A pergunta é: quando teremos realmente uma ação Real, uma ação Verdadeira, uma ação que seja, de fato, Inteligente, Sábia, que não esteja mais produzindo sofrimento nem para nós, nem para o outro? Será possível uma qualidade de ação assim?
Notem que nós temos ações das quais nós nos arrependemos. Nós tomamos resoluções na vida e elas nos levam a ações que produzem frustrações, que produzem sofrimento, que produzem conflito e problemas não só para nós, como para o outro. E a gente quer sempre acertar.
Quando, por exemplo, a pessoa pergunta: “Como fazer a coisa certa?” “Como agir sob pressão?” “Como acertar?” “Como agir corretamente?” São perguntas que nós fazemos porque temos a intenção de agir com Inteligência. O ponto é que não há Inteligência. Não sabemos o que é a ação, não sabemos o que é a Inteligência. No entanto, na vida nós somos solicitados a todo o momento para atender à vida na ação. Tudo é ação, elas acontecem, elas ocorrem.
Ler aqui é uma ação. O movimento da manhã até a noite: levantar-se da cama, tomar o café, ir para o trabalho, tudo isso é ação. Então, nós temos ações físicas, ações intelectuais. As emoções se movem, e o movimento de uma emoção é ação. Onde há movimento, o que temos presente são ações. A vida nos traz o desafio e espera que esse desafio seja atendido com uma ação. Então, a todo o momento estamos sendo solicitados para a ação. A questão é que não sabemos atender a essas ações, porque nossas ações nascem do passado. Sim, nascem do passado.
Todas as experiências pelas quais passamos estão agora registradas em nós. Esse experimentador é que atua, é que opera, é que faz, é que realiza a ação quando a vida solicita, e essa ação, como ela nasce do experimentador, nasce do passado. O problema é que atender à vida nesse momento requer uma ação adequada, e esse passado é a tentativa de um mero ajustamento a este instante, a este momento, a este desafio.
Reparem porque nossas ações são ações conflituosas, problemáticas e que produzem sofrimento, não só para nós, como para o outro, para o mundo à nossa volta. Porque são ações que esse experimentador traz, que ele tem, que é um mero ajustamento a esse instante. Uma ação que nasce do pensamento não atende a esse momento, porque é uma ação que nasce do passado. Apenas em um nível, que é o nível prático, técnico e funcional a ação, que tem por princípio o conhecimento, o pensamento e a experiência, é a ação simples, é a ação natural, que não produz problemas.
Trabalhar em uma profissão requer pensamento, conhecimento, experiência, então você faz uso disso operando, realizando, fazendo. Nesse nível, a ação é simples, é natural. O problema surge quando, psicologicamente, o sentido do “eu”, da “pessoa” está presente agora, neste instante. Então, nossa atuação, nossa operosidade com base no “eu’, no ego é a ação que causa problemas. Eu tenho chamado essa ação de atividade egoica, atividade egocêntrica.
Não conhecemos uma ação livre do ego. Para que uma ação dessas se torne possível, precisamos compreender como nós mesmos funcionamos. Estudar a si mesmo é Autoconhecimento. Estudar esse movimento do “eu”, do experimentador, desse pensador em nós é Autoconhecimento. Quando há essa Verdade do Autoconhecimento, se torna possível uma ação livre do ego. É nisso que estamos interessados aqui.
Uma ação dessa qualidade é possível quando há essa Realização do seu Ser, quando Algo além do “eu” está presente, além do ego, além desse movimento, que é o movimento egocêntrico. Então, essa ação egoica, essa ação desse centro que eu tenho chamado de ilusório, de falso centro não está mais presente. Assim, quando temos uma aproximação da Verdade sobre quem somos, esse elemento “eu”, o experimentador, o pensador é compreendido. Se ele é compreendido, esse sentido de separação que esse “eu” produz desaparece. Essa separação é o princípio da desordem, da confusão.
Então, estamos aqui trabalhando com você o fim passa esse “eu”, para o ego, a Verdade da Revelação de sua Natureza Essencial, de sua Natureza Divina. Estamos tratando com você da questão da ação. Então, o que é a ação? A ação é aquilo que aqui acontece, que nesse momento se expressa quando o “eu”, o ego não está. Nós temos alguns breves momentos de ações assim.
Diante de um pôr do sol é um momento de ação. Nesse olhar, entre os olhos e o pôr-do-sol, a separação desaparece; o sentido de “alguém” para obter, para ganhar, para se livrar, para realizar alguma coisa nesse instante não está mais presente. Então, nós aqui temos um exemplo de uma ação livre do “eu”, do ego. Nesse olhar há só o observar, há essa Presença do puro observar, da pura observação. Isso é ação, mas não há “alguém” nesta ação, não tem “alguém” vendo o pôr do sol. Há só o olhar, o observar, sem o observador. Essa pura observação é a ação livre do “eu”, do ego.
Ao olhar para o rosto de uma criança, ela sorri e há uma resposta de sorriso, então há um desafio que está sendo atendido. Não há qualquer interesse, medo, desejo, busca de alguma coisa nesse sorriso, é só uma ação, um acontecimento. Nós temos momentos assim em nossas vidas, onde uma ação natural, espontânea, livre acontece e esse centro, que é o “eu”, o ego não está envolvido. Será possível uma vida onde possamos atender a esse momento desta forma? Sem colocarmos nunca esse elemento, que é o elemento “eu”, o ego, o pensador, o experimentador, esse que é o observador, sem colocarmos o sentido de uma identidade presente dentro da experiência? Então estamos diante de um experimentar livre do ego. Essa é a ação da Inteligência, é a ação dessa Presença, desse Ser, dessa Realidade Inominável, Desconhecida.
