Vida Divina | Iluminação Espiritual: uma questão da vida

Como questão da vida nós temos presente a questão da morte. Vamos trabalhar com você aqui essa questão, a questão da vida e da morte. Será que existe uma linha de demarcação, será que existe uma fronteira entre essa, assim conhecida, “vida” de todos nós e essa “morte”?

Tudo o que nós temos como vida – observe isso de perto e você verá – é a continuidade da memória. Aquilo que nós chamamos de vida é a continuidade do nosso nome, da nossa história, dos nossos móveis, dos nossos imóveis, das pessoas com quem nós nos relacionamos, a história que conhecemos delas, a história que conhecemos sobre quem somos.

Então, aquilo que nós temos chamado de vida consiste em ganhar, perder, obter, acumular, buscar mais, a procura da satisfação, da paz, da felicidade, tudo isso nós chamamos de vida. Estamos diante da continuidade da memória. Assim, aquilo que nós chamamos de vida, que nós consideramos vida é, simplesmente, a continuidade dessa “pessoa”, dessa entidade que acreditamos ser. Assim, tudo o que nós temos dentro dessa memória, dessa continuidade é a continuidade do “eu”, do ego. É isso que nós chamamos de vida.

Quando nos deparamos com o fim disso nessa, assim chamada, “morte”, nós criamos uma separação. Já percebemos que nessa conhecida morte nós temos o fim para essa memória, temos o fim para essa continuidade, e isso nos causa medo. Então, para nós a morte é, na verdade, o desconhecido.

Nós não sabemos o que, na verdade, é a morte. Em razão desse medo de perder essa continuidade, de perder esse conhecido, nós temos criado crenças. As crenças religiosas nos dão conforto, nos dão consolo, nos mostram a possibilidade da continuidade, da continuidade exatamente dessa memória nessa, assim conhecida, “pós-morte”.

Então, o que nós temos aqui? Uma ponte, ou procuramos criar uma ponte entre esse nosso conhecido, que é a história, a memória, a continuidade do “eu”, do ego com aquela outra coisa desconhecida chamada morte. Assim, nós projetamos nesse “pós-morte” a continuidade desse “eu”. É isso que nas religiões nós temos como a questão do “pós-morte”. Então, nós temos a ressurreição, temos a reencarnação, temos céu, temos inferno. Nós ficamos para escolher ou para ver o que mais convém para nós em termos de aceitação no que acreditar. Tudo isso fazemos porque, na verdade, nós temos “medo”, o medo do fim dessa continuidade.

Então, na verdade, não sabemos o que é a vida sem a continuidade do ego, e não sabemos o que é essa, assim chamada, “morte” sem essa continuidade do ego. Assim, nós projetamos um ideal de futuro nessa coisa chamada “pós-morte” para isso que está aqui, agora, nesse momento, dentro dessa continuidade. Então, nós temos no “pós-morte” a continuidade dessa, assim conhecida, “vida”. Será que isso tem realidade? Ou essa realidade ainda está dentro do conhecido?

É isso que temos dito aqui para você. Estamos investigando esse assunto aqui com você. Nós estamos aqui interessados na compreensão do que representa o fim do conhecido, portanto, o fim do ego, dessa, assim chamada, “continuidade”, que é a continuidade de vida do “eu”, do ego. Então, o que ocorre com o ser humano é que ele não está interessado em investigar a natureza da Verdade da vida, o que significa a Realidade de uma vida livre do conhecido. Ele se mantém dentro desse modelo do conhecido nessa, assim chamada, “vida”, e projetando esse conhecido para essa, assim chamada, “morte”. Então, nós temos essa, assim conhecida, “vida” no presente e essa projeção desta vida em sua continuidade no futuro, nessa chamada “morte”.

A pergunta aqui é: será que podemos descobrir a Verdade da vida livre dessa continuidade do “eu”, do ego, com seus medos, desejos, apegos, bens materiais, relacionamentos com pessoas? Podemos descobrir a Verdade do fim dessa continuidade da memória? Eu me refiro a essa memória psicológica, isso aqui em nós que sustenta essa entidade, que é “eu”, o ego, que mantém essa continuidade do “eu”, do ego. Esse ego vive no medo, e o medo dele é perder o que ele conhece. Então, é muito interessante tudo isso.

A questão do medo da morte, que tem criado essas projeções da continuidade, é uma projeção do ego. É a busca desse ego dentro dessa continuidade em se encontrar no futuro com tudo o que ele já conhece, seus entes queridos, uma vida melhor. Essa “vida melhor” está dentro da continuidade daquilo que já se conhece. Tudo o que se pode descrever no “pós-morte” está dentro do conhecido, então se trata de uma continuidade do ego, se trata de uma continuidade de uma vida ainda presa à condição do passado, do tempo.

Haverá uma Real Vida fora da continuidade do “eu”, fora da continuidade desse tempo psicológico, dessa busca de segurança psicológica em projetos do futuro do “pós-morte”, em ideais, em crenças? O trabalho do Despertar da Consciência, da Revelação do seu Ser é o contato com a vida, com a morte. Mas morte é vida, vida é morte, não há qualquer transição, não há qualquer mudança, porque não estamos tratando aqui, agora, de algo que está dentro do tempo.

