos quando queremos, não nos livramos do pensamento quando queremos, não sentimos o que queremos sentir, não nos livramos dos sentimentos quando desejamos nos livrar. Então, nós vivemos internamente em estados de contradição, sem qualquer controle sobre sentimento, emoções, percepções e sensações, isso simplesmente acontece nesse corpo-mente em razão de um modelo de programação nessa estrutura, nesse cérebro, nesse corpo.
O corpo está apenas reagindo aos estímulos, o cérebro está apenas respondendo aos estímulos. Há estímulos externos e estímulos internos e, mesmo assim, você acredita que existe como uma entidade presente no controle de todo esse processo. Isso é uma ilusão A ideia de um “eu” presente sendo o gerenciador, o controlador, que tem autonomia, liberdade e poder sobre todo esse processo de pensar, sentir e agir, isso é uma ilusão.
Com um pouco de honestidade, você irá perceber isso que estamos dizendo. Basta apenas olhar para si mesmo e irá perceber a contradição, a culpa, o remorso, o arrependimento, a dúvida, o medo, tudo isso mostra estados internos de contradição e, portanto, de sofrimento dentro de cada um de nós. Esta é a presença desse “mim”, desse “eu”, desse ego, da ilusão de uma identidade presente no viver, na experiência. E como podemos falar de conhecer o propósito, “o meu propósito”?
Antes de tudo, precisamos compreender a verdade desse “eu” para descobrir se há, de verdade, qualquer propósito para ele. Precisamos, antes de tudo, descobrir qual é a verdade da Vida e descobrir se, na verdade, na Vida existe esse elemento que é esse “mim”, esse “eu”, essa pessoa. Qual é a verdade do “eu”? Qual é a verdade da Vida?
É isso que estamos vendo aqui juntos. Enquanto não nos livrarmos da ilusão desse “eu”, que é o ego, desse que vive dentro dessa condição de completa ignorância a respeito de todo esse processo de movimento dele próprio, enquanto esse cérebro, essa mente não encontrar ordem, enquanto não houver ordem psicológica, enquanto todo esse movimento do cérebro for um movimento de condicionamento psicológico, onde nossas respostas são respostas reativas, de condicionamento, de memória, reações da memória – da memória motora, da memória emocional, da memória de sentimento, da memória de pensamento –, enquanto todo o movimento desse ser psicofísico for este, tudo o que temos é desordem, tudo o que temos é confusão, tudo o que temos é parte, ainda, da ilusão.
Qual é a verdade desse “eu”? Haverá um propósito para esse “eu”? Ou esse “eu” é um conjunto de condicionamento, uma programação, um movimento de inconsciência presente nesse mecanismo, nesse corpo-mente, se movimentando nisso que nós chamamos de “vida”? Qual é a verdade desse “mim”? Qual é a verdade desse “eu”? Se aproximar de si mesmo é tomar ciência desse movimento, então se torna possível um descondicionamento psicológico, um descondicionamento de todo esse movimento que ocorre de uma forma inconsciente, mecânica nesse mecanismo, nesse corpo-mente.
Então, a grande verdade é que nós desconhecemos a nós mesmos, não sabemos como nós funcionamos, não sabemos como essa mente funciona, como esse cérebro funciona, como esse “eu” tem se estabelecido nessa condição usando esse pronome, e pronomes do tipo “meu”, “minha”, “minha história”, “minha vida”, “meu nome”.
Estudar a si mesmo é ir além dessa condição de identidade egoica, de identidade pessoal. É compreender a verdade de si mesmo, é compreender a verdade sobre esse “mim”. Então nos deparamos com a Vida sem esse movimento, que é o movimento do “mim”, do “eu”. Então, sim, nesse momento se torna possível descobrir a Vida em seu propósito. Eu não disse a vida desse “eu”, desse “mim” encontrando o seu propósito na Vida. Eu estou dizendo que é possível descobrirmos juntos, nesse Despertar da Verdade sobre quem somos, o propósito da Vida. Não é a vida pessoal desse “mim”, é da Vida.
A Vida tem um propósito, o “eu” não carrega nenhum propósito na Vida. O propósito da Vida, o propósito na Vida é a própria Vida em seu propósito, não há o “mim”, o “eu”, o ego dentro disso. Mas estamos diante de algo fascinante, porque uma vez que aconteça, que ocorra essa compreensão da Verdade sobre quem somos, nós temos o fim da ilusão desse “eu”.
Então, nesse momento, a Vida carrega uma grande Beleza, um grande propósito. Nesse momento, a Verdade se revela, se mostra como sendo Você em seu Ser verdadeiro, em seu Ser Real, que não está separado da Vida e, portanto, não está separado do propósito. Então, nesse momento nós temos a Vida, este Ser, esta Verdade, nós temos esse propósito, a Realidade de Ser aquilo que você nasceu para ser, Aquilo que é Você nesta Vida quando o sentido do “eu”, do ego, do “mim”, desse sonho de ser “alguém” não está mais presente. Portanto, ter a ciência da Verdade de todo esse movimento do pensamento, do sentimento, da emoção, da sensação do que é esse “mim”, esse “eu”, é ter uma compreensão do que é a Vida.
Então, estudar a si mesmo é ter esse contato com a Verdade do Autoconhecimento. Reparem que aqui a expressão “Autoconhecimento” não é como, em geral, as pessoas usam na psicologia ou na filosofia aí fora. Estamos falando dessa tomada da ciência da Realidade d’Aquilo que é este Ser quando essa ilusão desse movimento, que é o movimento do “eu” – que, por sinal, está sempre dentro de um movimento de tempo psicológico, nessa específica ideia de se tornar, de realizar, de alcançar, de vir a ser –, não está mais presente. É um outro aspecto aqui dentro do assunto.
Em geral, as pessoas falam desse propósito como um idealismo no futuro, tendo a ideia de um “eu”, de um ego, de uma pessoa realizando algo para ela própria, nesse movimento de ambição, de busca de algo, na ideia de se tornar maior do que ele ou ela se vê; por isso as pessoas falam desse propósito na vida. Então, nós temos aqui o fim para essa condição desse sentido de um “eu”, de um ego que se projeta para alcançar, para realizar, porque temos aqui o fim desse tempo, desse psicológico tempo idealizado pelo próprio pensamento em sua projeção naquilo que o ego está chamando de vida, que é a ideia desse futuro melhor para ele mesmo.
A Realização da Verdade de Deus, da Realidade do seu Ser, é o fim do tempo. Então, o futuro é agora, a Felicidade é agora, o Amor é agora, a Liberdade é agora, a Paz é agora, então, nesse instante nós temos a Vida e o propósito. Note que esse propósito e a Vida é a Felicidade, e isso é agora. Então, esse propósito, a Vida e a Felicidade é agora. Então, não se trata de um propósito na vida, mas é a Vida agora em seu próprio propósito, é a presença dessa Realidade, que é a Felicidade de Ser.
Então, não se trata do futuro, não se trata de algo para ser alcançado, não se trata de algo para ser realizado por “alguém”, mas é a constatação da Verdade deste Ser que somos nesse instante. Esse é o propósito na Vida, esse é o propósito de estar aqui. O único propósito na Vida é Ser, e Ser é Felicidade. Esse é o encontro com a Verdade de Deus.