Existe algo aqui que nós precisamos compreender. Por mais que nós estejamos tentando organizar as nossas vidas do ponto de vista externo, para que haja equilíbrio, para que haja paz, para que haja liberdade em nossas relações, algum nível de segurança e estabilidade, um perfeito nível de harmonia, por mais que estejamos tentando isso, é preciso compreendermos aqui algumas coisas. Toda essa atividade interna sempre irá – aqui eu me refiro a essa atividade dentro de cada um de nós –, infalivelmente, sobrepujar essa condição externa.
A verdade sobre a nossa vida nesse contexto do viver, nesse contexto da existência, é que, por mais felizes que aparentamos ser externamente, por maior segurança, estabilidade e tranquilidade que transparecemos ter, a verdade sobre isso é que dentro de cada um de nós, sabemos que o que determina nossa real vida, nossa real qualidade de vida é, ainda, aquilo que se passa dentro de cada um de nós.
Enquanto não houver uma compreensão da verdade dessas atividades internas dentro de nós, por mais que criemos regulamentos ou padrões de comportamento ou tentativa de ajustamento a um modelo externo de vida, para esse encontro com a Felicidade, para esse encontro com a Liberdade, para esse encontro com o Amor, isso não será possível. E isso não é possível simplesmente porque nós não compreendemos algo aqui muito básico, que é a verdade dessa consciência, da consciência presente em nós, dessa mente que está dentro desse contexto de consciência presente em cada um de nós.
Qual é a verdade sobre essa consciência? O que é essa consciência humana? Nós não sabemos. Como a mente funciona? Nós não sabemos. O que é a mente? Nós não temos ideia do que, na verdade, isso é. Podemos encontrar nos livros as descrições, como podemos ter no dicionário uma descrição, mas tudo que temos ali são palavras. Não temos tido um contato com a verdade da própria mente aqui, dessa consciência humana aqui. Nós não precisamos encontrar nos livros, nós somos essa consciência humana e nós trazemos essa mente humana como parte dessa consciência que somos, que expressamos. Então, tudo que nós precisamos já está presente nesse instante.
A possibilidade de estudarmos a nós mesmos é algo que está aqui presente, e é apenas quando nós estudamos a nós mesmos que nos tornamos cientes desse movimento interno, dessa atividade interna que, infalivelmente, sempre irá sobrepujar toda a ordem externa que temos intenção de realizar em nossas vidas.
As pessoas mais bem sucedidas no mundo podem ter uma vida externamente muito bem ordenada, muito bem organizada, com bastante ordem, mas a verdade é que internamente a vida delas consiste, ainda, numa desordem, porque a totalidade da vida consiste naquilo que somos aqui, nesse instante, dentro de nós mesmos e não apenas aquilo que externamente está à nossa volta.
A Verdade do seu Ser é a verdade da totalidade da sua vida. Se carregamos, ainda, o peso da inveja, do ciúme, do medo, da preocupação, da insegurança, da inquietude, da ausência da paz, da ausência do amor, da ausência da liberdade, não importa como nossa vida externa já esteja ordenada, essa interna desordem presente irá sempre sobrepujar essa externa ordem aparente.
Aqui estamos lhe mostrando que é possível uma vida livre, uma vida Real, uma vida verdadeiramente sábia. Essa é uma pergunta que, também, as pessoas fazem: “Como ser Sábio?” São muito poucos os que fazem essa pergunta, mas ela também acontece. Há, sim, uma necessidade em nossas vidas da presença da Sabedoria, e a presença da Sabedoria é a Verdade da Inteligência Real em ação.
