Nós temos um propósito aqui neste trabalho. O propósito é termos juntos uma aproximação da Verdade sobre a Revelação Divina, sobre a Revelação de Deus. Portanto, se trata de como encontrar Deus. Agora percebam: é aqui que nós precisamos ter um novo modo de nos aproximarmos de um assunto como esse, porque estamos diante de um assunto que não é tão simples.
A nossa mente tem ideias sobre Deus, sobre a Verdade de Deus. Nós fomos condicionados a pensar e a nos movermos no mundo nessa, assim chamada, “procura pela Verdade” ou “procura por Deus” dentro do modelo vigente, dentro do modelo comum. Nesse modelo comum, nosso cérebro, que é parte dessa mente em nós – uma mente por sinal não investigada, não compreendida –, funciona nos dando sugestões e ideias com base em princípios que temos recebido. Então, essa assim “procura”, “busca por Deus” é mais uma dessas coisas. Nós temos Deus como mais uma das coisas que estamos procurando na vida.
Aqui temos como propósito ter uma Revelação da Verdade desse encontro, mas precisamos descobrir que não é pela busca, não é pela procura – como em geral nós fazemos – que isso se torna possível. Então, o ponto aqui é descobrir a verdade não sobre quem é Deus, onde Ele se encontra ou como encontrá-Lo, aqui se trata de descobrir primeiro, antes de qualquer coisa, a Verdade sobre quem nós somos.
Então, aqui esse encontro com a Revelação da Verdade Divina, nesse encontro com a Clareza da Realidade de Deus – alguns chamam o Despertar da Consciência, a Iluminação Espiritual ou a Realização de Deus, e assim há vários nomes para esse encontro –, se torna possível quando primeiro compreendemos a importância do Autoconhecimento, a Verdade da Revelação da compreensão de quem somos. Não podemos ter uma compreensão da vida, uma compreensão do outro, uma compreensão de Deus sem antes compreendermos como nós funcionamos, sem antes termos uma aproximação da verdade como essa mente funciona, como esse cérebro funciona, como nós funcionamos.
As pessoas, em geral, acreditam em Deus; elas fazem estudos dos Livros Sagrados tentando dessa forma ter uma aproximação de Deus. Observe que tudo aquilo que nós estudamos passa a ser parte de um conhecimento que temos, e esse conhecimento é o resultado de um cérebro que carrega essa informação, que tem esse modelo de pensamento, que é o conhecimento daquela área, daquela dada coisa. Uma aproximação da Verdade de Deus não pode caminhar nessa direção.
A grande maioria das pessoas nessa, assim, “busca” ou “procura por Deus” estão caminhando nessa direção, na direção de uma aproximação do conhecimento teórico através de estudos e análise intelectuais. Então, estamos lidando sempre com palavras quando estamos lidando com o intelecto. Nosso intelecto se assenta em palavras. Nosso conhecimento intelectual está assentado em toda essa forma de linguagem que nós conhecemos, o que representa o modelo de pensamento que tem por princípio toda a experiência, todo o conhecimento, toda a memória adquirida.
Assim, o nosso pensamento é a base desse conhecimento que nós temos, mas esse pensamento, como um conhecimento que ele é, não pode estar lidando com algo fora dele. Todo o conhecimento, toda a experiência, todo o pensamento está apenas retratando aquilo que está dentro dele, dentro do princípio que ele conhece ou reconhece. E pensamento é algo limitado, é o resultado da experiência, da memória, da lembrança. Pensamentos são ideias. Quando estamos lidando com uma Realidade fora do pensamento, fazer uso do pensamento é algo completamente inútil. A Realidade Divina, a Realidade de Deus não está dentro do pensamento, é Algo fora do pensamento.
Não há como termos uma aproximação da Realidade sobre quem nós somos sem uma compreensão direta desse modelo, que é o modelo do pensamento, porque nós somos, com base no pensamento, todo o conhecimento, toda a experiência, toda a memória adquirida ao longo de milênios pelo ser humano. E tudo isso faz parte do conhecido, tudo isso faz parte do tempo, tudo isso está dentro dessa limitação.
Como podemos ter uma aproximação da Verdade de Deus pelo conhecimento, se o conhecimento é parte de todo esse tempo, que é memória, lembrança, pensamento? O pensamento é limitado. A memória retrata já o conhecido. Assim, estamos lidando sempre com o passado quando nos referimos a experiências. Então, a experiência é incapaz de nos aproximar da Verdade de Deus. A experiência, como é algo dentro do conhecido, naturalmente é algo que não abre essa porta para essa Realidade de Deus, porque a Realidade de Deus é Algo fora do conhecido, é Algo fora da limitação do pensamento, da memória, do conhecimento e, portanto, da própria experiência.
É importante que nos aproximemos disso com muita clareza. As pessoas dizem: “Eu tive uma experiência com Deus”, “Eu preciso ter uma experiência de Deus”. Percebam, esse que experimenta e esse que guarda a experiência experimentada é o “eu”, é a pessoa. Então, temos que investigar a natureza da pessoa e ver se essa pessoa pode, com sua experiência, vivenciar uma realidade fora dessa limitação do “eu”. E aqui estamos dizendo: isso não pode ser Real. Você não pode ter uma visão Real d’Aquilo que está além do conhecido, que está além do descritível, que está além do pensamento, que está além do experimentador e, portanto, está além do “eu”. Então, é uma grande ilusão da nossa parte acreditar que podemos ter uma experiência.