A Realidade deste Ser que somos não nasceu, não está vivendo no tempo e não irá morrer. A ciência do Despertar da Verdade, do Despertar da Consciência, da Verdadeira Iluminação Espiritual é o fim da continuidade do “eu”, do ego, portanto, é o fim da continuidade dessa, assim chamada, “vida” e dessa, assim chamada, “morte”.

A pergunta aqui é: podemos entrar em contato com a beleza da morte agora, aqui? A morte como o fim da continuidade de tudo aquilo que conhecemos. Morrer nesse instante para nossos desejos, medos, apegos, experiência com objetos, com pessoas, nossas fixações nos relacionamentos de prazer e de dor, relacionamento com objetos, numa relação também com lugares, num relacionamento também com pessoas.

O fim da ilusão da pessoa, do “eu”, do ego aqui é o fim da pessoa desse “eu”, desse ego aí. Então, estamos diante de Algo desconhecido. Esse Desconhecido é a Verdade da morte. Então, a Realidade do Desconhecido, a Realidade da morte pode ser compreendida agora, aqui, quando não há mais essa continuidade para esse conhecido, que é o “eu”, o ego.

Esse é o nosso assunto aqui com você. Estamos investigando a Natureza da Verdade desse Ser que está fora dessa conhecida vida e dessa projetada, idealizada morte ou “pós-morte”. A Verdade Divina, a Verdade que somos, a Verdade de uma vida livre do ego é a Verdade dessa morte do tempo psicológico, desse tempo que sustenta essa continuidade. Compreendam isso aqui. Toda essa continuidade do ego está nesse movimento desse tempo psicológico, uma idealização do pensamento, algo assentado na memória.

Repare que tudo aquilo que você conhece está dentro da memória. Tudo isso faz parte dessa consciência, que é a consciência do “eu”. Não há qualquer consciência sem memória. Você não pode ter consciência daquilo que é desconhecido. A referência da consciência é a relação da ciência do conhecido. Você tem ciência do que conhece. Você pode imaginar o desconhecido; essa imaginação do desconhecido é o conhecido ainda sendo projetado, então, não se trata do desconhecido, mas de uma ideia ainda, de um pensamento, de uma projeção do próprio pensamento. Reparem como é fascinante a compreensão clara disso aqui.

Nossa esperança é algo dentro do conhecido, é parte daquilo que o pensamento constrói. Se aqui estamos tratando da Realidade Divina, da Realidade de Deus, da Real Vida, não podemos estar sinalizando Ela ou marcando Ela com as marcas do conhecido. A Real Vida não tem o sinete ou selo do conhecido. O convite para a Realização do seu Ser é para a Verdadeira Vida. A Verdadeira Vida está presente quando o “eu” não está, quando o conhecido desaparece, quando existe a morte para tudo isso.

Assim, a coisa mais importante na vida é descobrir a beleza de morrer psicologicamente. A grande beleza na vida consiste em morrer a cada instante para o passado, para o tempo psicológico, para o movimento da mente, para esse movimento que é a ação da continuidade. Nossas ações egocêntricas se processam nesse movimento da continuidade do “eu”. Apenas quando o ego em seu movimento dentro do conhecido não está mais presente é que essa Real Vida Divina, essa Verdadeira Vida Real se revela, então, não há nenhuma separação aqui, nesse instante entre esse contato com a Realidade do fim do “eu”, do ego, dessa continuidade e a própria Vida.

Esse encontro com a Realidade de Deus é o encontro com a Realidade que está além do conhecido. Então, as expressões “vida” e “morte” desaparecem. A noção desse “estar vivo” ou desse “estar morto” não está mais presente para aquilo que aqui é Real e que está além de tudo aquilo que é conhecido, e de tudo aquilo que o pensamento também projeta, ainda, para o desconhecido, o que ainda é parte do movimento dele, o que ainda é parte do movimento do conhecido.

Há uma Realidade Divina presente quando o seu Ser, que é a Verdade de Deus, se revela, e isso é o fim para todo o conhecido. Então, esse é o fim para a morte, assim como é o fim para essa conhecida vida, assentada, psicologicamente, no pensamento, na memória. Percebam a beleza do que estamos colocando aqui para você. A Verdade do Samadhi é a Verdade dessa Realidade Divina. Os Sábios na Índia têm uma expressão para essa Realidade fora do conhecido, fora daquilo que o pensamento projeta como vida e morte, é Você em seu Estado Divino, em seu Estado Natural, que é o Estado de Turiya.

O Estado de Turiya é o Natural Estado de Ser Pura Consciência, além de vigília, sonho e sono profundo, além de nascimento e morte. O seu Natural Estado de Ser é o verdadeiro Estado de Pura Consciência, de Pura Presença. Então, isso é o fim para o conhecido, isso é o fim para todo esse movimento do ego, do “eu”. Não é a inabilidade de lidar com o sonho. Neste sonho, tudo ainda continua presente: relacionamento, família, casa, móveis, imóveis, mas não há mais essa ilusão de uma identidade presente, que é o “eu”, o ego tendo essa continuidade.

Dezembro de 2023
Gravatá – PE, Brasil