A questão da ação é uma questão fundamental. Em nossa vida as ações estão sendo tomadas, a pergunta é: de onde provêm essas ações? De onde procedem essas ações? Qual é a natureza dessas ações? Por que agimos como agimos? Por que a ação é dessa forma ou daquela outra forma?
É muito comum perguntas do tipo: “Como agir corretamente?”, “Como agir sob pressão?” e “Como manter a calma?” Todas essas três perguntas são relativas à questão dessa problemática: a problemática da ação, da ação livre. Porque as nossas ações estão sempre comprometidas de alguma forma.
Nós queremos trabalhar com você aqui essa questão da ação livre. Me refiro à ação livre do ego e, portanto, à ação que não se traduz nem se mostra a curto, médio e longo prazo como uma ação conflituosa, como uma ação em sofrimento, como uma ação de desordem.
Todos nós queremos acertar, todos nós queremos ser bem sucedidos nas ações, mas há um problema aqui, e o problema é a não compreensão de que, quando nós nos devotamos às ações externas sem antes termos uma compreensão da natureza, da verdade, da estrutura dessa ação, essa ação não será Real, não será adequada; ela não será a ação que, de fato, irá produzir para nós e para o mundo à nossa volta Felicidade, Liberdade, Paz. Será uma ação em conflito, uma ação em sofrimento.
A base para a ação correta, para a ação livre é a Inteligência. Não há Inteligência presente em nós. O ser humano fala sobre a inteligência espacial, sobre a inteligência emocional, sobre a inteligência matemática, a inteligência musical, a inteligência naturalista. Nós pegamos a palavra “inteligência”, que na verdade é habilidade, conhecimento e capacidade de lidar com essa ou aquela área específica da vida, e nos conformamos a essa condição, não percebemos que a Verdade da Inteligência é uma outra coisa. E é isso que estamos tratando aqui com você. Estamos falando da Verdade da Inteligência – a meu ver, a Real Inteligência, como tenho chamado.
A Real Inteligência – eu poderia chamar aqui de Inteligência Natural. Eu não me refiro a essa chamada “inteligência humana”, a essas categorias de inteligência, eu me refiro a essa Natural Inteligência, a essa Real Inteligência, a essa Divina Inteligência. A única Inteligência – a meu ver – nesse nível é aquela que lhe dá uma visão da vida livre de sofrimento. Uma vida livre de sofrimento é uma vida onde a ação ocorre, onde a ação acontece sem produzir sofrimento. Uma qualidade de ação desse nível nasce da Real inteligência, isso é Amor, isso é Compaixão. Então, a Inteligência que não produz sofrimento para o outro, que não produz sofrimento para si mesmo é a Inteligência do Amor, é a Inteligência da Verdade, é a Real ou é a Natural Inteligência.
Então, aqui estamos trabalhando com você o fim dessa ilusão desse centro falso que é o “eu”, o ego, para uma ação Real. Então, vamos explorar aqui o que é a ação. Nós somos impulsivos e nos movimentamos na ação. A vida consiste de ações acontecendo, ações sendo tomadas, ações ocorrendo, mas se nós não temos uma base para essa Real ação, tudo o que temos são meras atividades ainda egocêntricas. Essas atividades egocêntricas é o que temos chamado de ação.
É sempre esse “eu” em sua inquietude, na sua ausência de Inteligência que precisa ter calma, porque ele está estressado. Então ele pergunta: “Como manter a calma?” É sempre esse “eu”, esse ego na dúvida, em sua confusão mental, psicológica que pergunta: “Como agir corretamente?” Porque quando a presença da Inteligência está – aqui eu me refiro à Real Inteligência –, você não pergunta “Como agir corretamente?” Não há qualquer separação entre essa Inteligência e a ação. A presença desse intervalo entre a ação e o pensamento é que cria perguntas desse tipo: “Como agir sob pressão? Como agir corretamente? Como manter a calma?”
Então, nós precisamos explorar isso aqui, é um assunto muito vasto essa questão da ação livre do ego e, portanto, da ação que nasce dessa Real Inteligência, dessa ação que nasce da presença do Amor. Responder a esse instante, a esse momento presente sem esse fundo do passado, sem esse experimentador. O que é esse experimentador? É aquele que já passou por experiências e armazenou essas experiências em forma de conhecimento, de memória, de lembranças e agora está atuando. E quando nós atuamos a partir dessas memórias, lembranças, que são o passado, nossas ações são meras atividades egocêntricas. Temos exatamente aqui a ausência dessa ação da Inteligência.
Temos que descobrir uma qualidade de ação livre do “eu”, livre do ego. Essa qualidade de ação é a única ação Real, é a ação não conflituosa, é a ação livre de sofrimento, é a ação livre de confusão, porque ela não nasce do impulso, do ego, desse experimentador, desse “eu”, desse passado. Notem o que estamos trazendo aqui para você: nossa ação com base no passado, acontecendo nesse instante, é a ação do ajustamento, da tentativa de acertar, da tentativa de fazer algo, de obter algo, de realizar algo. Então, é uma ação motivada por esse ego, por esse centro que é o “eu”.