Deixa eu tocar um pouquinho aqui com você nessa questão dessa consciência humana e dessa Real Inteligência. Aquilo que nós chamamos de “consciência” – o seu modo de pensar, o seu modo de sentir, o seu modo de se comportar no mundo – nasce desse fundo, nasce dessa condição interna. É nessa atividade interna, psicológica, que está a base do seu comportamento externo na vida, e essas atividades internas são o resultado daquilo que você aprendeu, são o resultado daquilo pelo qual você passou. Desde a infância você vem obtendo uma formação psicológica, não só desse próprio tempo, desse corpo, dessa mente, desse mecanismo vivo, desse mecanismo biológico e psicológico que você chama de corpo e mente, mas também como o resultado de uma cultura onde você foi educado.
Nós somos, como consciência humana, o resultado da civilização humana, da cultura humana. Então, essa consciência presente aqui, em geral, nós chamamos de “minha consciência”. A verdade sobre a consciência, sobre essa consciência humana, é que não existe essa, assim chamada, “consciência individual”. Qual é a verdade sobre essa individualidade da consciência? A verdade é que não existe essa consciência individual.
Essa consciência em nós é a consciência humana. Tudo aquilo que está presente em você – nesse pensar, nesse sentir e nesse agir – está presente em todo ser humano. Todo impulso, todo sentimento, toda emoção, todo senso de percepção de realidade, de existência, de vida é algo presente nesse fundo, nesse programa, nesse modelo. Isso é o resultado da cultura, da civilização, da história do ser humano. Então, a nossa consciência é a consciência da humanidade.
A inveja presente em você está presente em todos, o ciúme está presente em todos, o medo está presente em todos, a ambição, a ganância, toda forma de preocupação que ocorre com você, ocorre com todos. Os objetos podem mudar, mas a preocupação é uma só em todo ser humano, o medo é um só. Os objetos podem mudar, mas o ciúme é um só, a inveja é uma coisa única, todos nós compartilhamos, nessa consciência humana, dessa mesma condição.
Internamente, psicologicamente, nossas atividades internas irão sempre sobrepujar qualquer ordem, qualquer forma de equilíbrio, de disciplina, de ideia, de planejamento que tenhamos para externamente ordenar nossas vidas. Então, a ideia dessa consciência individual é uma ilusão. Aqui estamos lidando com a consciência do ser humano. Estudar a si mesmo é estudar a humanidade, é estudar o próprio homem, é estudar a própria criatura humana.
Esse “estudar a si mesmo” é aquilo que lhe abre a porta para o Despertar do seu Ser, da Verdade sobre a Real Consciência – não dessa consciência que conhecemos, mas da Real Consciência, que é Algo inteiramente desconhecido desse senso, desse “eu”, dessa consciência comum, dessa consciência humana. O Despertar da Verdade do seu Ser é o Despertar da Inteligência, o Despertar da Sabedoria, é a resposta para a pergunta “como ser sábio?”, é se mover nesse mundo livre desse senso de identidade egoica, desse “eu” que se separa, e porque se separa está sempre em conflito com a vida, e porque se separa está sempre com medo daquilo que a vida representa.
Notem como é muito importante essa aproximação aqui que estamos tendo. Nós estamos investigando a natureza do “eu”, a natureza da mente. Aqui temos a resposta para as perguntas “O que é a mente?”, “Como a mente funciona?”, “O que é a consciência?” Reparem, há várias respostas aqui nessa compreensão desse Despertar, desse Ser Real, dessa Real Consciência. A aproximação disso é pelo Autoconhecimento, a base para a Sabedoria é o Autoconhecimento.
Sem a compreensão do movimento do “eu”, sem a visão desse movimento, que é o movimento da mente que, basicamente, é um movimento de pensamentos, não há Sabedoria. Pensamentos são lembranças, memórias, recordações guardadas nesse, assim, acervo que nós chamamos de “mente”. Então, o movimento desse pensamento é o movimento da mente, a compreensão desse movimento da mente é a percepção do movimento dessa consciência, que é o resultado de um programa de cultura, de sociedade, de civilização, de história humana presente nesse mecanismo, nesse corpo-mente.
