É muito importante nós termos uma aproximação da vida dentro da compreensão do que ela representa. Notem que a vida acontece como um evento ou uma ação a todo momento. A todo instante nós nos deparamos com a vida, e a vida é ação. Então, tudo o que vemos, tudo o que percebemos, tudo o que sentimos, toda a nossa vivência de vida representa ações acontecendo, acontecimentos surgindo.
A vida é ação. Agora mesmo, ler esse texto aqui é uma ação. A vida consiste em um movimento de ações. Não há como escaparmos de estarmos dentro dessa ação, que é a ação da vida. Eu tenho dado esse exemplo aqui: quando você acorda pela manhã, se levanta da cama, esta é uma ação; mas enquanto você estava deitado na cama, o corpo se movia também, isto é ação. Enquanto dormia, teve um momento em sono profundo, mas teve momentos de sonho; neste sonho, a ação estava acontecendo. Então, a vida é ação.
Nós queremos descobrir na vida o que é a ação em Felicidade, a ação em Liberdade, a ação na completude de Ser, e é isto que estamos trabalhando aqui, sinalizando para você, tornando isso claro para você: a possibilidade de uma ação desse teor, dessa qualidade, que carrega essa vitalidade, a vitalidade do Amor, da Compaixão, da Felicidade, da Paz.
Precisamos descobrir a Vida, a vida em Paz. Isso requer a ação Real, a verdadeira ação da própria Vida acontecendo. Isso requer uma qualidade de ação que nós desconhecemos, porque as nossas ações nesse centro, que é o “eu”, o ego, são ações conflituosas. Então, nossas ações são discordantes, elas são desarmoniosas, elas são contraditórias, elas são violentas, elas são ações que produzem sofrimento para nós e para o outro. E nós queremos, em meio a tudo isso, descobrir o que é uma vida amorosa, feliz, pacífica, verdadeira.
A questão toda aqui, o problema que surge é que nós não temos ciência de como nós funcionamos. Por não termos ciência disso, não percebemos que a vida tem um movimento dela. E nós estamos, nesse ego, nessa pessoa que acreditamos ser, em conflito com o próprio movimento da vida.
Haverá a possibilidade de uma ação de outra ordem? Uma ação que nasce de uma dimensão inteiramente desconhecida para essa mente condicionada, programada, na ambição, na inveja, no medo, na violência, na contradição, no conflito? Haverá uma outra ordem de ação que esteja livre dessa mente, que é a mente conhecida de todos nós, que é a mente da pessoa, que esteja livre dessa mente egoica, desse condicionamento psicológico, desse movimento contraditório?
Observe como somos contraditórios em nosso movimento, em nossa ação. Pensar é uma ação. Observe seus pensamentos e irá perceber: eles estão inquietos, eles são tagarelas, eles estão discutindo dentro da sua cabeça. Um pensamento diz “sim”, um outro diz “não”, e tem um outro que diz “pode ser” ou “talvez”.
Então, perceba a contradição psicológica dentro de nós, o peso que representa o passado, a memória, a lembrança, o peso da autoacusação, do arrependimento, da culpa. Tudo isso são estados internos dentro de cada um de nós, e isso é um movimento de ação psicológica, uma ação que ocorre nesse tempo, que é o próprio tempo criado pelo pensamento, que aqui eu tenho chamado de tempo psicológico.
Nesse movimento, o “eu”, o ego está se movimentando entre passado, presente e futuro. Então estamos dentro dessa ilusão de uma vida assentada num pensamento de modelo de tempo que só existe nessa construção ideológica. Qual é a verdade desse “eu”, desse ego? Qual é a verdade sobre você? Perceba o que o pensamento está produzindo: essa contradição interna. Então temos uma ação externa em contradição, porque fazemos coisas que depois nós mesmos reprovamos aquilo e sentimos culpa por termos feito aquilo. Então, há o impulso para o fazer, há o fazer e depois a culpa de ter feito, ou há o impulso para fazer e o medo de errar. E a pergunta é: como agir? Como agir com calma? Como agir sob pressão? Como agir corretamente? Como fazer a coisa certa?
Então, há uma contradição na ação, há uma contradição psicológica, a contradição do pensamento – que também é ação psicológica –, a contradição no sentir. Eu digo “eu te amo” porque sinto que te amo, porque você me faz feliz, porque você me preenche, porque você me satisfaz nesse dado momento. Mas, no momento seguinte, eu não estou sentindo “eu te amo”, eu estou sentindo raiva de você, quero me afastar de você porque você não preenche minhas expectativas, meus interesses, meus desejos, está me negando este ou aquele prazer físico, emocional, sentimental, sexual ou de alguma ordem. Então, há uma contradição na ação, nessa ação do sentimento, nessa ação do pensamento, nessa ação física.
