A pergunta é: o que é a Vida? Uma outra pergunta é: o que é Iluminação? O que é Iluminação Espiritual? Parece que são duas perguntas. Então, nós temos aqui, aparentemente, duas perguntas, é isso? Na verdade, nós estamos fazendo uma única pergunta.
A Verdade da Iluminação Espiritual ou Iluminação, se bem compreendida aqui, colocamos essa expressão, talvez, com um sentido diferente do que a maioria das pessoas colocam. Estamos falando do Despertar da Verdade de sua Natureza Real, de Algo fora do conhecido, de Algo fora desse modelo de tempo e espaço como nós conhecemos, Algo diferente de tudo isso que o pensamento pode formular. Outra coisa é a Vida. Assim, esse Despertar ou essa Iluminação e a Vida é uma única coisa.
Se você tem uma aproximação da verdade de si mesmo agora, aqui, nesse instante, liberando de você esse modelo conhecido, que é o modelo do pensador, do experimentador, do observador – aqui eu me refiro desse que pensa, desse que vê e desse que experimenta –, se você tem uma aproximação verdadeira de si mesmo, haverá uma liberação desse modelo; então estamos diante do fim do experimentador, do observador e do pensador. Isso é a Verdade da Vida. Só há Vida nesse instante, só há Vida nesse momento presente.
Tudo o que está acontecendo aqui, nesse instante, prescinde da presença de um pensador, de um observador e de um experimentador. A Vida é o que acontece, Ela é o que ela faz ser, o que demonstra ser. O que Ela é nesse instante é o que É, isso é a Vida. Não há esse “eu”, não há esse elemento pessoal presente na vida. Isso é Iluminação. Então, o que é Iluminação? É a Realidade sem o “eu”. O que é a Vida? É a Realidade sem o “eu”. A Realidade do que É é a Vida. A Verdade do Ser sem o senso do “eu” é a Vida, é Iluminação.
Nós precisamos investigar a natureza desse pensador. Observe que os pensamentos estão acontecendo em você, mas a ideia central em você é você pensando esses pensamentos. Notem a ilusão disso. Você não pensa os pensamentos, os pensamentos criam ideias, sustentam ideias, projetam ideias, formulam imagens, algo que é o resultado do conhecido, do que já foi experimentado e se mostra, nesse momento, como uma reação que vem do passado. Através do cérebro, isso se mostra como uma expressão, com uma forma, com um modelo, com uma maneira específica de manifestação na Existência, que nós chamamos de “pensamento”.
Assim, o que é o pensamento? O pensamento é memória. O pensamento é uma reação, uma resposta dada a esse momento presente pelo cérebro. O cérebro tem registros nele, tem gravações nele, tem lembranças, memórias, o cérebro reage nesse momento com esse formato chamado “pensamento”. É algo automático. Você diz: “O meu coração está batendo”. Isso é só uma ideia, é um conceito, é uma crença. Há um coração batendo, ok, mas não é o “meu” coração batendo. Da mesma forma, o pensamento está acontecendo, mas não é o “meu” pensamento.
Notem isso. O pensamento não é uma propriedade sua, simplesmente porque você, como uma entidade presente nesse instante, é tão ilusório quanto uma pessoa fazendo o coração bater, sendo dono do coração, estando no controle do coração. O coração é parte do corpo. Você se vê como uma entidade presente dentro do corpo e, portanto, dona do corpo e, portanto, dono do corpo, dono do coração, mas é uma crença, como é uma crença acreditar que você faz o coração bater; da mesma forma, faz o cérebro pensar.
O cérebro está reagindo com imagens, com lembranças, com recordações. Algo aparece diante dos seus olhos que você diz “meus olhos”, e agora você acaba de compreender isso: são olhos do corpo. Assim como esse corpo é parte da Existência, é parte da Manifestação. A Manifestação poderia dizer “meu corpo”, mas você não tem autoridade para dizer “meu corpo”, porque você não o controla, você não determina absolutamente nada no que diz respeito às funções, ao trabalho, à Vida presente, à Energia Vital presente nesse organismo. Tudo isso está sob o controle da Existência, da Natureza, da Vida – como você queira chamar Isso.
