Aqui você sabe que estamos lidando com assuntos envolvidos com essa questão do “eu”, do ego. O nosso propósito é trabalharmos com você o fim dessa psicológica condição, que é a condição da identidade que, por se ver separada da experiência, naturalmente está em conflito com aquela dada experiência.
O nosso propósito aqui é eliminarmos esse sentido de separação, essa dualidade; é descobrirmos um Estado Natural, livre do sentido de identidade egoica, de identidade presente sendo o “eu”, o ego, o experimentador que se separa sempre da experiência e, naturalmente, cria problemas.
Então, eu quero investigar com você aqui essa questão dos pensamentos acelerados. Como lidar com os pensamentos acelerados? Ou como lidar com os pensamentos ansiosos? Veja, estamos tratando exatamente da mesma coisa.
Nós não sabemos lidar com o pensamento porque nós desconhecemos como o pensamento se processa. Nós vivemos dentro desse processo do pensamento, sendo alguém dentro da vida, do viver, dentro da experiência, se separando, naturalmente, da experiência. Sendo uma entidade que se vê longe, separada dessa experiência, seja ela qual for.
Mas nós não sabemos como o pensamento se processa, o que é lidar com o pensamento. Isso requer a compreensão do movimento que é o movimento do “eu”, do movimento que é o movimento do ego. O movimento do ego, o movimento do “eu” é, naturalmente, o movimento do pensamento; ele não é só acelerado.
Então, nós temos o pensamento tagarela, o pensamento obsessivo, o pensamento ansioso e o pensamento acelerado. Essa é a experiência para esse que se separa da experiência, que é o “eu”, o pensador. Então, eu quero investigar com você aqui a estrutura desse pensador.
Qual é a verdade desse pensador? Qual é a natureza desse pensador? Do que se constitui esse pensador? É muito simples: de experiências passadas. Se eu lhe apresento um objeto que você nunca viu, você não tem um nome para aquilo. Se eu lhe digo o nome daquele objeto, você já vai identificá-lo pelo nome. Isso será um conhecimento agora em seu cérebro, uma experiência guardada em seu cérebro, registrada. Quando eu lhe perguntar o nome daquele objeto, você irá me dizer o nome, um pensamento será expresso.
Então, o que é o pensamento? Uma memória, uma reação de memória, uma resposta de memória. Assim, os nossos pensamentos estão funcionando dentro de cada um de nós como respostas de memória. O cérebro está funcionando desta forma, tendo essas respostas, tendo essas reações. Isso ocorre de uma forma automática, mecânica, inconsciente.
Como lidar com o cérebro? É como lidar com a mente: tomando ciência do movimento do pensamento, porque enquanto a inconsciência estiver presente, a mecanicidade estará em operação. Então, é muito importante compreendermos a arte da desidentificação com o movimento do pensamento, algo que se torna possível quando o pensamento é observado e não colocamos um elemento dentro do pensamento para orientar o pensamento, nortear o pensamento, rejeitar o pensamento, se confundir com o pensamento, se identificar com o pensamento. Então, assim ocorre uma quebra de identidade nesse modelo que é o modelo do pensamento. É quando o pensamento, sendo a experiência, perde o valor, perde a importância, porque não há um experimentador por detrás disso.
Percebam como é simples isso. Você quer desacelerar os pensamentos, você quer se livrar dos pensamentos obsessivos, dos pensamentos repetitivos, dos pensamentos ansiosos. Esse querer, essa vontade, coloca presente dentro da experiência o experimentador, o pensador. O que isso faz? Isso fortalece o sentido do experimentador na experiência.
Quando você quer se livrar de um pensamento, você está fortalecendo o pensamento. Se aqui eu digo para você: “Não pense na morte. Não pense em cenas de morte”, quando eu digo isso para você, a primeira coisa que surge é um caixão, um sepultamento ou um velório. O cérebro, naturalmente, vai em busca daquilo que ele quer rejeitar. Então, o movimento da rejeição é do cérebro e o movimento do encontro da memória, a produção da memória, tudo isso faz parte do movimento do cérebro para confirmar a sua experiência que ele quer rejeitar.
Na verdade, tudo que o pensamento pode fazer nesse modelo de condicionamento cerebral é manter sua continuidade, sendo esse pensamento apenas uma reação da mecânica do cérebro. Então, toda essa vontade, esse desejo, essa volição ainda fazem parte do próprio movimento do cérebro. É assim que o cérebro condicionado funciona.
Nós não nos livramos do pensamento querendo nos livrar dele. A libertação dos pensamentos implica a ciência do movimento do pensamento. Tomar ciência do movimento do pensamento sem reagir a ele é algo que o cérebro não tem qualquer disposição de fazer. Toda a disposição do cérebro é de reagir, isso é parte do condicionamento, é parte da inconsciência, é parte da mecânica de como o cérebro funciona, de como o pensamento funciona.
Note que, se estamos dispostos a nos livrarmos do modelo do pensamento – que é o modelo do “eu”, do ego –, a única coisa que importa aqui, neste instante, é a presença da Consciência. Essa Consciência está presente quando há Atenção sobre esse movimento. No entanto, essa Atenção sobre esse movimento só é possível quando há uma aproximação do próprio movimento, e não um afastamento.
Se você rejeita a experiência – que, no caso, é um pensamento acelerado –, você está fortalecendo o próprio movimento do pensamento. Se você se confunde com o modelo do pensamento acelerado, você está fortalecendo-o. Mas se há uma aproximação para apenas olhar, constatar, nesta proximidade, nesta comunhão direta, sem uma identificação e sem uma rejeição, há uma plena Atenção sobre o movimento. Essa Plena Atenção é a presença da Consciência.