Toda a nossa vida no ego é a particular vida desse “mim” nesse autocentramento, nesse egotismo, nesse egoísmo. Assim, todas as nossas atividades são para obter coisas, para realizar coisas, para fazer coisas. Há sempre por detrás disso uma motivação, uma intenção, um objetivo, um alvo, um propósito. Tudo isso nasce desse modelo, que é o modelo do pensamento com suas intenções, predileções, conceitos, escolhas, determinações. Essa é a qualidade de ação que, em geral, nós conhecemos.
Então, há esse pensamento – a ideia –, a intenção e a ação. Esses três elementos sempre estão presentes na atividade egocêntrica. A Realização de Deus, a Realização deste Ser, desta Verdade – alguns chamam isso de o Despertar da Consciência, o Despertar Espiritual –, a Realização d’Isso é a resposta para uma das fundamentais questões da vida, que é essa questão da ação, da ação sem conflito, sem sofrimento, sem confusão. O fluir desse momento sem o sentido de um “eu”, de um ego, de uma “pessoa” presente é um fluir onde a Inteligência, a Sabedoria, a Verdade, a Realidade Divina estão presentes.
Nós vivemos, psicologicamente, num estado de insanidade, de confusão, de desordem. Desordem emocional, desordem sentimental, desordem de pensamentos, e é natural que nossas ações acompanhem isso. Vivemos psicologicamente em desordem, emocionalmente em desordem, e é natural que fisicamente estejamos em desordem. Nossa relação com objetos, nossa relação com lugares, com as próprias ideias, com as pessoas à nossa volta, com familiares, colegas de trabalho, nossa relação com o mundo à nossa volta é conflituosa, é problemática porque nossas ações estão centradas no “eu”. São meras atividades egocêntricas.
A presença da Verdadeira Inteligência, da Real Inteligência é a visão da Sabedoria, é a visão da Compreensão. A beleza disso é que não há nenhum intervalo entre essa visão da Sabedoria, da Inteligência e a ação acontecendo. Diferente da ação onde nós temos o pensamento, a intenção e o autor da ação, como na atividade egocêntrica, nessa atividade do “eu”, que é a atividade mais comum que nós conhecemos. A diferença desta atividade para a ação Real, Verdadeira é que não há qualquer espaço entre a Compreensão, a Inteligência, a Sabedoria e a ação. Não há qualquer espaço porque não existe nenhuma dualidade, não existe esse “eu e a outra coisa”, “eu e a ação”. Nessa relação com o outro, com a vida, com o mundo, não há mais esse “eu e a outra coisa”.
Reparem o que estamos sinalizando aqui para você. Quando há essa Verdade da Compreensão deste Ser, há essa Verdade da ação livre do ego. Isso é Algo possível, isso é Algo que está disponível para cada um de nós quando esse sentido desse “mim”, desse “eu” não está mais presente se movendo nesse mundo de relações com objetos, com pessoas, com lugares, com situações. Ter uma visão de si mesmo é descartar esse sentido do “eu”. A Verdade da aproximação da Meditação, da Real Meditação de uma forma vivencial torna isso possível.
Nossos encontros têm como propósito investigar isso com você. Não se trata de simplesmente acompanhar intelectualmente esses textos, mas de trabalhar isso. Descobrir essa arte de olhar para si mesmo, vendo esse sentido de um “eu” por detrás desse pensamento, desse sentimento, dessa percepção, desse movimento, dessa intenção de ação. Tomar ciência desse “eu”, desse elemento que separa, que divide, que coloca a experiência separada desse experimentador, e que atende a esse instante com base nesse experimentador, nesse que vem do passado.
Percebam como é fascinante a compreensão disso. Esse momento é um momento de puro experimentar, não requer a presença do experimentador e, no entanto, colocamos esse elemento que se separa desse puro experimentar, desse instante que é novo, único, singular, colocamos esse elemento que vem do passado, que é o “eu”, o ego, o pensador, o experimentador. Quando isso ocorre, temos essa separação e há esse intervalo. É por isso que surge o pensamento, a intenção e a ação. Isso é conflito. Então, jamais a ação aqui, neste instante, é atendida de uma forma completa, única. Fica sempre essa incompletude.
Essa limitação é a raiz do conflito, é a raiz da contradição, é a raiz do problema dentro da ação, então a ação nunca se completa, porque o elemento “eu”, o ego está presente. Esse elemento experimentador absorve esse instante, então, aquilo que é aqui, agora, novo, único, esse novo é absorvido por esse velho, que é o experimentador, o passado.
Então, atender a esse instante de uma forma Real, Verdadeira, Completa é algo que se torna possível quando o “eu” não está, então, há um experimentar Direto, Real. Então é a Vida. A Vida é essa ação. Esse sentimento de separação não está mais presente. Uma vida assim é uma vida em Amor, em Compaixão, dentro dessa visão da Realidade, que é a Realidade de Deus. Alguns chamam isso o Despertar Espiritual. É o Despertar desse Ser, dessa Verdade que trazemos. Outros chamam isso de Iluminação Espiritual. O ponto é que Aquilo que é Você em seu Ser é essa ação sem qualquer separação. Tomar ciência dessa Realidade Divina, que é a Realidade aqui e agora, desse experimentar livre do experimentador, que é o “eu”, o ego, isso é o fim da confusão, é o fim da desordem, é o fim do sofrimento.