Aquilo que nós estamos vendo aqui juntos é algo sobre o Real significado da compreensão: a Compreensão de nós mesmos, a Verdade sobre quem somos. Não se trata de nos aproximarmos de uma liberação. As pessoas nesse mundo buscam isso, elas buscam não sofrer, elas buscam não conflitar. Mas elas têm uma busca ideológica, e eu quero colocar isso aqui bem claro para você. Nós temos ideias sobre a necessidade da liberação. Termina que nós formulamos projetos, planos, nós criamos métodos, criamos sistemas para deixarmos de conflitar, para deixarmos de sofrer. E é muito comum em nós a ideia de como fazer isso. É aqui que eu quero chamar a sua atenção.
Não se trata de simplesmente buscar uma liberação do conflito, da contradição e do sofrimento. Então, você vai em busca de ajuda nessa direção. Você quer uma vida feliz, sem sofrimento. Em geral, nós achamos isso bem razoável, mas nós temos uma ideia do que é ser feliz e temos, também, uma ideia do que é não sofrer, do que é não carregar sofrimento. Mas quando nós nos aproximamos de verdade para olhar para a nossa vida, você vai observar que você está dentro do contexto da maioria das pessoas. O que você está buscando é um certo conforto, é uma certa tranquilidade, é um certo ajustamento ao modelo.
Nós temos todo tipo de ideia do que é uma vida feliz, uma vida em paz, uma vida sem conflito e sem sofrimento e, na verdade, o que nós temos, realmente, são ajustamentos, uma certa estabilidade financeira, saúde, uma posição dentro da sociedade, onde você tenha uma respeitabilidade social, a possibilidade de adquirir aquilo que você deseja, de realizar desejos, é isso que nós chamamos de “ser feliz”. E quando qualquer coisa contraria isso, nós chamamos de sofrimento, nós chamamos isso de conflito. Então, na verdade, é muito superficial nossa vida. Nós temos que ir além dessa superficialidade, dessa assim chamada “condição de não conflitar e não sofrer”, além dessa condição de ser feliz como todos à nossa volta.
Então, aqui, quando tratamos com vocês sobre a importância da Compreensão, estamos falando de algo inteiramente diferente disso. Se trata de um novo modo de sentir, um novo modo de viver, um novo modo de se portar na vida – não dentro dessa superficialidade. Algo é insuspeito em tudo isso e raramente nós nos aproximamos d’Isso. Eu me refiro à Realização da Verdade, do fim dessa superficialidade de vida. Porque notem que dentro dessa superficialidade de vida comum a todos, somos criaturinhas carregadas de medo, mesmo em meio a todo tipo de segurança. Mesmo entrando em um castelo e criando uma grande muralha de proteção à nossa volta, nós continuamos com medo. A gente tem medo do passado e tem medo do futuro e, mesmo assim, nós nos consideramos como pessoas felizes.
Nós não temos a menor ciência, a menor consciência da superficialidade que se tornou nossas vidas quando não há essa Verdade da Real Compreensão, da Compreensão da vida, a Totalidade da vida – não essa coisa circunscrita aos cuidados com nós mesmos. Esse “nós mesmos” é um padrão de centralização de existência onde nós somos o centro do mundo, nós e tudo aquilo que representa “nós mesmos”. Então, nós vivemos nessa superficialidade de vida. Sem conhecermos a nós mesmos é o máximo que conseguimos: um bom trabalho, uma certa estabilidade, e isso tudo aparente, porque internamente estamos no medo, somos criaturas infelizes dentro da nossa felicidade, criaturas assustadas dentro de nossas realizações.
Haverá um outro tipo de ação? Não essa ação que está em conformidade com o padrão comum. Haverá um outro modo de agirmos no mundo? Uma resposta para isso requer uma investigação de como nos conduzimos. Observe sua ação. É uma ação que nasce do pensamento, nasce de um modelo pré-estabelecido, nasce de um programa de cultura, nasce de um programa de mundo. Eu tenho repetido inúmeras vezes as palavras, algumas palavras-chave, e já com o propósito mesmo de você se tornar ciente de nossa real condição. Temos uma mente condicionada, uma ação condicionada, um falar condicionado, um agir condicionado.
Então, somos criaturas dentro de um condicionamento porque temos uma mente condicionada. Vivemos dentro de um condicionamento interno e, também, externo de comportamento. Estamos fazendo tudo o que os outros fazem. Esse condicionamento psicológico, esse condicionamento emocional, esse condicionamento físico de comportamento tem nos colocado dentro de enquadramentos, dentro de programas pré-estabelecidos.
Não há Liberdade, não há Verdade, não há Amor em nossas vidas porque não há Compreensão. Então, notem isso: nessa superficialidade de vida, você pode ter tudo o que outros admiram, mas internamente você continua seco, muito seco. Não há Amor em sua vida, não há Beleza em sua vida, não há Verdade em sua vida porque tudo que você faz nasce desse condicionamento. Pensa como todo mundo, fala como todo mundo e age como todo mundo e deseja o que outros desejam. Quer se livrar do que os outros querem se livrar. É isso que aqui eu estou chamando de superficialidade de vida.