Um outro aspecto interessante a respeito dessa questão da experiência é que não existe nenhuma experiência agora, aqui, nesse instante. Nós estamos sempre retratando ou relatando experiências passadas. Nesse instante há o experimentar, mas não há essa experiência. E o experimentar, quando se torna parte da memória, aí podemos chamar de experiência.
A Realidade de Deus não pode ser uma experiência, porque não pode fazer parte da memória, não pode fazer parte do passado, não é algo que está dentro do tempo e, portanto, algo dentro do conhecido. É por isso que não pode fazer parte disso. Então, toda a experiência que você pode ter é sempre uma experiência no tempo, e é sempre uma experiência porque ela pode ser registrada pelo experimentador. Assim sendo, qual é a natureza desse que experimenta, que é o “eu”, a pessoa, esse “mim”? Qual é a verdade sobre esse “mim”?
Assim, nós temos que nos aproximar primeiro de uma compreensão da verdade sobre esse “eu”, sobre esse “mim”, sobre essa pessoa, então se torna possível irmos além da experiência, porque não tem mais esse elemento que é o “eu”, o “mim”, a “pessoa”, o experimentador, aquele em nós que registra a experiência. O fim para esse que registra a experiência é o fim dessa experiência, então, é possível, sim, uma Revelação de Deus. Mas essa Revelação de Deus está no experimentar.
A única Realidade presente é a Realidade de Deus, mas esse experimentador não pode estar presente registrando uma experiência e tornando isso uma crença, uma memória, uma imagem, uma lembrança. Tudo o que podemos fazer dentro de uma experiência, e depois guardar isso como uma imagem, uma lembrança, uma crença é ainda parte desse “eu”, desse conhecido, desse modelo de pensamento. Tudo isso ainda é parte desse ego, dessa pessoa, desse “mim”, desse “eu”, desse experimentador.
Nós precisamos, sim, de uma Revelação da Verdade de Deus, mas o “eu” não pode realizar isso pelo conhecimento, pela experiência, pelo seu modelo de prática para perceber Algo fora dele mesmo. Compreendam isso, o quanto é delicado a Verdade da Revelação de Deus. A Revelação de Deus é a Vida Divina, é a Vida de Deus na ausência do “eu”, do experimentador, desse buscador, desse conhecedor.
Assim, precisamos da compreensão da Verdade sobre quem somos. Essa é a importância do Autoconhecimento. Sem o Autoconhecimento se torna impossível a compreensão desse elemento que é o “eu”, o experimentador, aquele que vive cultivando lembranças, memórias e experiências. Sem o descarte dessa ilusória identidade, essa Realidade Divina não se mostra, não se apresenta, não se revela.
Nós precisamos olhar para aquilo que somos e, assim, tomar ciência dessa limitação, que é a limitação desse buscador, desse experimentador, desse conhecedor, desse que estuda intelectualmente e tem experiências a nível de sentimentos e emoções. Reparem: tudo isso ainda está dentro do conhecido. A experiência, o sentimento, a emoção, a sensação, essa, assim chamada, “intuição”, tudo isso faz parte do tempo, tudo isso ainda faz parte do conhecido, portanto, ainda é parte do conhecimento, algo presente nesse “eu”, nesse experimentador.
O fim para esse modelo de memória é o fim para a ilusão dessa egoidentidade, então temos a Revelação d’Aquilo que está fora do “eu”. Assim, a Verdade do Autoconhecimento lhe mostra a beleza do fim desse experimentador e, portanto, o fim dessa experiência. Isso é o fim do tempo. Notem, o tempo é essa memória, é esse passado, é esse acúmulo de conhecimento adquirido e de experiências que o ego, o “eu” cultiva. O fim para tudo isso é o surgimento de Algo inteiramente Desconhecido, Novo, Real que está fora do tempo, que está fora do desconhecido, que está fora do experimentador.
O contato com a Verdade da Meditação revela Aquilo que está fora do conhecido e, portanto, fora dessa limitação desse “eu”. Assim, a Verdade da compreensão desse falso “eu”, dessa ilusória identidade é o que aqui nós chamamos de Autoconhecimento. Então, o Autoconhecimento é o descarte desse ego, desse “eu”, e é o surgimento dessa Realidade, dessa Verdade do experimentar.
O que estamos dizendo é que a Realidade de Deus se revela na Autorrealização, e essa Autorrealização é uma vida nesse instante, no experimentar, momento a momento. Toda a experiência termina nesse experimentar. Então, isso é uma vida inteiramente nova, requer um cérebro novo, uma mente nova, um novo sentir, um novo agir, uma nova visão, sempre uma nova e clara visão do que a vida é, do que o outro é. Essa é a Revelação do seu Ser, de sua Realidade Divina, que é a Realidade de Deus.
Aqui o que estamos sinalizando para você é que há, sim, essa possibilidade do fim dessa busca. A Realização Divina, a Realização do seu Ser é a Realização de Deus, e isso é o fim dessa busca, é o fim dessa procura, é o fim desse envolvimento com estudos e com uma busca constante de novas experiências, assim chamadas, “espirituais” para esse encontro. Então, a Felicidade de Ser, a Beleza do Amor, a Graça de uma Nova Vida onde não há mais esse elemento, que é o “eu”, chamando de “minha vida” essa sua particular experiência.