A expressão desse condicionamento é a expressão desse “eu”, dessa mente condicionada, é isso que está sobrepujando, é isso que está prevalecendo nessa vida que nós chamamos de “minha vida”, nessas relações, essas, assim chamadas, “minhas relações”, “nossas relações”. O sentido de um “eu” presente, de uma identidade egoica que se comporta dentro da avidez, da inveja, do ciúme, do medo, da violência, do sofrimento, a expressão deste condicionamento em nossas relações com o outro, com a vida é o modelo para esse “eu”, para esse centro que é o ego, é isso que está sobrepujando, é isso que está prevalecendo nas relações humanas. Todo o caos no mundo, toda a desordem no mundo, entre as nações, entre os países, entre as cidades, entre os bairros, entre as famílias, entre as pessoas, há sempre uma outra forma de conflito, de agressão, de violência.
Então, o sentido do “eu” está sempre aparecendo, presente, criando essas separações entre cidades, nações, bairros, famílias, entre “eu e você”, entre “nós e aquele outro grupo”. Examinar isso, investigar isso é ir além desse sentido de um “eu” presente para uma Real vida em seu próprio Ser verdadeiro. Não esse ser psicossomático preso a essa condição de condicionamento psicológico, de condicionamento egoico, de condicionamento mental, de vida no “eu”, de vida no ego. Eu falo desse Ser Real, nessa Real Consciência, a Revelação dessa Harmonia, dessa Beleza, desse olhar para o outro sem esse fundo, sem esse aspecto dessa identidade egoica que se separa para julgar, comparar, rejeitar, olhar a partir sempre de uma distorção de realidade, que é esse fundo do conceito, do preconceito, da opinião, da avaliação com base em julgamentos. Ter a ciência de um olhar livre do “eu”, do ego, ter um falar livre desse sentido de um “eu”, de um ego, ter esse sentir, esse viver, essa vida em Completude, em Plenitude, uma vida Divina, uma vida onde está a Presença do Amor. Será isso possível?
Uma vida livre de sofrimento, onde há essa Presença da Alegria. Não uma alegria motivada, tipo a alegria que você tem quando ganha um presente ou quando uma coisa boa acontece para esse “mim”, para esse “eu”, para esse ego, não estamos falando desse padrão de alegria. Estamos falando de uma Alegria de simplesmente Ser, de permanecer livre desse senso de pessoa, nessa Beleza de ciência, de Totalidade, de ausência do “eu”, do ego.
Nós temos momentos dessa qualidade de Alegria quando, por exemplo, estamos diante de uma praia olhando para o mar, vendo as ondas batendo contra as rochas, sentados na areia. Não há qualquer pensamento, não há qualquer imaginação, não há qualquer ideia. Os olhos estão abertos, os ouvidos estão ouvindo o som daquele ambiente, das águas se chocando contra as rochas. Neste instante há o som do mar, há o brilho do céu, há toda essa luz espalhada por aquele ambiente, a luz reluzindo sobre as águas, sobre aquela areia; nesse instante não há esse sentido de um “eu” presente, há um completo esvaziamento de todo esse conteúdo de uma identidade egoica, de uma identidade pessoal, temos o fim de toda essa cultura, de toda essa, assim chamada, “humanidade”. Temos, neste instante, a ausência do medo, da inveja da ambição, desses, assim chamados, “sonhos para ser feliz”, porque nesse momento há essa Coisa indescritível, a Presença desse Silêncio, a Presença dessa Verdade, a Presença dessa Real Alegria. Então, nesse momento nós temos a Presença dessa Realidade desconhecida, dessa Verdade Divina, que é a Presença desse Ser, dessa Real Consciência.
O trabalho do Despertar dessa Consciência, dessa Realização é o Despertar dessa Sabedoria, é o Despertar dessa Real Alegria, que é a Verdade sobre quem é Você. Alguns chamam isso de o Despertar da Consciência e Iluminação Espiritual, é o fim da ilusão desse “eu”, desse ego dentro do viver, dentro da experiência.