Então, você não é feliz. Isso explica porque você se pergunta: “Como pode? Eu tenho tudo que já desejei. Eu tinha um sonho e ele se realizou. Eu consegui o negócio que queria, o trabalho que buscava. Meu sonho era casar e eu já estou casado, eu queria esse número de filhos e já consegui. O que está acontecendo? Por que eu não sou feliz?” E a resposta é simples: você não se conhece. Você está na ilusão de ser alguém, de se sentir como alguém, de se mover como alguém, de se comportar como alguém. E esse alguém é todo mundo, não há nada de singular em sua vida. Essa “sua vida” é a pessoal vida do “eu”. Então não vai adiantar!
Você não nasceu para ser uma pessoa. Você não nasceu para realizar o que já realizou. Você nasceu para realizar Aquilo que Você é e para Ser Aquilo que Você é – não uma pessoa. Tudo que ocorre em nossas vidas, nessas diversas realizações externas, nesse nível de “ter” está dentro de um sonho. Olha que coisa curiosa: quando você acorda pela manhã, descobre que tudo aquilo que você foi, tudo o que você viveu, tudo o que você teve no sonho não era real, mas você só sabe isso depois que acorda. Você só sabe disso depois que percebe que aquilo não era real. Quando o sonho acontece, aquilo é muito real.
Assim é essa nossa vida. Você parece que está realizando coisas, você parece que está conquistando coisas, você parece que tem essas coisas, mas é porque está dormindo. E está tendo um sonho agradável, mas todo sonho pode mudar. É um dia de sol, ensolarado, o mar está muito calmo, o vento sopra suavemente e, repentinamente, o volume de vento aumenta. A tempestade chega, o mar se agita e uma chuva forte cai, mas vêm antes os trovões e relâmpagos. Então, tudo pode mudar a qualquer momento. Assim é o sonho, o sonho que você tem à noite e o sonho dessa vida, mas do sonho à noite você acorda para o estado de vigília. Mas nesse estado de vigília, quando a tempestade chega, quando toda a situação muda, quando tudo aquilo que parecia seguro, quando tudo aquilo que parecia real começa a se mostrar incerto, porque agora tem raios, trovões, relâmpagos, o vento está forte, o mar não está mais calmo, bate o desespero. O medo está presente. Essa é a condição do “eu”, essa é a condição do ego.
Tudo isso ocorre porque você está dormindo. Então, todo sofrimento na sua vida é porque você está dormindo. O que você tem chamado de felicidade, porque está tudo em calmaria, é muito superficial, isso não é real. Aqui estamos fazendo um trabalho juntos. Esse trabalho é nos tornarmos cônscios de nós mesmos, cientes de nós próprios. Qual é a Verdade sobre o “eu”? Qual é a Verdade sobre essa assim chamada “minha vida”? Essa aproximação irá lhe mostrar que essa “sua vida” é um sonho e enquanto tudo estiver bem – e é um bem aparente, é só uma aparência de que está tudo certo –, você se sentirá relativamente seguro. Embora, psicologicamente, você sinta dentro de você, isso passa para você, é muito claro para você que há medo aí, porque algo dentro de você diz que tudo pode mudar a qualquer momento.
A beleza de um trabalho como este é isso aqui que chamamos de Satsang. É uma palavra em sânscrito que significa “o encontro com a Verdade”, com a Verdade do seu Ser, com a Realidade sobre o que é Você. Isso é basicamente a constatação da ilusão do sonho que você chama de “minha vida” e a incerteza, a insegurança, o medo, todo sofrimento que você se recusa a olhar – que também está presente aí. Então, o que fazemos juntos? Estudamos a nós mesmos. O Autoconhecimento é a base deste trabalho, conhecer a si próprio. E, como no início da fala, isso é Real Compreensão, não o que algumas pessoas chamam aí fora de “autoconhecimento” para ter uma melhora nessa condição de sonho. Não, não é isso!
Autoconhecimento não é para você ter uma melhora na qualidade do sonho. Esse sonho pode mudar, você já melhorou o quanto pôde e, por mais que você se esforce e melhore ainda mais a qualidade do sonho, ainda será um sonho e um sonho é para quem dorme. Aqui se trata de acordar. Acordar para a Verdade, a Verdade do seu Ser, a Verdade de sua Natureza Divina, a Verdade da Beleza, a Verdade da Verdade, do Amor, da Liberdade, da Inteligência. Isso é Compreensão, a Compreensão sobre nós mesmos, a Compreensão do que é tudo isso. “Quem sou eu? Estou aqui? Se estou aqui, o que estou fazendo aqui? Qual é a Verdade?”