Então, a Natureza, a Existência, a Vida é dona do corpo, assim como é dona dos olhos. Então, algo aparece diante dos “seus” olhos, parece que você está vendo e, na realidade, o cérebro está detectando aquela imagem e respondendo. Então, é todo um movimento da própria Existência, da própria Vida. A existência do corpo, as batidas do coração, o pensamento acontecendo, a digestão e tudo mais acontece em razão da presença da Vida. Então, qual é a Verdade da Vida? É a Verdade da Iluminação. Não há “alguém” nisso. Há uma Realidade presente e essa Realidade é Aquilo que está além desse modelo que é o modelo do “eu”. É o “eu” que se vê como o pensador, é o “eu” que vê como o experimentador, é o “eu” que vê como sendo o observador. Mas é uma ideia, é um conceito, é uma imaginação.
A Vida está acontecendo nesse momento. A ideia de um “eu” presente é exatamente o que está criando todo o tipo de sofrimento, confusão, desordem, toda essa balbúrdia no mundo, é algo que está sendo produzido por esse senso, que é o senso do “eu” presente. “Eu”, “você”, “nós” e “eles”, estamos separados uns dos outros, estamos separados da Vida, estamos separados da Realidade Divina. A ideia desse “eu” é a separação, é a dualidade. É o senso de um pensador com o seu pensamento, de um observador com a coisa que ele observa, de um experimentador tendo suas experiências, de alguém vivo tendo uma vida que pode perder. Isso representa sofrimento, medo.
Então, os nossos estados psicológicos são estados desse “eu”, desse “centro”, dessa ”pessoa”, dessa “identidade” que se separa da vida. Então é um centro. Esse é o modelo de uma identidade que se separou da vida, que se separou do outro, que se separou de Deus, que se separou de tudo, buscando controle sobre tudo e, portanto, tendo medo e todas as aflições psicológicas engendradas pelo pensamento, por esse modelo de pensamento que vem se repetindo há milênios na humanidade e, agora, está presente aí.
Assim, notem: tudo isso está sendo construído por essa formulação, por essa ideação, por essa amostragem que é o pensamento. Não sabemos como o pensamento funciona. O pensamento está criando tudo isso, produzindo tudo isso em nossas vidas. Ele tem construído a ideia de um “eu” que se separa. Um “eu” que se separa para ser aquele que observa as coisas, para ser aquele que faz as coisas acontecerem, para ser aquele que pensa sobre os pensamentos que ele tem, para ser essa entidade que tem esses sentimentos, que está vivendo essa vida isolada e separada. Tudo isso é algo que o pensamento tem construído.
Não sabemos o que é o pensamento e o que ele representa. Nós estamos funcionando com base na memória, com base no passado. Passamos por experiências, e ao passarmos por experiências nós guardamos essas experiências como lembranças, como memórias. Nós confundimos esse “passar por experiências” com “alguém” passando por essas experiências, isso porque nós nos identificamos com o corpo, como acabamos de colocar, nós acreditamos que somos “alguém” presente dentro do corpo, que essa consciência humana em nós está limitada a essa consciência desse corpo. Temos a ideia de uma consciência individual, de uma individualidade real presente, de uma consciência separada do resto da humanidade. É a “minha consciência”, é o “meu corpo”, é a “minha experiência”, são as “minhas lembranças”, tudo isso é o resultado do pensamento. É o pensamento que tem criado esse sentido de um “eu” presente, de um experimentador presente, de um pensador presente, de um fazedor presente.