Então, colocamos Real Consciência quando há esta Atenção. Isso determina, de imediato, o fim para essa experiência, para esse movimento do pensamento acelerado, de pensamento obsessivo, de pensamento tagarela, porque não há o elemento pensador, não há o experimentador, não temos o fortalecimento da inconsciência. Isso é uma quebra do hábito, do vício, do modelo, do padrão de inquietude cerebral. Então o cérebro se aquieta, um espaço se abre, um espaço de Silêncio. Neste instante, um vazio se mostra dentro dessa Quietude, então há uma quebra dessa continuidade, desse antigo e inconsciente modelo de pensamento obsessivo, tagarela, acelerado, porque há essa Atenção.
Atenção é a Natureza da Consciência. Tudo o que se faz necessário é essa Quietude interna, que ocorre naturalmente quando temos uma aproximação do movimento do pensamento. Temos uma aproximação da experiência sem colocarmos o pensador, sem colocarmos o experimentador. Essa forma de nos aproximarmos é, em si, a visão de como nós funcionamos, de como a mente funciona.
Nós precisamos aprender como o cérebro funciona, como a mente funciona, como esse “eu” funciona. Com essa aproximação, temos, de imediato, um desligamento desse modelo de inquietude psicológica, de inquietude cerebral, de inquietude mental. Assim, nos aproximamos da arte do Autoconhecimento, desse aprender sobre nós mesmos, de aprender como nós funcionamos. Isso é Meditação aqui e agora, neste instante, momento a momento, é tomar ciência de cada pensamento, emoção, sentimento. Percepção sem o percebedor. Pensamento sem o pensador. Sensação sem aquele que está envolvido na sensação.
Tomar ciência disso, ter uma aproximação da verdade desse “mim”, desse “eu” requer um cérebro que se aquietou, uma mente que silenciou. Veja, ela não foi silenciada, o cérebro não foi aquietado à base de uma disciplina, de uma técnica, de uma prática meditativa. Isso é outra coisa.
As pessoas procuram práticas, técnicas de meditação e, de uma certa forma, elas conseguem um certo silêncio, uma certa quietude cerebral durante a prática. Mas elas não podem viver na prática, elas precisam sair, ir para o trabalho, dirigir o carro, levar a criança ao colégio, cuidar de assuntos, cuidar de negócios, trabalhar, e é nesse instante que nós precisamos da ciência da arte de Ser, que é Meditação.
Então, a Real Meditação ocorre neste momento. Você está dirigindo o seu carro, você está trabalhando, conversando com pessoas, lidando com situações e, nesse momento, esse Estado de Ciência, de Presença, de Consciência está. Então, essa é a Verdade desta Atenção Plena, neste momento, sobre todo esse movimento de inquietude, sobre todo esse movimento interno do “eu”.
A Ciência, a Consciência, a Visão da Verdade sobre isso é Aquilo que está presente quando nós colocamos Atenção sobre este instante, sobre este momento. Então, essa Atenção sobre este momento é o fim para essa ilusão, para esse movimento de inquietude psicológica quando o sentido do “eu”, do ego, desse “mim” é visto, é constatado.
Esse “mim”, o “eu”, o ego não é outra coisa a não ser essa inquietude, esse movimento interno. Então, aquilo que funciona para movimento de pensamento, funciona para movimento de sentimento, de emoção, de modo de perceber a vida. Dessa forma, quebramos a continuidade desse movimento, que é o movimento egoico, porque trazemos para este instante a ciência de Ser, que é a Meditação.
Compreendam a importância disso. Na vida, neste instante, a Realidade presente é esta Verdade de Ser, Consciência, Felicidade, Paz, Amor. No entanto, isso não está presente quando o sentido do ego, do “eu”, nesse movimento de pensamento inquieto, tagarela, acelerado, está presente. Isso explica porque nossos estados internos psicológicos são de ansiedade, angústia, depressão, medo, ciúme, inveja, ambição, conflito de desejos.
Então, a nossa condição psicológica de ser alguém na vida, no viver, na experiência sem esta Realização da Verdade, deste Silêncio, desta Quietude, desta ausência do “eu”, é de sofrimento. Assim, nós estamos trabalhando com você aqui a visão da Verdade do Autoconhecimento. Não se trata de uma técnica para amenizar, para suavizar, para tranquilizar esse sentido do “eu”, do ego. Aqui se trata do fim desta condição, que é a condição do “eu”, desse “mim”, desse ego.
Aqui se trata desta Realização da Natureza do seu Ser, desta Verdade que está presente quando tudo aquilo que está dentro do conhecido, desse movimento egoico, já não está mais presente. Assim, esse encontro com a Constatação d’Aquilo que somos requer uma aproximação daquilo que está aqui. Temos que eliminar toda forma de fuga, de distração, de afastamento. Temos que aprender a arte de nos aproximarmos de nós mesmos, de estudarmos a nós mesmos, de compreendermos a nós próprios dentro deste instante, deste momento presente.
O que quer que esteja se passando dentro de nós, ter um contato próximo, ter um contato direto sem fugir disso, sem se identificar com isso, tomando ciência disso, trazendo ciência para este instante, trazendo essa Atenção Plena para este momento é a forma Real de nos aproximarmos do fim do “eu”, do fim do ego e, portanto, do fim desta psicológica e complicada condição de ser alguém nesse peso, nessa ansiedade, nessa depressão, nessa angústia, nesse medo e nesse sofrimento.