Tomar ciência da Verdade sobre você é algo essencial. Em geral, nossa vida é muito cansativa, a impressão que se tem é da repetição. Nós temos uma vida tediosa e nós sempre perguntamos: o que fazer com isso? As nossas ideias são truncadas a respeito do que a vida representa, de como ela acontece.
Para nós, a presença desse cansaço, dessa rotina ou desse tédio tem uma razão sempre externa a nós mesmos, é a vida que não é boa, é a vida que é repetitiva, é a vida que é cansativa, é a vida que é tediosa. E para escapar disso nós nos movimentamos procurando fazer alguma coisa. Então, é muito típico do ser humano essa procura por experiências mais ricas, mais significativas, mais profundas, mais satisfatórias para ele, para “mim”.
Então, “eu quero me livrar de alguma coisa, mas eu quero me livrar realizando uma nova coisa”; “eu deixo aquilo que não me satisfaz, que não me conforta, que não me anima, que não me entusiasma, que não é aprazível e vou em busca de algo que me dê prazer, que me satisfaça, que me realize”. É muito comum em nós essa procura por novas sensações em experiências. Quando fazemos isso, nós nos lançamos nessa procura, nessa busca. O que, na verdade, estamos fazendo, estamos fazendo para fugir dessa condição de tédio, de rotina, de padrão. É por isso que estamos constantemente ocupando nossas horas do dia – que são horas que estamos desocupados – com alguma coisa que nos dê algum nível de preenchimento, de satisfação ou prazer. O problema para nós sempre está no externo, do lado de fora.
Compreendam isso: a nossa visão do mundo é a visão de alguém que sabe o que está acontecendo lá fora. A gente parte de um princípio muito equivocado de que nós existimos dentro desse contexto da vida e que a vida tem que representar alguma coisa para nós, então tem esse “eu” aqui e a vida lá, e a vida tem que me preencher. Há uma constante busca de preenchimento. Nessa busca de preenchimento está implícito a insatisfação, mas não é a insatisfação com a vida, porque de verdade ela é tediosa, porque de verdade ela é rotineira, porque de verdade ela é chata ou porque de verdade ela é problemática, mas é porque esse “eu” está aborrecido com ele mesmo, chateado com ele próprio, entediado nele mesmo, com problemas.
Essa nossa visão é totalmente errônea, de que o mundo irá nos fazer feliz, que o que chamamos de “vida” irá nos preencher e que alguma coisa que possamos fazer irá resolver essa questão. Enquanto que, na verdade, todo o problema consiste no modo como estou em relação com a vida, com a situação, com esse instante, com esse momento. É sempre o sentido de um “eu” presente tentando moldar, ajustar, resolver, equilibrar, consertar o que está do lado de fora.
A Verdade sobre você é desconhecida. Essa é a ignorância sobre quem somos. Enquanto isso continua nessa ausência da compreensão sobre nós mesmos, nessa ausência do Autoconhecimento, estará a presença do tédio, do cansaço, da rotina, dessa condição interna psicofísica, emocional, sentimental, de pensamento, de sensação, onde tudo é desse jeito. Não tem nada a ver com o que acontece, tem a ver como me sinto com o que acontece.
Então o que nos falta é a compreensão sobre quem somos, a Verdade do seu Ser, a Verdade de sua Natureza Real se revelando agora, aqui. Aquilo que temos de mais encantador num trabalho de Autorrealização, do Despertar da Consciência, da Iluminação Espiritual, desse encontro com a Realidade Divina – que é a proposta que aqui temos –, é a possibilidade de olharmos para nós mesmos, de nos tornarmos cientes de nós próprios, ver aquilo que se passa aqui, deixando essa ilusão de olhar para fora.
Olhem para si mesmos. Nós estamos, sempre, em uma relação com o mundo como se fôssemos a figura central dessa experiência nessa relação. Notem o autocentramento que temos. Em uma relação com uma outra pessoa, estar interessado naquilo que sinto, naquilo que penso, naquilo que espero dela é a coisa mais importante, e isso é egocentramento. Nesse egocentrismo, nossa vida tem sido levada, e a expressão “minha vida” ou “nossa vida” já guarda isso. A ilusão de uma identidade presente podendo resolver, consertar, ajustar, fazer como deseja, é para se sentir bem, o que é uma ilusão. Todo esse movimento do “eu”, inquieto como ele está, insatisfeito como se encontra, infeliz como ele é, tudo isso só irá representar mais e mais da mesma coisa.