Toda ação motivada, carregada de uma intenção, de uma motivação, de um desejo está nascendo de uma conclusão egoica, de um posicionamento particular desse centro que é o ego. Haverá uma ação livre? Estamos colocando aqui: sim, com certeza. É a ação da Inteligência, é a ação do Amor. Ela não nasce do passado, ela não nasce desse fundo reativo do “eu”, do ego.
Reparem como é importante a compreensão da ação. Olhem para o mundo, a confusão em que nós nos encontramos. O ser humano vive nesse sonho de vida, de existência em sofrimento. Ele está produzindo para si mesmo sofrimento quando ele está produzindo sofrimento para o outro. Na verdade, não existe qualquer separação entre “eu e você”, entre “nós e eles”. O único sofrimento presente é o sofrimento dessa ilusória identidade, que é o “eu”, o ego, criando a ilusão desse “eu” individual, particular, criando a ilusão desse grupo particular chamado “nós”, que se separa daquele outro grupo que são “eles”.
Então, há “eu e você”, há “nós e eles”. Nessa divisão, nós temos a confusão, porque as nossas ideias, as nossas crenças, os nossos posicionamentos são divergentes, então nós não concordamos, não combinamos, não nos ajustamos ou, no máximo, nos ajustamos até um próximo desajuste. Então, olhem para a situação do mundo. A cada ano nós estamos vivendo um novo ano, já em um novo século. Em nossa geração nós estamos repetindo o que os nossos pais, avós e bisavós fizeram.
Olhem para o mundo, a confusão em que nós nos encontramos. Neste século, estamos repetindo o conflito entre “nós e eles”. Nós temos todo aquele conflito agora, no momento, acontecendo no Oriente Médio, isso vem se repetindo há milênios. Tudo que nós fazemos é lutar, é conflitar, é produzir sofrimento uns para os outros, tudo em nome de ideologias, de crenças, de tradição, de cultura, tudo em nome do passado, tudo em nome de uma história construída pelo pensamento, sustentada dentro de cada um de nós, nos dando uma ilusória identidade, que é o ego, que nos separa uns dos outros e, portanto, está sempre disposto a conflitar, a lutar.
Então, nós estamos vivendo um caos, uma confusão, uma desordem, um extraordinário sofrimento. Isso é esse sonho de vida humana. Essa condição de existência é a condição de sonho. Na verdade, de um grande pesadelo de existência humana. Podemos acordar disso? Podemos ir além desse sonho? Podemos soltar essa ilusão de identidade separada e, portanto, estar livre desse mundo? Porque apenas quando você se torna livre desse mundo, o mundo fica em paz.
É a sua presença, é a presença desse “mim”, é a presença desse “eu”, é a presença dessa “pessoa” nesse sonho de existência, de identidade separada que está criando toda essa confusão. Essa é a condição psicológica do ego: a desordem, a luta, o conflito, o medo, o desejo, o sofrimento. O que é essa ação livre do mundo? O que é estar livre desse mundo? Aqui eu me refiro livre psicologicamente dessa confusão, dessa desordem, desse senso de separação. O que é permanecer livre desse centro que é o “eu”, o ego? É quando o mundo termina, é quando o sonho termina, é quando a confusão termina.
Podemos, em nossas vidas, descobrir a Verdade da vida, abandonando esse sentido de “minha particular vida”, “minha particular existência”, “meu particular mundo”, onde nele existe esse sonho, onde existe avareza, inveja, ciúme, posse, controle, contradição? É possível a vida Real nessa ação Real, onde a presença da Compaixão, do Amor e da Liberdade é a única Realidade presente? Será possível uma vida livre de toda forma de sofrimento? Essa é a Realização de seu Ser, essa é a Realização de Deus. Essa é a resposta, nesse instante, para esse momento presente, para esse desafio da existência no viver, é a resposta para isso de uma ação livre da ilusão, de uma ação sem esse “mim”, sem esse “eu”. Neste instante temos presente a Inteligência em ação.
Percebam, não há separação entre o agir e a Inteligência, que é Amor, que é Compaixão, que é a presença da Verdade, que é a presença da Graça, que é a Visão do seu Ser, que é a Visão de Deus. Alguns chamam essa percepção de Realidade nessa Real inteligência de o Despertar da Consciência; alguns chamam de Iluminação Espiritual. Essa é a presença da Verdade do seu Ser que nasce do Autoconhecimento.
Assim, estamos compartilhando com você o Despertar da verdadeira Inteligência e da Real ação livre do ego, Algo que se torna possível quando há Autoconhecimento, quando há essa Verdade do Autoconhecimento, quando há o Florescer da Real Meditação, que é o seu Natural Estado de puro Ser, de pura Consciência se revelando aqui e agora.