Então, a nossa vida no “eu”, no ego consiste nessa ideia “eu fui, eu sou e eu serei”. “Eu tenho problemas hoje em razão de situações que vivi ontem, mas um dia irei me livrar desses problemas”, então tem um dia, amanhã, para acontecer tudo isso. Tem o dia de ontem que, segundo esse pensamento, é a causa do problema que tenho hoje, mas tenho hoje para resolver problemas de ontem e para criar um futuro brilhante, maravilhoso, extraordinário para “mim”, para esse “eu” amanhã. Então, nós vivemos no tempo – passado, presente, futuro. Essa é a vida do “eu”, é a vida do ego, é a vida da “pessoa”. É isso que não está presente nesse Natural Estado que é a Verdade se revelando como sendo a própria Vida como Ela é. É a Natureza desse Ser que somos, a Vida como Ela é.
Então, em seu Natural Estado, que é Iluminação ou Realização de Deus, o Despertar da Real Consciência ou dessa Nova Consciência – os nomes são vários –, Você em seu Natural Estado de Ser está livre desse senso de separação e, portanto, livre dessa limitação criada pelo pensamento. Nesse momento, há um modo, sim, natural de lidar com pensamentos de uma forma prática, simples, direta, objetiva. O pensamento é algo funcional para dirigir um carro, para fazer uma conta matemática; para uma atividade profissional você precisa do pensamento.
O que é o pensamento? É memória também, é reconhecimento, é algo vindo do passado, resultado de uma experiência. Aqui o experimentador dessa experiência, que guardou essa experiência, é o próprio cérebro, mas estamos falando de algo simples, natural. O pensamento nessa função objetiva, clara não carrega esse senso de separação, que é o “eu”, que é o ego. É quando o ego surge, o sentido de uma identidade presente no pensamento – inclusive nesse pensamento técnico – que toda a confusão surge, todo o sofrimento surge, toda a loucura humana começa a acontecer. Então, nós construímos armas, nós fazemos uso da violência em razão de ideias, de estratégias construídas pelo pensamento com um objetivo, com um propósito de destruição, de gerar mais complicação, mais sofrimento no mundo.
Então, o pensamento a serviço desse centro ilusório que é o “eu”, o ego, está a serviço da ilusão, do sofrimento, da confusão, da luta entre as pessoas, do conflito entre elas. Mas o pensamento em si é algo funcional, prático, objetivo. Num certo nível, nós precisamos do pensamento. Mas a Vida em seu Ser, em seu Natural Estado de Ser é algo que prescinde de pensamentos, que não depende de pensamento, que está, por natureza, livre de pensamentos e, portanto, livre de complicações, de aflições.
A minha relação com o outro pode ser uma relação livre de pensamentos. No entanto, quando o pensamento está presente, eu tenho uma imagem sobre ele, ela tem uma imagem sobre mim. As nossas relações baseadas, assentadas nessas imagens são conflituosas. Existe essa ideia no “eu”, no ego, na “pessoa”, “eu gosto de você”, “eu não gosto de você”. Se você me agrada, se você agrada esse “mim”, esse “eu”, essa pessoa que, na verdade, é uma imagem que faço sobre quem eu sou – esse “eu” é uma autoimagem –, se você agrada essa imagem que eu faço de mim mesmo, eu gosto de você; se você não agrada, eu não gosto de você. Então, há conflito em nossas relações porque há esse sentido de separação, há esse sentido de divisão.
Então, a nossa vida baseada no “eu”, no ego é conflito, é sofrimento. O pensamento está ocupando um lugar que não é o lugar dele. Então, a vida humana, a vida nesse senso de pessoa é sempre sofrimento, é sempre conflituosa, é sempre problemática. É possível uma vida livre de sofrimento e, portanto, livre desse sentido do pensamento nesse formato, portanto, livre desse senso de separação que é o “eu”? Uma vida assim é Realização de Deus. Uma vida assim é Iluminação Espiritual. Uma vida assim é uma vida livre do senso de separação, onde está presente essa Realização Divina. Essa Realização Divina é a Vida. Essa Realização Divina é a Iluminação Espiritual. Então, para esse propósito estamos juntos aqui.