A boa notícia aqui é que uma aproximação Real disso é o final da ilusão, é o final do sofrimento, é o final da ignorância. Uma aproximação Real disso é a Revelação d’Aquilo que é Deus, d’Aquilo que é a Verdade, d’Aquilo que é a Liberdade, d’Aquilo que é o Amor. Repare, eu usei essas palavras aqui. Nós não sabemos o significado disso, desse estado de sonho em que vivemos, onde tudo parece estar muito bem e, a qualquer momento, algo pode mudar e bate o desespero. Nós não sabemos o significado disso. Então, nós usamos palavras como amor, liberdade, verdade, Deus, mas não sabemos o que isso significa, porque estamos sonhando.
Em nosso sonho de vida, em nossa imaginação de ser alguém, acreditamos em muitas coisas. Estamos colocando conteúdo dentro dessas palavras e são projeções emocionais nossas, são projeções sentimentais nossas, algo inerente ao próprio sonho. Tiramos do sonho o conteúdo e colocamos dentro dessas palavras. Então, nós temos uma visão particular de quem é Deus, do que é o amor, do que é a liberdade, mas aqui a beleza está nesse encontro com Aquilo que é Você em seu Ser. Essa é a constatação de sua Real Consciência. Então, nós carregamos uma Real Consciência. Essa Real Consciência é a Natureza do Ser, que é a Natureza Real do Amor, da Verdade, da Liberdade, da Felicidade. Isso se revela quando não há mais sonho.
Todas as noites você sai do sono profundo para o sonho e do sonho para o estado de vigília. Todos nós conhecemos isso, mas nós não sabemos o que é Acordar. Quando à noite vamos dormir, nós estamos saindo de um sonho para o sono profundo e depois para um outro sonho. Quando acordamos, saímos do sono profundo, saímos do sonho para um outro sonho. Então, a nossa vida transcorre no sonho, que nós dizemos estar acordado quando estamos no estado de vigília.
A grande revelação, a grande sacada aqui é perceber que a sua vida é um sonho, semelhante àquela que você tem à noite. Talvez a qualidade seja melhor, as coisas sejam mais vivas, talvez o intelecto consiga acompanhar melhor todo esse processo. Parece ser você sempre a mesma pessoa depois que sai do sonho e do sono profundo para o estado de vigília. E parece que você se encontra ainda com os mesmos problemas, com as mesmas situações. A esposa é a mesma e os filhos também – não sei se para a sua alegria ou para a sua preocupação. O fato é que esse estado de vigília ainda é um sonho. Você está num sonho! Descobrir isso é acordar nessa vida. Acordar é tomar ciência de que há Algo além disso. Esse é o contato com a Realidade fora da mente, fora do “eu”, fora dessa “minha vida”, fora desse sonho que falamos agora há pouco, onde tudo parece bem, mas, na verdade, você não se conhece.
O fato de estar dormindo lhe mantém na ignorância. Então, Acordar é a única coisa que importa, e nós não sabemos que estamos dormindo. Então, os Seres Realizados, aqueles que de verdade acordaram, estão vindo nos dizer: “Olha, acorde! Você casou dormindo, teve filhos dormindo, seus filhos estão nascendo e também estão dormindo, seus pais estavam dormindo, todos estão dormindo, todos estão sonhando.” Você diz: “É mesmo?” E eles dizem: “Sim, você está dormindo.”
Então, aqui esse Acordar é a Compreensão, é o nascer de Algo novo, Desconhecido, Extraordinário. É assim que eu tenho denominado a Verdade de Deus. Nós usamos a palavra “Deus”, mas a Realidade de Deus é o Desconhecido, é Aquilo que é Inominável, Indescritível. Não é uma palavra, não é uma crença, não é uma ideia, é uma Realidade quando você não está, quando o sentido de um “eu” separado não está, quando só Deus está. Isso é o Inominável, isso é o Indescritível e Ele é tudo, toda parte, todas as coisas e além de todas as coisas, e além de todas as partes. É o Indescritível, é o Inominável, é o Indizível, é a Realidade Divina, é a Realidade do seu Ser, é a Realidade que você é quando você não está. Isso mesmo, quando você não está, você é. Quando você é, não há Realidade.
Eu sei que soa estranho, mas não é um jogo de palavras. É isso: Acordar é a Ciência de Ser aquilo que é Você quando você não está. Não é um jogo de palavras. A visão disso é o Acordar, a Compreensão disso é a Realidade de Deus. Então, não se trata, como no início da fala começamos a dizer para você aqui, de se livrar de sofrimento, de se livrar de problemas, de ter uma qualidade de vida melhor, de ter uma certa tranquilidade financeira, uma família bonita, um marido bonito, uma casa bonita e um carro novo. Estamos apontando para outra coisa! Não há real vida aí.
Então, aqui o ponto é Acordar, tomar Ciência da Realidade de Deus, fora das crenças – fora das crenças! – fora das ideias. Uma vida sem o pronome “eu”, ou inteligentemente usando o pronome “eu”, com a Verdade que não há nada como esse “eu”. Isso é uma vida em Verdade, isso é uma vida em Sabedoria, isso é uma vida em Amor, isso é uma vida Realizada, é isso que fazemos em Satsang. Então, sejam bem-vindos ao Despertar, ao Acordar, à Realização de Deus.