O que, na verdade, nós estamos buscando? O que, na verdade, nós estamos procurando? Nós vivemos em um mundo onde há confusão, desordem, sofrimento, então há, inegavelmente, uma busca, há uma procura. Mas eu quero investigar com você aqui se essa procura é pela Verdade, é pela Realidade ou se é a busca, a procura por alguma forma de satisfação, de realização que nos traga um nível novo de preenchimento, já que temos experimentado alguns momentos de satisfação, temos experimentado algumas formas de preenchimentos em diversos momentos em nossas vidas. Mas me parece que nenhuma dessas satisfações, preenchimentos ou realizações se tornaram, de verdade, algo permanente.
Então, o que é que, na verdade, estamos procurando? O que é que, na verdade, estamos buscando? Pode-se procurar a Verdade, pode-se procurar a Realidade, pode-se procurar a Verdade de Deus? Me parece que não é esse o nosso propósito nessa busca, nessa procura.
Assim sendo, o ser humano não está nessa busca ou nessa procura pela Verdade, pela Realidade, não está nessa procura por Deus. Nós estamos, sim, numa busca, numa procura por um nível qualquer de realização e de satisfação que seja permanente. Nessa procura nós estamos mudando de uma religião para outra religião, de um sistema filosófico para outro, de uma ideologia espiritualista para outra. Então, não é verdade essa procura por Deus, pela Verdade. É a procura por uma satisfação, por algo que nos preencha de uma forma permanente. Já que as realizações externas parecem que todas falharam, agora estamos em busca de algo, assim chamado, “espiritual”, mas não é a busca ou a procura pela Verdade, é a procura por uma satisfação dentro daquilo que nós chamamos de espiritualidade.
Então, seria interessante nós investigarmos algumas coisas aqui. A primeira delas é: pode-se encontrar a Verdade? É possível encontrar a Felicidade? É possível encontrar Deus? Veja, nós podemos buscar algo que nos dê uma realização, um preenchimento, uma satisfação permanente, mas existe, na verdade, também, tal coisa? Então repare que situação delicada é essa daquele que busca, daquele que procura.
A primeira é que nós não podemos encontrar algo que, de verdade, seja permanente com o nome de Felicidade, com o nome de Verdade, com o nome de Deus. Não é possível encontrar isso que nós projetamos como algo permanente. Então, essa, assim chamada, “satisfação” ou “realização” que projetamos numa ideia, numa imagem que fazemos sobre Deus, sobre a Verdade, sobre a Realidade, se é isso que o ser humano está, de verdade, procurando dentro da espiritualidade, ele não irá encontrar. E por que podemos afirmar isso, que nós não podemos encontrar algo de permanente? Porque não há permanência em nenhuma realização, em nenhum nível de preenchimento, em nenhum nível de satisfação. Isso porque é a natureza de uma realização, de um preenchimento ou de uma satisfação, é da natureza disso a impermanência. Então, esse é o primeiro ponto.
O segundo ponto é que essa Verdade, Realidade ou Deus não é algo passivo de ser encontrado. Não podemos encontrar Deus. Não podemos encontrar a Realidade. Não podemos encontrar a Verdade. O que se torna possível é a constatação da Realidade, a constatação de Deus, a constatação da Verdade. No entanto, para que isso se torne possível, nós precisamos descobrir quem é esse que busca. Reparem que coisa importante nós temos aqui para ver com você.
Nós precisamos, antes de partir para uma busca de preenchimento em satisfação, em realização, em algum nível – já que tentamos materialmente e ainda não deu certo, e agora estamos procurando espiritualmente –, nós precisamos primeiro perguntar quem é esse que busca, quem é esse que está nessa busca de algo que seja permanente, seja na realização, no preenchimento ou na satisfação. Aqui também temos que perguntar quem é esse que está nessa busca ou nessa procura pela Verdade, por Deus ou pela Realidade.
Então, nós temos ideias sobre o que é essa busca, e podemos estar numa ideia, nessa busca, colocando a nomeação dessa busca como a busca pela Verdade, por Deus, pela Realidade e, no entanto, estamos numa busca de um preenchimento permanente, numa realização permanente, numa satisfação permanente. É isso que o ser humano está procurando. Mas aqui nós nos deparamos com uma dificuldade enorme, que é a não compreensão da verdade sobre esse que está nessa busca. É por isso que podemos ter vários nomes para essa busca, e podemos ter diversos sentimentos sobre isso. Tanto os sentimentos quanto os nomes não estarão dizendo absolutamente nada, porque a base dessa busca não foi compreendida. Qual é a base dessa busca? É aquele que busca. Quem é esse que busca?
Sem antes termos uma compreensão sobre nós mesmos – e a verdade é que nós desconhecemos quem somos, desconhecemos aquilo que se processa aqui, dentro de cada um de nós, não conhecemos o movimento do pensamento, do sentimento, da emoção, do modo de perceber, dessa forma de sentir a vida, tudo o que nos rodeia, aquilo que está dentro e aquilo que está fora –, a não compreensão de nós mesmos, a não visão a respeito daquilo que somos é a ignorância, é a base de toda essa busca; uma busca que se assenta dentro dessa ignorância.
Nossa insatisfação tem produzido em nós essa busca, essa procura. Então, nessa nossa procura, assentada nessa ignorância pela satisfação, nós podemos ter momentos de satisfação. Então, é assim que temos nos empenhado nessa busca. Nós não sabemos, na verdade, o que estamos buscando, porque nós não sabemos a verdade sobre quem nós somos. Então, assentados nessa ilusão, nesse desconhecimento sobre nós mesmos, nós temos assentado sobre isso essa busca, essa procura.