Todo o problema consiste na presença do insatisfeito, do entediado, daquele que está cansado, daquele que está infeliz. Todo o problema consiste na existência desse “eu”. Por isso que o Autoconhecimento lhe aproxima da investigação da Verdade sobre quem você é, e essa é a forma mais direta para a descoberta da Revelação d’Aquilo que é Indescritível, que é Inominável, que está fora da mente, que está fora do “eu”, que é a Realidade de Deus, a Verdade Divina, a Revelação do seu Ser, a Felicidade de sua Natureza Essencial.
A Verdade sobre quem somos é Felicidade, é Paz, é Inteligência, é Liberdade. Não é tédio, não é cansaço, não é aborrecimento, não é frustração. A beleza de tudo isso é descobrir que você está aqui para essa Realização, e se ela está presente, não existe qualquer momento, não existe qualquer instante, qualquer ocorrência ou o que quer que esteja acontecendo aqui, neste momento presente que, de verdade, possa representar para você uma importância de tal teor que lhe cause infelicidade, aborrecimento, tédio ou algum tipo de sofrimento quando o sentido do “eu”, do ego, desse “mim” não está presente. E tudo o que fazemos aqui é investigar isso.
Tomar ciência da ilusão é ir além dela. Não podemos fazer isso sem compreender essa estrutura, essa natureza do “eu”. A compreensão disso lhe mostra que esse momento é completo, ele é único, ele é singular e há nele grande Beleza, grande Encanto, Silêncio, Verdade e Amor. Não está aqui, está na ilusão de “alguém” aqui, se separando desse momento, querendo viver uma projeção, querendo viver uma ideação, querendo viver uma ilusão, querendo, nessa separação, se sentir pleno com algo, com alguma condição, com algum evento, com algum acontecimento, com alguma experiência.
A Realização da Verdade é a Realização de Deus, e a Realização de Deus é o fim do “eu”. Como esse momento só mostra essa Realidade, e essa Realidade só está aqui sendo o que ela É porque a única Verdade disso é essa coisa Inominável, Indescritível, essa Beleza que é a Verdade Divina. Então quando você se aproxima da Meditação, você se aproxima de si mesmo. Quando você se aproxima desse olhar para esse movimento do “eu” pelo Autoconhecimento, há um descarte desse “eu” insatisfeito, entediado, aborrecido e cansado dele mesmo. Assim, essa nossa procura por alguma coisa não vai resolver. Na verdade, é a procura por estar satisfeito consigo mesmo, e nenhuma sensação, nenhuma experiência, nenhum acontecimento externo pode lhe dar isso.
Existe uma descoberta para você fazer, é a descoberta sobre a Verdade do seu Ser. O que é você quando você não está? É paradoxal isso: você sem “você”. Aqui eu me refiro à Realidade Divina de sua Natureza Real. Quando isso está presente sem esse “você”, que é uma ideia que você tem sobre você. É disso que você está cansado, é disso que você está entediado, é isso que lhe aborrece. Você é sempre a mesma pessoa se movendo sempre da mesma forma. Nesse isolamento, você se projeta para fora disso com esses objetivos, com esses ideais, com essas crenças que, no fundo, você sabe que não resolve. É só uma tentativa de fugir, é só uma tentativa de escapar; escapar de você mesmo, desse “mim”, desse “eu”.
Essa constatação da Verdade sobre você, a Realidade de você sem esse “eu”, sem esse “você” como você se vê, como você se sente, é o fim para tudo isso. Não há nenhum outro problema no mundo, não há nenhum problema nas pessoas, não há nenhum problema nesse instante, nessas situações. O único problema é a ilusão desse “você”, dessa ideia de ser “alguém”. Quando há uma aproximação da Verdade sobre a Meditação, você se torna ciente da não separação entre esse tédio, esse cansaço, esse aborrecimento e esse “eu”, e quando não há mais essa separação, você se torna ciente de Algo que transcende essa dualidade, esse “você e o tédio”, esse “você e o cansaço”, “você e o aborrecimento”, “você e essa condição psicológica interna”. Isso se revela na razão em que a separação desaparece.
Guardem isso, percebam isso, verifiquem isso, olhem para isso de uma forma direta. Nenhum pensamento está presente sem a ilusão de um pensador sustentando esse pensamento. Nenhuma emoção peculiar está presente sem a ilusão desse que sustenta essa peculiar emoção. Assim, nenhum tédio, nenhum aborrecimento, nenhuma contrariedade está presente sem esse que está entediado, aborrecido, contrariado. Esse olhar para si mesmo, essa aproximação de si próprio sem essa separação põe fim a essa ilusão, então Algo novo está e esse Algo novo é a ausência desse “você” que você acredita ser, é a Realidade do seu próprio Ser se mostrando sem conflito, sem sofrimento, sem problema. Isso é Liberdade, isso é Silêncio, isso é Meditação, isso é Felicidade.