Nós não sabemos o que é agir, porque a nossa ação é a ação do “eu”, do ego. A vida é ação, mas não há na vida esse elemento que é o “eu”, o ego, então não há conflito, não há contradição, não há sofrimento. A Vida como ela é se expressa da forma como ela se move. A sua visão particular do que acontece na existência é a visão particular do “eu”, do ego. Você está sempre vendo coisas certas e erradas em razão de estados internos de autointeresse. Nesse ego, que existe esse “gostar” e “não gostar”, o autointeresse está presente, e a interpretação, o juízo, o julgamento, as avaliações, tudo isso está presente.
Então, é possível uma vida livre desse ego e, portanto, uma vida nessa ação, que é a ação da própria vida? Quando é que surge esse ego? Vamos investigar isso. Esse ego surge quando a intenção, a vontade, o desejo surgem. Então vem uma ideia – a vontade, o desejo, a intenção –, e para colocar essa ideia em ação temos a presença desse sentido do “eu”, que é o ego, o agente. Então, repare como é simples isso. A presença do autor da ação, do agente, do “eu”, do ego na ação, seja ela física, seja ela mental, sentimental, emocional, isso requer a presença do desejo ou da vontade, da intenção, do plano, que é o próprio pensamento por detrás dessa ideação, e depois vem a ação. Então, é assim que temos nos movido, que estamos nos movendo na ação, na vida
Então, existe a vida como ela é colocando diante de cada um de nós desafios, porque a todo o momento está sendo solicitado essa ação, que é a própria ação da vida, e nós estamos correspondendo a essa ação com base nesse desejo, plano, que é ideia, e ação. Estamos sempre respondendo ao desafio da vida a partir do “eu”, desse agente, desse ego. Haverá uma ação – essa é a pergunta que estamos insistindo aqui – livre do ego e, portanto, livre do agente, e que esteja livre dessa vontade, desse desejo, desse plano, que é pensamento, ideia? Haverá uma ação livre do ”eu”?
Quando nos aproximamos da Verdade do Autoconhecimento, temos no Autoconhecimento essa ação livre do ego. A única ação Real na vida não é a ação particular da vida do “eu”, que é a ação desse agente, que é a ação desse ego, é a ação da Inteligência. Essa ação nasce da Realidade além da mente, além desse “eu”, dessa pessoa, desse centro, desse ilusório centro com o seu movimento tão costumeiro, egocêntrico. Tão costumeiro de atividade egoica, tão costumeiro para produzir conflito, para produzir sofrimento, dentro desse movimento de contradição.
Aqui nossa ênfase está no Despertar da Real Consciência, no verdadeiro Despertar Espiritual. Quando há esse Despertar Espiritual, temos a presença de uma ação que é Inteligência. Não há intervalo entre essa ação e esse Ser, que é Você em seu Ser. Não há essa presença do “eu”, do ego, do agente. Então, estamos tocando aqui em uma ação livre do tempo, desse tempo criado pelo pensamento, desse tempo psicológico criado pela ideia. Então, não há mais esse elemento que vem do passado.
Percebam como é interessante isso: nossas ações nascem de um plano; esse plano é a ideia, e essa ideia está presente porque o passado está presente, então existe essa vontade, esse desejo, existe a presença desse tempo psicológico, que é a ideia. Isso é a intenção que vem do passado em razão desse ego experimentador, desse ego que tem projetos e que se coloca para agir. Então, a nossa ação no ego, essa ação no ego é sempre a ação que vem do passado.
Aqui estamos trabalhando com você a ação livre do ego e, portanto, livre do passado, livre desse senso do “eu”, então há uma nova maneira de agir, há uma nova forma de ação. Não é mais a ação do ego, é a ação dessa Inteligência, dessa Presença, dessa Realidade Divina que é a Realidade de Deus.
Então, quando aqui falamos do Despertar Espiritual, da Realização de Deus, da Iluminação Espiritual, estamos falando da expressão desse Ser que somos, nessa ação que é Inteligência, a ação da Compaixão, a ação do Amor, a ação da Harmonia, a ação da Liberdade. Quando esta ação está presente, o que quer que esteja surgindo, aparecendo, acontecendo, tudo isso está dentro dessa Divina Verdade da ação de Deus, tudo isso está dentro desta Realidade Divina.
Assim, o nosso trabalho aqui consiste em nos aproximarmos desse estudo de nós mesmos, assumirmos essa Verdade da Real ação livre desse senso do ego, portanto, livre do passado. Então, Algo surge de uma forma muito natural, de uma forma muito espontânea: a própria ação da Vida. É a ação sem o sentido de “alguém” presente.
Nós aqui estamos colocando para você Algo que está fora do conhecido, está fora do movimento do pensamento e, portanto, Algo fora das ideias, das crenças, de toda a imaginação possível para o pensamento. Algo possível para esta Vida, que é a Vida de Deus, que é a Vida do seu Ser.
Nosso encontro aqui tem por propósito realizarmos, nesta vida, a Verdade que somos, para vivermos essa Felicidade, que é a natureza de Deus, que é a natureza de cada um de nós. A única Realidade presente é a Realidade Divina. Enquanto isso não for assumido, todo tipo de desordem, confusão e sofrimento continuará presente nessa particular vida do ego, nessa particular vida pessoal.