Assim, nós desconhecemos a verdade de quem somos e, naturalmente, a natureza verdadeira dessa insatisfação; uma insatisfação que está em busca de um preenchimento, de uma realização que seja permanente. É isso que nós precisamos ver aqui juntos. Nós precisamos descobrir a Verdade, precisamos descobrir a Realidade, precisamos descobrir Deus, mas não podemos encontrar isso dentro desse projeto, dessa idealização, desse movimento nessa busca que tem por princípio essa insatisfação; uma insatisfação da qual queremos nos livrar querendo encontrar algo que nos realize e nos preencha de forma permanente. Não podemos chegar a isso sem antes termos uma compreensão da Verdade sobre quem nós somos.
Então, é isso que estamos propondo aqui para você. Então, nós precisamos descobrir a Verdade sobre quem nós somos. Conhecer a nós mesmos, conhecer esse “eu”, esse “mim”, essa pessoa que está nessa busca. A Realização de Deus, a Realização da Verdade, essa Realização da Realidade, isso representa o fim para essa insatisfação, isso é o fim para essa continuidade, nessa procura por se livrar dessa insatisfação realizando uma satisfação, um preenchimento, uma realização.
O que é esse algo que estamos querendo encontrar nessa satisfação, realização? Queremos encontrar a Felicidade. No entanto, notem, a Felicidade não é algo encontrável, assim como a Verdade, Deus ou a Realidade. Isso não é algo encontrável. Aqui nós estamos estudando a Verdade sobre quem somos, a compreensão desse modo de sentir, de pensar, de agir, de se mover no mundo. Estudar a si mesmo é o que temos de mais próximo, de mais realista para uma aproximação de Deus, da Verdade e, portanto, da Felicidade, que não é um projeto que se realiza quando se busca um preenchimento permanente, uma realização permanente, uma satisfação permanente.
A Realidade d’Aquilo que somos quando isso que demonstramos ser, que expressamos ser nesse momento em nossas relações, o fim para essa condição daquilo que demonstramos ser e expressamos ser dentro de nossas relações – relações com as pessoas, relações com nós mesmos, relações com a vida –, o fim dessa velha condição, dessa ilusória identidade como nós nos mostramos ser nesse momento, o fim para isso é o surgimento de Algo novo, de Algo indescritível, que é a Realidade d’Aquilo que somos quando isso que mostramos ser, que demonstramos ser, que parecemos ser, que somos dentro dessa condição ilusória, não está mais presente.
Então, qual é a verdade da nossa procura, da nossa busca? A verdade sobre isso é que estamos à procura da Realidade, da Verdade, de Deus, que é Real Felicidade, mas isso reside nesse encontro com a Verdade d’Aquilo que somos quando aquilo que demonstramos ser, quando aquilo que parecemos ser, quando aquilo que apresentamos ser não está mais presente. Então essa Realidade Divina se mostra. Então, é uma grande ilusão a ideia de “alguém” para encontrar. Aquele que procura é uma ilusão. O que pode essa ilusão, que é esse que procura, encontrar outra coisa? Aquele que procura, esse “eu” que está nessa procura, é apenas um movimento de pensamento, de imaginação, de condicionamento, se projetando numa ideação, numa imaginação.
Aqui o convite está em descobrirmos como olhar para nós mesmos. Assim sendo, toda essa ideia de algo permanente para ser encontrado dentro dessa imaginação, que é a imaginação desse “eu” se projetando em suas ideias, é uma ilusão. O seu trabalho consiste em tomar ciência daquilo que é você, compreender a si mesmo, se compreender na vida, perceber a ilusão desse sentido de alguém presente que se separa do viver, que se separa da vida, que se separa desse movimento extraordinário, que é esse movimento da Existência; tomar ciência desse elemento que é o “eu”, o ego, esse “mim” que se separa e que se projeta numa ideia, numa crença, num conceito de algo para ser encontrado, de algo para ser adquirido para si mesmo.
Então, conhecer a si mesmo é a base para irmos além dessa ilusão, é aquilo que se faz fundamental, é a única coisa, é ter esse encontro. A Felicidade não é encontrável, mas a constatação da verdade dessa ilusão que parecemos ser nos mostra a Realidade dessa Felicidade, que não é encontrável porque você não pode encontrá-la no tempo. Mas nós temos a Visão, a Revelação da Felicidade que se mostra aqui, nesse instante, quando esse sentido do “eu”, do ego, não está mais presente.
Isso não é uma satisfação permanente, isso é o fim desse sentido de um “eu”, de um ego, de uma identidade ilusória que vive dentro de uma insatisfação, vive dentro de uma condição de incompletude porque se vê como uma entidade separada da vida e, portanto, carregada de medo. Onde há esse sentido de separação, a presença dessa dualidade nessa ideia “eu e a Existência”, “eu e a Vida”, “eu e o viver”, “eu e o outro”, “eu e a Realidade”, “eu e Deus”, “eu e a Felicidade”, quando isso está presente, temos a presença do medo. Então, nesse nível de existência egoica, de qualidade de vida egoica, está presente a insatisfação.
A Realidade d’Aquilo que é Deus, a Realidade d’Aquilo que é Você em seu Ser não é algo dentro do tempo, não é algo dentro desse movimento de se tornar, de alcançar, de realizar – realizar amanhã, se tornar amanhã, alcançar amanhã. Então, estamos tratando de algo aqui com você que representa o fim do sofrimento, o fim da ilusão, o fim desse “eu”, desse ego. Então nos deparamos com a Realidade da Felicidade agora, não algo para ser encontrado amanhã. E, assim, nos deparamos com a Verdade agora, com a Felicidade agora, nesse instante. Essa é a Natureza do seu Ser. Isso está presente quando não há mais busca, quando não há mais procura, quando não há mais nenhum movimento nessa ideia de alcançar.